Há duas semanas ajudei meu barbeiro (o cara gentil que estudou a posição da cadeira mais favorável à luz para cortar meus parcos cabelos) a se livrar da cadeia. Para suprir o minguado rendimento mensal, o barbeiro se dispôs a trabalhar na segurança de uma boate. Na primeira noite, entrou a separar uma briga entre playboyzinhos bêbados e levou um tapa na cara. Em honra à sua masculinidade, pegou da mesa mais próxima uma faca e enfiou-a até a metade na barriga de seu ofensor. A faca entrou por um vão sem tocar nenhum orgão vital. Enquanto socorriam o esfaqueado, o barbeiro, provando sua inadmoestável índole de pai de famíla, dirigiu-se calmamente até o pelotão de polícia, acordou o oficial de plantão e se entregou. Ninguém se predispôs a depor em seu favor, só o outro segurança. Prontifiquei-me a tal. Estudei o relatório que ele me enviara pelo advogado, visitei a boate numa tarde para ver pela primeira vez a disposição dos objetos em cena. Não tremi a voz no depoimento ao responder à juíza que aceitava as condições de sair algemado do tribunal caso identificassem que mentia. Reconhecidos a legítima defesa, a proficiência do ofendido em Muay Thai, a ficha limpa do barbeiro, a acusação de tentativa de assassinato caiu para lesão corporal. O corte de cabelo que ele me fez hoje negou-se terminantemente a cobrar. Brincando, respondi que ele ainda era o único homem que me fazia arrepiar ao passar de leve a navalha pelos monturos de cabelo da minha nuca.
Senti uma pouco velada ameaça nesta sua postagem; acionei meu advogado que, ainda nesta sexta-feira, impetrará um mandado de segurança que obrigará o titular, logo impetrado, deste blog, a manter distância não menos inferior a 1.338 quilômetros do ora Impetrante, termos em que, p. deferimento.
ResponderExcluirCuidado, Marcos!
ResponderExcluirDe acordo com Freud, em todo chiste há uma verdade.