É uma lástima que eu não saiba o nome completo dele e isso tenha acontecido há 20 anos, de forma que não exista nenhum registro pela internet. A única coisa concreta que eu sei é que ele se chama João_ relutei na conjugação do verbo: chamava João, já que tantas coisas podem ter acontecido. Já pensei em algum dia ir até a faculdade de jornalismo, solicitar um informação nas salas administrativas, enfrentar aqueles corredores e caras envelhecidas em que pudesse captar um sinal de nostálgico reconhecimento, mas, no fundo, talvez não tenha uma real importância, ou simplesmente não queira me confrontar com essas lembranças em que tudo parecia ser tão diferente. (Me espanta o quanto eu me torno cada vez mais sensível a determinadas lembranças da juventude; a recorrência de certos sonhos noturnos e certas angústias sem propósito aparente; certos arrependimentos_ mas o que poderia ter sido diferente?, o medo de que nada, enfim, poderia ter sido diferente.) De modos que eu deixei o assunto pra lá e só me basta a lembrança difusa daquele segundo ano de jornalismo em que João e eu nos tornamos demasiadamente amigos, a ponto de um dia, sentados no bosque do campus, ele ter me dito que iria apagar toda a sua vida até aquele momento e começar de novo, começar do zero, com outra identidade, basicamente com outra alma.
O cara era muito bonito. Recordo que era o segundo homem a quem eu aceitava plenamente o impacto da beleza sem que isso incomodasse em meu reduto íntimo de preconceitos e auto-recriminações (o primeiro era um amigo do colegial diante do qual se convergiam espontaneamente todas as meninas desejáveis). Vestia-se rigorosamente de uma calça e casaco jeans por sobre uma série variável de camisas de manga curta com cores cinzas ou neutras, e mocassins, o que entregava sua devoção ao imaginário do que um jornalista latino-americano do início da década de 90 devia à herança descolada dos jornalistas combativos dos anos 70, embora nenhum de nós soubéssemos muita coisa sobre quem foram e o que fizeram tais jornalistas. Não havia escapatória: ele parecia muito com o Che, ou com as fotos felizes do Che, as fotos iconográficas do Che. Tinha os cabelos compridos na medida certa e a estatura mediana certa. Era muito simpático, conversador, mas conservava um núcleo reflexivo; não era o tipo que o magnetismo pessoal deixava ser visto só, mas que parecia sempre desejar a solidão. Em suma, era um cara cuja beleza não incomodava, e se queria estar perto dele; era um desvirtuamento da lei do macho alfa, pois via-se que ele tinha o direito da predominância sexual por sobre os demais, como se fosse a vingança despreocupada e superiormente harmonizável do conjunto em ceder a vantagem dos poderes da atração ao mais fraco. Pois era isso que cativava mais nele: ele era o mais capaz em tudo, mas ao mesmo tempo era o mais fraco. Chegava nas festas estudantis dos outros cursos e logo era o alvo das atenções, criava-se uma eletricidade especulativa em torno dele, mas ele não era o atleta ou o riquinho. Ele passou a namorar com a moça mais bonita e descolada da turma. Não havia muitas mulheres bonitas no curso de jornalismo daquela época, e nem mesmo essa era uma mulher notoriamente bonita, mas ela tinha uma vivacidade teatral que a distinguia. Ambos fizeram teatro, e quando tudo terminou_ o namoro, minha temporada no curso, nosso círculo de amizades_, ela se profissionalizou como atriz e fez diversos filmes e propagandas de televisão. Acho mesmo que de todos nós só ela foi sendo vista por mais tempo, até também desaparecer em sua vida cotidiana.
Pois bem, neste dia no bosque, em que ele me anunciou sua decisão, eu me perguntei se eramos assim tão amigos para que eu fosse o primeiro a saber disso. Eu era tímido e só conseguia me entrosar aos poucos, tinha-se que ter muita cautela comigo. A hipótese mais provável é que ele desejasse um ouvinte, e eu era um ótimo ouvinte. Ele se virou para mim e disse que era gay, que iria abandonar o curso e ir para os Estados Unidos, que iria trabalhar e cursar artes plásticas lá. Uma de suas características era que a pessoa a seu lado era levada a pensar com menos velocidade, a entrar em registros de diálogos alternativos, a não se espantar com o improvável. Naquela época uma confissão dessas era uma coisa bombástica. Exigia-se instintivamente uma posição defensiva para se tentar entender que o cara mais bonito e formidável da faculdade não gostava de mulheres, não a defesa contra os esteriótipos torpes que surgem das conotações ambientais de dois homens estarem a sós em um bosque e um deles se voltar para o outro e dizer que é bicha. E a conotação violenta da palavra bicha. Mas a defesa contra a inexpugnável sensação de felicidade que tal ato causava nele. Ele estava feericamente feliz, inalcançavelmente feliz. De repente eu senti todo o peso da minha própria falta de felicidade e pensei que não era justo que ele me impusesse tamanha carga de auto-lucidez. Senti um ódio desconsolado por ele se mostrar, enfim, tão egoísta, por pensar apenas nele, em sua própria libertação. Naquele momento aconteciam outros desvelamentos espirituais tão grandes que era uma sorte que nos mantivéssemos socialmente cordiais para ainda suportarmos bem um ao outro, pois caía a máscara de que ele era um cara gente fina, e de que eu era um bom ouvinte solidário. Eu não tinha o homossexualismo para me libertar. Nada disse a ele, apenas ouvi. Ele não queria mesmo que alguém dissesse alguma coisa. Mas era uma coragem perigosa. Abandonar tudo e começar de novo, abandonar seu casaco jeans e sua trabalhada imagem de John Reed latino, sua namorada hippie que todo mundo desejava ter, sua aura de cara fadado ao sucesso pois era munido de uma infalível auto-suficiência. Então tudo havia sido uma enorme falsidade e um laboratório de testes, e seu altruísmo jovial escondera esse tempo todo uma batalha espiritual solitária, altamente centrada e egoísta.
Incrível como não lembro nada mais dele a não ser isso. Seu nome, se tinha pais, o que decorreu dessa decisão. Tínhamos 18, 19 anos. Minha adolescência, como todas as outras, foi uma série de tiros no escuro. Não houve tempo para perceber nada ao redor. Um caleidoscópio de medos e tentativas de superação desses medos. Ele deixou o curso e desapareceu depois disso. Um mês depois eu também abandonei o curso, fiquei fora uns tempos. O capítulo que mais gosto de O Jogo da Amarelinha, uma das reflexões morellianas fala sobre a procura pelo Éden que está por detrás de todas as coisas. Cortázar fala da sublimidade que se esconde por detrás de uma xícara que finge ser apenas uma xícara. Fala que o homem está em uma constante procura pelo que está mais além, para polpar-se um pouco da ponta do sapato que entra em seu pobre cu a cada chute da realidade_ é isso que ele diz, o sapato entrando no cu do pobre homem. Ele cita as religiões, as drogas, e, entre outras coisas, o homossexualismo. Essa parte me tocou fundo. Homossexualismo como possibilidade de escape. Nunca havia pensado assim, e Cortázar, em sua maravilhosa percepção humana, me revelara isso. Religião, drogas e homossexualismo, uma tríade que namora com o arrebatamento nem que seja às custas do sacrifício da real sinceridade do objeto que assume uma dessas proposições. Não que João não estivesse sendo sincero: ele estava sendo sincero. Eu abandonei tudo e, há 3 mil quilômetros de casa, desejei ardentemente que uma hecatombe me arrebatasse do caminho, que um aneurisma do cotidiano me livrasse da ponta do sapato entrando no cu. E o João estava nos EUA conquistando a sua paz em separado, vivendo a alegria de seu suicídio em vida.
Estou a desconfiar que o verdadeiro nome do Charlles - é João!; e que esse negócio de veterinário, no fundo, não passa de obter couro pra fazer sapatos pontudos para os largos passos profundos...
ResponderExcluirAté pudera.
ExcluirComplementando o comentário anterior…
Excluir.
Ufa, Charlles! Percebo que a parte madura e feminina da família Campos não me espinafrou, pois etimologicamente espinafrar significa fazer em picadinhos o frágil do dito cujo espinafre… Ainda bem que não aconteceu...
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Compreenda meu receio, caro amigo, como sou um contumaz poeta espinafrado pelas cozinhas da rede, ando a ver cebolas, alhos, facas e fantasmas por todo lado.
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Mas mudando de raciocínio - da arte culinária à veterinária dos suínos…
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Estou a viver uma terrível dúvida metafísica desde quarta-feira à noite, quando a nossa Presidenta anunciou, entre fatos, fotos e holofotes, a diminuição do preço da energia em nosso país. Estou a procurar os grunhidos da Míriam Leitão no “plim-plim”, mas a danada da porquinha desapareceu. Será que foi pelo medo do abate?
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Aliás, Charlles, você como renomado veterinário, tem alguma informação científica se suínos são refratários à luz? Se sua resposta for negativa, então, meu querido, estamos a presenciar, de acordo com a teoria de Darwin, um ponto de mutação, pois leitãozinhos brasileiros estão a se entocar quando do primeiro raiar do dia. Qual a sua opinião sobre tal estágio de mutação?
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Não seria um tema “quente” aos nossos futuros doutores em veterinária. Vaticínio até o título da primeira tese:
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“O DEFECAR CONTÍNUO DE LEITÕES MUTANTES DIANTE DAS CONTAS DE LUZ”.
Pobre de nós, país sem imprensa livre e sem livres pensadores, Ramiro. A diminuição dos juros do cheque especial e agora a redução da conta de luz. Sinceramente, não acredito. Vou ter um choque (sem trocadilhos), se minha conta vir dois centavos a menos que a média de 80 mirréis que pago por mês. Não estou acostumado a esse súbito e violento aliviamento de carga. Mas tudo bem, somos o país com uma das taxas de energia mais caras do mundo, mas será que estamos em um ano zero, em um marco de uma nova realização histórica? Será que não houve ninguém antes da Dilma que pudesse ter feito isso? 8 anos para cada mandatário e uma enorme afasia de intenções e inteligência. Me sinto um personagem de um conto do Bashevis Singer em que toda a população de uma aldeia come sua noiva, e só quando ela está velha e não atiça mais nenhuma libido, eles arranjam de dar um casamento entre ela e o homem com todas as homenagens cabíveis. Pagamos por anos nossos juros de 12 por cento, nossas contas de luz para empresas terceirizadas acopladas à roubalheira sem tamanho de governantes e seus apanágios. Veja a CELG, a companhia elétrica de Goiás: conseguiram quebrá-la; um rombo de 6 bilhões de reais. Máquinas depredadas, terminais obsoletos, rotores anacrônicos. E agora, o milagre, a boa-ventura de uma presidentA gente fina que veio para socorrer o povo.
ExcluirProponho outro título, que coloque o porco fazendo a obra em nossas cabeças.
João. João de Deus ou um deus chamado João?
ResponderExcluirAcho que as fotos são iconográficas, não iconoclásticas.
Homem bonito não é uma contradição em termos?
Não entendo isso de homossexualismo como válvula de escape; haverá válvula de entrada ou o metafórico sapato cu a dentro é menos metafórico do que se conta?
Tem muitas gradações nessa coisa de se autodeclarar alguma coisa; pode até ser por egoísmo, ma stambém pode ser por desespero, sentiumento de derrota e até de irrelevância, entre muitos. Uns 30 anos atrás a coragem de se declarar bicha vinha misturado ao orgulho e ao medo de uma descoberta que também podia ser uma imposição dos tempos de liberação sexual (que foram, na verdade, 20 anos antes, e os anos 80 viveram seu rescaldo hedonista suspenso pela Sida, que é como os portugues chamam acertadamente a Aids).
Clarice Lispector enfatizava também em seus personagens "mulheres pequeno burguesas do lar reprimidas e solitárias" o desejo irrealizável por outra vida, daí o mergulho introspectivo que ultrapassava os limites e perpassava a loucura, com o medo de não voltar mais dela. Mas no fim as persoinagens voltavam, ao menos a grande maioria delas voltou. Quem não voltou morreu, o que dá um paralelo com o martirólogo gay.
99% da literatura tem como elemento central a insatisfação, o desajuste, o desacerto com níveis de realidade. Apesar disso, 99% da literatura é fraca, ou ruim, ou péssima. E 1% não é nada. A gente tem que brigar muito para aingir esse ápice.
(tô falando de literatura; Barbara Cartland, para citar um nome lembrado por ti, simplesmente não é literatura; é só repetição de conversa fiada)
E pruma sexta-feira achpo que já falei demais. É almoçar e partir pra esbórnia.
Cê tá aí, né? Pera que vou responder ao arbo e retorno. Mas é sim iconográfica, vi de imediato mas esqueci de mudar.
Excluir"Uns 30 anos atrás a coragem de se declarar bicha vinha misturado ao orgulho e ao medo de uma descoberta que também podia ser uma imposição dos tempos de liberação sexual". Nada a acrescentar.
ExcluirE Paulo Coelho serve? Ele declarou que testou o homossexualismo para ver se era a praia dele, e descobriu que não.
O tema do homossexualismo me fascina. O único conto que enviei para um concurso uma vez tratava sobre isso (postei um excerto dele, "contoscos" [título do post, não do conto]). Era a semana cultural da faculdade de história na pequena cidade. Fui instigado a entregar uma copia do conto por uma namorada, no departamento da faculdade. No dia da revelação do ganhador, em que se daria os prêmios de dança, teatro, bolo de cenoura mais gostoso (era uma quermesse, não o premio nobel, como se vê), havia apresentações e arquibancadas cheias. Eu estava convicto que eu iria ganhar o prêmio e desde duas semanas me arrependia profundamente de ter cedido à pressão da namorada e daquela vaidadezinha pueril. Tentei reaver o conto na administração, mas a funcionária sorumbática se recusou primeiro por preguiça em procurar preencher papéis de desistência e ver onde a tralha estava, segundo porque percebeu que a coisa parecia importante para mim e queria exercer seu masoquismo de estar uma posição de dominância. Faltando alguns minutos para a revelação, só esperando que o festival de catira terminasse, eu não aguentava diante e vergonha que estav prestes a passar, e disse à namorada: "Vou dar uma volta por aí e daqui meia hora volto. Desce lá e recebe o prêmio por mim."; "Você não sai daqui nem que a vaca tussa. O mérito é seu; você vai lá, vai receber as palmas, e volta para cá. Simples." Não havia como sair do meio da multidão. Quando o locutor falou "e agora, vamos ao vencedor do prêmio de melhor conto do ano", eu me recolhi entre os ombros e suei frio. Mas a ganhadora foi uma mulher de uns 50 anos, que fazia letras, tinha escrito uma espécie de crônica sobre o quanto a família abençoada por deus prosperava em todos os sentidos, e subiu a paliçada com um cara de sono tétrico, pegou o trofeuzinho sem rir e foi comer uma maçã do amor junto aos filhos. Nunca achei a cópia do conto.
Já devia ter saído pra almoçar, mas Rachel acaba de me ligar pra dizer que tá presa num engarrafamento e vai demorar, eu pensando se acredito nisso ou não...
ExcluirEsse meio vexame eu já paguei quando participei dum concurso de contos mixa achando que tava no papo, pois escrevi para participar uma pequena obra-prima de humor anti-colonialista e me preparei para subir um degrauzinho para receber o prêmio mas outro nome foi chamado, vencedor cujo título de conto não deixava dúvidas quanto ao sentido inverso do meu: uma louvação colonialista. Pensei depois: como pensei que podia ganhar um concurso temático em que a lógica seria louvar os pseudo heróis do passado com um conto que triturava os ditos heróis?
Ponho sempre uns personagens gays nos troços que escrevo pela simples razão de que há uma penca de gays no mundo, e como o que escrevo tá no meio das relações existentes, embora não vividas por mim, é um assunto que interessa, como falar também de velhos, putas e pilantras, pudicos, crianças e apoetados, todo tipo de coisa.
Além disso, não dou bola para a condição heterossexual. Ela é banal demais para desfraldar bamndeira. Melhor é torcer para o Campo Grande e ouvir sempre a pergunta: "E esse time existe?" - Por enquanto, não, mas já existiu. Vai que volta...
Bolo de cenoura... quermesse... não seria bolo de funbá? Aqui é bolo de fubá.
Quanto ao Paulo Coelho... bem, o Caio Fernando Abreu o considerava não como escritor, mas como um cara que escrevia coisas que, no final das contas, não seriam as piores do mundo, pois versariam sobre buscas da verdade, do conhecimento, da magis, mistificações, enganos, dúvidas, redenções... Não julkgava bom, mas como coisas piores paravam na mesa dele, então, por que não publicar esse aqui? No mínimo, dá em nada. No máximo, vende os 2.000 exemplares da edição. Pois é, venderam mais de 40 edições, isso em pouco tempo, e tão a vender até hoje o tal "Diário de um mago". Quer dizer, é ruim pacas, mas enquanto ruim pacas se insere no contexto da ruindade literária ou subliterária, não da mera datilografia, como disse o Truman Capote acerca do Jack Kerouac.
"Ponho sempre uns personagens gays nos troços que escrevo pela simples razão de que há uma penca de gays no mundo, e como o que escrevo tá no meio das relações existentes, EMBORA NÃO VIVIDAS POR MIM". Porque o danado tem sempre que estar na defensiva, mesmo fazendo uma semi apologia da homossexualidade? (Além do mais, todo mundo aqui sabe daquele comentário seu sobre certa meinha da infância, mas vamo deixá pra lá.)
Excluir"Ponho sempre uns personagens gays nos troços que escrevo pela simples razão de que há uma penca de gays no mundo..."
Excluir.
A prova cabal - Charlles Campos é um viado (potencial)...: aquele velho papo que o autor escreve só personagens... Mas, então, como fica a noção de pecado de acordo com o Novo Testamento que diz, mais ou menos assim: “… serás adultero se em teu pensamento desejares a mulher do próximo…”.
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Charlles, fica tranquilo!... Desde o primeiro comentário, estou a lhe sacanear!; pois sei, há muito, sem dúvida, que as escrituras não foram escritas por Deus… - mas por um bando doente de sadomasoquistas (não os ditos homossexuais bem-vindos…) que se enrabavam sobre as barbas de Javé. Por isso - por negarem hipocritamente o que faziam e o que gostavam de fazer com homens, mulheres e principalmente com crianças -, tudo, hoje, é essa torre de babel de estelionatários sobre a sexualidade humana.
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JESUS?
Ora, sob o mais colossal sofrimento e infinita inocência, por SER O FILHO DO HOMEM, disse: “PAI, PERDOA – NÃO SABEM O QUE FAZEM…”.
PECADO DE SODOMA
by Ramiro Conceição
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Você
negou-me acolhida - tal qual a um estranho
que chegasse a sua casa e pedisse comida.
Mas eu não era um estrangeiro; e, se o fora,
você
devia olhar-me porque quem sabe um bem
bem-vindo eu fosse; porém, como sempre,
atrasado cheguei qual chegam as estrelas.
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E você, feito sempre,
deixou-me ao relento;
trancou a porta; e foi dormir
em seu seguro… aposento.
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Eis o pecado - daqueles seres de Sodoma:
negar acolhida a quem trazia luz à Moradia.
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Então como cantarei às coisas claras,
qual cigarra, se você não me guitarra?!
Iiiiiiiiiiiii!...
Excluir.
Por esse comentário deixei claro que o Charlles Campos, o Marcos Nunes e o Ramiro Conceição – somos três em um!...
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Carajo, caracu, cazzo do caralho: - somos um mistério!
Fez jornalismo? Dessa eu não sabia.
ResponderExcluirSenti um abandono na hora. Não demorei compreender depois. Mas esse é um dos motivos que eu não levo a precocidade e a adolescência a sério. Uma fase da vida em que não se olha para fora, não se vê o outro, apenas para si mesmo, e com medo.
Não coube no texto, mas tenho um outro amigo dos alhures que é homossexual. (Devo ter vários, assumidos depois, mas perdi a convivência.) Esse era um moreno de olhar sádico que costumava se masturbar em plena sala de aula, no colegial. Não sei como ele fazia isso, mas uma vez me deparei, com nojo, com ele lavando as mãos no banheiro. Era o tipo sem caráter, que explorava mulheres, etc. Qual a surpresa minha ao vê-lo na televisão, de conjuntinho com saia curta, algemado, e entrando em um camburão, anos depois.
Sou heterossexual convicto. Já que é uma imposição biológica, não tenho como defender o homossexualismo. Respeito, não tenho absolutamente nada contra, não gosto de piadinhas preconceituosas (a não ser com gaúchos tipo o Milton, que é bom tirar um sarro; e as velhas piadinhas entre amigos). Não vem ao caso esse assunto.
(Essa coisa de opções tardias da vida: um mecânico de seus 60 anos aqui onde moro resolveu assumir uma nunca imaginada homossexualidade. Largou da mulher, saiu da casa com dois filhos, pintou os cabelos. Quem disser alguma coisa ou rir torto, leva uma porrada.)
Curso com o Safatle? Imperdível! Não sei se já falei aqui, mas alguns alunos dele da USP entraram em contato comigo via email, pedindo mais informações da juventude dele. Desencavaram até um áudio da banda dark dele, a Oficina de Testes.
Hipster? Mas que diabo é isso?
João... segundo nome mais genérico que conheço ( o primeiro é José). Isso de ser perfeito e não ser perfeito ao mesmo tempo é meio como o gato de Schrödinger: abra a caixa e então você vai ver se o que habito lá está vivo ou morto.
ResponderExcluirNão querendo fazer aforismas toscos, mas se pararmos para observar o que fazemos todos os dias TUDO pode ser considerado válvula de escape, desde comer horrores, comprar compusivamente e viver isolado, até ir trabalhar todos os dias, no mesmo horário, respeitando a tal da "rotina". Acredito nisso (ao menos neste momento) porque a vida pode ser uma merda agora e dois mitos depois uma felicidade mortal. Mas quando está uma merda (o que é mais comum, não por causa de trivialidades e sim porque não poderei conhecer todas as pessoas do mundo, todos os lugares, ter uma família torta como a que o Gabo escreveu em "Cem anos" ou conhecer Arturo Bandini)a gente vê que só estamos flanando.
ps: sei que está pedante este comentário. Foi como consegue dizer como me senti ao ler o post.
Ana Paula Rocha
Assisti um episódio hilário do Big Bang Theory ontem que explica o gato de Schrödinger.
ExcluirMas me lembro de um crônica do Chico Anisio, reclamando com deus por ter criado a vida de trás para frente só para nos sacanear. Que bom seria se nós tivéssemos a experiência da velhice, e a juventude para fazermos as coisas certas, aproveitarmos realmente. O que o João (juro que era esse o nome dele), talvez tenha entendido. Deixar de ligar para a opinião alheia, para os tabus sagrados, e mandar tudo, na mais divina alegria, para as favas_ mas isso sendo resultado de uma responsabilidade e reflexão extremas, não da leviandade.
Meu texto está pedantérrimo!
Não achei nada pedante teu comentário, Ana. concordo muito. Estava pensando isso, em outros termos. Válvula de escape... ok, escape do que exatamente? Onde estão determinados os limites: no livro dessa senhora de 50 q agora come uma maçã do amor "talvez como válvula de escape"?
Excluirfalando no gato, pessoal fez experiência trágica hj em porto alegre
Excluirhttp://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2013/01/caixa-suspeita-detonada-pelo-gate-no-salgado-filho-continha-gato-4022884.html
Polícia que explode gato e solta assassino pego em flagrante. Parece até um conto do Charlles sobre Itapuanga, mas é notícia da melhor cidade do mundo (e do RS também).
Excluirfiz jornalismo, sim, mas tbm larguei, só q demorei muito pra largar. ok.
ResponderExcluirme expressei mal, acho. o curso é só baseado nas aulas do safatle. mas a professora, conheço-a, é mto boa.
hipster, sei lá, é o novo cool, mas o novo cool velho, pq as coisas têm q ser novas né, mas velhas. é mais legal. (inventei uma frase de efeito qq, só pra dar um ar, mas é por aí - o Matheus é mais antenado na juventude q ora vigora, deve ter melhor definição)
Me contive em dizer isso no comentário do post retrasado, mas vou dizê-lo agora: suspeitava que você e o Matheus fossem a mesma pessoa. :-)) Uma mesmo suspeita maluca foi expressada pelo Luiz Ribeiro, que achava que Milton Ribeiro, eu, a Rachel Nunes e o Marcos Nunes, fossemos o mesmo escrevinhador. Nem o Lennon pode com essa.
ResponderExcluirahauhauah
ResponderExcluirnunca usei nome falso, ou pseudônimo, na internet, a não ser pra um efeito cômico de momento. acho q pq peguei essa história de blogs desde cedo, lá por 99, 2000. todo mundo é anônimo na internet, de certa forma.
meu irmão se chama mateus, mas este, com th, nem o conheço. parece ser um sujeito legal.
É brincadeira minha, com você e o Matheus. Mas vocês parecem ter muitas semelhanças.
ResponderExcluirQuerido arbo, você é muito, muito mais novo do que eu… Cara, se na sua idade , tivesse tido a oportunidade de frequentar um curso sobre “A Fenomenologia”… Sem qualquer dúvida - o faria! Não sei se você já se atreveu a ler Hegel: é dificílimo… Algo similar à leitura do Ulisses de Joyce… Mas, não tenho dúvida: valerá a pena! Porém, vá munido de perguntas fundamentais!... Jamais aceite qualquer coisa de mão beijada… Questione! Questione!...Pois no fundo, estará a se preparar para encarar Marx, duma maneira nova, com uma visão histórica do mundo…
ResponderExcluirQue pena que não tive tal oportunidade quando era mais jovem… (fico com inveja, e um pouquinho tristonho…). Vá meu amigo! Vá! … Seus intelectuais frutos sadios aparecerão, com certeza, em poucos anos…
Queria poder comentar mais sobre o que acabei de ler, porém tenho de largar as férias e voltar ao trabalho -- logo na sexta-feira!
ResponderExcluirMas, tenho de perguntar: cara, cê tem problema? =)
Ri MUITO com isso ai de cima haha Continuem com a demência sadia, hoje é sexxxta, então pode.
"Sou heterossexual convicto"!
ResponderExcluir.
Olha, Charlles, depois da mecânica quântica que diz "tudo é uma questão de probabilidade". Não sei não... Um sapatinho bicuto... Uma noite estrelada...
um pouco de solidão e alcool... O peru do vizinho desaparecido... O 38 esquecido... Essa história brasileira... Essa capitalismo no mundo... Esses santos exumados pela Igreja Católica... Um questionamento verdadeiro sobre o dito cujo Livre Arbítrio... Esses grupos de rock... Essa literatura... Esse Deus... Ser ateu, ou não... Esses textos do viado do Marcos Nunes... Vai saber?... Uma pontinha a adentrar nos segredos profundos... De repente - o tal do João pode aparecer por aqui... Não sei não... Não sei não...Vai saber se Paulo Coelho tem sentido... Vai saber se o primeiro livro da mãezinha do Chico Xavier relatou verdades sobre o planeta Marte... Não sei não... Não sei não...
não sei pra quem foi a pergunta, mas eu tenho problemas sim. hehe
ResponderExcluirRamiro, obrigado pelo estímulo e apontamentos. O curso precisará de mais gente interessada pra sair, vou me mexer pra que ocorra. Nunca li Hegel. No semestre passado, durante a semana acadêmica, teve um minicurso de 3 dias sobre dialética. Me apaixonei. A professora, Gláucia Campregher, é uma louca (no melhor sentido) q foi longe na introdução, até chegar na psicanálise, passando, claro, por Marx. Lemos, em aula, Hegel, com as observações dela tudo se encaixava. Agora em janeiro fui à biblioteca e peguei a fenomenologia. Só depois reparei q pegara o segundo volume. não sei se por isso, parece q não, a leitura realmente foi tortuosa, consegui ler muito pouco e entender menos. talvez tenha começar por outro livro (ou pelo menos pelo volume 1 hehe). qq dica tua, agradeceria, Ramiro.
Ramiro, sou heterossexual mas não tenho nenhum orgulho disso, como disse o Clodovil no outro lado da equação. Não sou macho ostensivo e tenho muito de mulher. Não é raro perceber dúvidas sobre minha sexualidade durante minha vida, aqui e ali, e nunca me incomodei com isso. Se eu fosse gay, seria do tipo que assumia sem alarde no calor da tarde (como dizia Maikóvski, ou um dos irmãos célebres que o traduziu para o brasileiro). Aliás, estava vendo suas fotos no google, e me peguei te achando bonitinho, com essa barba branca lanhosa, esse nariz fino, e um certo ar de desemparo de quem procura um caloroso abraço de um amigo depois de recitar um poema.
ResponderExcluirO que? Eu AINDA penso que Milton Ribeiro, você Charlles, Marcos e Raquel são a MESMA pessoa. (rs) De quebra, passei, já tem bem uns dois meses, a considerar o Ramiro um personagem também. Pra quem tá acostumado a ler os anacronismos, as contradições, o anseio por falsear-se de "realismo" próprio de coisinhas antigas muito interessantes como as cartas falsas de Sócrates ou as missivas de Alciphron da segunda sofística, fica bem fácil perceber que o Ramiro, COMO NOS É APRESENTADO, não ficaria de pé no mundo onde trafegam as pessoas (rs). Talvez o Ramiro nem seja criação só sua. Eu apostaria numa demiurgia a várias mãos. Ainda não me decidi.
ResponderExcluirAcho que esse é o primeiro texto seu sobre a homossexualidade que eu leio sem algum desconforto. Mas não me passou desapercebido que você tenta sustentar duas posições que talvez não sejam conciliáveis sobre o homossexual. Que a heterossexualidade é um imperativo biológico (e que portanto o gay também responde a imperativos da mesma ordem). Mas que o homossexual é também uma espécie de fantasia. Alguma coisa de ordem metafísica que, via Rayuela, você equipara à religião, a ideologia, etc. Acho que Freud já tinha dito alguma coisa parecida com isso. Via "O Futuro de uma Ilusão" e seus textos precoces sobre a sexualidade.
cara, eu sou muito ingênuo. sempre penso q cada nome é uma pessoa diferente.
ResponderExcluirVou me autorizar "a falar" pelo blog. Eu tenho que pedantismo é não só autorizado como bem-vindo nessa caixa de comentários. Pedantismo é underrated. O Charlles mesmo já fez umas cem defesas de um certo pedantismo por aqui as quais assino em baixo e pelos lados.
ResponderExcluirPedantismo, modos de usar.
Luiz, talvez seja um erro meu em me expressar. Eu não tenho nada contra a homossexualidade, e aqui não cabe um "mas". O que eu não me compactuo_portanto não sou "contra", apenas não participo_, é de qualquer vertente do politicamente correto, seja ela em prol de gagos, de goianos, de viados, negros, brancos, veterinários, etc.
ResponderExcluirCerta vez um professor me questionou se eu era marxista, e eu me vi numa sinuca de bico, pois detesto ser apresentado a uma oportunidade inevitável em que me oferecem uma chance de criar um aforismo. Mas tive que responder que, em política, eu sou conradiano, de Joseph Conrad, e dostoievskiano, de Os Demônios. Ou seja, tenho uma visão bastante decantada e a mais apelativamente antipartidária possível. Quem leu "Nostromo" da maneira certa, jamais se deixará levar pela politicagem bandida da América Latina. Quem leu "Os Demônios" sabe que todo revolucionário é um assassino de massas que em nada se preocupa com a melhora das condições do povo. Mas mesmo assim, eu leio Zizék e vejo que a saída, neste estado de evolução social retrógrado, é a violência direcionada e organizada para a mudança.
Partindo da premissa de que a heterossexualidade ou a homossexualidade não sejam opções, mas determinismos de nascença, eu penso que sejam dois grupos antagônicos. Biologicamente antagônicos, não antagônicos no sentido de segregação. Sou muito bem resolvido com diferenças, tenho amigos gays, já escrevi sobre um em outro post. Mas não caio nessa esparrela de teorizar em cima do óbvio, para beneficiar algum político ou alguma entidade de classe e ongs que neste país sempre está embebido da mais pura corrupção. Um paizinho como o nosso, um dos piores do mundo, precisa de um carinha de terno de olho na campanha política para "supor" estar funcionando. Quando se fala de violência, se fala em violência contra gays, e não violência contra um ser humano; já se tem leis contra a violência, que valeria para qualquer um, mas na extrema afasia interna em que vivemos, o político cria as diferença para seu próprio benefício, para ser lembrado na urna. Se maneja as mazelas, nunca as resolvendo, para fins de poder. Cria-se uma guerra entre negros e brancos e entre hetero e homo, que por si mesmos já existem, mas que não precisariam dessa corroboração que as agrava, para dominarem o imaginário popular. Já que está se falando de Hegel, trata-se da Vontade de Reconhecimento, em prol da conservação da alienação e do poder. Nunca se resolve um problema, mas o pereniza e o veste de uma gama de conceitos para que ele dure o máximo possível. E fica no meio da batalha os hetero e os homos feito trouxas, feito bucha de canhão.
Quem compara o homossexualismo a um tipo de escape é Cortázar. (Tive que pega meu exemplar de Amarelinha.) Está lá no capítulo 71, que começa com "O que será no fundo, essa história de encontrar um reino milenário, um éden, um outro mundo?".
De novo: eu não tenho absolutamente nada contra a homossexualidade, mas não a glamorizo, como não glamorizo nada.
Bastante rica essa tua argumentação, Charlles. (de quebra o cara fica afim de ler Nostromo). Mas, vê se não é o caso, tal "atitude", no prevenir-SE não deixa de remediar? Há coisas a serem remediadas, não? Eu nunca sofri preconceito do tipo racial ou sexual (que tenha percebido), mas é claro que há, e portanto há uma verdade aí, mesmo que surja de um desvio (a ignorância do preconceito). E ele tem consequências muito nefastas. Já cultivei, durante um tempo, uma "atitude" quase de indiferença em relação a tais assuntos - aquele negócio: sempre vai existir ignorância no mundo. Como discutir com premissas que nascem mortas?
ResponderExcluirDepois andei um tempo pensando que essas mortinhas aí são fantasmas que assustam muita gente, podam a vida de muita gente - que seja gente "frágil", mas acho q nem sempre é apenas este o caso. Pessoalmente, sempre tive um olho reticente ao feminismo, mas agora penso q nos cabe fazer diferenciações. Não somente dizer "mas isso já está superado!", qdo os fatos mostram o contrário. O texto cujo link postei, por ex., dá um recado. Não acho que seja "assumir uma bandeira", afinal não me parece "tomar um lado", mas deixar claro que existe mais de um, ou apenas um em distintos graus... mesma moeda, etc.
(coloquei atitude entre aspas, pq recorrentemente me sinto ingênuo ao usar tal palavra. posso usá-la dessa forma? até onde uma "ação" minha alcança?)
Charlles,
ResponderExcluirAcredite em mim quando eu digo que entendo o seu aborrecimento com o politicamente incorreto. O Canadá já me propiciou vários pequenos aborrecimentos dessa ordem. Mas olha só. Me parece que o preço a se pagar por esses pequenos aborrecimentos não são nem de perto equiparados à qualidade de vida e cidadania que se ganha com essa postura que eu, mais acertadamente, chamaria de equity (politicamente correto já carrega em si um tom pejorativo). E você há de perceber também que a recusa do politicamente correto normalmente carrega tanta ideologia quanto a própria luta pelo espaço (simbólico, político, social) dos gays. A diferença é que os reclames dos últimos são completamente legítimos e historicamente justificáveis.
Tá certo. Concordo com você e com o arbo.
ResponderExcluirMeu posicionamento não é ficar ileso a essas questões. Não sou indiferente a essas injustiças. É um assunto muitíssimo delicado. Fico pensando como gente igual a Lola me veria falando assim. Seria uma malhação a Judas. Mas as campanhas como se fazem aqui no Brasil são potencialmente perigosas. Não se pensa pelo lado do inimigo, não se usa de astúcia maquiaveliana.
Pensa-se, equivocadamente, como se a maioria das pessoas fosse se enternecer de imediato, como se não fosse haver a mínima contestação. Naquela nossa discussão sobre negros no blog do Idelber, por exemplo, eu levantei a questão da afronta que é para os classistas brancos se deparar com um negro vestindo uma camiseta escrita "100% Negro". Qual o propósito disso? O movimento bucólico por detrás da camiseta pensa estar despertando consciências, compensando injustiças, mas na verdade está fomentando um ódio a maior parte das vezes calado de quem, por incersão, teria a mesma legitimidade provocativa em usar uma camiseta "100% Branco".
Sou a favor sim da luta das minorias, mas não vejo evolução alguma no dia a dia. Não é censurando Monteiro Lobato_ ou esteriotipando gays de forma "positiva" em novelas da Globo_ que o sujeito vai parar e respeitar. É o caso do kit Gay do qual já lhe falei. É algo mosntruoso, afronta até mesmo os gays: um guri vestido de preto, com ar libidinoso, no papel da criança gay que quer se inserir na escola. Sou contra essas artimanhas erradas. Sou pai e jamais iria ficar tranquilo de meus filhos vendo uma macaquice destas. A parte mais pérfida da microfísica do poder não para de atuar só porque tem supostas boas intenções por detrás.
Há um rapazinho aqui na minha cidade que, por algumas semanas, resolveu se trasvestir. É alguém muito desprivilegiado, culturalmente, financeiramente. Alguma das novelas globais e a televisão de modo geral o fez cria essa coragem espartana. Tudo bem. Digamos eu ou você, que temos instrução suficiente para nos defendermos, conhecemos nossos direitos, sabemos nos expressar bem,poderíamos adotar tal atitude. Suportaríamos com competência a retalhação de sermos vistos transvestidos pela sociedade, e, diante nossa vida pregressa, muito provavelmente não seria nenhum martírio e logo alcançaríamos o consentimento social. (Nunca me importei com meus exemplos pessoais justamente por ser combativo na vida cotidiana e nunca ter baixado a cabeça.) Mas um garoto desse, como ele se defenderia? Será que as novelas lhe mandariam uma guarnição de roteiristas para lhe defender contra a chacota e o ódio?
Eu estava na livraria na rua principal quando o vi descendo com o vestidinho comprado em brechó, fora de moda até o último grau, com sandálias altas que pegou da mãe. A cidade inteira parou para ver. Não sou contra, que use, que faça o que quiser; mas isso corresponde à realidade? Imaginei que em uma cidade grande ele seria passível de ser assassinado.
Se houvesse mesmo uma preocupação direcionada, promoveria a consciência e a auto-aceitação sem pompas e sem circo. Mostraria um panorama histórico para ver se a atitude mais coerente para sua expressão seria mesmo aquilo. Talvez seja o que o Nietzsche disse: "só se aplaude ou vai, mas nunca se compreende."
Errata: na penúltima linha do segundo parágrafo, quis dizer "inversão".
ResponderExcluirErrata: é "travestidos" (estou pegando a mania do ramiro).
ResponderExcluirPQP vocês. Volto do trabalho e tem muitas respostas interessantes e longas, com Hegel, homossexualidade, Conrad e 100% Negro no meio e ainda uma dúvida quanto a minha existência.
ResponderExcluirHum...que semelhanças seriam essas, Charlles, entre o arbo e eu? Ainda que eu tivesse dupla (tripla, quádrupla) personalidade, jamais faria de conta que fosse gremista ;) Para mim, o Luiz Ribeiro é o próprio Milton Ribeiro (o nome do pai dele, ou o nome do meio, não é Luiz? Acho que sim, hein)
ResponderExcluirEu também não entendo que merda é isso de hispter. Ninguém sabe. Entrando no assunto homossexualidade, digamos que é uma VIADAGEM dessa deslumbrada juventude web 2.0! E tenho de admitir: apesar de conviver com homossexuais diariamente, no faculdade e no trabalho, sinto-me desconfortável com travestis, com homens que se vestem e tem trejeitos de mulher e AINDA CONTINUAM PARECENDO HOMENS. Não, não me sinto atraído, seus tarados. Eu começo a rir. Começo a rir, sem parar. Umas três vezes no trabalho tive acessos de gargalhadas. Tinha que pedir pra outro continuar, alegando que precisava urgente ir ao banheiro, e chegando lá dê-lhe risada.
E sempre me sinto um MERDA depois disso.
Não consigo não achar graça. Não consigo, não consigo mesmo.
Ainda ao arbo
ResponderExcluir(e ao seu curso sobre a "Fenomenologia"...):
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BEM-VINDA
by Ramiro Conceição
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A arte não vem cedo:
é água querida em qualquer idade.
A arte não vem tarde…
Bem-vinda é a chuva sobre qualquer cidade
pois, de vida e morte repleta, a arte vem.
http://www.youtube.com/watch?v=plcFlVa2RFw
ExcluirAfinal, parafraseando o conto genial
ResponderExcluirde Caio Fernando Abreu… Então:
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AQUELES DOIS
by Ramiro Conceição
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Eram dois aqueles moços.
Um, moreno, era charmoso.
Meigo, era o outro, o louro.
Exótica harmonia…
Um, de pele negra, era Raul.
O outro, de olhar azul, Saul.
Daquela vez
se decifraram
aqueles moços:
Raul, do Norte;
do Sul… Saul.
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Que sorte!
Hehehehehehe! Lembrei-me de "O arco-íris da gravidade". Que importância tem se o esperma vai se unir ao esterco? O homossexualismo me fascina. A coisa de que mais gosto é ir a Irecê e observar os belos garotos (nem em Salvador já vi gente tão bonita como a de Irecê - todos branquinhos, olhos orientais, traços perfeitos, altos, magrinhos, sem falar os que vêm das cidades vizinhas, benza Deus!). Mas, tenho certeza de que jamais faria sexo com um deles. Se assim o fizesse, seria o mesmo que encarar o Mont Blanc despido de nuvens. Sempre fui a aparência, da beleza. Entre beleza e inteligência, prefiro a primeira, porque aquela como que fere os sentidos com um frêmito e depois se vai, deixando a sensação, sim, a sensação de o Mont Blanc coberto de nuvens. E os garotos belos têm esse dom. Muitas vezes, me pego folheando fotos dos álbuns de formatura da família dos Dourados, especialmente daqueles garotos que se formaram em Medicina e Direito, lá pelos anos 60. Todos belos. Outro dia, estivemos na casa de um deles, um médico, parente de minha avó paterna: está com quase noventa anos, encarquilhado, trêmulo, quase cego. A beleza é tudo. No caso do homossexualismo, essencial. Não foi um garoto angelical que levou Oscar Wilde à miséria?
ResponderExcluirPensando nisso, a verdadeira arte é a vida, não? Que seria de nós, privados de sentidos? Deus sabe o que faz...
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