Não há dúvida de que a densa selva congolesa é profunda, mas seu coração está em outro lugar: nos iluminados escritórios de nossos bancos e empresas de alta tecnologia. Para acordar realmente do "sonho dogmático" capitalista (como diria Kant) e ver esse outro verdadeiro coração das trevas, teríamos de aplicar a nossa situação a velha frase de Brecht em Ópera dos mendigos: "O que é um roubo de banco comparado à fundação de um outro banco?". O que é roubar alguns milhares de dólares e ir para a cadeia, em comparação com a especulação financeira que priva milhões de pessoas de suas casas e de suas economias e depois é recompensada pela generosidade sublime da ajuda estatal? O que é um chefe guerreiro congolês, em comparação com o presidente-executivo de uma empresa ocidental esclarecido e sensível ao problema do meio ambiente? Talvez José Saramago estivesse certo quando propôs numa coluna de jornal que executivos de grandes bancos e outros responsáveis pela crise financeira fossem considerados culpados de crimes contra a humanidade, cujo lugar certo é o Tribunal de Haia. Talvez não devêssemos tratar essa proposta apenas como um exagero poético ao estilo de Jonathan Swift, mas levá-la muito a sério. (Slavoj Zizek, Vivendo no fim dos tempos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário