domingo, 29 de janeiro de 2012

As Melhores Frases Finais


Geralmente, o que se procura são as frases iniciais, as célebres "todas as famílias felizes se parecem...", "de frente ao pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía...", "chamai-me Ismael", etc. Pois aqui proponho as frases de encerramento que mais me impactam na prosa (uso esse termo geral, pois na lista tem uma autobiografia). Vai por ordem de excelência:

1. _ Sim, pensou, entre a dor e o nada, escolherei a dor. (Palmeiras Selvagens, William Faulkner)

2. Quem sabe se, nas frequências mais baixas, eu não falo também por vocês? (Homem Invisível, Ralph Ellison)

3. Entretanto, antes de chegar ao verso final já tinha compreendido que não sairia nunca daquele quarto, pois estava previsto que a cidade dos espelhos (ou das miragens) seria arrasada pelo vento e desterrada da memória dos homens no instante em que Aureliano Babilônia acabasse de decifrar os pergaminhos e que tudo o que estava escrito neles era irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra. ( Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez)

4. Bem, admitamos.
   ...mas, dessa vez, nós queremos, uns aos outros, e, além disso, de boa paz, você está ouvindo, com amor e brandura, como a natureza nos criou...
    Que lindo sonho, disse a ratazana antes de sumir. (A Ratazana, Günter Grass) 

5. Naquele momento ele não tinha mensagens para ninguém. Nada. Nem uma palavra. (Herzog, Saul Bellow)

6. Agora eu já tinha bem mais de dezenove anos, arruinara meu pneumoperitônio e estava em vias de, de um momento para outro, precisar voltar para Grafenhof. Mas me recusei, nunca mais voltei. (Origem, Thomas Bernhard)

7. Momentos houve em que, cheio de pressentimentos e absorto na tua obra de "regente", viste brotar da morte e da luxúria carnal um sonho de amor. Será que também da festa universal da morte, da perniciosa febre que ao nosso redor inflama o céu desta noite chuvosa, surgirá um dia o amor? (A Montanha Mágica. Thomas Mann)

8. Vou beber um pouco de vinho; em seguida, como um Rip van Winkle moderno, vou me deitar sobre esta pedra talhada, encostar a cabeça debaixo destas letras, R I P, e fechar os olhos, seguindo o velho hábito de nossa família, de adormecer em momentos difíceis, com a esperança de despertar, renovado e feliz, num tempo melhor. (O Último Suspiro do Mouro, Salman Rushdie)

9. Já não quero pensar em coisa nenhuma. Nem em Deus? Não! Deus estará comigo. Por que haveria de pensar n´Ele? Deus acompanha os que não pensam. Pois bem, adeus, Instituto Benjamenta. (Jakob von Gunten, Robert Walser)

10. Naquela noite, Inni sonhou com os dois Taads. Um congelado, o outro afogado, ambos apareceram à janela do seu quarto, demonstrando uma alegria absurda e bárbara; abraçavam-se, soltando inaudíveis gritos de satisfação. Inni levantou-se, foi até a janela, além da qual avistava-se apenas o vaivém de galhos esqueléticos, cintilantes de gelo. Havia realmente dois mundos: um onde se encontravam os Taads, o outro de onde eles estavam ausentes; e, felizmente, Inni continuava no segundo. (Rituais, Cees Nooteboom)

7 comentários:

  1. Como eles dizem por aqui, não leia se não quiser saber o fim da grande obra de Mishima. Contém SPOILERS.

    From where I sat the Golden Temple itself was invisible. All that I could see was the eddying smoke and the great fire that rose into the sky. The flakes from the fire drifted between the trees and the Golden Temple's sky seemed to be strewn with golden sand.
    I crossed my legs and sat gazing for a long time at the scene.
    I looked into my pocket and extracted the bottle of arsenic, wrapped in my handkerchief, and the knife. I threw them down the ravine.
    Then I noticed the pack of cigarettes in my other pocket. I took one out and started smoking. I felt like a man who settles down for a smoke after finishing a job of work. I wanted to live.

    (Mishima, Templo do Pavilhão Dourado, de quando o monge Mizogushi contempla o Templo Dourado em chamas, obra sua, e que teria sido também a sua tumba)

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  2. Pareceu-me muito bonito esse excerto. Ainda não li nada de Mishima. É um dos autores que tenho que me condicionar a ler. Mas esse ano está sendo o ano das drásticas reviravoltas de leitura, pois em menos de um mês já passei de Tolstói a Proust.

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  3. Muito boa postagem, Charles.

    Mas esta continua sendo minha predileta:

    "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria". (Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machadão)

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  4. Eu gosto muito dessa também, João Marcos. Mas coloquei as que revisito rotineiramente e que exerceram formação quanto a meu modo de ver o mundo. Já disse em algum outro lugar_ acho que no blog do nosso amigo Grijó_, que a escola estragou minha apreciação ao Machado. Quando penso em Machado, uma série de professoras e professores intermedeiam o "entendimento ortodoxo" de Machado. Coisa difícil de superar.

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  5. Dá para se fazer um 100 livros só com melhores frases finais de outros; da mesma forma, dá para se sair na porrada por causa da eleição de cada frase, livro e autor. Eu gosto de:

    "Vira em um filme, mais de um certamente, onde uma mulher dizia a outra conhecer seus sentimentos, pois uma mulher não consegue ocultá-los uma da outra. Mentira, como tantas outras, como aquelas que posso contar e essas que conto agora, tão cruéis que doem no meu amor por Julien. E eu gosto, sente Délia, descartando o sentimento e a ideia da culpa. Mais uma mentira que sabe a prazer, nessa dor amorosa que mói seu corpo a ponto dela pressentir a existência de algo em si como um espírito. Abandona a sensação, ou melhor, a palavra. A estranha sensação, inominável, fica. "

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  6. Claro que não conhece, é uma brincadeira. Trata-se dum livro meu mesmo, "No meio da rua".

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