O tema “ateísmo” já me cansou. Aliás, nunca tive muito saco para ele. Cheira-me a elitismo pseudocientífico, rancores secretos, e obtusidade de visão que só me instrui na compreensão do porque dos conflitos de fundo religioso na faixa de Gaza e no Oriente Médio. Não sou ateu, nem procuro uma dessas denominações de butique para me justificar, como “agnóstico”. Tenho um ótimo julgamento crítico quanto a minha capacidade intelectual, e não abaixo a cabeça para nenhum sultão flutuador em alturas inalcançáveis sobre o tapete mágico de seu título de doutorado. Já passei por três cursos universitários para comprovar a sempre certeza de inocuidade e labor contra o vento desses catedráticos feitores de teses burocráticas. Li o Dawkins, o John Gray, o Sagan, e tirei proveito o máximo possível de seus escritos, assim como admiro profundamente um volume das cartas de João Paulo I ( um surpreendente grande escritor!) que um padre amigo me presenteou. Sei dos perigos de descrédito numa discussão intelectual admitir em público e por escrito que sou cristão, e por isso esse ressabiamento em expor sem modéstia minhas credenciais cerebrais. Vou falar o que acho: todos os sistemas morais da antiguidade, os testamentos precursores indianos, mesopotâmicos, chineses, não conseguiram condensar de forma tão fulminante, o que se é preciso para uma boa convivência social, do que o “Sermão da Montanha” , e de quebra dá os preceitos de como acabar com a profissão dos psicólogos. Não estou, por todos os demônios, pregando! Não sigo nenhuma igreja. E, cerebralmente, não concebo a ideia de deus. Cerebralmente, sou o que essa prostituição de um conceito diz ser ateu. Quando meu pai reapareceu, numa ligação telefõnica, depois de 15 anos de ausência, em outubro do ano passado, disfarçando o propósito de sua despedida com o que ele lembrava da ternura que empregava na voz para me confortar de minhas dores da infância, eu sabia que não haveria nenhum deus a que eu pudesse pedir algo mínimo em favor dele, não a cura portentosa que desestabelizaria as leis do universo, mas só que o câncer não o fizesse sofrer e se desfigurar tanto. Não havia deus nenhum que o poupou de perder os cabelos do topete de jovem guarda que ele tanto orgulhava, que o resguardou de pesar 25 quilos, e que tivesse misericórdia para não deixá-lo cair no estágio de demência em que não reconhecia os filhos, nos últimos dias. O deus que meu cérebro poderia aceitar deveria, sob todos os privilégios de desaforamento dos sentidos, ser APANHÁVEL, para que toda a humanidade lhe esfregasse na cara toda a dor, a injustiça, a fome, a morte, que o Onisciente havia esquecido de verificar ao não calibrar de maneira adequada a merda da máquina criada. Como num desenho do Millõr, aceitaria participar de um S.O.S. feito por toda a humanidade de mãos dadas, para ver se deus via.
Mas há uma intuição de algo que não se explica, e essa intuição me mantem na dúvida. Sou um ateu que duvida. A mais nova tese levantada sobre a evolução humana é que, por sermos os únicos animais que cozinham, o tempo poupado na mastigação e uma maior absorção de nutrientes, fez com que nos tornássemos os únicos seres com cérebros grandes,capazes de saber que ao final dessa festa toda morreremos. E a cocção também nos fez sociáveis, casamenteiros, urdidores de prole. Mas aí tem sempre um idiotazinho inxerido que vem com os urubus. Urubus? É, mr. Gray. Os urubus vivem em sociedade, e são tão rigorosos com esse negócio de culinária que desde tempos imemoriais só comem a carcaça cozida pela natureza: desidratada e já parcialmente digerida para um maior aproveitamento. E, por mais que os efeitos do aquecimento global estejam danosos, nunca vi uma ave destas com dúvidas existenciais suficientes para um suicidio de não-bater de asas dramático; e nas fotos, o cara por detrás da mesa de autógrafos assinando um exemplar d “O Alquimista”,não tem penugens marciais de urubu-rei em torno do pescoço, mas a santimônia de uma rabicho de cabelo atrás da nuca.
Então, esse hiato entre vários hiatos, comporta absurdos ao gosto do observador. O ateísmo não passa de um movimento amador, com forçados ares de sofisticação, que não discute a ideia de deus, mas bombardeia com a mesma gana do Hamas, as formas sincréticas de igreja e expressão religiosa, como se não há, em quantidade suficiente, a mesma idiotia, corrupção e hipocrisia nas vertentes científicas.
(comentário meu publicado no blog do Milton Ribeiro)
Eu acho essa questão interessante demais para ser respondida. Sim ou não são muito simplistas, o universo nos oferece muito mais.
ResponderExcluirComo disse um escritor americano: as explicações e razões limitadas desse mundo não me convencem em nada.
ResponderExcluirGostei do post. No memomento, estou sem tempo para responder melhor. Volto depois...
ResponderExcluir"memomento" é ótimo... Você viu, Charlles, que estou sem tempo...
ResponderExcluirPERFUME
ResponderExcluirby Ramiro Conceição
Dentre os passos meus, naquela manhã, vi deus
dentro do olhar de um cachorrinho que passeava…
Aquele deus não era tribal, nem um assassino de gays;
não tinha escravos, terras ou altares justificados por leis;
abominava políticos, padres, freiras, pastores e dízimos;
não era uma lua mística, mas um sublime sol – objetivo!;
era um olhar enamorado que, agora, tento dar um nome,
mas aquele deus não tinha nome; era qualquer homem
ou mulher; era a luz de estrelas num vagar de um vaga-lume;
era um perfume a dizer…“NEM OURO QUE RELUZ É TUDO”
genial, Ramiro!
ResponderExcluirdúvida sincera. tbm aqui.
ResponderExcluirCada uma terá uma opinião acerca de acordo com suas experiências e preconceitos.
ResponderExcluirMinha opinião é só mais uma e não reflete a verdade absoluta.
Sua opinião é só mais uma e não reflete a verdade absoluta.
Walter, RJ.