As tais manifestações de junho tornaram o Brasil visivelmente pior. Todo mundo vê isso. O Brasil atrasado, conformista, pantanoso de tantos eflúvios de prostituição em todas as áreas, o Brasil naufragado em sua falta de relevância e sua história basbaque, com seu povo estanque e rudimentar, se oficializou, se cartorizou, após o junho de 2013. Foram 50 anos, desde o golpe militar do qual tanto se diagnostica a perpetuação de nosso atraso, até o dia grandioso de junho em que nossa capacidade de reação foi testada e avaliada negativamente. Os 50 anos que duraram um dia. Mostramos, com a retumbância de pesadelo às classes dominantes dos espetáculos públicos de guilhotinamento em série, que estávamos a realizar não o Evento, mas o escape final, o desfibrilar do último suspiro de um povo cuja capacidade de indignação ia tão somente até onde se alargava em curta distância a corda do cabresto em que nos amarraram. Era uma resposta funcional, apenas isso, sem nada de metafórico, sem nada de subjetivo. Quem lê qualquer livro de história do Brasil enxerga isso com plenitude: nascemos com a maldição de sermos completamente desprovidos de transcendência. Li o Getúlio, do Lira Neto, por exemplo, com grande sofrimento: uma leitura que se arrastou por longos dias. É comovedor o quanto Lira Neto se esforça com todo seu talento para a leveza em transformar a história deste que é o nosso maior político de todos os tempos em algo divertido. E o livro se torna apenas o que Getúlio é, o retrato do poder desinteressante quando não existe um povo. São quase 500 páginas falando sobre famílias de renome, deputados, donas de casa exemplares no que tem de escoro para os abusos patriarcais, sobre assassinos bem colocados na hierarquia do poder, e nada de povo, nada de que existisse uma nação em efervescência mesmo colateral de vida urbana ou comunitária de qualquer tipo por baixo dessa tapeçaria fina em que se gravam os nomes de coronéis e que se criam as metástases sempre bruxuleantes de uma burocracia que os mantenha, que os explique para si mesmos. Em determinado momento do volume 1 da biografia de Getúlio, já que Lira Neto a dividiu em três grandes tomos organizados em datas a serem cumpridas à risca, a narrativa fica de uma chatice quase insuportável, em que a falta de enredo dá lugar a ações protocolares sem o mínimo interesse sobre a ida de Getúlio à candidatura à presidência da república. A culpa não é de Neto, mas da nossa história. Há longos bastiões de vazio e inércia em nossa história. Não há como o historiador pedir licença e executar uns passinhos de dança para ocupar o espaço.
O único dia que realmente teria feito a diferença para o Brasil foi aquele de junho em que mais de cem mil pessoas tomaram a Rio Branco. Tudo o que havia acontecido no país até em tão, foi o óbvio com atraso: o paulatino recuo dos militares (nunca a saída deles), as eleições diretas, a mudança de poder para a esquerda, os simbolismos construídos do operário e da mulher no poder máximo da nação a servirem para tantas necessidades em dois sentidos de facções ideológicas. Tudo isso era previsto, era lógico. O único dia que seria revolucionário, tanto pela sua inesperabilidade que pegou todas as descansadas elites com as calças arriadas, tanto pela eloquência dramática da estética de destruição iminente das imagens do povo nas ruas, seria o dia de junho em que ocuparam a Rio Branco. Qualquer brasileiro, por mais sepultado que estivesse nele a confiança, por mais que estivesse cicatrizada a mais ínfima fé, sentiu uma exultação bíblica dentro de si, sentiu os ventos da história querendo soprar com brutal força por dentro do mobiliário empoeirado dos nossos cômodos de velhos resguardados de toda promessa. Eu mesmo chorava a cada vez que ligava a televisão, da maneira mais boba e infantil. De uma hora para outra deixei de odiar e desprezar o Brasil, e estava louco para comprar uma bandeira, estava louco para viajar até as zonas principais do conflito e falar com esses novos brasileiros, me lambuzar com esse novo idioma, respirar esse suor elétrico. No fundo, no fundo, o milagre era muito apoteótico para que não houvesse uma vozinha cobrando contenção em mim, uma descrença senil de tanto uso efetivo da experiência. Todo mundo, de igual maneira, estava preparado para quando o pó lunar se dissipasse e a realidade voltasse a atuar com toda a sua implacabilidade. Não era possível que a história tivesse sido expulsa, a nossa tão elefantina e insípida história, a nossa história que sempre fora apenas a história de algumas famílias, tivesse sido trocada por alguma graça cosmológica, e em seu lugar houvesse sido posto um novo começar virginal, em que a fúria e a paixão sinfônica sobreporia o silêncio das xícaras de porcelana e os plim-plins regulatórios da hora de dar uma mijada no banheiro dos intervalos das novelas televisivas. Não era possível que, de uma hora para outra, o povo tivesse sido transfundido.
No final, todos os inimigos estavam certos. Porque foram eles que moldaram o que nasceu sem forma. Foram eles que disseram que tudo foi por causa dos tais 20 centavos. Foram eles que disseram que as últimas manifestações brasileiras haviam sido contra a vacina da varíola e a favor da monarquia, por isso, quem era o povo brasileiro para exigir causas esotéricas e whitmanianas. Foi apenas uma miserável e vexaminosa manifestação de trabalhadores assalariados pela única coisa que comportava as nossas vidas medíocres: o não-aumento das passagens do transporte público que nos levava e trazia de volta à exploração do sub-emprego cotidiano. Queríamos apenas um maneiramento nas rédeas, não uma mudança que nos retirassem o fôlego. Tudo foi por causa de 20 centavos.
Os estrumados no poder, que se arrepiaram de pavor ao ponto de proporem projetos mirabolantes como a da corrupção como crime hediondo, puderam voltar a respirar em paz, munidos da vantajosa quantidade de um inédito poder: a do conhecimento de que não somos ninguém. De junho para cá, meros 4 meses que tem o escopo de uma década, se sedimentou o perfil definitivo do povo brasileiro, um povo definitivamente inofensivo, que não deve ser temido. As novelas da Globo voltaram com força total, a impunidade foi distribuída como hóstia, como o corpo de um Cristo que sempre abençoa e guarda os que sempre foram abençoados e guardados. O Brasil segue, em um estupidificado, nebuloso e anêmico silêncio.
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Há uma semana Gustavo Ioschpe escreveu um artigo sobre se devemos, no Brasil de hoje e sempre, educarmos nossos filhos para serem éticos? Instigante reflexão. Com tantos W.s em cada canto do corporativismo estadual, enriquecendo sobejamente com dinheiro público, com tantas boas intenções manipuladas para interesses políticos bairristas, como o Bebê Prefeito, e com tanto vazio mental que aplaude o clichê, como alguém ético pode sobreviver no inferno? Ainda não sei responder isso, e isso me angustia.
O único dia que realmente teria feito a diferença para o Brasil foi aquele de junho em que mais de cem mil pessoas tomaram a Rio Branco. Tudo o que havia acontecido no país até em tão, foi o óbvio com atraso: o paulatino recuo dos militares (nunca a saída deles), as eleições diretas, a mudança de poder para a esquerda, os simbolismos construídos do operário e da mulher no poder máximo da nação a servirem para tantas necessidades em dois sentidos de facções ideológicas. Tudo isso era previsto, era lógico. O único dia que seria revolucionário, tanto pela sua inesperabilidade que pegou todas as descansadas elites com as calças arriadas, tanto pela eloquência dramática da estética de destruição iminente das imagens do povo nas ruas, seria o dia de junho em que ocuparam a Rio Branco. Qualquer brasileiro, por mais sepultado que estivesse nele a confiança, por mais que estivesse cicatrizada a mais ínfima fé, sentiu uma exultação bíblica dentro de si, sentiu os ventos da história querendo soprar com brutal força por dentro do mobiliário empoeirado dos nossos cômodos de velhos resguardados de toda promessa. Eu mesmo chorava a cada vez que ligava a televisão, da maneira mais boba e infantil. De uma hora para outra deixei de odiar e desprezar o Brasil, e estava louco para comprar uma bandeira, estava louco para viajar até as zonas principais do conflito e falar com esses novos brasileiros, me lambuzar com esse novo idioma, respirar esse suor elétrico. No fundo, no fundo, o milagre era muito apoteótico para que não houvesse uma vozinha cobrando contenção em mim, uma descrença senil de tanto uso efetivo da experiência. Todo mundo, de igual maneira, estava preparado para quando o pó lunar se dissipasse e a realidade voltasse a atuar com toda a sua implacabilidade. Não era possível que a história tivesse sido expulsa, a nossa tão elefantina e insípida história, a nossa história que sempre fora apenas a história de algumas famílias, tivesse sido trocada por alguma graça cosmológica, e em seu lugar houvesse sido posto um novo começar virginal, em que a fúria e a paixão sinfônica sobreporia o silêncio das xícaras de porcelana e os plim-plins regulatórios da hora de dar uma mijada no banheiro dos intervalos das novelas televisivas. Não era possível que, de uma hora para outra, o povo tivesse sido transfundido.
No final, todos os inimigos estavam certos. Porque foram eles que moldaram o que nasceu sem forma. Foram eles que disseram que tudo foi por causa dos tais 20 centavos. Foram eles que disseram que as últimas manifestações brasileiras haviam sido contra a vacina da varíola e a favor da monarquia, por isso, quem era o povo brasileiro para exigir causas esotéricas e whitmanianas. Foi apenas uma miserável e vexaminosa manifestação de trabalhadores assalariados pela única coisa que comportava as nossas vidas medíocres: o não-aumento das passagens do transporte público que nos levava e trazia de volta à exploração do sub-emprego cotidiano. Queríamos apenas um maneiramento nas rédeas, não uma mudança que nos retirassem o fôlego. Tudo foi por causa de 20 centavos.
Os estrumados no poder, que se arrepiaram de pavor ao ponto de proporem projetos mirabolantes como a da corrupção como crime hediondo, puderam voltar a respirar em paz, munidos da vantajosa quantidade de um inédito poder: a do conhecimento de que não somos ninguém. De junho para cá, meros 4 meses que tem o escopo de uma década, se sedimentou o perfil definitivo do povo brasileiro, um povo definitivamente inofensivo, que não deve ser temido. As novelas da Globo voltaram com força total, a impunidade foi distribuída como hóstia, como o corpo de um Cristo que sempre abençoa e guarda os que sempre foram abençoados e guardados. O Brasil segue, em um estupidificado, nebuloso e anêmico silêncio.
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Há uma semana Gustavo Ioschpe escreveu um artigo sobre se devemos, no Brasil de hoje e sempre, educarmos nossos filhos para serem éticos? Instigante reflexão. Com tantos W.s em cada canto do corporativismo estadual, enriquecendo sobejamente com dinheiro público, com tantas boas intenções manipuladas para interesses políticos bairristas, como o Bebê Prefeito, e com tanto vazio mental que aplaude o clichê, como alguém ético pode sobreviver no inferno? Ainda não sei responder isso, e isso me angustia.
Excelente, Charlles! Como sempre, certeiro, áspero, ideologicamente bem situado; coerente; repleto de metáforas que poriam inveja em Syd Barrett e Roger Waters.
ResponderExcluirAbração, meu velho!
P.S. Indiquei teu texto lá no meu perfil do Facebook para que outras pessoas leiam!
ExcluirObrigado, Carlinus.
ExcluirMuitas vindas aqui do Facebook.
Cara, não conheço ninguém na atualidade que consiga ir tão fundo na radiografia do nosso fracasso. Não há no seu texto nada do pessimismo anti-pátrio de um Diogo Mainardi. Tampouco ele segue a leitura delirante da nossa história de um Olavo de Carvalho, que destroça toda e qualquer história de nosso coletivo por justamente descrer de toda e qualquer possibilidade histórica de um coletivo.
ResponderExcluirVocê sabe, eu também senti aquela derradeira semana de junho como um divisor de águas e acreditei assim como você que a tal História com H maiúsculo de Hegel se fazia naquele momento... segundo o seu texto, para o bem ou para o mal.
Quisera alguém na atualidade tivesse a sua perspicácia, o tempo, e o investimento para traçar um play-by-play (como se diz por aqui) da virada de jogo que nos tirou a possibilidade de mudar o curso do rio que perfaz o nosso atraso civilizatório.
Belíssimo libelo. Só não sei compactuo dessa que é a mais comum mitologia do nosso atraso, que ancora na corrupção de um zé ninguém como N. a razão do nosso mais insofismável destino coletivo.
Ah, e aplaudiria o seu texto se ele não me fizesse na verdade chorar
ResponderExcluirNão é um sofisma, ou um clichê: nossa falta de transcendência vem da falta de educação, de cultura. O Brasil, a meu ver, nunca vai superar isso. Eu vejo alguns foros de debate e alguns blogs com muitos comentários e percebo que o idioma ainda é um dos grandes mistérios pátrios. Sem essa ferramenta, como se expressar?
ExcluirO N. é uma das causas. Vemos os bandidos mais noticiáveis, como prefeitos, deputados, governadores e senadores, mas e os milhares de N. que, em suas insignificâncias, orbitam as tantas camadas do poder, vampirizando o dinheiro público? O N. me disse que, após saber da denúncia, foi a um contador para organizar o imposto de renda. Na denúncia, disseram que ele tem cerca de 700 mil reais de patrimônio; ele riu com mofa e, mais uma vez em inconsequente estado de suspensão mental, me disse que o contador avaliou um valor bem maior que este. O país não aguenta.
Gratos por suas palavras, Luiz.
Charlles, escreveste este texto de uma vez só, por agora, ou paulatinamente, à medida que ía reunindo os sinais do fracasso de Junho?
ExcluirMatheus (mudaste de sobrenome de repente?), trouxe à baila o Olavo não para inflamar um debate sobre o cara, que pouco me interessa. É que tanto ele, quanto certa esquerda quiseram usurpar a consciência do coletivo que então se movia, descia às ruas. Olavo, porque, no meu entendimento, ele metodologicamente despreza qualquer noção do coletivo como uma invenção do Marxismo. Já essa certa esquerda, tira então qualquer consciência das massas que foram às ruas porque o coletivo só pertence a esses aparentemente.
O Matheus tem um nome completo muito bonito, Luiz, assim como o Arbo.
ExcluirEscrevo os post de uma vez, como um exercício de concentração e expurgo_ e mesmo porque aqui em casa o nível de turbulência filial é gigantesca. Claro que se resume a todo meu desencanto quanto ao "junho de 2013", ou a "primavera brasileira". Depois desses eventos, não dá mais nem para brincar passar os olhos por sobre a mídia oficial_ toda a mídia. E claro que um cara viciado em informação sempre está olhando por cima do muro, com o estômago embrulhado. A palhaçada já foi além dos máximos níveis lisérgicos. A risada já é um desespero em estágio de implosão. O Brasil está ilhado de toda lógica, de toda coerência. Ficam os títeres da boçalidade de cada lado fazendo seu papel mecânico de eternos obsessores: gente como Reinaldo Azevedo de um lado, com tudo o que ele é e tudo que é muito sabido, e de outro lado gente igual ao Mino Carta, que no site de sua revista aparece em vídeo com um biscoito nas mãos e tentando ser irônico após sua vitória na impunidade dos mensaleiros_ e não passa de um velho tio-avô que titubeia para concatenar as ideias, com a voz reticente, o cansaço dos que já não tem mais ânimos de contestar suas certezas.
Estava lendo a Piauí deste mês. Dê uma olhada nestas duas ótimas matérias:
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-85/anais-da-aviacao/o-desastre
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-85/questoes-da-getulice/verdade-vargas
São só exemplos do que estamos falando aqui.
Apesar das palavras do Luiz sobre o Olavo e o coletivo, dá uma lida nisso aqui:
ResponderExcluir500 anos em cinco notas
http://www.olavodecarvalho.org/textos/500.htm
http://rodrigogurgel.blogspot.com.br/2013/07/a-lingua-religiao-e-alta-cultura-vem.html
"O pragmatismo grosso, a superficialidade da experiência religiosa, o desprezo pelo conhecimento, a redução das atividades do espírito ao mínimo necessário para a conquista do emprego (inclusive universitário), a subordinação da inteligência aos interesses partidários, tais são as causas estruturais e constantes do fracasso desse povo. Todas as demais explicações alegadas – a exploração estrangeira, a composição racial da população, o latifúndio, a índole autoritária ou rebelde dos brasileiros, os impostos ou a sonegação deles, a corrupção e mil e um erros que as oposições imputam aos governos presentes e estes aos governos passados – são apenas subterfúgios com que uma intelectualidade provinciana e acanalhada foge a um confronto com a sua própria parcela de culpa no estado de coisas e evita dizer a um povo pueril a verdade que o tornaria adulto: que a língua, a religião e a alta cultura vêm primeiro, a prosperidade depois."
Depois escrevo algo meu.
Tudo muito bom, tudo muito bem, mas chega de romantismo!
ResponderExcluirEnquanto não surgir um militar de baixa patente da ativa, que seja inteligente, articulado e ambicioso e que fomente na cabeça dos colegas idéias e possibilidades de ação contra a situação atual, nada mudará.
Sem organização, disciplina, hierarquia e armas, nada pode ser feito. As mudanças pelas manifestações antecipariam o caos.
Como foi dito acima, a cultura da prosperidade como fundamento e primeiro objetivo corrompe o homem e limita a possibilidade de percepção e aprendizado sobre a moral e a ética na vida em comunidade.
A curto prazo somente a força e a punição severa podem deter o avanço da iniquidade.
Sem romantismos? Também concordo com você. Mas veja bem: não é isto que eu gostaria de ver: uma nova ditadura, ainda mais militar. Mas para o estágio em que o Brasil está, só uma organização violenta, um estado impositivo de poder absoluto, poderia mudar alguma coisa, com muitos, muitos custos. Não é mero "ah que saudade da ditadura militar". Se tem algo com que eu me compactuaria de maneira alguma seria com os militares. Mas Zizék diz isso, e Judt, e uma cambada de gente. Zizék faz seus diagnósticos para os países subdesenvolvidos, como o nosso, em que o estado morto e sem representação que hoje temos, onde prolifera a criminalidade e a sombra do neoliberalismo informal mais cruel, teria de ser substituído por um stalinismo sem Stalin, ou um Leninismo utópico ainda não testado: o dia seguinte da Revolução. Zizék talvez seja o último utópico, por isso seus livros são pautados por arrebatamentos e metafísicas sagradas. Já Judt trabalhava com a ideia do bem-estar social em países desenvolvidos, como Inglaterra e outros da Europa (seu ensaio sobre a questão da Bélgica, em Reflexões sobre um século esquecido é memorável).
ExcluirNão gostaria de vivem em um Brasil retornado aos militares. Não mesmo. Não tenho a mínima premonição para nosso país. Acho que ele retornará para os partidos da direita, e tudo será, com tem sido nesses últimos dez anos, um teatro de consumo para acalentar os desfortunados. Estaremos sempre 50 anos atrás do mundo. O que poderia acabar com isso seria uma desgraça, um dos cavaleiros determinantes da mudança, como uma crise financeira profunda, uma guerra contra outras nações, uma catástrofe provocada ou natural. Tristes escolhas.
O sonho impossível seria se surgisse um mandante esclarecido, mas isso é loucura já. Fora de questão.
Eu nunca sei quando o Wagner ta falando metaforica ou literalmente.
ResponderExcluirParece que o Matheus arrumou um parça!!
Poxa, vocês realmente acreditaram naquela encenação. Que tristeza. Desde o começo não me iludi, o que também entristece.
ResponderExcluirMudei para o sobrenome que sempre usam comigo, Luiz.
Gostei da análise espiritual do Brasil e do brasileiro feita pelo Charlles, apesar de discordar de certos pontos. Quem organizou as manifestações, aqueles que saíram nas capas dos jornais e deram entrevistas nas grandes redes de televisão (as que, supostamente, são anti-esquerda, conservadoras e ou reacionárias, capitalistas e entreguistas, etc.) sabiam desde o começo o que estavam fazendo -- o de sempre! Não esperavam que tomassem proporções de massa como vimos, mas isso acabou por ajudá-los: quem estava lá por outros motivos ("não é somente por 20 centavos), colaborou indiretamente com os reais objetivos da esquerda extrema. O estado avançando cada vez mais sobre o cidadão, o socialismo sendo implantado mais um pouquinho no Brasil e na América Latina. A cabecinha já entrou, agora é só cuspir e empurrar, de levinho, batendo e dizendo que "não dói nada"
Um bando de agentes socialistas chegaram -- e chegarão mais. A suprema quadrilha livrou a cara da quadrilha política. Greves por todo o Brasil pedindo por mais estado. E a pergunta do momento é: quem será o próximo bandido esquerdista (esquerda=bandidagem, sempre) que nos escravizará mais um pouquinho? Dilma? Marina? Campos? Ou, se as pesquisas indicarem uma perigosa "onda conservadora" do PSDB (hahaha do PSDB, do Aécio, Serra e FHC, "conservadores e neoliberais"), o Messias nordestino Lula? Todos eles tem o mesmo objetivo, menos o Aécio, que só sabe que Estado rouba muito dinheiro e quer usá-lo, mais nada, nenhum objetivo baseado num pensamento, numa ideologia ou o raio que o parta.
Militares assumindo? Já cagaram tudo nos 60, quando tinham planejado há décadas sua ascensão ao poder executivo. Imagina agora, com alguns poucos oficiais de gabarito instruídos e uma massa de soldados e sargentos semianalfabetos, loucos pra descarregar seus demônios no primeiro vivente que passar. Sem chance. E as polícias militares? A mesmíssima coisa.
Ainda mais com o povo sendo educado a ver negativamente as forças armadas, que reprimiram os "defensores da democracia que lutaram, sofreram, e hoje subiram ao poder pelas mãos do povo". Sem um corpo intelectual de combate, uma outra educação desde a base e, ao menos, até o ensino médio, não tem chance do Brasil mudar e aceitar qualquer outra coisa.
"Acho que ele retornará para os partidos da direita, e tudo será, com tem sido nesses últimos dez anos, um teatro de consumo para acalentar os desfortunados. "
Como o Charlles está enganado. O povo brasileiro pode ser em sua ligeira maioria conservador, mas não sabe que o é, não sabe o que é isso, não sabe quem o representa e quem o quer moldá-lo à força. Não sabe por que não tem como saber: não o ensinaram a pensar. Só a aceitar o que dizem. E isso também é culpa dos militares, caralho!
Se ocorre alguma desgraça financeira, a culpa é do capitalismo predatório. Solução? ESTATIZAR TUDO, FECHAR AS ALFÂNDEGAS, O SOCIALISMO NOS SALVARÁ, ASSIM COMO SALVA CUBA, COM SEUS MÉDICOS, RON E CHARUTOS.
Guerra Mundial? Isso é culpa dos capitalistas gananciosos americanos, dos loirinhos de olhos azuis e dos árabes ultra-capitalistas do petróleo! Mas o petróleo é nosso! Façamos uma União das Repúblicas Socialistas da América Latina para nos proteger!
Catástrofe? Sem problema, temos um Messias, temos alguns nobres Santos, temos e teremos mártires, seres iluminados por um facho vermelho sangue. Uma Nova Era de paz e amor, comandados por Guias esclarecidos, reinará nesta terra sofrida desde a chegada dos malvados portugueses.
Não há jeito em curto prazo.
Mas que dá vontade de sair matando um por um desses filhos da puta, dá. (Daí que surgem os imbecis integralistas e revoltadinhos restauradores da ordem e etc) Mas os fins não justificam os meios. O negócio é fazer o que eles fizeram. Proselitismo diário. Combate feroz. Demorará, sim, talvez nem dê em nada, talvez percamos e tudo morra, tudo se acabe, terra arrasada, mas temos de tentar.
Excluir(Todos temos um monstro adormecido chamado N., escondido em nosso âmago. (Quando e por quanto) Nos entregaremos a ele?)
Mas o troll tinha razão: arruma o horário do blog, caralho!
ExcluirTentei e não consigo. A coisa não muda: sobre as horas.
ExcluirVá no blogger, seleciona teu blog, em configurações > idioma e formatação, e seleciona o fuso horário GMT - 03:00 São Paulo.
ExcluirFuncionou, Matheus. Não vou fazer nenhuma piadinha auto-depreciativa dessa vez.
ExcluirSó voltando ao assunto: acho que você ainda está na fase de se ligar muito à iconografia de uma realidade conspiratória de partidos, de direita e esquerda. Para mim, este pessoal não vê a política de forma tão organizacional, isso seria maturidade demais para os políticos brasileiros. Eles pouco estão aí, só se importando com as falcatruas absolutas. Só ver o fisiologismo que torna partidos como clubes esportivos entre os quais os políticos vendem seus passes. Um exemplo da cafajestagem é o Reinaldo fazendo críticas à Mídia Corporativista, a Mídia Comprada. É muito cinismo.
Mas me interessei pelo Olavo.
Militar sem ditadura. "Meu filho, agrada os soldados e burla os demais." (Septimo Severo). Apenas amparando um movimento apartidario que exigiria o endurecimento da legislação penal , e ainda, a construção de cidades penitenciarias que funcionariam em regime militar para efetivamente ressocializar o meliante , inclusive os leklek que seriam responsabilizados criminalmente.
ResponderExcluirAgente público nao teria direito a progressão de pena! A aposentadoria compulsória de juízes seria verdadeiramente um pé na bunda sem direito a um tostão. Acabaria imediatamente com a estabilidade do servidor público. Os meios de comunicação seriam obrigados a apontar e exibir programas que incentivassem o conhecimento . As escolas públicas seriam como academias militares e os alunos ingressariam na faculdade sem qualquer exame. Os filhinhos de papai teriam que prestar vestibular e pagar a o curso superior em universidade pública. E os N. seriam esculachados em praça pública e em rede nacional. Qualquer tipo de incentivo ao hedonismo seria proibido, e também, a ostentação no face seria ridicularizada pelos meios de comunicação. Eis uma simples alegoria Luiz...
Caramba Charlles, Tolstoi a biografia , um sonho para mim. Fale preliminarmente a respeito, por favor...
ResponderExcluirChegou para mim faz pouco tempo. Comprei-o pela LC, e me entregaram mais de um mês depois, após explicarem que a primeira edição se esgotara rapidamente e aguardavam reimpressão. O povo lendo!
ExcluirComecei esta manhã, li só o prefácio. A toada tá boa.
Está in the best of Charlles, e o Luiz, invariavelmente, me representando nos comentários.
ResponderExcluirO diagnóstico me parece bastante acertado. Os pontos estão bem amarrados e o desencanto é só um canto triste a q não se pode escapar. As frentes do teu texto, ou seja, o nível local em que aparecem tua mulher vs primeira dama, bem como a icônica vida de N., é a onde a porca torce o rabo - e, portanto, onde talvez pudesse distorcer. Não sei, não sou capaz de saber por quê, o Brasil não parece ser capaz de transformar-se como país, talvez o caminho seja começar pelas cidades - de forma mais quieta, é verdade, e lenta, com certeza.
Falar em educação já é chover no molhado, mas também em grandes reformas institucionais - só que aí o rabo parece demasiado torcido, há forças muito antigas, muito antigamente implantadas nas instituições, e desde então se realimentando em direção a um descolamento de sua origem. Me pareceu um ponto alto do teu texto essa relação do N. com sua fake new way of life, aos moldes supostamente neoliberais, mas não à toa SUPOSTAMENTE neoliberais, pq também funcionando numa lógica de alienação, de esquecimento dos meios, de mergulho nas imagens inventadas (muito menos estilosas na burocracia), de concepção de um jogo descolado (volto ao termo) da realidade, que pouco importa, se não é a minha (esta que, nos dois casos, terá as feições de uma fuga).
É por isso que Zizek tem retomado Hegel (e Lacan, sobre o qual eu não poderia falar). Por uma visão que reconheça e trabalhe com os encaixes, as ligações, os algoritmos que explicam uma coisa na outra, que explicam e sustentam sua lógica. Essa coisa de estar a todo momento verificando se ainda faz sentido mantermos tais e tais instituições (aqui num sentido bem amplo, inclusive cultural) e por quê. Tenho q almoçar.
(estou lendo, com muito gosto, Charlles, Bilhões e bilhões e é isto um homem?, simultaneamente - muchas gracias por las dicas)
(não dê ouvidos ao q a cozinha Todeschini fala; tem Grenal no domingo, ele está nervoso e claramente viajando horrores, como se diz por acá)
Hum... Um mix de Faoro + Hegel.
Excluir(A cada dia fico mais convencido que Gasset estava certo, lá em 1926.)
(LA CONCHA DE TU MADRE ARBOOO *voz do D'ale*)
quê dizia o Gasset em 26? (aliás, seria dele aquela definição clássica: "Muriel, a sereia q atrai bolas à rede como marujos ao mar").
ExcluirÓtimo comentário, arbo.
ResponderExcluirEste blog serve a uma stream of consciousnes. O Brasil do Wagner não seria uma salvação? Ainda que saibamos dos enormes riscos humanos da empreitada, e que tudo poderia se tornar um pesadelo maior ainda (me lembrou O Grande Irmão). A realidade da Coréia do Sul, que passou por várias guerras e destruições internas (tanto físicas quanto espirituais), e que certa vez, na falta de salas de aula, davam-se aulas em cavernas, em que TODOS os alunos compareciam; ou a realidade do Japão, ou da Finlândia. Não são coisas impossíveis, mas se necessita uma ruptura severa no hedonismo narcotizado do brasileiro.
Vou almoçar também. Hoje tem pequi (momento Facebook).
Na semana passada, zapeando, parei no Canal Brasil. Passava "Entre Atos". Há longos trechos gravados durante viagens do Lula na campanha de 2002. Eu não consegui ouvir nada, até porque há um tom de soberba e de certezas em tudo o que o Lula fala. Eu só conseguia olhar para o Silvinho Land Rover sentado na poltrona atrás do candidato. Tão próximos. E o Silvinho é tão N. Sumiu o sujeito, aliás.
ResponderExcluirComo modo de não fugir muito do tópico, devo confessar que eu estava arrumando mala para viajar no dia 13 de junho. Naquele dia, uma quinta-feira, Folha e Estadão exigiam a avenida Paulista de volta e queriam endurecimento das forças policiais. O Rio não era *o* foco, embora houvesse manifestações por lá também. Um repórter da Carta Capital já havia sido preso por porte de vinagre.
Naquela quinta-feira, uma repórter da Folha tomou um tiro de bala de borracha no olho. As enquetes do Datena, apesar de seus perdigotos, já indicavam apoio dos telespectadores aos manifestantes. Aquela quinta-feira foi o ponto de virada. E isso só me faz deplorar os choques de ordem, a ilusão do uso da força pelo Estado para proteger o cofre do Silvinho e, pior, a reclamação pela volta dos militares. Essas pessoas não sabem do que estão falando.
Passei o dia 14 dentro do avião. Nos dias seguintes, eu estava muito ocupado para entrar na internet. Eu queria me perder por Berlim e assim o fiz. Chegava em casa exausto e só queria uma Beck's gelada. No metrô, todavia, um senhor me abordou com um pedido de informação. Respondi "eu não falo alemão", que é basicamente a única frase que sei falar naquele idioma.
Em inglês, disse ser brasileiro, ao que ele rapidamente entabulou uma conversa em espanhol, posto ter vivido na Argentina por quase 20 anos. E ele falou de política. Fez graça com minha irmã pelo fato de ela ser mulher e elas estarem galgando postos de poder. Falou da Angela e da Dilma. "Sei que o Brasil está passando por momentos difíceis, as pessoas nas ruas..." - e eu meio que concordei, porque era muito difícil traçar um panorama político, econômico e social entre estações (de um transporte público caro, porém eficiente).
Mas naquele dia liguei a TV. E todos os noticiários tinham cenas do que se passava no Brasil. Tudo em alemão. Aí eu fui obrigado a abrir a internet. E havia mil mensagens, de gente preocupadíssima com a trupe vestida de verde-amarelo dizendo "é sem partido".
As pessoas foram para as ruas por enfado e por ver que aqueles que tentavam acusar o absurdo de 20 centavos a mais na tarifa estavam sendo hediondamente atacados pelas forças de segurança. A manifestação cresceu na mesma velocidade em que a Babel de indignações se espalhou - alguns, é claro, talvez querendo a volta dos militares e o fim dos partidos políticos.
Não havia organização. Não havia lideranças. Não havia coletivo, mas massa. E eu acho que a única autoridade executiva que tentou, ao menos, dar respostas equilibradas e minimamente propositivas foi a Dilma. O resto todo até então falava em cassetete contra baderneiros. Era de se esperar que aquela massa recuasse com os 20 centavos.
Mas ainda há um frágil equilíbrio interno. Tenho palpites, mas não sei o que vai dar. Hoje, aposto na reeleição da Dilma. Mas, sim, tudo pode mudar. E não sei se será para melhor.
P.S: Gostei do comentário do Arbo também. Meu Deus, você come pequi? Que coisa. De-tes-to pequi.
Que bom que não apareces apenas aos fins de semana, Fabio.
ExcluirComo sempre, um comentário ótimo de se ler (como aliás, de todos aqui).
Sou apaixonado por pequi. Acho um dos sabores mais fantásticos, suculentos e charmosos da natureza. Isso mesmo, me causa sinestesia. Assim como adoro guariroba.