segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A Tinta que Falta

Numa antiga anedota que circulava na hoje falecida República Democrática Alemã, um operário alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que toda correpondência será lida pelos censores, ele combina com os amigos: "Vamos combinar um código: se uma carta estiver escrita em tinta azul, o que ela diz é verdade; se estiver escrita em tinta vermelha, tudo é mentira." Um mês depois, os amigos recebem uma carta escrita em tinta azul: "Tudo aqui é maravilhoso: as lojas vivem cheias, a comida é abundante, os apartamentos são grandes e bem aquecidos, os cinemas exibem filmes do Ocidente, há muitas garotas, sempre prontas para um programa_ o único senão é que não se consegue encontrar tinta vermelha."
                                     (Bem-Vindo ao Deserto do Real, Slavoj Zizek)
Slavoj Zizek: "Sentimo-nos livres pela falta de uma lingua em que articular nossa não liberdade"

9 comentários:

  1. A piada alemã oriental com conexão na Sibéria fazia sentido num contexto de Guerra Fria e Ditadura Militar no Brasil. Hoje faz sol.

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  2. Claro. Só coloquei aqui por achá-la muito engraçada.

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  3. Hummm.... me lembrei de um filme da Alemanha Oriental, não sei se feito antes ou depois do fim do muro, que retrata a vida de adolescentes em Berlim Oriental, com seu cotidiano muito parecido com o vivido por jovens em qualquer lugar do mundo, embora esteja onipresente o clima de censura e as interdições mais pesadas no cotidiano da escola, das aventuras sexuais, etc. Uma cena engraçada me lembrou minha própria juventude, quando um jovem compra um disco dos Rollings Stones no mercado negro, põe pra tocar e ouve algo parecido com uma polca. Ele chora, lamenta, mas o amigo tenta convencê-lo que, sim, o que estamos a ouvir é a guitarra de Keith Richards; ele dança, o outro dança atrás, eles bem próximos ao muro. A lembrança é de quando morava em São Gonçalo e fomos à Niterói comprar um disco do Led Zepellin como se fosse coisa proibida. Como o dinheiro era pouco, resolvemos não comprar, mais porque meu irmão, apesar de cultuar o grupo da boca pra fora, na verdade ouvira o disco na loja e não gostara ele. Era aquele com o Zepellin em p/b estourado na capa.

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  4. O melhor do Led, a meu ver. O que tem Dazed and Confusion e How Many More Times.

    Esqueceu de "Viva Lênin" (o título é realmente este?), aquele ótimo filme do jovem que tem de simular à mãe que acordou de um coma de que eles ainda moravam na Alemanha Oriental. Claro que você assistiu.

    Estes dias estava tentando lembrar qual o filme cubano em que um jovem é apresentado a um romance do Vargas Llosa pelo seu colega de apartamento. Não sei.

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  5. (Mas me recordo que nos meus 15 anos, um amigo me apresentou ao evento raríssimo de uma banda iuguslava que tentava furar o bloqueio. Uma banda que na época achei pra lá de terrível: The Plastic People of The World. Só muitos anos depois vi a banda citada no livro Tudo que È Sólido Desmancha no Ar.

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  6. O nome do filme cubano é "Moranho e Chocolate". A banda The Plastic People, não tenho certeza, creio ser tcheca, mas, de qualquer maneira, é citada o tempo inteiro numa peça de Tom Stoppard, de nome...Rock’n’Roll, uma reflexão sobre arte e política em meio á Guerra Fria e à utopia lisérgica que põe a música no centro de um processo de transformação da consciência, daí a proeminência do Syd barret como personagem catalizador que, no entanto, só é citado, só aparece como uma sombra que toca flauta. Tenho certeza que você adoraria a peça, apesar de tocar U2 uma ou duas vezes.

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  7. O q mais gosto de Adeus, Lenin, ou em qq filme em q ela estiver presente, é a trilha do Yann Tiersen, como ocorre em Amélie Poulain.

    mas o melhor filme q já se passou na Alemanha é O que fazer em caso de incêndio? Impossível ter visto e não ter gostado, Charlles. Esse trailer aqui ainda tem No Surprises como cereja.
    http://www.youtube.com/watch?v=pr3NeqHHc1c

    arbo

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