quarta-feira, 10 de outubro de 2012

E Agora Algo Totalmente Diferente...

Segundo a previsão, faltam cerca de doze horas para o anúncio do Nobel de literatura deste ano. Algo me diz que não vai dar Philip Roth, mas espero que eu queime a língua. Os caras lá de Estocolmo cheiram a muita disposição de surpreender, não no melhor sentido, e se forem dar o prêmio para um norte-americano, vão desencavar algum desconhecido nonagenário ex-hippie e militante frustrado de esquerda que, os que se lembrarem dele se verão na compulsão de dizer: mas esse aí não tinha dado um pipoco nos ouvidos há 30 anos? Por outro lado, ficaria feliz se o eleito fosse Cees Nooteboom, um dos maiores escritores vivos e autor de dois dos romances mais belos e fundamentais dos últimos 50 anos, o que motivaria as editoras nacionais a prestarem uma atenção mais respeitosa ao cara: a Cia das Letras traduziu Dia de Finados não diretamente do holandês, e ainda falta ser publicada por aqui mais da metade da produção do autor (sobretudo o maravilhoso Tumbas). Mas o senso de humor da academia é sempre pythoniano, e não espero que esse ano ganhe alguém conhecido_ quando eles elegem alguém conhecido, fazem a questão de ser aquele que até o próprio desistiu de esperar ser laureado um dia, como foi o caso de Vargas Llosa. Tudo para sacanear bolsas de apostas e previsões colegiais.

Eu poderia jurar que eles jamais premiarão Thomas Pynchon, pelo fato de Pynchon fazer parte dos que estão acima do prêmio, como foi o caso de Graham Greene, James Joyce, Tolstói, cada um à sua maneira e com suas diferenças. E seria algo bombástico ver o velho Pynchon, após uma vida toda de reclusão, se mostrando um ventríloquo de si mesmo, excessivamente loquaz e com aquela disposição toda em queimar um filme e convidar uma das senhoras da plateia para dançar uma mazurca, como o fez, cheio de incitação à vergonha alheia o Rubem Fonseca. O poeta Adonis, que tem uma dessas caras que o obstetra já reconhece ser destinado ao Nobel, terá de resistir pelo menos mais um ano em sua permanência por esse planeta, pois eles nunca premiaram dois poetas seguidos (pelo que eu me lembro, de minhas consultas à lista). 

Eu só espero mesmo que eles não premiem o Murakami. Neste final de semana eu estava na capital para o aniversário da minha filha, e procurei obras desse japonês pelos sebos e pelas livrarias dos shoppings, e não encontrei nada. Acabei comprando dois romances do Llosa, por quem estou hipnotizado desde que li A Guerra do Fim do Mundo. São O Sonho do Celta, e A Festa do Bode. Murakami ganhando, incorreria em gastos maiores pelo cartão que eu não estou em condições confortáveis de ter, pelo menos pelo próximo mês. Em todo caso, terminei de ler Os Enamoramentos, o maravilhoso recente romance de Javier Marías (quem espero que a academia deixe em paz pelo menos mais uns dez anos, para que o espanhol continue lançando, numa fantástica linha de continuidade ininterrupta, uma obra-prima atrás da outra), e estou na página 200 da fundamental auto-biografia de Salman Rushdie, este um provável laureado de 2017 ou 2018.

A foto da festinha de dois anos da minha filha Júlia, acima, me recordou a belíssima capa de Paraíso Perdido, do Cees Nooteboom.

P.S.: a propósito, vejo no blog do Javier Marías, surpreso, que ele também tem alto apreço pelo conto A Pata do Macaco, citado aqui como um de meus 10 contos preferidos.

10 comentários:

  1. E essa expressão concentrada da tua borboleta? Gracinha!

    Nem li o post ainda, péra.

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    1. A minha impressão foi o seguinte: ela tá vendo como a velinha de 2 anos vai derretendo tão rápido quanto os dos anos que já se passaram e ela não entendeu nada; fica então a pensar, compenetrada, perplexa: "Que merda é essa?"

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    2. Caminhante, na verdade é a fantasia de uma joaninha...

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    3. Marcos, você não entende absolutamente nada de criança.

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    4. Mas eu não quis entender de criança, eu pus um adulto lá dentro a gemer fixando-se na velinha e vendo o mundo desaparecer...

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  2. E quem você acha que será o artilheiro do campeonato brasileiro este ano? - brincadeira para a medida de importância que se deve dar ao Nobel de Literatura, infinitamente menos importante que os científicos, devido ao caráter mui mui subjetivo e mui mui mui político das escolhas. Aposto num nome oriental, qualquer um, só para deseuropeizar um pouco, mas tembém pode ir no sentido contrário, da valorização da europeidade; que os milhões fiquem aqui, pois estamos numa merda de dar gosto, os velhinhos devem pensar diante dos 300 nomes à escolha, de poetas obscuros a contistas mais obscuros ainda como eu, é claro, que, ao publicar mais um conto no blog hoje, me recomendo para o prêmio.

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    1. Li seu conto e gostei. Legal o modo como passa do atropelamento para a vida do chinês do ônibus.

      Infelizmente o único brasileiro cotado é o excêntrico e fraquinho Suassuna. Como Ubaldo, Piñon e, e...(pô, quem mais??), eles arranjam de demonstrar que pouco importam com nossa literatura pátria citando o nome de um de nossos piores autores. Tentei ler o Pedra do Reino, mas aquilo lá que é o concreto armado do Ulysses da Caminhante. Taí um livro que desde já tenho certeza que jamais lerei.

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    2. Hoje é "sexta-feira", um bom dia para acabar com essa lucidez insuportável! E vida a literatura chinesa, escrita em desenhos de casinhas, espadinhas e sei lá mais o quê!

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