Já há algum tempo leio os blogs destinados a escritores e suas obras. Leio-os assiduamente, toda a vez que ligo o computador. A maioria dos dias, tais blogs são a razão única que me sustenta na web. Há, entre esses sites, fundações em nome de escritores (como a de Saul Bellow), jornais com uma tradição já consolidada na decifração e estudo aprofundado da obra (o melhor entre estes é o destinado a Thomas Pynchon, que mostra um grupo de gente realmente empenhado), e locais esparsos, oficiais ou não, onde textos exclusivos são escritos pelo autor e postado lá (o de Philip Roth se distingue). Entre os da nossa raça, claro que eu lia fidedignamente o do Saramago, que, apesar de tanto ler dele, o que mais senti com a sua morte foi a interrupção definitiva desse contato diário de intimidade. Um dos meus preferidos é o poderoso blog do Javier Marías, escritor que vem sendo uma das minhas novas obsessões. Lá, encontro postagens atualizadas com empenho em que Marías, um dos maiores escritores do mundo e um cara simplesmente inigualável (tem entre seus admiradores gente como Coetzee, Husdie, Vila-Matas_ e Bolaño, o zinca do Bolaño, quando falava de rivais de profissão, admitiu que Marías era o melhor escritor em espanhol das últimas décadas), textos que tratam sobre política europeia atual, sobre literatura, sendo entre estes um gratificante estudo sobre ninguém menos que William Faulkner.
Pois bem. Eu nunca pensava que um dia a web iria ser levada a sério e de forma tão desencanada assim por grandes escritores. Que facilidade há ali no blog do Marías. Ele se deixa aparecer com uma vaidade saudável, faz um mural de suas realizações, algo que deve alimentar muito a tietagem mas também se mostra uma arma honesta para se discutir e apreciar literatura de uma forma ampla e moderna. Tais blogs me mostraram que os escritores souberam reverter a net para seus benefícios e para o benefício dos livros. Não sei onde li um desses doutores afirmar que a o afã de coisa inigualável da net passou, e ela está se desmaiando calmamente em seu devido lugar de mais um utensílio de comunicação, sem mistérios e sem perigos, como o telégrafo e a televisão. A net perdeu seu caráter ofensivo e ameaçador, e o Facebook, segundo esse mesmo autor, em dez anos não será mais lembrado (fica fácil dar corda a esse prognóstico ao ver o prejuízo que tal empresa está tendo após abrir suas ações na bolsa, e a crise relativa por anunciantes _ a General Motors, sua principal patrocinadora nos EUA, não renovou o contrato para os próximos anos).
Renovei meu espanto por me ver próximo a um escritor estimado ao postar um comentário em um blog português hoje. Há muito não leio Lobo Antunes, uns cinco anos; mas o li muito, com afinco e deslumbramento. Li os Cus de Judas, O Esplendor de Portugal, O Conhecimento do Inferno, e mais uns três ou quatro. Antunes é um desses escritores perigosos para um escritor aspirante ao mercado de publicações. Ele é tão deletério quanto Hemingway. Ao se ler Antunes, a pessoa passa a escrever tudo e qualquer coisa com a voz do Antunes na cabeça.Parece uma possessão demoníaca. Até um simples recado preso à geladeira para a esposa tem um acento consonantal que cheira nitidamente aos longos parágrafos polifônicos carregados de metáfora antuneanas. Quando eu lia Hemingway, até para conversar pedindo o troco ao cobrador do ônibus soava com a macheza de índio lacônico do autor das aventuras de Nick Adams. Deixei de ler Antunes não por causa disso, mas porque ele passou a seu o autor mais pós-revolucionário e pós-literatura dos últimos tempos. Seus mais recentes romances parecem ter sido contaminados por um vírus de computador. Textos desalinhados, várias vozes falando ao mesmo tempo, um desconstrutivismo que simplesmente me expulsou de vez. Uma das coisas que mais lamento, por certo, no universo literário é esse fato do Antunes ter-se finneganswakeizado.
Mas a coisa que eu estava a falar era sobre a intimidade da web ao nos aproximar de escritores.Pois postei um comentário sobre Antunes em um blog falando sobre um de seus romances, e quem parece que aparece no comentário debaixo, senão o próprio Antunes? Não examinei a veracidade da coisa, mas pelo atenção severa que dei ao caso, creio que é o Antunes.
Ainda bem que não falei de todo mal do cara, só o que falei aí em cima. Acho.
Charlles,
ResponderExcluirSe não há ciumeira, você podia postar uma listinha desses blogs com hyperlink.
Ah, e não seria melhor finneganswakizado? :)
Luiz, melhor mesmo finneganswakizado, obrigado.
ResponderExcluirSegue a lista dos links:
blog do Vila-Matas:
http://www.enriquevilamatas.com/blogs.html
blog do javier marías (meu preferido; excepcional):
http://javiermariasblog.wordpress.com/
blog dedicado à obra de Thomas Pynchon, pelo virtual San Narciso Community College:
http://www.pynchon.pomona.edu/
dois maravilhosos blogs sobre e do José Saramago (notação maior para o primeiro):
http://caderno.josesaramago.org/
e
http://blog.josesaramago.org/
o Saul Bellow Journal:
http://www.saulbellow.org/
e o do Philip Roth:
http://rothsociety.org/
O do Lobo Antunes aparece linkado no post. Note que às vezes, pela cor de fundo do blog, nem sempre é facilmente visível.
ExcluirBem, eu acho que não é o Antunes, mas um maluco que gosta tanto dele que o tomou por avatar.
ResponderExcluirNoutro dia tava vendo um programa irrelevante, e só o estava vendo por que ele versava sobre a carreira duma atriz belíssima, das antigas, Claire Bloom. Fofoquinhas. Vida, obra e minúcias sem importância. Daí que surge na tela o Philip Roth. Uai, por que? Porque o filho de uma puta casou com a Claire Bloom! E, como não poderia deixar d eser, o casamento não deu certo. Por que? Segundo Claire, porque o filho de uma puta tinha um ego enorme, era controlador ao extremo e desprezava a carreira dela como atriz, achando que ela devia dedicar sua vida (a dela) a ele (o filho de uma puta).
Como são legais as fofoquinhas!
Ele escreveu todo um livro sobre isso, em que descasca a laranja da ex de forma não muito digna sob nenhum parâmetro de avaliação_ mesmo de gosto.
ExcluirEla, em contrapartida, foi elegante. E bela, como sempre. Só não pôde deixar de dizee o óbvio. Até porque, todos sabiam, todos sabem etc.
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