O único livro de Sabato que encontrei por toda Goiânia foi em um sebo do centro, O Escritor e Seus Fantasmas. Lançado em 1963, e aqui 40 anos após pela Cia. das Letras, tem várias partes dedicadas à tão mencionada "falência do romance". Todo mundo sabe o quanto de grandes romances se produziram depois disso, abalizando a defesa de Sabato. Estou sentado aqui na casa da mamãe folheando esse voluminho, como o Onetti que finalmente adquiri ontem e pela primeira vez (imperdoável) vou ler. Já li muita literatura latino americana, uma das minhas preferidas, mas nunca, não sei por que, li Onetti. A leitura tem uma contraposição interessante, pois há autores que se ganha conhecendo-os cedo, como Dostoiévski e Tolstoi, e outros cujo benefício é conhecê-los mais tarde, como Bernhard e Benedetti. Na juventude Bernhard se perderia para mim pelo risco de achá-lo arrogante, e Benedetti por julgá-lo escritorial em excesso. Numa página de Sabato acho essa frase extraordinária:
O homem é um deus quando sonha e não passa de um mendigo quando pensa. (Hölderlin)
ANTES QUE SEJA TARDE
ResponderExcluirby Ramiro Conceição
Há autores
que se ganha conhecendo-os cedo.
Outros somente mais tarde, quando
houver amor e madura for
a arte de matar sem medo
o ódio, a tempo:
antes que seja tarde!
Charlles,
ResponderExcluirencontrei outro post que talvez lhe interesse:
http://boxset.ru/glass-box-a-nonesuch-retrospective-10-cd-box-set-m4a/#more-1821
Abraço,
Rodrigo
O Escritor e os seus Fantasmas foi uma grata surpresa para mim. Por algum motivo que me foje, o que mais me recordo desse livro é da polêmica do Sábato com o Robbe-Grillet.
ResponderExcluirFico muito contente que você tenha comprado o La Vida Breve, Charlles.
Posso estar comprando uma briga feia contigo, que é fã do Garcia Marquez, mas pra mim nem Macondo tem a força e a solidez que o mundo imaginário de Santa Maria possui - esse arquétipo platônico de Buenos Aires ou Montevidéo que assombra tal qual as fantasmagorias mais reais os romances de Onetti. A sobreposição vertiginosa de Santa Maria sobre a Buenos Aires onde Brausen pisa os pés, traz um efeito de confusão entre Real e Imaginário que eu nunca tinha experimentado antes na literatura.
Mais eu não digo para não estragar a leitura.
Completamente off-topic, mas achei isso aqui formidável,
ResponderExcluirPhysically he was a cripple, yet there was an intrepid beauty about him, like that of a lovely woman. Cripples and lovely women are both tired of being looked at, they are weary of an existence that involves constantly being observed, they fell hemmed in; and they return the gaze by means of that very existence itself. The who really looks is the one who wins.
Rodrigo, obrigado pelo endereço. Acho que já tenho aqui na memória externa todas as composições do Glass. Vou conferir. Não sei se lá tem o grande disco com ele e o Ravi Shankar, vale a pena ouvir.
ResponderExcluirLuiz, acabei que comprei muitos livros de uma vez, e ainda estou no impasse de qual vou ler primeiro. Pretendo ver se começo com o do Judt. Li as primeiras páginas do A Vida Breve e fiquei verdadeiramente fascinado. Vou guardá-lo para a próxima semana, pois sei que exigirá uma disposição emotiva maior. Tenho a forte impressão de que será um novo Bernhard na minha vida de leitor (tive que ler tudo do Bernhard quase de uma vez depois que o Milton involuntariamente me apresentou O Náufrago). Gostei da editoração da Planeta, um livro bem acabado, ótima tradução e bonito. Talvez eu passe a fazer como você e o procure em espanhol.
Como você já deve ter notado, sou eclético ao extremo. Não gosto de Macondo fora de Cem Anos de Solidão, acho os contos referentes de GGM aquém da média do autor. De todo modo, obrigado pela indicação.
Muito bonito o trecho acima. De quem e de onde?
Yukio Mishima, The Temple of the Golden Pavilion.
ResponderExcluirImpressionante como vc sintetizou a relação leitor/obra, my brother Charlles.
ResponderExcluirBeleza pura.
Onetti é essencial e, coincidentemente, fui ler "Junta-Cadáveres" aos vinte e poucos e levei uma surra daquelas que enteado se acostuma a levar.
Dureza.
Fui ler depois, bem mais maduro, inclusive após ter lido o excelente "Deixemos Falar o Vento".
Para vc, que curte os ibero-americanos, conhece Juan José Arreola? É um dos mais impressionantes escritores que li.
Grande abraço
Grijó
Então estou na idade certa para o Onetti, Grijó. Anotei mais esse nome e, tendo de retornar à capital nessa terça-feira, procurá-lo-ei.
ResponderExcluirGrande abraço, brother Grijó.
Sympathy for the Devil
ResponderExcluirEm março de 1940, Mikhail Bulgakov aguardava o encontro com o Mestre; sua invenção tornou-se princípio e fim de sua própria vida, e assim se desdobraria para gerações futuras, mas, em 1940, Mikhail Bulgakov tinha problemas com o mal, devidamente encarnado, e muitas vezes multiplicado, por fatores administrativos e militares. Mesmo assim, com todos seus demasiados problemas, Mikhail Bulgakov parecia recitar um poema, ou assim pareceu a Yelena, sua esposa, um poema de outro mestre: “Vós, porém, quando chegar o momento / em que o homem seja bom para o homem, / lembrai-vos de nós / com simpatia”. Com ironia, no sardônico sorriso de Mikhail Bulgakov via-se como que escrito “Está feito”. Yelena não cerrou os olhos do marido por acreditar que, deixando-os assim, abertos, Mikhail Bulgakov ainda passearia pelo céu, à garupa do Mestre, no esquecimento da morte.
The Master and Margarita.
ResponderExcluirUma de suas influências?
Sim, mas a merda é que eu não aprendo...
ResponderExcluirÉ meio chato de dizer, mas não consegui terminar A Vida Breve. No começo é interessante, mas o gozo maníaco-depressivo de Onetti vai ficando chato, chato...Impressão pessoal, deveras.
ResponderExcluirEssa coisas são muito pessoais mesmo.
ResponderExcluirMas não se interessou por Brausen nem um pouco?
Pô, Charlles.
ResponderExcluirAbandonou a bodega?
:)
Abandonei não, Luiz.
ResponderExcluirVolto essa semana ainda.
Abraços.
Esse é o reverso do anverso de se ter leitores, caríssimo.
ResponderExcluirNão se pode nem brincar de Raduan Nassar em paz...
Hahaha. Eu não iria testar com tantos melindres os limites do meu anonimato, Luiz.
ResponderExcluirO que vc pensa do Lezama Lima?
ResponderExcluirEstou me animando a reler "Paradiso". Terminei, a duras penas, "Opiano Licario", que dizem ser a continuação de "Paradiso". Não vi isso, a não ser por coincidências de personagens.
Enfim.
Já leu?
Grijó
Grijó, ainda não li nada do Lezama Lima. Como é vasta a minha ignorância. A parte positiva é, quantos livros ainda existem para serem descobertos. Estou lendo Onetti, com extremo deleite.
ResponderExcluirAbraços.