sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Os grandes temas



Não é que o romance esteja acabando, mas os romancistas é que definham. Discussão eficiente é aquela em que nosso opositor se revela com um desconcertante argumento que reverte a verdade para o lado dele. Assim, ao negar para Ernani Ssó que o que ele dizia sobre nenhum romance há 20 anos ter mais a capacidade de o entusiasmar, o que ele proclamou aos poucos se provava como um diagnóstico das minhas próprias leituras. Parei para pensar e tive que dar o braço a torcer: faz tempo que nenhuma obra de ficção me impacta. Respondi ao Ssó que de dois em dois meses eu me deixava arrebatar por um novo romance; e não que não seja verdade, mas em uma análise mais sucinta, os livros que eu leio não chegam a ser integrados ao montante de produções contemporâneas. Puxei pela memória, em um ato sistemático sincero, e dei por mim que o último romance atual que realmente me impressionou foi Os enamoramentos, publicado por volta de 2 anos atrás. Nesse quadro, entra, claro, as últimas produções de Philip Roth e Thomas Pynchon. Mas tudo o mais tem conseguido apelar apenas para minha esperança de encontrar uma nova luz frutificante nas letras, uma nova motivação e energia. Mas não é o que acontece: Franzen e Egan e Tartt, por exemplo, Gonçalo Tavares e, de modo geral, a nova ficção portuguesa, tem, trocando em miúdos, me enchido de tédio. O livro da Tartt me consumou três semanas para que eu conseguisse terminá-lo, e se eu o fiz, foi por um ato de obrigação. Para não me limitar à produção norte-americana, o citado Gonçalo Tavares nunca me pareceu realmente literatura; vejo, com todo respeito ao autor e a seus leitores, que os tantos elogios que se fazem a ele é uma transcodificação ibérica das frases puxa-saquistas que atulham as contra-capas dos romances estadunidenses, e considero o cúmulo da subserviência intelectual que Tavares aceite que o anunciem como "o Kafka português". Tavares me parece um mestre do exercício provinciano da literatura, que tem sua relevância graças ao tempo das vacas magras em que o espírito criativo passa.

Uma coisa só eu tomei de proveito da leitura de Vila-Matas: em seu romance O mal de Montano, não sei se um companheiro de escritório do corcunda narrador, ou outro personagem desse facilmente esquecível livro, diz que o último grande escritor foi Robert Musil. Isso me ficou reverberando na cabeça. Eu não conhecia Musil; eu nutria mesmo uma aversão à sub-grandiosidade de Musil, via sua estatura de grande escritor do século como uma propagação vinda do mercado negro das valorizações literárias. Respeito muito Elias Canetti, e na auto-biografia de Canetti, as tantas deliciosas páginas sobre a amizade do autor com Musil me encheram de dúvidas sobre Musil. Me parecia que Canetti confirmava meu preconceito de que o homem Musil era um reacionário intragável, e que sua obra-prima era para seletos leitores que ainda tinham no espírito a heráldica de decadentes orgulhos aristocráticos. Musil era um tratado enjoativo sobre maçonarias sociais emboscadas e mortas pela história, e só era apreciado por saudosistas anciães. Ou seja, o que eu jamais me interessaria por ler. Mas, a frase do Montano me fez comprar O homem sem qualidades. Três dias depois do calhamaço de 3 quilos me chegar, eu tive que reportar o fato ao Ssó, para completar o círculo psicológico de improváveis ideias cadenciadas: narrei o quanto Musil havia me pego de cheio, na armadilha de ler o livro no banheiro e não conseguir mais que a leitura atendesse apenas às instantaneidades distrativas da escatologias. O livro é ligeiro e muito engraçado, apesar de suas 1400 páginas, é facílimo de se ler, eu escrevi a Ssó. E Ssó me respondeu com algo que me surpreendeu, pois vi nisso que a corrente de causalidade de nossas conversas também agiam nele: ele disse que seria uma boa pedida, mas que ele havia reservado o verão para a leitura de Os demônios e Os irmãos Karamázov, esse último antes do primeiro. Eu que havia o martirizado sobre o quanto Dostoiévski era uma revitalização do deleite da leitura. E eis que ele estava a se programar para voltar ao Karamázov.

Pois bem, chego onde queria. Eu reli mês passado os Karamázov, enquanto lia concomitantemente Musil. Como é bom ler Dostoiévski! Foi um limpa em meu enfado de leitor, e uma bela nostalgia rediviva. Ler Franzen e Tartt era um sofrimento com certo deleite, que se acentuava mais a compensação da leitura por poder sair falando mal deles depois, por poder reforçar a consciência daquilo que Nietzsche dizia de que o excesso de conforto da sociedade de consumo atrofiaria os poderes do espírito no homem. Leio com alegria, na tradução fiel de Paulo Bezerra, a seguinte frase em os Karamázov: "tremendo toda trêmula" (p. 761). O tipo de frase que deixaria Ssó louco, se não fosse de Dostoiévski. O livro é recheado de defeitos assim do estilo de Dostoiévski (Bezerra e os demais tradutores do autor da editora 34 escreveram fartamente sobre o cuidado que tiveram de traduzir a linguagem de Dostoiévski com toda sua oralidade, vulgaridade e incorreção). A literatura franzeana ou tarttaniana moderna vai pelo outro caminho, do apuro estético, da excessiva eufonia ora e outra disfarçada de urbanidade lasciva, de arranjado rebolado de jovialidade iletrada. Escritores como Tartt e McEwan direto parecem que tentam suavizar o que se tornaria por demais erudito em sua escrita mascando um chiclete e comendo um x-burguer para o açúcar sofisticado da deleteriedade se incorpore em suas obras. McEwan, desde dez anos atrás, não produz nada que não seja um mascar de chicletes e um apanhar com as mãos aptas a aparecerem em propagandas de fast-food um x-burguer gordurento. Sábado, Solar, e não sei mais quantos romances que ele lançou de lá para cá estão tão incapacitados de dizerem alguma coisa genuína que a mídia cultural cumpre bem a sua inércia em apimentar o gosto dessas sensaborias com a grife do nome do autor. Se é McEwan, é bom. Em Liberdade, do Franzen, 500 páginas são gastas para costurar uma catarse do reencontro amoroso dos dois amantes que, durante todo o livro, se traem, se odeiam, se envelhecem, e talvez seja a única cena que realmente tem alguma fagulha de vida, com os dois, homem e mulher, debaixo da chuva, com fome, no frio, sentados em choro conjunto nas escadas do chalé abandonado no meio da floresta. Lembro que eu vi como Franzen escreveu essa página: com suor no rosto, quebrando a ponta do lápis e seguindo em frente em febre tirando o máximo que podia do cotoco de carbono; em êxtase. E o x da questão é que, Dostoiévski parece que sempre escreveu dessa maneira, sem concessões nem mesmo à noção européia muito em voga do beletrismo. Dostoiévski, que escreve com redundâncias excessivas, com desconexos aberradores (que tanto, é claro, devem soar maiores ainda em seu próprio idioma), rasgava seu espírito nas páginas. Não à toa que Nietzsche anunciava, apaixonado, em suas cartas, que o russo era o escritor que escrevia com o sangue.  

Voltar a ler Dostoiévski para mim é voltar a me deixar possuir por um anacrônico sentimento de adstringência em respeito à humanidade. A mesma impressão que me possuiu ao assistir, ontem, um documentário pela rede Escola, sobre agro-floresta, em que um europeu que me pareceu ser a cara do Abraham Lincoln, que mora na Amazônia, pregava com uma sapiente simplicidade o contato com a natureza e a vida em respeito à natureza. Um homem de seus 50 anos, muito bonito em seu excesso de rugas, com um menininho de 3 anos, loiro, deitado em seu peito, enquanto ele fala com carregado sotaque sobre plantas e ventos, sobre o teor da terra a sobre a mata. Um leitor, um cara culto. E, em contrapartida geográfica, um caboclo de enorme inteligência, na caatinga, preenche a dicotomia do programa falando sobre sua luta para proteger o que resta de natureza na seca nordestina. Isso, essa relevância inexorável e imperiosa dos grandes temas, é que me enternece e me infla de fé com a leitura de Dostoiévski. Os escritores atuais, em suas deprimentes tentativas de realizarem o melhor, procuram os grandes temas, mas seus espíritos obnubilados não conseguem alcançar. Por isso essa nova escola de enxurrada de romancistas metalinguísticos: porque, de comum acordo, acharam falar sobre a morte do romance como a última tragédia de gabinete que simula com certo charme falar sobre os temas capitais humanos. Há um capítulo inteiro de os Karamázov, intitulado Os meninos, que por si mesmo já seria um amplo aprendizado para esses escritores voltarem a procurar o caminho certo para encontrarem o Enredo. Esse capítulo, absolutamente errático no livro, vem após o inquérito investigativo que uma comissão de procurador, promotor e comissário, faz sobre o parricídio supostamente praticado por Dmitri Karamázov. Estão o acusado e a comitiva e uma série de testemunhas, dentro de um hotel, em uma dessas províncias invisíveis anunciadas apenas por sua letra inicial, típicas nos livros do russo; há neve lá fora, a temperatura ambiente é de 20 graus negativos. Dmitri olha pela janela e vê a lama de uma estrada, e as miseráveis isbás do povoado. O capítulo do inquérito é arrastado, sufocante. Daí Dostoiévski, em sua mestria, colocar logo em seguida um capítulo carregado de graça, de diálogos do populacho, de certa leveza. E mesmo nesse capítulo_ o qual é fácil presumir que foi escrito com velocidade_ há os tantos grandes temas humanos, os quais Faulkner falou em seu discurso de recebimento do Nobel: há a proximidade da morte, o perdão, o ódio, o orgulho da fragilidade não reconhecida, a amizade. 

Não é para menos pensar que o escritor atual deixou de ser um aventureiro do espírito, um filósofo social (com tudo de profundos significados que isso tem), para ser um burguês vaidoso à procura de palmas, ou o que hoje em dia se arranja para encobrir a incorreção estúpida de não se poder mais utilizar palavras desgastadas como burguês e capitalismo. Ver uma escritora como Tartt gastar todo seu nítido talento em cabrioladas ridículas para agradar o suposto adolescente de 16 anos que é o alvo pretendido de seu livro, é mais que um sinal de deterioramento das antigas vitórias intelectuais e espirituais humanas. A arte se boçaliza. Estes livros, que são odiados de ante-mão pela visão estarrecedora de suas tantas páginas, são meus best-sellers, meus passatempos preferidos, meus filmes de ação e a mais poderosa de todas as drogas. Musil está repleto de grandes temas, e de uma sublime estética inigualável. Cada um de seus arejados mini-capítulos é um ensinamento e uma descoberta sem igual. Ele tem a capacidade de amplidão através de uma enganosa pequena-coisa que só tem páreo em Borges. Musil e Dostoiévski, cada qual a seu modo, utilizam como comburente de suas obras os mesmos e triviais assuntos que Faulkner disse ser o que compõe toda a grande literatura: eles falam das únicas coisas que tem mérito para que a cada dia se tenha o interesse de se levantar da cama e seguir adiante: o amor, a honra, a humildade, a defesa dos oprimidos, a justiça, a comunhão entre os homens, a luta contra o ódio. Em um entendimento que poucos tem a liberdade aos conceitos eventuais para compreender, toda a grande literatura é socialista.

12 comentários:

  1. Charlles, pensei algo parecido ainda ontem. Estou lendo Os Miseráveis, que não é divertido como Dumas, não é bem escrito como os livros de Flaubert, nem é bem organizado como os de Stendhal, e por sua força humana me parece, agora no calor da leitura, o mais poderoso dos romances franceses do século XIX.

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    1. Claro que isso não quer dizer que Dostoiévski escreva mal. O cara é um fantástico escritor. Mas o problema de "escrever bem" se tornou um atravancamento durante o século XX, um efeito colateral das tantas conquistas alcançadas nas letras nesse século. Lembro do Marcelo Backes dizendo, na introdução de O processo, que o vocabulário de Kafka se restringia a 300 palavras. Esse processo de valorização obsessiva por "escrever bem" fez retornar a literatura para a academia, retirando assim a proeminência das letras do escritor que vem do povo, do escritor como Dostoiévski, que era socialmente mais posicionado junto à ralé. Um momento sintomático para ver isso é quando se encerra a classe de grandes escritores não-acadêmicos e não-intelectuais americanos, Faulkner, Hemingway, Steinbeck, para dar lugar aos escritores ultra-cerebrais, como Bellow e Roth. Esse momento deveria ser estudado com mais afinco, pois foi um patamar na literatura.

      Sempre disse aqui que prefiro Stendhal a Flaubert. Stendhal exerceu o meio termo dessa dicotomia.

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  2. Só li Dostoiévski naquelas traduções mais velhas e, como desbravador da alma humana, era mais poderoso que qualquer outro romancista, de qualquer época, só se equiparando com Shakespeare e o Eclesiastes, na história do verbo (são pensamentos de 2009, última vez que li um livro dele). Só que logo depois li todo o Em busca do tempo perdido, e no estilo a impressão que ficou é que Dostoiévski não estava nem aí pra isso. Me pareceu tosco, perto de Proust. Minhas traduções eram (são) baseadas nas edições francesas. Mas o próprio narrador de Proust, acho que no quarto volume, ressalta as virtudes do mestre russo.

    Recentemente li um crítico brasileiro que fez essa relação entre estilo e a falta dele, ao falar de Thomas Harris, Stephen King e Martin Amis. Aqui: http://rascunho.gazetadopovo.com.br/a-cacada-pelo-poder/
    Por sinal, creio que é o crítico brasileiro em atividade mais interessante, ao menos dos que tive a oportunidade de ler.

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    1. São dois escritores bem diferentes, Proust e Dostoiévski. Ambos estão, com folga, entre os maiores criadores em qualquer expressão artística. Outra coisa que eu fico por analisar é o que determina que algo seja superiormente estético na literatura. Não me refiro aqui à literatura de gênero, que, como disse a Ssó, é valiosa em seu nível, mas não me venha colocar no mesmo patamar Simenon e Dostoiévski, principalmente porque Simenon é cria do Dosto. E nem sigo adiante com essas especulações sobre Stephen King e outros best-sellers. Gosto muitíssimo de King, o cara esteve na minha vida por uns intensos 5 anos da juventude, mas tentei ler um livro dele há 4 meses e não deu. Não deu mesmo. Preciso escrever com mais tempo sobre isso (anotar essa pauta para futuro post). King tem uma poderosa imaginação, mas vi que não preenche mais minhas exigências maduras de leitor.

      Não considero que Proust tenha uma página sequer das tantas geniais que escreveu que suplante Dostô. Leia Dostoiévski, cara, e vai saber do que eu falo. O cara é tão genial que prescinde da estética. Já Proust dificilmente teria dito aquelas coisas todas sobre a filha do sr. Vinteuil se não fosse um prodígio da estética. Dostoiévski é um de meus escritores fundamentais. Convido-o a ler Memórias do subsolo; é um de seus livros antológicos que vão além da palavra.

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    2. Mas foi o que eu tentei dizer. No texto do link, o crítico fala que todas as frases de algum romance de Amis são perfeitas, mas que no todo não funciona tão bem quanto o romance de Harris, cheio de frases irregulares. Bem, nunca li nem Amis nem Harris, e já tem um tempo que lia a crítica, mas fiquei arrebatado por ela durante algum tempo. É a mesma discussão. Sou suspeito para falar de Proust, meu autor favorito, mas tenho esse do Dostoiévski (Subsolo). Devo ler em breve (para esse ano tenho o Faulkner e uns Marías na frente, além do que falta de Os Miseráveis).

      Ah, por falar, você conhece aquele romance protagonizado por ele, Verão em Baden-Baden?

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  3. Lá vou eu... (lá vou eu, hoje a festa é alegria/ no carnaval da Globo...)

    Meu amigo Charlles, me tiras do sério (rindo) quando colocas no final de um belo seguimento de afirmações precisas e verdadeiras uma palavra que não tem nenhuma relação com o que foi dito anteriormente. Citaste o amor (ah, o amor...), a honra (ô, nem se fala!), a humildade (hahaha), a defesa dos oprimidos (isso é o que acontece se entupir com livros do feioso morto), a justiça (!!!!), a COMUNHÃO entre os homens, A LUTA CONTRA O ÓDIO (cara...) e... terminas ligando-os ao socialismo.

    Espanta-me como reutilizas, (creio que) seguidamente, palavras carregadas de ideologismo nos mais impossíveis dos lugares - onde não deveriam estar. Alguma coisa interna obriga a teceres suaves elogios diretos e indiretos ao socialismo, aqui e acolá.

    Gustavo Corção, meu querido, olha aí para a câmera, tem milhões de brasileiros te assistindo neste momento em cada casa desse nosso Brasilzão, manda aí o seu recado!:

    "Muita gente pensa ingenuamente que o ideal do romance consiste em contar acontecimentos envolvendo meia duzia de figuras humanas. Ora, ao contrário disso, o romance existe para afirmar a realidade dos personagens resistentes ao tempo. O seu objeto próprio é a pessoa humana apresentada como realidade ontológica, subsistente e representada como realidade escatológica, em caminho e em presença cotidiana das últimas realidades. Neste sentido, todo romance é cristão."

    Enquanto lia teu texto, lembrei imediatamente do Corção; muitas similaridades entre suas análises. Até chegar ao final... Dostoiévski, Crime e Castigo, Os Demônios... e socialismo? Não. Cristianismo. Ah, mas é muito provável que eu não seja, mesmo, desses poucos iluminados chigaliovistas capazes de compreender esse Conceito/Mistério. Melhor tomar como exemplo Raskolnikov...

    Sim, a academia tornou quase todo escritor em meio bundinha. (Essa moda estúpida que voltou faz uns anos, do uso de óculos com armação grossa, e por vezes c o l o r i d a s, junto de ternos apertadíssimos e ar doutoral. Tipo o Fanzen. Aliás, exatamente como Franzen. Fiz um continho besta em que matava a machadadas o Franzen. Porque ele é o Franzen. Te fode, Franzen. Te fode tu também, Bernardo Carvalho.)

    Coisa que FAULKÃO nunca deixou transparecer. Se fodia todo, mas seguia em frente. Por que?

    'I believe that man will not merely endure: he will prevail. He is immortal, not because he alone among creatures has an inexhaustible voice, but because he has a soul, a spirit capable of compassion and sacrifice and endurance.'

    BECAUSE HE IS A FUCKING CHRISTIAN, CHARLLES, FOR GOD'S FUCKING SAKE. NOT A BLOODY SOCIALIST. THAT'S WHY. C H R I S T I A N.

    Vou ligar pra Dani e fazê-la te obrigar à ir à Igreja Presbiteriana feito um Christmas ante McEachern. Prepara o lombo.

    (Corrigir prova é: __________)

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    1. Antes de desligar o computador e ir jantar: a última frase do post, por esses processos não de todo involuntários da mente, parece até que a escrevi PARA VOCÊ. Mais uma vez, eu reafirmo: eu não pertenço ou defendo nenhum partido. Tudo é uma grande bobagem. O que interessa são as causas humanas primevas e essenciais, que estão longe de deixarem de serem porque seja quem for do partido ou da mídia determinou assim.

      Matheus, fecha o Alcorão e enxergue livremente o céu e a terra.

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    2. Matheus, obrigado por me fazer rir, numa madrugada de sábado, lendo o segundo volume da autobiografia de Canetti.

      Concordo em absolutamente tudo que tu disse.

      Agora já posso voltar para as amarguras de Canetti e sua mãe desvairada.

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    3. Pois SENTI que aquilo era um armadilha, e fui em sua direção assim como um inseto ruma sem resistir à luminária mata insetos. Persisto, porém.

      Li o Corão para nunca mais tocá-lo. Após a vinda do Filho, o demônio se travestiu de anjo e, em meio ao deserto, tentou a um homem. E aquele homem entregou-se às promessas do astuto.

      Sei que não tens partido, brother. Mas espanta-me como tens uma visão um tanto seletiva (não conscientemente, penso) da história e utilizas, sem um pudorzinho básico, contornos belos em personagens e objetos intrinsecamente horrendos. Não há ali algo de causa primeva e essencial do Homem. Não há um pingo de humanidade, uma esperança redentora, um gesto grande e honesto de amor. Quanto sangue mais deverá ser jorrado para que um ideal estúpido e maligno erguido sobre base pantanosa seja visto como estúpido e maligno? Para o feioso, mais 30 milhões de mortos não seria problema. Que humanista! Que humano! Mestre Faulkner e Profeta Dostoiévski escreveram sobre a luta do bem contra mal que todo homem enfrenta, e indicaram caminhos a seguir e a não seguir. Mas, estranhamente, preferes os caminhos dos intelectuais pretensamente cerebrais, que usam, na verdade, seus corações enegrecidos para justificar absurdos, subverter os fatos, retocar uma falso foto de um porta-retratos quebrado. Mal de Hobs, Mal de Bezerra, Mal de Ramiro. Mal de Charlles? Ainda há tempo. Sempre há.


      Revela-te, Anônimo. Preciso saber quem que aleatoriamente concorda comigo auhehaehe

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    4. Há alguns anos era essa a discussão entre um colega e eu. Eu ousei afirmar, um tanto apaixonadamente, que não existia um grande escritor que não fosse, em certo sentido, um justiceiro. Esse colega me tacou o Proust na cara. Eu quase titubeei; tinha lido o volume um, na época, e então me lembrei das belas páginas sobre a condição de exílio do sr. Vinteuil em uma uma cidade que o desprezava por sua posição social e sua indigência espiritual. E a cena magnífica do Swann deixando a aristocrática família do narrador, em um passeio pelo campo, para ir apertar a mão do sr. Vinteuil. Há uns textos no blog sobre isso.

      De uma forma ou de outra, a obra defende o que para seu criador se trata de uma parte mal tratada. Céline, por exemplo, e as terríveis cenas de fome e devassidão dos refugiados partidários de Hitler de Vichy, após a derrota da Alemanhã, naquele castelo tenebroso.

      Esse texto se inicia com o reconhecimento do peso por sobre as palavras "burguês" e "capitalismo", e o quanto ficou demodé utilizá-las. E termina usando a palavra "socialista". Essa palavra existe, e,mesmo sendo um tanto difícil, ela pode ser usada aquém ou além dos significados que lhe caíram em cima e foram-lhe condicionando e deformando ao longo dos anos. E o engraçado é ver você sendo transportado por ela para os milhões de soviéticos assassinados e toda a mística real de uma série de atrocidades.

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    5. Mas associas burguês a vaidoso, e socialista às qualidades já citadas. Não tens lado político, mas contornas delicadamente socialismo e socialistas, e nas estantes do escritório nos fundos da casa encontramos muitos nomes ligados a certo lado - e mais um acabou de chegar! - e minguados nomes de outro(s). De fato, a obra defende o que para seu criador se trata de uma parte mal tratada. Seu real sentido não foi condicionado ou deformado conforme os anos passaram: foi descoberto, revelado. Continuarão tentando justificá-la, pois _agora_ há de dar certo. Mas os resultados serão os mesmos (como se chama a pessoa que repete sempre a mesma coisa, com os mesmos resultados, mas acredita que, na próxima, resultará em algo diferente?). E é triste ver-te seduzido por tal coisa, imóvel, irredutível diante de um campo de almas perdidas, de uma comunhão de cadáveres, todos, finalmente, partilhando o mais socialista dos fins: a morte sem compaixão, o sacrifício desnecessário.

      Esperam tudo de onde vem nada. Ignoram de onde vem tudo.

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  4. Paulo, ouvi falar desse romance sobre o Dostô, mas nunca o li.

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