quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Aliás


Aliás, eu que sempre sou atrasado em tudo, achei somente hoje o Google livros, em que ficam disponíveis para leitura quase todos os títulos do mundo. Estava procurando algo do Murakami para ver qual é a do cara, e achei. Comecei a ler Minha Querida Sputnik (já um tanto desconfiado pelo título típico de Fausto Fawcett), e depois passei para as primeiras páginas da trilogia 1Q84, que só na primeira semana de lançamento no Japão vendeu a cosmológica quantia de 2 milhões de exemplares. Essas páginas ligeiras mexeu com todas as minhas concepções sobre literatura. Murakami me pareceu constrangedoramente fácil, leve. Ele que disse ter partido para a escrita para acabar com a mania de escrever bonito da literatura chinesa, parece ter conseguido. Será possível que se está criando uma nova modalidade de literatura em que os olhos passem por cima das palavras sem necessariamente as verem? Como se lessem música, ou cinema, na página impressa? Será essa literatura que acabará com o cansaço da literatura, a inércia intrínseca da palavra escrita? E os temas de Murakami são uma miscelânea de coisas assombrosas, realismo fantástico com mangá, assassinas profissionais com universos paralelos. Soa caótico e juvenil por demais, mas pensando um pouco mais, não fica difícil perceber que Shakespeare (para irmos ao nascedouro do romance) também era assim. Preciso urgentemente ler Murakami.

6 comentários:

  1. Minha Querida Sputnik não é a melhor porta de acesso a Murakami. Achei inclusive bem fraco.
    Eu começaria por Norwegian Wood ou Kafka on the Shore.
    A sua impressão em relação à maneira como se lê Murakami é bem próxima da minha própria experiência. É como se Murakami tivesse de fato dominado o vernáculo pop e se apoderado dele em favor da literatura. Afirmo isso sem nenhum tom pejorativo. Murakami passa bem longe de uma Banana Yoshimoto, essa sim, um simples reflexo da tal da cultura pós-industrial, dessa gente nova que lê como quem passa os olhos pela página do Facebook.
    Fiquei surpreso que 1Q84 tenha ja sido lançado em português.

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    1. A Alfaguara lançou o primeiro volume de 1Q84 esse ano aqui, e uma editora de Portugal já lançou os dois primeiros volumes. Estava aguardando a sua opinião sobre o melhor Murakami, e confirma o que li em sites.

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    2. Que beleza! Parece que esse projeto dele é bem ambicioso. Li em algum lugar que 1Q84 é uma cifra com os correspondentes ocidentais dos caracteres japoneses para o 1984 do Orwell (algo assim).
      O Murakami é cheio dessas gracinhas cultas entremeadas à sua narrativa meio Tarantineana. Na maioria das vezes essas referências cultas (literárias, musicais, culinárias) são bem gratuitas. Sei lá, como Patricia Highsmith falando da colheita de cogumelos porcini em algum bosque Francês.
      Esse não é o caso de Kafka on the Shore, onde as referências literárias, ao Processo de Kafka ao Phaedro de Platão, realmente fazem parte da estrutura narrativa do romance.

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    3. Tarantineana talvez seja a descrição mais cabível. Essas referências do mundo pop engraçadinhas parece ser já moda entre os romancistas contemporâneos, tendo como porto de partida Pynchon. Há tantos ensaios disfarçados no corpo dos livros de Pynchon que isso causa um desbaratino na cabeça do leitor, o que, à medida que perde-se o assombro sobre essa questão, a coisa se mostra uma das atrações dos livros. Javier Marías ocupa muitas páginas do segundo volume de Seu Rosto Amanhã a falar sobre o uso do clostridium botulínico no mercado cosmético, por exemplo. Isso vem de Rabelais, de Sterne, e por aí vai.

      Estou realmente muito curioso a respeito de Harukami.

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  2. Do título, 1Q84: é que a pronúncia do Q em inglês é igual ao do 9 em japonês, e o Murakami remete com isso à internetice que é a simplificação da escrita pela troca ou matança de caracteres -- enfim, remete ao contemporâneo. Só essa ponte que ele faz logo no título já denuncia o teor e o tema do livro e me dá vontade de ler.

    Torcia para ele no Nobel, que nunca que o Roth seria premiado.

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