“Escrever é estar sempre errado. Todos os nossos rabiscos contam a história de nossos fracassos. Não tenho mais a energia da frustração, nem a força de me confrontar. Porque escrever é se frustrar: passamos todo nosso tempo escrevendo a palavra errada, a frase errada, a história errada. Nos enganamos sem parar, falhamos sem parar e, assim, precisamos viver em uma frustração perpétua. Passamos o tempo dizendo a nós mesmos: isso não está funcionando, preciso recomeçar. Agora estou numa fase diferente da minha vida: perdi toda forma de fanatismo. E não sinto nenhuma melancolia.” (Philip Roth, ao anunciar que não vai mais escrever)
Só que alguns erram de forma interessante.
ResponderExcluirBem observado... hehe
ExcluirMe passou a mesma coisa quando li, Caminhante.
ExcluirNão acho que seja tão assim. Se você nunca está satisfeito com certo período que escreveu, é porque simplesmente você não sabe o que quer dizer ou não tem competência para expressar o que quer. Quando me frustro, é com o texto inteiro, não com suas partes, porque cada frase que escrevo me satisfaz tanto pelo que diz quanto por que posição ocupa entre as outras. Algo não me satisfaz somente quando eu ainda não descobri o que realmente quero dizer ou quando ainda não sei como dizê-lo.
ResponderExcluirMe fez lembrar que no colégio eu achava muito mais digno tirar 8,5 nas redações. Modéstia à parte, me tornei conhecido entre os(as) professores devido a inventividade das minhas redações. Havia uma banca de corregedores dos textos, como uma classe secreta, cujos componentes nunca eram vistos e, claro, não davam aulas; quase sempre quando o professor me entregava meu texto com a nota, havia um recado para mim no verso, no estilo "precisamos nos falar. O horário de nosso atendimento aos alunos é tal hora". Certa feita duas mulheres e um homem apareceram diante a turma, anunciando que estariam de prontidão às consultas sobre redações, e eu julguei, ainda com a mesma modéstia impecável que descaradamente uso agora, que faziam isso por mim.
ExcluirEu era doentiamente tímido e nunca, nem na mais surreal das hipóteses, me via falando sobre meus textos com alguém. Eram textos que revelavam, vejo agora, todos meus traumas e sofrimentos da adolescência, que eram muitos. Eu nunca tirei mais que 8,5, enquanto haviam outros que tiravam dez constantemente mas que não vinham com convites no verso da folha. (Talvez fossem psicólogos e quisessem, na verdade, me ajudarem, devido aos temas sempre introspectivos.) Tirar mais que isso me afigurava uma afronta à minha escrita, seria uma demonstração de pedantismo, seria afirmar que eu caprichava na letra e nas conjugações, na sintaxe e nos acentos certos, e escrever para mim era uma catarse de rebeldia, como sempre foi, uma explosão de ódio. Minha letra era horrível e minha gramática precarissima, mas eu tinha a melodia, e ISSO era o que importava para mim. Render-me aos códigos de boa nota, com aquela ridícula genuflexão de três parágrafos de "introdução, desenvolvimento e conclusão", seria perder minha arma mais sagrada_ a única_ contra as tantas invectivas daqueles anos sombrios.
Vi essa atitude nesse excerto do Roth: a escrita como afronta a si mesmo.
Recordo que houve uma vez em que tirei dez numa redação. Eu estava com a perna quebrada e engessada, o rosto com cicatrizes, devido um acidente por pouco fatal de carro, e fui fazer o vestibular para História. Tive que subir o lance de 4 andares de escadas até a minha sala, pulando num só pé (para depois que me sentei, exausto, na cadeira, um instrutor aparecer dizendo que havia uma sala especial para desvalidos no térreo). Eu já trabalhava num escritório de veterinária, e não esperava (mesmo) ser aprovado naquela prova, mas a redação eu a escrevi com fúria, com a alma. Eu fiz, ainda, a desfaçatez de corrigir o cabeçalho, riscando onde estava escrito "escrever o tema", e colocando "escrever o TÍTULO", e ultrapassei o limite das 30 linhas, escrevendo mais umas dez do outro lado da página. Escrevi um título enigmático, "Erasmo em Berna". Um mês depois, já havia me esquecido dessa prova, uma namoradinha me liga dizendo que estava no mural da universidade o meu nome, em primeiro lugar, e o ostensivo e não tão vantajoso dez na redação.
Fim da bolha.
Pois é, já tinha visto na New Yorker e postado num dos posts, acho que o do conto. Não sei por que, mas não acreditei nele. Tem melancolia sim. Acho que encheu o saco do ofício, "deu, chega!, cinquenta anos nisso e nada de Nobel (o chinês foi a gota d'água!!!), meus amigos já morreram, sobrei, sou o próximo, ficarei na minha casinha escondida aguardando a hora, deixem-me em paz!"
ResponderExcluirOu não.
Graças à sua informação cheguei ao texto. Também duvido que ele pare. No máximo, deixará várias obras póstumas. E Nêmesis, seu último romance, é uma obra prima.
ExcluirOh, mais um:
Excluirhttp://www.nytimes.com/2012/11/18/books/struggle-over-philip-roth-reflects-on-putting-down-his-pen.html
On the computer in Philip Roth’s Upper West Side apartment these days is a Post-it note that reads, “The struggle with writing is over.” It’s a reminder to himself that Mr. Roth, who will be 80 in March and who has enjoyed one of the longest and most celebrated careers in American letters, has retired from writing fiction — 31 books since he started in 1959. “I look at that note every morning,” he said the other day, “and it gives me such strength.”