(traduzido por Octávio Tarqüinio de Souza)
Fecha o teu
Corão.
Pensa livremente
e livremente encara
o Céu e a Terra.
Ao pobre que passa,
dá a metade do que possuis.
Perdoa a todos os culpados.
Não entristeças ninguém.
E esconde-te para sorrir
Recebi o
golpe que esperava.
Abandonou-me a bem-amada.
Quando eu a possuía,
era-me tão fácil desprezar o
amor e exaltar todas
as renúncias!...
Junto de tua amada,
Kháyyám, como estavas só!
Sabes?
Ela se foi para que tu
possas refugiar-te nela...
Que a tua
sabedoria não seja
uma humilhação
para o teu próximo.
Guarda domínio sobre ti mesmo e nunca te
abandones à cólera.
Se aspiras à paz definitiva,
sorri ao Destino que te fere;
não firas ninguém
Nas igrejas,
nas sinagogas e nas
mesquitas buscam refúgio
os que temem o inferno.
Mas o homem que conhece
os segredos de Deus não
cultiva no seu coração as
sementes do terror e da
súplica
O imenso
mundo: um grão de
areia perdido no espaço.
Toda a ciência
dos homens: palavras.
Os povos, os animais e as
flores dos sete climas:
sombras.
O resultado de tua
meditação: nada
Convence-te
bem do seguinte:
Um dia tua alma abandonará
o teu corpo e serás
arrastado para trás do véu
que flutua entre o universo
e o incognoscível.
Enquanto esperas,
cuida de ser feliz!
Não sabes de onde vens.
Não sabes para onde vais.
O criador
do universo
e das estrelas excedeu-se
quando inventou a dor.
Lábios vermelhos como rubi,
cabeleiras embalsamadas,
quantos sois neste mundo?...
A tulipa
rubra nasce
no campo regado outrora
pelo sangue de um rei.
A violeta brota do sinal
de beleza que palpitava
no rosto de um adolescente
Vi ontem
um oleiro sentado
diante do seu torno,
modelando as alças e os
contornos de uma urna.
O barro que ele amassava
era feito de crânios
de sultões
e de mãos de mendigos
A vida passa.
Que resta
de Bagdad e de Balk?
O choque mais ligeiro
é fatal à rosa completamente
desabrochada...
Bebe vinho e contempla
a lua, evocando as civilizações
que ela já viu morrer
Um pouco de pão,
um pouco de água fresca,
a sombra de uma árvore
e os teus olhos!
Nenhum sultão
é mais feliz do que eu...
Nenhum mendigo
é mais triste....
No turbilhão
da vida só são
felizes os homens que,
presumindo saber tudo,
não buscam instruir-se.
Inclinei-me na
perscrutação de todos
os segredos do Universo,
e voltei à minha solidão,
invejando os cegos
que encontrei pelo caminho
"Não bebas mais,
Kháyyám!"
E eu respondo:"Quando
bebo, ouço o que dizem as
rosas, tulipas
e os jasmins. Ouço mesmo
o que não me pode dizer
a minha bem-amada!"
Amigo:
não faças projeto
algum para amanhã.
Sabes acaso se poderás
concluir a frase
que vais começar?
Amanhã, estaremos talvez
muito longe desta
hospedaria, como os que já
se foram há sete mil anos
Delicia-te, ó
meu irmão, com
todos os perfumes, todas
as cores, todas as músicas.
Envolve de carícias
todas as mulheres.
Lembra-te de que a vida
é fugaz e que breve
voltará ao pó.
Escuta um
grande segredo:
quando a primeira aurora
iluminou o mundo, Adão já
era uma criatura dolorosa,
que pedia a noite,
que ansiava pela morte.
Não pedi
a vida a ninguém.
Esforço-me por acolher
sem espanto e sem cólera
tudo o que a vida me oferece.
Partirei sem indagar
o motivo da minha misteriosa
estada neste mundo.
Colhe todos
os frutos da vida.
Busca todas as alegrias e
escolhe as taças maiores.
Não creias que Deus faça
a conta dos teus vícios
ou das tuas virtudes.
Não deixes escapar
o que te pode dar felicidade.
Que é feito
de todos
os nossos amigos?
Será que a morte os
derribou e pisou?
Que é feito
dos nossos amigos?
Ouço ainda suas cantigas
na taverna...
Morreram?
Estão embriagados?
Quando eu não viver mais, não
haverá mais rosas, nem
ciprestes, nem lábios vermelhos,
nem vinhos perfumados.
Não haverá mais auroras,
nem crepúsculos, nem
alegrias, nem penas.
O universo não existirá
mais, pois tudo existe em
função do meu pensamento
Na terra multicor, caminha um mortal, que não é muçulmano, nem infiel, não é rico, nem pobre. Esse homem não venera Deus, nem acata as leis; não acredita na verdade, nunca afirma coisa alguma... Na terra sarapintada, quem é esse homem intrépido e triste?... | |
Queres saber o que te acontecerá amanhã?... Erro! Sê confiante, senão o infortúnio não deixará de justificar as tuas apreensões. Não te apegues a nada, não interrogues nem os livros, nem as pessoas: o nosso destino é insondável Olha em torno de ti. Não verás senão aflições, angústias e desesperos. Morreram os teus melhores amigos. A tristeza é a tua companheira única. Ergue, porém, a cabeça, abre as mãos e agarra o que desejas e podes atingir. O passado é um cadáver que deves enterrar. |
Fui muito herética de ver neste post uma versão Charlles Campos do PHES?
ResponderExcluirGrandes precursores da libertinagem iniciaram-se pudicos iguais a mim, Milton Ribeiro incluso.
ResponderExcluirILHA DAS ÁGUIAS
ResponderExcluirby Ramiro Conceição
Cantam cantos antigos
que o Mal é ardiloso
e que, sedutor, ilude a platéia
que, por ter os caninos escuros
com sangue de assassinatos cometidos,
não percebe por medo a insensatez.
Cantam sonhos longínquos
que o Mal é a raiz da culpa
que impede esta monada,
desde a tenra idade,
à iluminação, à Humanidade,
ao cuidado desta Terra única.
Cantam que tudo em nós é fruto
duma moral hipócrita e repressora
e que tudo sempre termina
num medíocre e terrível engano
colossal de templos e religiões:
uma manada de anões primatas,
bambos, prontos pra assassinar
quem ouse à alegria de duvidar.
Cantam cantos modernos
que a nossa civilização
judaico-cristã-muçulmana,
por ser estupidamente desumana,
possui a face dum quadro de Picasso:
o lado esquerdo em cisalhamento ao direito
tal qual o desespero em gritos dos ciprestes
destorcidos das telas de Van Gogh…
Cabe aqui uma pergunta.
Fomos, somos e seremos somente
caretas, caricaturas e canalhas
dum bando de micos amestrados?
Cabe aqui uma resposta.
Por herança da evolução,
somos um milagre repleto
de coragem.
Mas coragem pra quê?!
Para cantar e permitir
a continuidade da vida
nesta casa bendita.
Portanto canto e declaro
claramente que somos parte
das consciências do futuro,
do passado e do presente
em processos de passagem;
canto e declaro
claramente que a diferença
entre um bem-te-vi e Einstein
é simplesmente a maneira
diferente do bater de asas.
O amor é o senhor da Terra!
E não há diferença qualquer
entre a mulher, que nos braços
seus filhos queridos abraça,
e o Sol, que com nove braços
seus filhos queridos entrelaça
(Plutão não é um bastardo!).
Dizem que sou de aquário
pois ao sonhar às vezes rio,
a crer que do nosso aguadeiro
florescerá a sinfonia do amor
que será cantada e amada
em estelares línguas claras.
Porém, confesso: sou um contumaz
devorador de astrólogos à milanesa
regados — é claro— à muita cerveja.
Contudo, lúcido, continuo a declarar
que o amor não necessita de templos
e que nunca será de pouquíssimos:
pois Beethoven canta no uirapuru!
À frente
das minhas asas,
dança com graça
a Ilha das Águias...
Lá,
elas procriam...
De lá,
elas vigiam...
De lá,
vêm
o início
e o fim...
Eu vim... de lá!
Pra profetizar, instaurar e mediar
toda a forma de amar que está ali,
na estelar sala de estar e, aí,
dentro do teu amor, caro Leitor.
Parada solene para aplaudir este poema, Eu vim de lá! pra profetizar, instaurar e mediar toda a forma de amar que está ali, ....
ResponderExcluirCaramba! Êxtase poético.
Mas eu vim aqui para dizer do meu apreço por todos esses poemas místicos de Khayyam,
que bebo, bebo, e me sinto "embriagada de um
vinho que náo se colhe na videira"
Estou em pleno maravilhamento.
Muchas muchas muchas gracias meu amigo, se posso chamá-lo assim, posso?
milhóes de abraços ficam para abraçá-lo.
Muito obrigado, Carmem. Esteja a vontade para me chamar de amigo. Também amo Khayyam, desde a muito tempo.
ResponderExcluirAbraços.