A polícia sugeriu que ele usasse uma peruca. O melhor peruqueiro deles o visitou e levou uma amostra de seu cabelo. Ele duvidava muito que o plano desse certo, mas vários agentes da proteção lhe garantiram que as perucas eram mesmo eficientes. "O senhor vai poder andar pelas ruas sem chamar a atenção", disseram. "Confie em nós." Para sua surpresa, o escritor Michael Herr confirmou isso. "Com relação a disfarce, você não vai precisar mudar muito, Salman", disse Michael, devagar e piscando bastante. "Só os traços mais visíveis." A peruca foi feita e chegou numa caixa de papelão marrom, parecendo um bichinho adormecido. Ao pô-la na cabeça, ele se sentiu um completo idiota. Para a polícia, estava ótimo. "Está certo", disse ele, indeciso. "Vamos dar um passeio com ela." Levaram-no à Sloane Street e estacionaram perto da Harvey Nichols. No que ele desceu do carro, todas as cabeças se viraram para fitá-lo, e várias pessoas começaram a rir e até a gargalhar.
"Olhe", ele escutou um homem dizer, "aquele ali é a besta do Rushdie, de peruca." Voltou para o Jaguar e nunca mais usou a peruca.
(Salman Rushdie, Joseph Anton, Memórias, Companhia das Letras, p.234)
Nenhum comentário:
Postar um comentário