segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A frigidez emocional reinante



Tolstói no ensaio Uma confissão, e Dostoiévski nos discursos do padre Zossima, dizem a mesma coisa: integrar-se no mistério da existência é deixar-se atravessar pela alegria de viver. Tolstói fala de suas enormes depressões durante suas certezas de que Deus não existia, e de como intentava acabar com sua vida para escapar do peso da gratuidade, até resolver o problema do absurdo ao descobrir que, instintivamente, a natureza é destinada a acreditar em Deus. E acreditar em Deus era compartilhar da alegria da criação, independente de especulações filosóficas, intuições metafísicas ou códices religiosos. Só se mantêm vivo aquele que é alegre. Bashevis Singer, em seu comovente conto Alegria, faz o rabino que perdeu a fé depois que toda sua família sucumbira à peste, ouça em seu leito de morte suas desaparecidas esposa e filhas lhe dizerem: "Devemos estar sempre alegres." O padre Zossima diz que devemos respeitar as crianças e os animais, e deixá-los imolados, porque eles são a expressão mais pura da alegria de Deus.

Isso me dá o que pensar. Não se preocupar com nada. Seguir adiante, com menos bagagens possíveis. Assim que eu fui conquistado pelo gato vira-latas que está morando aqui em casa. É um bichinho tão delicado, tão equilibrista da sobrevivência, tão simples e descomplicado. Descobri que eu sempre tive um medo supersticioso de gatos, um medo tolo. Achava-os frios e distantes, megalomaníacos e tiranos. E não tem nada a ver. Esse gatinho pula no meu colo, me crava de leve os dentes (até minar sangue) de tanta volúpia, e me segue para o quintal e procura a ameaça desconhecida por sobre o muro como um autêntico companheiro. Come o que lhe dou: hoje mesmo devorou um prato de macarrão; ontem, comeu o resto de carnes que eu lhe atirei no chão. Ele ainda não tem nome, e não tem vasilha para comida. Ainda está em quarentena de não se aceitar de vez que ele é nosso novo bichinho de estimação. Ele veio do nada, e resolveu se instalar no sofá da garagem. E forçou a amizade de maneira mais despudorada possível, como se fosse um amigo distante de vínculos amorosos inabaláveis. Ele invade o quarto de brinquedos da casa e persegue as bolas de plástico com uma entrega faceira; ontem o vi instalado no canto da bicama da biblioteca, com uma solenidade de gentleman que não quer ser incomodado após horas de leitura. E eu o pego no colo, ele se estende com uma maciez lânguida que revela indignação, e dou-lhe uma bronca suave, e o coloco de volta no sofá de fora. Há uma série de temores ainda: toxoplasmose, hidrofobia, e, em última escala, o temor de que passemos a amá-lo e seu instinto libertino faça com que nos abandone. Brigas lá fora por fêmeas no cio, crianças maldosas com espingardas de chumbo, tocaias de cães de grande porte. Antes que o envolvamos, a velha prevenção dialética do amor nos aponta os contras para que sopesemos com razão. Eu que nunca gostei de gatos. Chego em casa e ele pula do sofá e vem me contar as novas fofocas. É um sujeito pra lá de desinibido.

Penso em algum nome jazzístico para lhe dar. Mingus? Milt? A Júlia tema na aposta mais prosaica: Fofinho. Mas eu tento desconversar. Ela bate os pés e reafirma: Fofinho.

O pior dos gatos é isso. Meu amigo Emerson tinha dois gatos, que apareceram em sua casa repentinamente, e ele saiu desconsolado seis meses depois à procura deles, que não voltaram mais de uma aventura noturna. Ficou muito triste; sua depressão controlada por remédios pesados elevou para picos perigosos. Sua visão decadentista ficou ainda mais negra por algum tempo.

Taí porque escritores gostam tanto de gatos. Cortázar na bela foto do gatinho em pé lhe olhando por uma janela. Hemingway nas belas passagens de As ilhas da corrente. São animais cordiais, não incomodam, mas estão tão presentes e atenciosos como os cães. É como se essa economia toda se revertesse para uma companhia destilada, concentrada, cortando os papos furados. Uma amizade em supra-sumo.

Por conta do um pedido de socorro deixado por um trabalhador chinês na encomenda de um produto via internet feito por uma brasileira, em que vinha escrito "I slave. Help me", eu reli o ensaio Matar um mandarim chinês, de Carlo Ginzburg. A premissa do ensaio parte da lenda urbana de que, se lhe oferecessem um milhão de dólares, às custas de que uma pessoa de toda desconhecida por você fosse morta do outro lado do mundo, na China, e que a morte de tal pessoa não lhe interferisse em nada em sua vida e que você nem mesmo saberia de sua existência, você aceitaria? É uma questão moral de extrema relevância e atualidade. Li na revista Piauí um ensaio sobre duas cidades industriais chinesas em que os índices de poluição no ar estão catastróficos. Pessoas morrendo de câncer pulmonar e de várias doenças decorrentes do excesso de monóxido de carbono. E nada é feito; não só as autoridades são absolutamente indiferentes ao pesadelo dos milhões de pessoas que moram por lá, como a própria matemática da exportação mundial dos produtos feitos nesses polos industriais é conivente com as mortes. Mata-se milhares de mandarins chineses para que um ocidental padrão tenha seu tênis Nike, ou qualquer badulaque ubíquo que entra em nossas casas. Eu me emocionei com o bilhete desse desconhecido funcionário que pedia ajuda. Uma moça, não sei de qual estado do Brasil, encomendou um produto da China, via internet, e o pacote feio, todo envolto de celofane negro, lhe foi entregue com um atraso de meses. E dentro, o bilhete, escrito à mão e num inglês funcional de triste desesperança: I slave. Help me. A moça sentou-se de imediato à mesa da cozinha de sua casa, e caiu em um choro convulsivo. Imaginou o que é possível imaginar: as mãos desumanizadas que colocaram aquele regalo inútil da blusa comprada por ela, confeccionada às custas de muita agrura e abuso salarial, por mãos pagas em situação de miséria que fazem os movimentos repetitivos por 12 a 15 horas por dia. Mãos que ganham um proporcional ridículo de um subemprego martirizante que equivale à escravidão. E essas mesmas mãos estavam tão desesperadas, que resolveram fazer a atitude inútil de escrever às pressas um pedido de ajuda, sem assinatura (assinatura para quê, se pertencem a um invisível?), e mandá-lo clandestinamente junto com a compra. Claro que a pessoa foi a primeira a ter plena consciência de que não seria salva por aquilo. Claro que ela sabe que, se tiver algum resultado aquilo, será ao longo de anos de pedidos de socorro paulatinos, e ela mesma já terá desaparecida, gasto sua mísera existência em ser uma máquina invisível e brutalmente vilipendiada. Entre a moça que recebe o bilhete e a pessoa que o escreveu, paira o mais surdo enigma humano nunca resolvido, a de para se perpetrar o assassinato de alguém, não é preciso sequer que o assassino saiba que está matando. O que é uma blusa, um tênis, o penico de brinquedo de uma boneca (eu segurando com um morno terror o penico da Monster High da minha filha, lendo gravado abaixo a frase Made in Chine), diante uma vida humana? Mas, contudo, ainda se continua comprando isso tudo, no círculo de pesadelo que é a frigidez emocional reinante. (Roberto Bolaño foi genial ao tacar na cara do leitor esse anestesiamento em que matamos um mandarim chinês a cada dia, nas 345 páginas massacrantes da Parte dos crimes em 2666. Nestas páginas, ele se limita a narrar, exaustivamente, os assassinatos sem solução nas maquiladoras mexicanas, assassinatos brutais de mulheres funcionárias nessas fábricas de exploração do trabalho barato. O estilo é de jornalismo marrom, sem sentimentos, um tanto sadomasoquista em sua propulsão inercial. É uma versão do pedido de socorro do chinês desconhecido: inútil, afogado em seu trivialismo sem imersão na correria moderna, feito para ser desconsiderado. Não à toa que muitas pessoas pulam essas páginas, e pedem para que sejam removidas nas próximas edições.)

Há dois livros sintomáticos dessa situação, escritos em diferentes épocas por Coetzee. Em Idade do ferro, Coetzee aproxima uma mulher com câncer de um mendigo. O mendigo passa a pernoitar na varanda da casa da mulher, e a mulher descobre que é a única companhia que tem em seus meses finais de vida. Ela aos poucos vai o trazendo para dentro de sua casa, aquele ser ressabiado que está em um estágio de deserção que quase lhe faz esquecer seu idioma. São dois seres deportados do tempo, dois seres que já não vivem mais no mundo real. Daí o assombro e condenação dos vizinhos e da filha da mulher, que passa a voltar sua atenção para a mãe doente por causa dessa sensação insana de sua amizade com o mendigo. É um livro duro, daqueles insubmissos que Coetzee costumava escrever antes que algo nele também se calcificasse e se rendesse. O outro livro é um meio termo entre sua visão terna de outrora com sua nova concepção de um cristianismo pagão vingativo: Desonra, talvez seu romance mais impactante. Em Desonra eu vejo contatos entre a vida do personagem principal com traços da minha vida. O herói do livro trabalha em uma clínica de eutanásia animal; ele se condói com um cãozinho aleijado, no qual lhe faz carinho e lhe alimenta na gaiola do que equivale ao corredor da morta da clínica. No momento final, entretanto, quando sua parceira de trabalho lhe pergunta se ele vai ficar com o cãozinho, o poupando do sacrifício, ele diz que abrirá mão dessa obrigação, e mata o animal. Eu trabalho na fiscalização de abate de centenas de animais por dia, em minha profissão de fiscal veterinário, e amo um gato de rua. Nossa maior ambição, a ambição mais infrutífera e banal, é esperarmos por uma explicação, a menor possível; poderia ser ao menos uma pista.

40 comentários:

  1. Hahahaha. O pior é vir aqui na caixa de mensagem para falar do gatinho e deixar matar o mandarim chinês.
    Eu lembrei de várias coisas ao ler o seu ótimo texto. Uma delas foi o Artista da Fome do Kafka.
    Outra versão da nossa desumanidade.

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    1. hehe.
      o texto é ótimo, mas eu tive q me recolher a minha insignificância. entre o chinês sem nome e o gato sem nome, fui no mais fácil (isto e não ter entrado na febre do aliexpress)... mas não é fácil, tchê.
      charlles, dizendo de passagem, hj a feira do livro em poa proporcionará dois eventos na sequência: Gonçalo M. Tavares (citado aqui por estes dias - de forma negativa, é verdade) dá a palestra "iluminando palavras"; depois o Ernani Ssó inicia a oficina "lendo Cortázar". vamos ver onde chegam as luzes.
      aliás, Matheus, lembrei de ti, mas não tinha como avisar. sexta e sábado esteve o escritor argentino Martín Kohan na puc falando de Borges (leu-se e se debateu os contos Emma Zunz e O sul). o Kohan, q já conhecia, é uma figura ímpar, acredito q tu teria gostado. ele voltará mais para o fim do mês, justamente pra falar de Cortázar...

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    2. Hahaha ótimo nome, arbo!
      Ainda não fui à Feira. Só fiquei sabendo do lançamento do 'Dia de matar porco' do Charles Kiefer no dia posterior. Lembro que ele dizia nas aulas que passou meses emperrado num parágrafo, que não avançava, não resolvia um problema que enxergava ali. Penso que resolveu.
      Não fiquei sabendo disso sobre Borges, que pena. Mas valeu por ter lembrado de mim (hétero).
      Viu a mostra de Thomas Bernhard ali no Memorial do Ministério Público?

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    3. Me espanta, Luiz, como Kafka compreendeu isso. Se analisarmos bem, toda a obra dele trata desse anestesiamento.

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    4. Não considero que seja negativa minha visão sobre o Gonçalo. Li dois livros dele e reconheci que atendem a um tipo específico de literatura, mas não me disseram nada. Dois romances fragmentários, excessivamente arejados, como se fossem crônicas estendidas que a mim pareceram não explorar o que anunciavam.

      Mas justo hoje me interessei pelo novo livro dele, um atlas com fotos de um grupo de artistas plásticos em que Gonçalo escreve pequenos textos de acompanhamento às imagens. Mas ainda não foi lançado aqui, e a edição da Caminho é bem cara.

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    5. Matheus, choque térmico aqui diante esse memorial a Bernhard, e no Ministério Público. Qualquer coisa desse tipo, em homenagem a Bernhard, parece flagrantemente ir de contra tudo o que Bernhard era. Mas claro que, por curiosidade _ até para tentar pensar com o histrionismo ácido do autor diante essas regalias_ eu iria.

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    6. não tinha visto, mas vi agora tu, de preto, na foto com a "Velocy Pivatto": http://www.mprs.mp.br/noticias/id36758.htm#

      Pensei que o Charles Kiefer dava aula só pro pós em letras da puc...

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    7. ah, charlles, qdo escrevi "negativa" fiz a ressalva na minha cabeça, mas te entendi, sim...

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    8. Mas o Fofoiévski ficou muito bom mesmo. Fiquei devaneando outros nomes_ Ronronald Barthes, Miaukóvski, Bichanolt Brecht_, mas é claro que vai ficar o Fofoiévski.

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    9. Pois é, pareceu-me estranho, mas estava interessante. 'Esperava mais', mas nunca sei direito o que esperar dessas mostras culturais. Tenho a impressão de que todas são parte de mega esquema tácito de elevação de ego dos curadores e dos frequentadores, levitando, após à visita, sobre a população inculta que ignora tais eventos.
      Tá bom que tenho alma de Sr. e mais cabelos brancos que o cujo, arbo, mas aí já é demais. Até porque o sujeito é um tanto germânico se comparado com a minha brasilidade morena sensual.

      Kiefer dá uma das cadeiras de Escrita Criativa e Oficina de Criação Literária na graduação de letras - as fiz como Eletiva. E agora farei a prova atrasada de Leitura de Autores Clássicos com o Carlos Alexandre Baumgarten. (Na História ,certo grupo de professores, por causa dos sobrenomes e alguns outros motivos, é chamado de Perigo Alemão...e outro de Monarquia Ibérica. Curiosidade. Pergunto-me se em outros setores há esse tipo de coisa, tipo Sturn und Drang x Semana da Arte Baderna... nossa, divaguei...)

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    10. Não vi o Matheus na foto. Ou então o Matheus que eu vi no face é outro completamente diferente.

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    11. "Ronronald Barthes, Miaukóvski"

      M
      O
      R
      R
      I

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    12. Este comentário foi removido pelo autor.

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    13. Cês ainda não viram o liberal-conservador moreno.

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    14. Um gato indiano pode se chamar Rabinhodranath Tagato, em homenagem a Rabindranath Tagore.

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    15. Thomas Miau, Saul Bééééélow, Joseph Cãorad, Jakob Wauwaussermann*.

      ashausuas lembrei que deste a ideia de ter como nome artístico AU-AU MATHEUS uheuhueh esse Charlles, muita hora livre, Jesus...

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    16. Não quis chamar-te de vadio, perdão se assim pareceu.

      Quase que faço isso na prova, mas não brinquei com os clássicos :( (não por respeito, mas por não conseguir formular nada).

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    17. Tenho muito que fazer hoje, Matheus. É a compulsão. Felinomore Cooper, Mialise Munro.

      Não se preocupe. Meu objetivo na vida sempre foi o de me preservar o mais ocioso possível. :-)

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    18. Meu gato se chama Menelaaaaau (voz daquele gato dos thundercats).

      Mas eu ia falar era com Arbo. Segundos Fora, de Martin Kohan, é muito bom. Sobre boxe, Mahler e um assassinato. Um dos livros mais bem escritos que li nesses últimos tempos.

      Fui atrás por causa desse texto aqui: http://miltonribeiro.sul21.com.br/2012/10/29/segundos-fora-de-martin-kohan/




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    19. Pois então, Paulo. Ele vem no fim do mês de novo em Poa, e até lá queria ler este q indicaste ou este: http://miltonribeiro.sul21.com.br/2009/02/23/duas-vezes-junho-de-martin-kohan/

      vou escolher um deles e ler

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    20. PA tem eventos de arrombar. Acabei de ver a programação de um festival de roteiro cinematógrafico aí, sensacional. Inveja retada...

      Só li Segundos Fora de Kohan, então nem posso dizer dos outros, mas o recomendo enfaticamente.

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  2. eu tava tirando onda com o Matheus, Charlles. nunca o encontrei no facebook, onde todos os matheus se parecem felizes à sua maneira... não encontrei o infeliz ainda hahaha

    fofoiévski tem tudo pra acabar em fofô... o q pode ser legal para todas as partes envolvidas

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  3. *todos os Matheus Todeschini...

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  4. Miau Couto. ou apenas Couto. mas aí pra um daqueles gatos bem sérios (não pelo Mia, mas pelo ar do sobrenome mesmo)

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  5. E não é que me peguei pensando nessa brincadeirinha?

    Ismiau Kadaré (ou Chamai-me Ismeau). Javier Miarias. John Miauton.

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  6. Na real, hoje (dia de seu aniversário) é o lançamento do Charles Kiefer, Dia de Matar Porco, às 19 horas, na Feira do Livro.
    Kiefer explica que Dia de Matar Porco é uma falsa biografia. Falsa porque se trata da biografia do personagem Ariosto, mas traz elementos da vida do próprio Kiefer. Entre eles, a transição da infância no meio rural para a vida adulta em uma Capital.
    "Apresento essa disputa interna para saber se sou um colono-escritor ou um escritor-colono". O título da obra faz referência a um ritual que os jovens imberbes tinham de passar na roça: ao matar um porco, estaria provada a sua hombridade. Apesar da crueldade inerente ao ato, 'Dia de Matar Porco' era um dia de festa e fartura.
    Interessei-me. Apesar de ser um MOÇO DA CAPITAL, muito vi disso nas semanais idas à Serra, mas nunca fui macho de fazê-lo. Eis um ótimo livro para Charlles, logo após o trabalho.

    Não irei, preciso assistir isso na Puc
    https://scontent-b-gru.xx.fbcdn.net/hphotos-xfp1/v/l/t1.0-9/1972316_324943867678287_3430588213559620835_n.jpg?oh=01273f99006187dfc2197ea01e506d47&oe=54C6C954

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    1. se tu é "macho" vai no dia 19/11 e defende o neoliberalismo hahaha

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    2. Irei em todos restantes - preciso de horas - mas não defenderei nada não hehe já que neolib foi só menos ruim do que outros tipinhos queriam .
      No último, o italiano fez uma boa crítica ao morto feioso, para espanto de muitos dos alunos presentes.

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  7. (Toda essa última leva de textos está sensacional, Charlles. Preciso tirar um tempo para comentar direitinho.

    Passando rapidinho aqui só pra dizer que o Endless River do Pink Floyd já está disponível para download no Pirate Bay. Divirtam-se.)

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  8. http://brasil.elpais.com/brasil/2014/11/08/cultura/1415458106_217212.html

    ai, que cansaço

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    1. Ouvi o disco, João. Saudades dos bons tempos da banda. Graças ao lançamento, repassei a discografia toda nesse fim de semana.

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  9. Droga, contei uma história hilária do gato que tive, o Edgar, que era branco, e não preto como aquele do xará Poe. Mas aí o sistema a engoliu quando cliquei em publicar. Preguiça de escrever de novo. Vai ver que não era tão engraçada assim.

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  10. Lembrei-me do meu primeiro gato, que tem uma história trágica. Tenho os dois pés na roça (pai e mãe são nascidos na zona rural). Durante as férias escolares, quando ficávamos meses inteiros no sítio, a gata da Dona Maria, do sítio vizinho, teve uma ninhada. Bati o olho e, com seis ou sete anos, quis levá-lo. Minha mãe fez cara de "nem pensar", mas foi convencida pela minha eficiente articulação junto a todos os demais adultos que assistiam à cena.

    Teteco. Era um apelido que meu pai me deu, mas que só usava quando estava naquelas de implicar comigo, fazer cócegas etc. Então eu transferi a alcunha para o gato. Teteco chegou lá em casa e, poucas horas depois, foi atacado pelo Leão, cachorro de raça nenhuma que fazia dupla com o Malhado no terreiro. A mordida do Leão causou-lhe um edema enorme no pescoço. O bichinho mal respirava. Ele só não morreu porque eu ia até o paiol alimentá-lo, na boca, com angu embebido em leite.

    Teteco se recuperou e ficou esperto. Fazia troça da proibição da minha mãe de entrar dentro de casa. Ele entrava sempre que tinha chance. Havia um filtro de barro enorme sobre a pia da cozinha. Ele aprendeu a abrir a torneira do filtro e assim beber água fresca e corrente. Mas não a fechava. E a cozinha, quase sempre, alagava depois disso. Aprendi alguns palavrões com minha mãe nessa época.

    Leão quieto deitado no degrau da varanda (o Leão e o Malhado não entravam mesmo dentro de casa). Teteco na mureta. Leão quieto. O Teteco o irritava até que o cachorro saía em disparada atrás dele. Subia nos eucaliptos que ficavam depois da porteira. E o cachorro ficava com cara de palhaço lá embaixo, latindo. Teteco gastou mais uma de suas vidas quando os eucaliptos foram podados e ele não encontrou os galhos para ficar a salvo do Leão. Cravou as unhas no tronco e o seu miado parecia latido. Ouvi aquilo e achei estranho. Eu o salvei nesse dia. Mais uma vez.

    Até que um dia, anos depois, o Teteco sumiu. Leão deitado no degrau como de hábito. Eu chamava, chamava, e nada do gato aparecer. Um ou dois dias depois, vimos uns urubus num pasto atrás da casa. Fui até lá e constatei que havia acabado sua sétima vida. Todo mundo lá em casa ficou arrasado. Minha mãe soluçava disse que não queria mais outro, porque "a gente pega amor no bichinho".

    Leão viveu até os 18 anos. Sua morte nos afetou, mas a gente sofreu menos. Ele já estava muito velhinho, havia perdido vários dentes. Teve um dia que achei o pedaço de pão que eu lhe atirei no terreiro: estava com sangue de suas gengivas. Ele só lambeu a manteiga. Pouco antes de sua morte, Leão ainda penou, porque resolveu atacar um ouriço, que reagiu lançando vários espinhos no seu focinho e língua. Foi um custo retirar aqueles espinhos todos. Mas ele se foi sereno e envolto em sua histórica soberania.

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    1. Ótimo, Fábio.

      Faz três dias que o Fofoiévski não aparece. Dá nisso, como eu disse acima. Esperamos aqui que ele retorne.

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  11. Certa feita, em um dos meus 5 casamentos, convivi com 15 gatos. Nada melhor que um dia após outro: hoje, detesto gatos…; quanto a casamentos? lato…

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    1. Mas que fique claro: i) os filhos sempre valem a pena (pra quem tem alma de poema…); ii) e se pintar carência da sexolândia? Fiquem tranquilíssimos, irmãos e irmãs humanos: muito mais tranquila é famosíssima “palmita de la mano”.

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    2. errata: ... muito mais tranquila é "a" famosíssima...": o " a" desapareceu porque até numa punheta há ejaculação precoce...

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  12. http://omnireboot.com/2014/foundation-adapted-hbo/

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