"Em épocas recentes, como nos anos 1970, a ideia de que o objetivo da vida era ficar rico e que o governo existia para facilitar isso seria ridicularizada não apenas pelos críticos tradicionais do capitalismo como também por alguns de seus defensores mais convictos. A indiferença relativa pela riqueza em si se disseminou na época do pós-guerra. Uma pesquisa entre estudantes ingleses realizada em 1949 mostrou que quanto mais inteligente o estudante fosse, mais tendência tinha a escolher uma carreira interessante, com salários razoáveis, em vez de um emprego que simplesmente lhe pagaria bem. Os estudantes e universitários de hoje conseguem imaginar poucas opções além de buscar um emprego lucrativo.
Por onde devemos começar para corrigir a criação de uma geração obcecada pela busca da riqueza material e indiferente ao resto? Talvez seja preciso começar lembrando a nós mesmos e nossos filhos de que nem sempre foi assim. Pensar "economisticamente", como temos feito nos últimos trinta anos, não é intrínseco aos seres humanos. Houve um tempo em que organizávamos nossas vidas de maneira diferente."
O Mal Ronda a Terra, Tony Judt
Eu me sinto bastante velha quando olho para as novas gerações e me assusto com a maneira como eles são... práticos. Na minha adolescência, éramos todos meio hippies, idealistas, marxistas. Mesmo que fosse uma fase, mesmo que fosse por leituras equivocadas que eram abandonadas pouco depois da faculdade. Mas existia.
ResponderExcluirDiz minha mãe que à medida que crescemos "aburguesamos" - já não aceitamos caronas desconfortáveis, viver à base de coxinha e vestir qualquer coisa. Os jovens de hoje - olha que maneira mais velha de colocar as coisas! - já estão aburguesados antes de passar por essa fase. Pra que escolher algo que não dá grana? Pra que morar num pé-sujo se na casa dos meus pais tenho do melhor? Acho triste e um pouco assustador.
Quero de verdade que alguém que tenha contato mais íntimo com adolescentes venha aqui e me desminta. Que eles são idealistas sim, que conheci e convivi com os jovens errados. Venham e digam isso, que ficarei feliz.
(Palavra chave: SYCOCI
Grande Charlles.
ResponderExcluirE esse excerto te chamou a atenção por que?
Achei de uma platitude...
Caminhante, esse post ressoa aquele texto que você me mandou por email.
ResponderExcluirLuiz, parece-me bastante relevante. Casa com as denúncias sociais de Zizek. Não se trata de um pedaço do estilo substancial de Judt, aliás esse livro é bem menos "estiloso" que os outros livros dele. Há uma sinceridade sem pompa, um chegar logo ao âmago do problema. Acabo agora de rever No Country For Old Men, o que confirma ainda mais que o que Judt diz aí é o problema capital, a questão incontornável.
Lembrei na hora que li. Se não fosse uma citação, acharia que você se inspirou nele na hora de escrever.
ResponderExcluirPrefiro um ofício interessante e rentável ao mesmo tempo, como o que eu escolhi.
ResponderExcluirRealmente; meus alunosm costumam receber críticas de seus amigos: "Fazer Letras para que? Isso não dá dinheiro!" Antes, quando fiz Letras, as pessoas diziam: "Que bom! Você deve ter contato com muita coisa interessante!" Agora..."Ler romances? Isso serve para que?" O marido de uma amiga trabalhava na Bolsa de Valores do Rio, mas a corretora em que ele trabalhava, como muitas delas, foi desativada aqui, pois a Bolsa brasileiro centrou-se em São Paulo, e há poucos operadores no Rio. Antes, ele desenvolvera o alcoolismo por causa da pressão. Hoje, ele é motorista de táxi, deprimido e com propensão ao pânico. Achamos que ele foi destruído pela profissão, de um lado, e pela perda do acesso ao dinheiro, do outro. Ela tem que se virar com seu próprio emprego e com a filha de 15 anos. Problema principal: dinheiro. Secundário: o que fazer para consegui-lo? Acessório: como viver em um meio social de classe média com a queda do padrão de consumo? Vida interessante, não?
ResponderExcluirA ilustração do peixinho saltando de um aquário para outro é fantástica. Tem muito a ver com o comentário da Rachel...
ResponderExcluir