quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Maus, de Art Spiegelman



O Brasil tem um dos piores índices de leitura do mundo, mas os que leem neste país parecem que leem pra valer. Desconsiderando as listas bestiais de best-sellers da Veja, que só reporta os livros comprados pelos que não gostam de ler, há uma lista informal não publicada de mais vendidos que mostra o que estão lendo os que gostam de ler. Para sairmos logo deste começo inglório de um post trava línguas, constantemente me surpreendo com os livros de alta qualidade consumidos por aqui. É com um tom exultante, por exemplo, que a Boitempo anuncia toda vaidosa na folha final de O homem que amava os cachorros que meu volume do romance corresponde à quinta reimpressão, com tiragem de 15 mil exemplares. Tomando por alto, e dedutivamente, esse fantástico livro do Padura deve ter vendido suas 50 mil cópias fácil no Brasil. Outro exemplo, os livros do Philip K. Dick da editora Aleph, não tem um que não esteja, no mínimo, na terceira edição. Os livros do Dostoiévski pela Editora 34 se esgotam facilmente, e não só os 4 grandes romances, mas também os textos menores do russo. Crime e castigo, em sua primeira edição, teve uma fila de frente à mesa do tradutor na data de lançamento, e acabou rapidamente. Eu tenho a sexta edição, de 2009. Seis anos depois, deve estar já na décima. A biografia de Tolstói, assim que foi lançada, eu tive que esperar por um mês, com o livro já comprado, porque a editora estava reeditando-o. Nos informes digitais que a Companhia das Letras me manda, recorrentemente aparece novas edições de Maus, o livro icônico de Art Spiegelman , ganhador do Pulitzer, e um dos mais tocantes relatos sobre o Holocausto. Eu o tinha lido emprestado de um amigo, e sempre foi um fetiche de consumo adiado. Agora tenho o meu, e na 21ª edição. Dá um orgulho em saber que existe um Brasil inteligente sob o cosmético das cifras.

14 comentários:

  1. Só falta a cia das letras reeditarem "o náufrago" do Bernhard, "leilão lote 49", "arco íris da gravidade" do Pynchon e "teatro de sabatth e operação Shylock" do Roth.

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    1. Esses caras são pirracentos demais, Tiago. Vai entender.

      Eles deveriam lançar todos os livros do Bernhard. Já entupi o correio virtual deles com essas exigências. Estou para sequestrar alguém lá, uma daquelas moças bonitas.

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    2. Bernhard é um escritor excepcional demais para não ser levado a sério de uma maneira mais sistemática. A cia fez um ótimo trabalho com Extinção, Origem, O náufrago. mas os consumidores de tal literatura (que são proporcionalmente muitos) esperam por mais. É só reeditar e lançar o que falta do Bernhard que é certeza de que venderão tudo. Ah se eu fosse consultor da Cia, ou mesmo responsável pela propaganda dos livros. Bernhard e Pynchon deveriam ser amplamente difundidos, com requinte e criatividade.

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  2. Pior que qualquer livro dele fora de catálogo custa um absurdo, aqui em Fortaleza custa 150 reais "o náufrago" e o "árvores abatidas" no sebo que eu frequento o "arco-íris da gravidade" vendeu a pouco um volume por 250 reais, eu já encomendei " o extinção" antes que esgote e depois vou irei fazer o mesmo com os demais títulos que ainda estão no catálogo da cia. das letras.

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  3. Pqp! E eu achando que meu livro mais caro era o Huizinga da Cosac! Comprei um monte de Bernhards em Salvador nos últimos anos, todos bem baratos. Nem sabia que valiam tanto. Meus O Náufrago e O Sobrinho de Wittgenstein somaram uns R$20. O Arco-Íris de PHB (que ainda não li), achei por R$36. Cogitei vendê-lo e esperar o relançamento. Só não o faço porque sei que no exato momento em que enviasse o livro, ficaria obcecado por ele e nenhum outro mais.

    Por anos esperei um relançamento de O Anão, de Par Lagerkvist, sempre uma fortuna, e por Lot 49, que curiosamente acabei lendo numa mesma semana, em espanhol e em inglês. Ainda espero aparecer por aí um Pirandello da Cosac.

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    1. http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/10437/Um,-nenhum-e-cem-mil.aspx

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    2. Ah, Paulo, se você espera o relançamento do Arco-Íris da gravidade baseado no que eu disse em outro post, temo que eu estava enganado. Veio de uma má interpretação minha de um texto do site da Cia. Acho que eles não o relançarão tão cedo. Tem ele por 320 reais na EV. E na hipótese de relançamento, não vai custar menos que 100 pilas.

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    3. No site da Cosac o Pirandello está "temporariamente indisponível".

      Quanto a vender meu Pynchon, eu estava brincando. Não vendo sequer meu Ira Levin horroroso que não tenho intenção nenhuma mais de ler. A verdade é que sou um acumulador de papel, e permaneço com os cadernos antigos cheio de frases horrorosas.

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  4. A Aleph tem explorado muito bem a boa receptividade ao Philip K. Dick aqui no Brasil e os números de Dostoievski nas edições da 34 são de cair o queixo. Jakob von Gunten do Walser por exemplo, também foi um fenômeno e lá se vão bons quatro anos desde seu lançamento e a Companhia não lançou mais nada. Talvez se trate de alguma estratégia editorial além da compreensão do leitor.

    Sobre o comentário no post sobre o Faulkner, a obra completa será de fato publicada pela Cosac Naify? Tenho muita vontade de adquirir o Enquanto Agonizo, mas já li em algum lugar que a tradução de Wladir Dupont não é das melhores. Seria ótimo se a Cosac o editasse.

    Quanto a entupir o correio virtual das editoras, aguardando algum editor pescar o Pär Lagerkvist. Hoje ele só é encontrado em sebos, estou quase desistindo da espera e pegando O Anão e Barrabás para logo. Li um trecho do primeiro capítulo da edição portuguesa de O Anão há algumas semanas e correspondeu às expectativas. Algo do humor corrosivo do Saramago, do Andreiev e dos tchecos, esse acho que não vai dar pra esperar por muito tempo.

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    1. Penso que a Cosac nunca teve a intenção de publicar TODA a obra do Faulkner. Um dos meus favoritos, Desça, Moisés (com ótima e antiga tradução pela Expressão e Cultura_ não me recordo bem o nome da editora, e nem do tradutor, mas acho que é esta), bem que poderia ser editado por ela.

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  5. Meu Crime e Castigo é uma segunda reimpressão, feita em 2012, da sexta edição.

    Tenho semelhante sensação: há milhares de leitores, ou melhor, de verdadeiros leitores, espalhados por nosso país e percebe-se muito bem isso, como já dito, na grande procura por Dostoiévski. E que maravilha!

    Outra sensação que tenho é que, não tem jeito, o carro-chefe da Companhia é mesmo o velho Saramago. A obra completa já editada, uma, duas, três reimpressões, várias tiragens. Vende e muito. Tem imensa força aqui. Como se já não bastasse, eles agora me aparecem com tomos - havia milhares e milhares nas prateleiras da Livraria Cultura dias atrás - reunindo a obra completa em 3 ou 4 grandes volumes. E vai vender, claro.

    - Charlles, é também devido a grande procura por Dosto que me indigno com a demora na publicação do restante de suas obras e que comentávamos no post anterior. Adolescente, Humilhados, Recordações... cadê? Mas, tô reclamando de barriga cheia.


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    1. Saramago tem livros pela Cia que passam da 30ª edição! Isso é muito bom. Muita gente boa lendo o grande Saramago. Vi esses volumes pela net, parecem ser trabalho de primeira.

      E Editora 34 até que não cobro muito. Ela tem lançado coisas fantásticas, nunca publicadas antes por aqui, da literatura russa, como Memórias de um caçador, do Turgueniév, que é uma das obras-primas máximas da literatura. Claro que o leitor do Dostô fica querendo mais, mas a 34 tem se dedicado, por enquanto, às obras menores dele, como um volume de poesia, os textos raros de narrativa fantástica, etc.

      É como você disse, reclamamos de barriga cheia. Mas tem que ser assim mesmo: quanto maior a exigência, melhor o serviço.

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  6. Alfaguara com descontos na Travessa: Murakami, Llosa, Nabokov.

    http://www.travessa.com.br/wpgHot.aspx?CodEventoEspecial=160&pcd=65

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  7. A cosac deveria reeditar toda a coleção "prosa do mundo", vários títulos já estão esgotados e alguns já custam um absurdo na estante virtual vide o já citado "um, nenhum e cem mil" do Pirandelo e o "Niels Lyhne" do Jacobsen que é uma das influências do Thomas Mann e do Rilke.

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