terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Leitura de intromissão



Não tive tempo nem de colocar este livro do Ginzburg aí do lado, na referência dos livros que estou lendo. Ele me chegou ontem à tarde, e me pus a lê-lo de modo compulsivo. São quatro ensaios absolutamente magistrais, no estilo tão próprio de Ginzburg, conciso, que promove um enganador problema temático a ser resolvido, e que ele resolve interpondo reflexões exorbitadas do contexto imediato acadêmico, deixando uma malha de insinuações sobre a forma de ver, de pensar, e o que nos espera pela frente no caminho em que a humanidade segue inconteste e nunca impune. Ginzburg é o que temos mais próximo de Borges no campo da historiografia: seus ensaios são curtos, fluídos, fáceis e deliciosos de se ler, mas exigem uma perspicácia incomum no que tem de perigosos. Falta-me precisas dez páginas para encerrar o livro, e em seguida, o mais tardar amanhã, estará aqui um texto meu sobre ele.

15 comentários:

  1. Ginzburg é sempre surpreendente. Muito mais que um historiador, realmente. É um escritor de fato. Aliás, sempre tenho ideias para contos quando leio seus livros. Devo muito a "História Noturna".

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    1. Estava lendo seus textos lá no blog da Cia, José. Há mesmo uma coincidência atípica pela net que merece imediato estudo. Após ler esse seu texto:

      http://www.blogdacompanhia.com.br/2013/10/o-indiscreto-charme-da-bruxaria/

      não há como não pensar que você seja profundo leitor de Ginzburg.

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    2. É verdade, Charlles! Não tinha percebido isso, mas com certeza esse meu texto é mais um que remete ao Guinzburg. Curiosamente, eu comecei a lê-lo totalmente por acaso. Encontrei um dia "O queijo e os vermes" em um canto da biblioteca do meu pai, quando era menino, e comecei a ler apenas porque achei o título maravilhoso. (Aliás, ele tem a verve dos títulos. O queijo e os vermes, História Noturna, Olhos de madeira...)

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    3. Os textos de Botelho foram de longe os melhores do Blog da Cia ano passado. Quando sai outro lá?

      O ensaio de Guinzburg sobre o Marat de David saiu há vários anos numa Serrote, rodeado de variações da pintura. Alguém sabe me dizer se O Retrato do Bufão Gonella saiu no Brasil?

      http://falcaoklein.blogspot.com.br/2013/08/o-retrato-do-bufao-gonella.html

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    4. Obrigado, Paulo! Não sei quando voltarei a escrever para o blog da Companhia. Estou traduzindo Drácula agora, então provavelmente eu acabe escrevendo algo sobre literatura de horror, horror na literatura, etc.

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    5. José, respondi lá no meu blog. Depois do Drácula você poderia propor traduzir algo de Collins. Hehehehe.

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    6. Excelente ideia, Paulo! Tenho um plano já há alguns anos de traduzir os contos do Stevenson. Abraços.

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  2. Bravo, Charlles! Aguardarei ansiosamente por esse texto sobre o novo Ginzburg.
    De mais a mais, que título é esse? Como se chama em Italiano? Foi mesmo escrito pelo historiador nesses seus anos crepusculares (mas de intenso brilho)?

    Concordo com o José Francisco. História Noturna é magistral. Está entre as cinco monografias de história mais importantes do século XX. Diria mais. Não só é ele um belíssimo e saboroso ensaio sobre o Sabbath. É um projeto com culhões de casar historiografia diacrônica e sincrônica. Claude Levi-Strauss e análise das mentalidades dos Annales.

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    1. Luiz, trata-se de uma compilação de 4 ensaios com uma linha temática _o desenvolvimento pessoal por Ginzburg de uma antiga e quase desconhecida teoria do início do século XX denominada Pathosformeln, "fórmula de emoções". Os ensaios datam de 1999 a 2004. Estava para te enviar um e-mail, mas vai aqui mesmo: pelo que entendi, está escrevendo sobre Bataille, não?; pois o último ensaio é uma primorosa investigação sobre as origens da composição de Guernica, em que a parte final explora com profundidade o papel de Bataille nas influências de Picasso (sobretudo de um texto intitulado "Soleil pourri").

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    2. "Paura, reverenza, terrore: Rileggere Hobbes oggi", é o título do ensaio homônimo sobre Hobbes (esplêndido!), mas no índice catalográfico só vem os títulos originais dos ensaios (porém, é uma obra fechada, pois tem prefácio do Ginzburg).

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    3. Bataille! Legal! Preciso conferir esse ensaio.
      Se os textos são de 1999-2004 então eles não fazem parte do estada atual do Ginzburg de volta à Itália (ele saiu de sabático da UCLA em idos de 2007). Não tenho acompanhado a produção atual do Ginzburg. Pode ser que não esteja escrevendo. Ou escrevendo muito pouco, afinal ele já tem seus setenta e muitos.

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    4. Errata: o ensaio sobre Hobbes é de 2009. Setenta e cinco anos (nasceu em 1939). Ainda moço para os padrões atuais.

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    5. Não sei ao certo se falo do "Soleil pourri" que se refere e que Ginzburg se debruça sobre. Mas o Bataille escreveu muito sobre o Sol como metáfora do paradigma da claridade da guinada do Esclarecimento (Aufklarung) Ocidental. Alguma coisa mais ou menos na linha da crítica de Nietzsche ao Apolíneo do fundamento da forma de pensar no Ocidente que rechaça o Dionisíaco. O retorno à caverna de Platão na República e a marginalização da experiência dos subterrâneos do humano.

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    6. Segundo o site do departamento de história de UCLA ele está de volta a Los Angeles e agora é Professor Emeritus. Bom saber.

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  3. Tá bom, seus filhos de uma boa mãe, vou começar por História Noturna, o único que encontrei na Amazon...
    Não dá pra acessar esse sítio sem que se saia feito um usuário de crack, cocaína e outras guloseimas correndo atrás da pedrinha ou dos papelotes...

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