sábado, 11 de outubro de 2014

Alma



Encerrei ontem o primeiro volume de Os irmãos Karamázov, na edição da Editora 34. É um dos livros mais maravilhosos que já li. Estou sobre o forte impacto dele. Lá se encontra de tudo, e, muito possivelmente, propostas sinceras sobre a inviável salvação da sociedade. As páginas sobre a vida do Padre Zóssima são de tremer a alma, são absurdamente tocantes e verdadeiras. Doistoiévski, meus caros; não houve nenhum escritor como ele. A ele é permitido fazer isso, impregnar as páginas desse seu grande romance com essas palavras que hoje soam tão relevantes e atuais, mas ao mesmo tempo tão escamoteadas e ensurdecidas pela moda. Em determinada parte, Zóssima diz que nada é mais difícil para o homem do que enxergar o óbvio e adotar a mudança de comportamento necessária; nada é mais difícil ao homem do que realizar a coisa mais simples e fácil. São palavras poderosas demais e ao mesmo tempo enlouquecedoras, pois indica que nada mudará no coração do homem. Mas Zóssima tece um consolo: acredite no homem; se houver um igual a você, com a mesma fé na bondade humana, então a situação já será bastante otimista. E as páginas, aquelas 50 páginas quase insuportavelmente lúcidas e extremamente inteligentes, aquelas 50 páginas arrebatadoras que antecedem e incluem o capítulo do Grande Inquisidor? Não há, em toda literatura_ sem exageros_ nada que se compare a estas páginas. Ao lê-las, vi que me acompanhavam os olhos deslumbrados de todos os grandes criadores intelectuais do século passado. É uma comunhão. Eu havia lido este livro quando tinha 17 anos, e não havia gostado. Não sei por quê. Por isso, só fui comprar esta edição mês passado, quando já tenho toda a bibliografia de Dostoiévski em mais que uma edição na minha biblioteca. E que bom que tenha sido assim. O livro me chega na melhor hora da minha vida para poder absorver seus infinitos significados. Começo a entender a frase de Dostoiévski que tirou Solzenítskin de seu centro de equilíbrio: "a beleza salvará o mundo". Há muito para se falar, e creio que nos próximos dias, assim como me ocupei de Tolstói há alguns anos, vou tratar aqui em maior grau sobre Dostoiévski_ e aqui entra as correlações com 2014 o ano mais quente da história, e o caos e o suicídio social. Um livro que tem transformado profundamente minha alma.

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