Assisti à Minha Amada Imortal no cinema, e depois, incontáveis vezes em VHS e DVD. Essa cena acima me limpou a alma. No todo é um filme mediano, mas cuja cena especificada é de uma sublimidade pouco alcançada por outros filmes maiores. Lembro que chorei, tomado por uma infinita sensação de beleza, e como nas experiências estéticas extremas, me senti preparado para morrer naquele momento. Diante o lago e as estrelas refletidas, tive aquela convicção perigosa dada pela inesperada intrusão da beleza, de que de tudo até então, aquilo era o ponto culminante e já me bastava. O problema é que sempre que escuto a Nona, e começa o último movimento, me é impossível dissociar a música da cena.
Por instantes você me levou a questionar o que havia de tão especial no filme que eu perdi. Era sim um filminho mediano. Não vi no cinema, vi muitos anos depois e contaminhada por um trabalho de psicologia comportamental, então não me lembro se essa cena me emocionou ou não (provavelmente não).
ResponderExcluirJá essa sensação de beleza me alimentava sempre. Tinha um programa de música no museu, que apresentava um dueto todas as terças-feiras. Eu ia sozinha porque nunca tive companhia no meu gosto por música clássica - e de certa forma viciei em curtir música clássica sozinha. Quando saia de lá, eu sentia que nada podia me faltar e nada importava. A beleza me preenchia como um alimento.
Como somos mais propícios a olhar para o alto nessa época, não? Vejo isso na ficção-científica também, uma vontade de pensar além dessa vida mesquinha que temos na Terra.
A vida mesquinha é o tema da minha vida, Fernanda. Não acredito em filósofo ou cientista nenhum, ou acredito de uma forma muito subjetiva. Tenho como certo as palavras de Saul Bellow sobre a imaturidade de nossa evolução técnica e científica_ estamos na primeira infância de qualquer descoberta relevante sobre a realidade_, e que nada partindo dela serve para sequer insinuar algum matiz da verdade. Bellow nunca aceitou o que o baixíssimo nível de lucidez desse nosso nível de existência tem para nos oferecer.
ExcluirDaí que essa imersão do menino Beethoven nas estrelas tem tanto a dizer, apartando-se do mundo. Beethoven é meu misantropo favorito.
Dá uma olhada em http://www.youtube.com/watch?v=qXDSW83Sc2I, onde há outra versão cinematográfica de outro filme ruim, "O segredo de Beethoven", que tem a graça da hipótese porralouca de uma mulher que o auxilia depois que ele ficou surdo e... bem, veja a coisa.
ResponderExcluirA Ode à Alegria é normalmente utilizada como gancho emocional irresistível. Utiliza-se a música como condutora de imagens de "beleza" e "alegria" de maneira mais indigna; fica parecendo cinema de autoajuda. Pobre de Beethoven, pobre de nós, etc.