Não acabou! Malditos noivos da miséria que, dentro do escuro esconderijo privilegiado de suas tocas, não podem aceitar… Pois pra onde iriam as suas regalias escrotas? Por isso arrotam ad infinitum, como é de costume, na seleta mesa, após o quinto whisky, sobre um socialismo que não aconteceu.
Não acabou! Bando de nacos de merda sobre o vestido capitalista tecido entre o oriente e o ocidente… Não acabou! Podem desde já começar a acordar intranquilos, pois a nossa tranquilidade será o estampido do quebrar de seus límpidos dentes cariados. Falta muito pouco, menos de uma geração, para aniquilá-los: massa falida – degustadora de foie gras e ditadora do assassinado de jovens anoréxicas – seu destino já está traçado como exemplares a serem empalhados nos museus para o futuro estudo detalhado dos olhares… de crianças sadias.
Sim, o sonho não acabou! Ideólogos da propriedade privada e do endividamento até a espinha dorsal com seus pesadelos. Esse foi o seu calcanhar de Aquiles – animalescos exploradores da vida! Marx, agora, será apenas a primeira pá de cal histórica sobre os seus cadáveres arreganhados de terror.
Boquiabertos? Pois que degustem agora os próprios vermes que, desde 1989, começaram a adentrar vagarosamente em seus túmulos abertos…
(Na verdade, Caminhante, creio que seja culpa exclusivamente de todo o comportamento que adoto para mim mesmo. Muitas vezes as coisas vão além do limite e passo a imagem de que suporto tudo de boa, que sou o mesmo velho burrinho de carga de sempre. Minha estatura não ajuda; o uso da barba também não; a pose de homem letrado, imune a preocupações suburnbanas, também não. As pessoas da minha vida já tem a visão consolidada de que eu sou uma espécie de Armstrong, não o trompetista, mas o astronauta, que ficava alheio às discussões terrenas que a esposa lhe jogava em cima porque, afinal, "porra, eu fui à Lua!". Afinal, porra, eu sou o papai, 1,90 de altura, insofrível, macho até nos extremos da macheza, etc, etc. Uma vez, só para se ter uma ideia, rasguei minha mão no meu serviço e o médico a suturou antes da anestesia fazer efeito: "porra, um homem desse tamanho sentindo dor?". É, cacete, vai ver minhas terminações nervosas se alongaram tanto a ponto de não responderem mais ao simples estímulo da minha carne sendo atravessada por uma agulha. Mas claro que não respondi isso porque nas mãos de um médico, na emergência do SUS [eu não iria recorrer ao plano de saúde para uma simples sutura], sabe como é, né! Qual deles o psicopata que vai aparecer no noticiário da noite.
Pois bem, estava pra lá de sensível este final de semana. Como disse o poeta (sei lá quem, Pessoa em Tabacaria?) a vida me pesava. Por que não instalei a cãmara do grito nos fundos de casa; agaixa-se ali, fecha a porta, e grita, esmurra as paredes anti-som, e tudo resolvido, o animal volta a se conformar com a cadeia da civilidade, blablablá, e o diabo. Daí ninguém nota. Pô, o cara lê Céline, aquele inferno todo, aquele desespero todo, o homem reduzido a um bicho, as descrições da bosta explodindo na latrina e Céline e a esposa e o gato Bébet atolados literalmente na merda; então pode suportar a intrusãozinha de um pouquinho de desespero cotidiano. Daí vem a Dani, os amigos, a necessidade surreal de ter ido à missa ontem, para me colocar à prova. E estou com a esposa amuada, e num humor terrível.
E Oswald de Andrade e Albert Camus não tem nada a ver com isso.
Há poucos dias descobri que duas das pessoas mais doces, divertidas e amigas que eu conheço tomam anti-depressivos. O pior é que isso nem me surpreendeu, porque pensando bem eles têm perfil mesmo. Pessoas ótimas voltam a agressividade pra si, pra poupar os de fora. Gente mesquinha, mau caráter, inescrupulosa tá aí, bem. O problema é de quem está por perto.
Eu acompanho de longe a turma das velhinhas que vai pra hidroginástica e vejo que quanto mais velha a pessoa, mais teimosa. Elas têm tentado organizar um chá e estão quase se matando. Algumas dão desculpas esdrúxulas (suspeito que seja pra não pagar a vaquinha) e não vão mesmo, não adianta argumentar. Elas usam da prerrogativa de serem velhas, e fazem muito bem. Adolescentes tem o que provar, não os mais velhos. Quando for terceira idade, farei questão de não apenas ser teimosa como andarei de bengala, pra bater em todo mundo que me apareça pela frente!
Enfim, Charlles, bobagem se maltratar desse jeito. Alegue velhice, se precisar.
Beijo!
PS: Eu me odeio quando escrevo essas coisas, seja pra você, pro Milton, pra qualquer pessoa. Mas outro lado meu sente vontade de dizer algo. Espero que seja mais bom do que ruim.
Hahahahaha. Claro que é muito bom, Caminhante. Sempre nessas ocasiões lembro de um verso de Whitman em que ele diz da "vida que se exibe", das pessoas nas reuniões que "falam de tudo, menos de si mesmas".
O que eu estava a querer dizer dessa lenga-lenga toda acima é que, nessas vezes, o que eu gostaria, única e simplesmente, é me deixar desmoronar. Falar da minha enorme e real fraqueza.
O SONHO NÃO ACABOU
ResponderExcluirby Ramiro Conceição
Não acabou! Malditos noivos da miséria que, dentro do escuro esconderijo privilegiado de suas tocas, não podem aceitar… Pois pra onde iriam as suas regalias escrotas? Por isso arrotam ad infinitum, como é de costume, na seleta mesa, após o quinto whisky, sobre um socialismo que não aconteceu.
Não acabou! Bando de nacos de merda sobre o vestido capitalista tecido entre o oriente e o ocidente… Não acabou! Podem desde já começar a acordar intranquilos, pois a nossa tranquilidade será o estampido do quebrar de seus límpidos dentes cariados. Falta muito pouco, menos de uma geração, para aniquilá-los: massa falida – degustadora de foie gras e ditadora do assassinado de jovens anoréxicas – seu destino já está traçado como exemplares a serem empalhados nos museus para o futuro estudo detalhado dos olhares… de crianças sadias.
Sim, o sonho não acabou! Ideólogos da propriedade privada e do endividamento até a espinha dorsal com seus pesadelos. Esse foi o seu calcanhar de Aquiles – animalescos exploradores da vida! Marx, agora, será apenas a primeira pá de cal histórica sobre os seus cadáveres arreganhados de terror.
Boquiabertos? Pois que degustem agora os próprios vermes que, desde 1989, começaram a adentrar vagarosamente em seus túmulos abertos…
Infelicidades, meus inimigos!
Ei, por que apagou o Camus?
ResponderExcluirNão estive bem nesse final de semana, e isso refletiu no texto.
ResponderExcluir(Na verdade, Caminhante, creio que seja culpa exclusivamente de todo o comportamento que adoto para mim mesmo. Muitas vezes as coisas vão além do limite e passo a imagem de que suporto tudo de boa, que sou o mesmo velho burrinho de carga de sempre. Minha estatura não ajuda; o uso da barba também não; a pose de homem letrado, imune a preocupações suburnbanas, também não. As pessoas da minha vida já tem a visão consolidada de que eu sou uma espécie de Armstrong, não o trompetista, mas o astronauta, que ficava alheio às discussões terrenas que a esposa lhe jogava em cima porque, afinal, "porra, eu fui à Lua!". Afinal, porra, eu sou o papai, 1,90 de altura, insofrível, macho até nos extremos da macheza, etc, etc. Uma vez, só para se ter uma ideia, rasguei minha mão no meu serviço e o médico a suturou antes da anestesia fazer efeito: "porra, um homem desse tamanho sentindo dor?". É, cacete, vai ver minhas terminações nervosas se alongaram tanto a ponto de não responderem mais ao simples estímulo da minha carne sendo atravessada por uma agulha. Mas claro que não respondi isso porque nas mãos de um médico, na emergência do SUS [eu não iria recorrer ao plano de saúde para uma simples sutura], sabe como é, né! Qual deles o psicopata que vai aparecer no noticiário da noite.
ResponderExcluirPois bem, estava pra lá de sensível este final de semana. Como disse o poeta (sei lá quem, Pessoa em Tabacaria?) a vida me pesava. Por que não instalei a cãmara do grito nos fundos de casa; agaixa-se ali, fecha a porta, e grita, esmurra as paredes anti-som, e tudo resolvido, o animal volta a se conformar com a cadeia da civilidade, blablablá, e o diabo. Daí ninguém nota. Pô, o cara lê Céline, aquele inferno todo, aquele desespero todo, o homem reduzido a um bicho, as descrições da bosta explodindo na latrina e Céline e a esposa e o gato Bébet atolados literalmente na merda; então pode suportar a intrusãozinha de um pouquinho de desespero cotidiano. Daí vem a Dani, os amigos, a necessidade surreal de ter ido à missa ontem, para me colocar à prova. E estou com a esposa amuada, e num humor terrível.
E Oswald de Andrade e Albert Camus não tem nada a ver com isso.
Charlles,
ResponderExcluirHá poucos dias descobri que duas das pessoas mais doces, divertidas e amigas que eu conheço tomam anti-depressivos. O pior é que isso nem me surpreendeu, porque pensando bem eles têm perfil mesmo. Pessoas ótimas voltam a agressividade pra si, pra poupar os de fora. Gente mesquinha, mau caráter, inescrupulosa tá aí, bem. O problema é de quem está por perto.
Eu acompanho de longe a turma das velhinhas que vai pra hidroginástica e vejo que quanto mais velha a pessoa, mais teimosa. Elas têm tentado organizar um chá e estão quase se matando. Algumas dão desculpas esdrúxulas (suspeito que seja pra não pagar a vaquinha) e não vão mesmo, não adianta argumentar. Elas usam da prerrogativa de serem velhas, e fazem muito bem. Adolescentes tem o que provar, não os mais velhos. Quando for terceira idade, farei questão de não apenas ser teimosa como andarei de bengala, pra bater em todo mundo que me apareça pela frente!
Enfim, Charlles, bobagem se maltratar desse jeito. Alegue velhice, se precisar.
Beijo!
PS: Eu me odeio quando escrevo essas coisas, seja pra você, pro Milton, pra qualquer pessoa. Mas outro lado meu sente vontade de dizer algo. Espero que seja mais bom do que ruim.
Hahahahaha. Claro que é muito bom, Caminhante. Sempre nessas ocasiões lembro de um verso de Whitman em que ele diz da "vida que se exibe", das pessoas nas reuniões que "falam de tudo, menos de si mesmas".
ResponderExcluirO que eu estava a querer dizer dessa lenga-lenga toda acima é que, nessas vezes, o que eu gostaria, única e simplesmente, é me deixar desmoronar. Falar da minha enorme e real fraqueza.
Mas tá tudo bem agora.
Beijo.
"Enconsta a sua cabecinha no meu ombro e chora..."
ResponderExcluirMúsica mais tocada em todas as quermesses da grande São Paulo, na década de 50 (eu era apenas uma criancinha...).