sábado, 5 de outubro de 2013

Nobel de literatura de 2013?



Nessa semana que se segue está programado o anúncio do novo ganhador do Nobel de literatura, conforme a tradição da academia sueca em fazê-lo por volta do dia 10 de outubro. Eles bem poderiam descansar esse ano da mania de desencavar escritores que ninguém conhece para receber o galardão, e dá-lo para um dos dez ou mais grandes escritores notórios que purgam a cada ano o martírio da expectativa. Não adianta: por mais que um escritor se diga indiferente ao prêmio, o Nobel é o mais importante rito de passagem para o reconhecimento definitivo. Muitos escritores só se tornaram "canônicos" e reconhecidos depois de ganhá-lo, ainda que boa parte destes foram lançados, logo após, em um ostracismo absoluto: alguém se lembra de Pearl Buck?; em escala mais recente: alguém se lembra de Gao Xinjian? Ou o Nobel do ano passado: alguém já leu alguma coisa do... como chama mesmo o chinês?

Esse ano eles deveriam presentear os leitores mundiais escolhendo algum dos escritores que brilham nas casas de apostas. São muitos e não vou ficar aqui citando nomes. Meus preferidos? Se fosse pela minha escolha, eu daria o Nobel ao Thomas Pynchon. Ninguém merece mais que ele, seja pela prosa monumental, pela ousadia da obra, pela junção de excelente narrativa com experimentalismo, pelo conjunto da obra que não apresenta medianidade (todos os seus 8 romances são obras-primas), e pela idade certa em que Pynchon está, na qual um Nobel já não é factível de comprometer a qualidade de eventuais escritos futuros. Por essa última razão, eu não daria o Nobel deste ano a Javier Marías, ainda que ele o mereça como nenhum outro; mas Marías ainda tem muito para escrever, e seria injusto com seus leitores que sobre ele recaísse a maldição do Nobel, que é aquela em que o senso comum diz que o escritor perde em definitivo a mestria profissional assim que sobe por aquelas escadas de Estocolmo. Daria o Nobel ao Philip Roth, claro. Ao Cees Nooteboom. Ao Claudio Magris. Não o daria ao Vila-Matas, nem ao Lobo Antunes (que sofre da maldição do Nobel, em um caso raríssimo para alguém que não o recebeu), assim como nunca o daria a Murakami, a Auster, a Ian McEwan. E, definitivamente, nunca o daria a Bob Dylan, a Bono Vox e a Ariano Suassuna.

Vamos aguardar, embora não vá ser em nada surpreendente se o prêmio for para algum poeta minimalista dodecassílabo esquimó.

8 comentários:

  1. Tem que ver quem é o desconhecido que está entre os mais cotados. Esse ganha. Mas sempre há alguém que vai dizer que já o conhecia, que o Brasil desconhece os grandes autores.

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  2. Esse Austen que tens falado ultimamente é o Auster, né? Ou és tu e tua mania de errar nomes de quem despreza fingindo não ser de propósito ou não conheço mesmo. =)

    Agora, continuando na mania de diversidade, darão pra um egípcio muçulmano gay, uma ex-freira carmelita atualmente sexóloga feminista, ou algo assim.

    (Mas será que agora que os fãs nem esperam o bendito reconhecimento e que ele anunciou seu afastamento, será que ainda não darão pro Roth?)

    Daí ganha o Pynchon pra literatura e Putin pro a paz, e todos entram na expectativa do último explodir meio mundo 6 meses depois e do primeiro aparecer na cerimônia via holograma com um saco na cabeça.

    E se der Eco? Ou Coelho? (só pela zoeira de sábado)

    Cacete, tem como apostar nisso via internet?

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    1. Eu daria o prêmio para Pynchon, mas não tenho a mínima esperança de que ganhe. Jamais apostaria em Pynchon. Roth tem muito mais chances que ele.

      É Auster. Corrigi. Não desprezo o Auster, devo misturá-lo com aquela escritora clássica inglesa, a Jane Auster, deve ser isso.

      Depois que deram o Nobel para o Obama...

      Gostei demais de O Nome da Rosa, e Eco é um escritor bem diferenciado. Alguns o consideram um dos grandes. Mas não creio que o Nobel o considere.

      Se Coelho ganhar, aí vou ter a certeza consolidada de que os tradutores dele são não só os melhores do mundo quanto grandes escritores não reconhecidos.

      No site oficial do Javier Marías há um link que fala sobre bolsas de apostas.

      Se fosse para apostar, usando os parâmetros conhecidos da realidade do prêmio, e desconsiderando azarões, eu apostaria ou em Claudio Magris, ou em Cees Nooteboom.

      Essa do saco na cabeça vai ficar para sempre no imaginário quando se trata do Pynchon. :-)

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    2. Hehe, esse Charlles ;)
      Também não creio que pensem no italiano, mas ao menos é lido e reconhecido por um bom número de pessoas, ao contrário do chinês (olha meu latino e submisso preconceito eurocêntrico enraizado aí, gente).
      O Rabbit, de algum modo, é sensacional. Onde se fala inglês, as edições mais recentes de Lobo da Estepe de Hesse vem com a recomendação e introdução de Coelho, e em alemão tbm no Siddhartha. "Ah, se ele recomenda deve ser bom!!!".
      "Hermann Hesse's moving and inspirational chronicle of spiritual evolution, Siddhartha, includes a new introduction by bestselling author Paulo Coehlo in Penguin Classics." COEHLO. Aquele errinho numa de suas capas marcou para sempre.

      Acho também esses dois que citaste mais prováveis que os nossos favoritos. Voto no holandês, pois do outro nada li.

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  3. Charlles, li essa semana Os Enamoramentos. É mais fácil Garay Contino que Pynchon ganhar. Vi a lista de apostas, e tem outros nomes bons ali. Kundera, Atwood, McCarthy... Gosto demais do Eco. E se Bob Dylan pode concorrer, Alan Moore também deveria poder, hehehehe. Mas acho que os caras que escolhem fazem um conluio e apostam anonimamente num azarão de nome esquisito, e depois dividem a bufunfa que levam sozinhos. Em 2010 foram tão malandros que, quando já estávamos esperando uma surpresa desagradável, deram ao Llosa. Deve ter rolando uma grana preta.
    Ou alguém ainda esperava o dele?

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    1. Realmente, não acho que eles sejam brasileiros a esse ponto, Paulo, ao ponto dessa falcatrua e enriquecimento ilícito. Há o peso dos votos, e os laureados dos anos passados, que ainda estão vivos, tem poder de voto. A academia tem lá suas tantas falhas, mas acredito que no quesito honestidade de intenções eles são idôneos. Llosa ganhou assim como Faulkner ganhou. Os dois jamais seriam imagináveis de levar o prêmio. Comparativamente, Borges não levou, em referência à simetria de Llosa, e Joyce não levou, em referência a Faulkner.

      Llosa foi merecido. Daqui uns anos, quando puder-se ver as coisas desapaixonadamente, Llosa aparecerá como o grande romancista destes nossos tempos.

      Os enamoramentos é um dos melhores e mais sensacionais romances que li na vida, Paulo. Do ponto de vista estrutural, é o melhor romance de Marías_ claro que Seu rosto amanhã ganha pela pujança, mas esta é a obra mais esteticamente bem sucedida enquanto romance do espanhol. Está simplesmente bem acima da média.

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  4. olá. gostei dos comentários. e agora, neste resto de domingo, descanso (não é fácil mesmo lavar o piso da casa). abraços fortes.

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