segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A Cidade das Pessoas Feias



Depois que o vizinho da frente deu término a seu propósito de construir um bunker, coisa que mobilizara, já a partir das seis da manhã em três anos consecutivos e ininterruptos, uma trupe de uns dez pedreiros sem nenhum freio nas línguas, o quarteirão onde moramos se afundou em um silêncio descomunal. Agora mesmo, no início de segunda-feira, o único som que ouço, apurando bem os ouvidos, é de uma serra elétrica distante, de alguma soldadeira a umas três quadras, e mesmo assim o estranhismo em que esse novo ambiente me envolve faz pressupor se tal ruído não seria fruto de uma alucinação auditiva. Os pássaros, misericordiosos, continuam a cantar, e um cão neste exato momento, como se querendo por telecinese fazer parte desse texto, pôs-se  a latir, testando os limites de sua experiência canina, na irretocável frase de Saul Bellow ("Pelo amor de Deus, que o universo se abrisse um pouco mais!"). Ontem minha esposa abriu abruptamente a porta do banheiro e me disse enquanto eu tomava banho que, estendendo as roupas no varal, flagrou sem querer a conversa do vizinho do lado. O sujeito contava a alguém, em volume baixo, quase em sussurro (recordo bem esse detalhe), que havia ido ao culto em uma igreja pentecostal no sábado, levando inadvertidamente por esquecimento uma cruz dentro do bolso. A Dani é uma primorosa contadora de histórias; não raras as vezes eu sinto inveja dela, e raiva por se tratar de um talento tão natural que ela vê com uma indiferença soberba; ela fez uma pausa esperada nesse momento da fofoca (o termo em inglês soa menos comezinho, gossip), para deixar que as ressonâncias dos efeitos das trivialidades me atiçasse ao máximo a curiosidade (aumentada por seu êxtase infantil em usar de tanta urgência a ponto de não poder esperar que eu encerrasse o banho para me contar), e prosseguiu, deixando explícita a sua felicidade puramente feminina com aquilo. O sujeito sussurrara que assim que entrara na igreja, o pastor, do alto do púlpito, perguntara em alta voz mercurial quem dentro da platéia trazia uma cruz escondida dentro do bolso. Retesado, ele na mesma hora se denuncia. Mas como é que o pastor sabia que eu levava uma cruz no bolso?, foi a última parte da curta narrativa alheia que a atenção gaiata da Dani conseguira apreender por cima do muro e no silêncio lunar de nossa nova rotina caseira. Eu fiquei olhando fixamente para ela, com a espuma do shampoo descendo por meus olhos, sentindo que no mundo real as conversas fiadas (idle talk) são criadas naturalmente para morrerem na inconclusão, e que sua intuição perfeita em aceitar de bom grado as reticências mostrava que para ela a piada acabava aí, era excelente como um gênero narrativo sem mais pretensão do que o riso que ela esperava de mim como uma forma de aplauso. E então?, eu pergunto, desalentado pela inutilidade de inquirir mais do que ela tinha; o que o pastor disse, deu uma bronca no sujeito?; e o que o sujeito, se for evangélico, estava fazendo com uma cruz no bolso?; e que forma mais primitiva de mostrar poder nesse arranjo patriarcal de repreender por parte do pastor. A Dani fecha a porta diante a evidência de que eu incinerava toda a leveza do mexerico (gossiping).

Isso revela como funciona a mente de alguém martirizado pelas letras. Salman Rusdhie, em sua autobiografia, fala sobre a intersecção permanente entre o escritor e o leitor e a identificação que esse último tem com os grandes personagens e as grandes narrativas, citando na mesma linha de importância Madame Bovary, Leopold Bloom, o coronel Aureliano Buendía, Raskolnikov, Gandalf, Oskar Matzerath, miss Marple e "o mensageiro mecânico do planeta Tralfamadore em As sereis de Titã, de Kurt Vonnegut". Me surpreende e me delicia como grandes nomes da literatura defendem sossegadamente os romances de gênero, sobretudo os policiais. Rusdhie e Borges, e Bolaño e Bellow (que era fã inveterado de Elmore Leonard). Na mesma autobiografia, Rusdhie no final vira as costas para a política, após tantos anos perseguido pelo lado mais assassino dela (coadunada com o fanatismo religioso), e escreve: "Seria sábio retirar-se do mundo do comentário e da polêmica para voltar a se dedicar àquilo que mais amava, a arte que havia dominado seu coração, mente e espírito desde jovem e viver de novo no universo do era uma vez, do kan ma kan, era assim e não era assim, e fazer a jornada da verdade sobre as águas do faz de conta". Essa jornada da verdade sobre as águas do faz de conta me mostra o quanto a percepção da existência através da literatura é algo gratificante, mesmo, ou em razão, da propensão de se enviesar pelo nonsense e pelo absurdo. Sentado em uma cadeira na varanda ontem, após a Dani ter me contado a história da cruz no bolso, sentindo o radiante frio que a inversão térmica mundial vem transformando o cerrado em zona hibernal, e por isso mesmo motivado a tomar um chocolate quente acompanhado com um bom livro policial, eu apurava os sentidos por cima do muro, à caça dos sinais subsônicos que me dissesse mais sobre a tal história. Me veio um monte de cogitações absurdas, conceitualmente implausíveis, mas que se inflavam de sentido quando na premissa de serem traduzidas por sobre as águas do faz de conta. Um dia antes, sentados ali na varanda bebendo café, vendo as crianças brincando e absorvidos no silêncio de nossas conversas, nós dois nos demos conta do quanto aquele silêncio tinha proporções cosmicamente assustadoras. Brinquei com a hipótese de humor negro se a Dani não tinha esquecido o gás ligado uma noite dessas com todas as janelas fechadas, pois é assim que devem sentir os fantasmas. A Dani me repreendeu, após um sorriso nervoso, e eu, provocado, continuei: pois suba por cima do muro e perceba se do outro lado não há uma velhinha sentada à uma mesa rústica de madeira, com uma chávena de chá ao lado enquanto borda, e, por mais que você acene ou grite, ela não dará a mínima por sua presença; e a Dani, não gostando daquilo mas aceitando o desafio, me respondendo que talvez, por cima do muro, ela não veja nada além de uma zona de energia cheia do mais amplo vazio, como em Solaris. Eu me calo, mais uma vez deslumbrado em segredo com a inteligência da Dani em me fazer calar quando vê que é preciso, pois ela sabe que a única resposta da minha parte nesse xadrez verbal seria apontar o fato de que em Solaris era o marido que olhava por sobre o muro, pois a esposa havia se suicidado. São formas ricas de percepção, grotescas, mas ricas, e isso é a raiz da literatura. Uma vez eu e um colega de profissão descobrimos erraticamente uma cidade na qual jamais tínhamos tido conhecimento dela antes, ao enveredarmos na procura de uma granja de suínos. Paramos na cidade para almoçarmos e ficamos fazendo a sesta consciente sentados num banco da praça principal, olhando o intenso movimento das pessoas indo e vindo para as lojas. Não havia uma pessoa que, para nossos padrões de jovens solteiros, era minimamente sexualizável. Botamos o nome na cidade, para uso particular, como a Cidade das Pessoas Feias. Nosso fascínio era tanto que eu soltei minha teoria então recente sobre se em nossas andanças da manhã, não havíamos passado pela incômoda situação de termos capotado o carro em uma curva da estrada e agora estarmos vendo tudo de uma outra dimensão externa à nossa tão antes confiável pressão terrestre. Brincamos e rimos bastante com essa hipótese retórica, mas em um determinado momento, um momento fagulhar que se dissipou rapidamente, tanto eu quanto meu amigo fomos realmente tomados pelo terror de que o que estávamos dizendo fosse mesmo a verdade, e estivéssemos ambos mortos em uma zona dantesca de pecadores que pagavam no purgatório por serem feios, pois as pessoas que passavam não se dignavam a perder tempo em investirem um olhar para nossas tão combalidamente defendidas belezas. (E há uma cidade magnífica em O último suspiro do mouro em que os heróis da história se perdem, em que tudo acontece do avesso).

Pois o que se escondia nessa história da cruz? Em um conto de Chesterton, o pastor se revelaria um mágico do oriente ou um arabesco mefistofélico vingativo, ele mesmo tendo montado a situação da cruz no bolso para reverter a atenção de um iminente assassinato. Em um conto de Conan Doyle, o pastor teria aproveitado que o fiel tivesse contado anteriormente o esquecimento da cruz a um delator mancomunado e usado o incidente para botar-lhe uma culpa tão grande, com fins de retirar dele alguma herança vultosa recebida ou em vias de receber. Em um conto de Sheridan Le Fanu, tratava-se de uma quimera inventada por um demônio em que não existia nem o pastor, nem a cruz e nem o fiel distraído, mas tão somente ele e minha esposa, que seria ao mesmo tempo isca e vítima. Em um livro de Javier Marías, tudo seria um engano mais profundo, que incrivelmente remeteria ao passado mais crepuscular da família da Dani. E, depositando o livro do Padre Brown no colo, sorrindo diante todas esses ramos bifurcantes, eu parei por um segundo, um micro segundo de irrealidade, ao pensar no detalhe esquecido: por que tudo foi narrado em sussurro?

18 comentários:

  1. Num conto do Bashevis Singer, a estória não se passa numa igreja pentecostal, mas numa pequena sinagoga hasídica da Galícia. O sujeito com a cruz no bolso é um cristão-novo, recém-converso mas cheio de culpa por ter abandonado sua tradição israelita. Quem descobre a cruz no bolso do cristão-novo é o Reb Shemuel, o novo Rabi da pequenina cidade. Num de seus estudos noturnos do Zohar ele lê, acidentalmente, o nome do recém-converso no texto. O primeiro nome na direção perpendicular da haste da cruz. O nome de família na horizontal que cruza a haste. Reb Shemuel sabe imediatamente que uma desgraça sobrevirá sobre a sua pequenina sinagoga.

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  2. Num romance de Mann, a cena se dá numa igreja Menonita de Uetze na última década do século XIX. O homem com o crucifixo no bolso é Georg, exímio músico e outrora Kappelmeister da diocese de Hanover. Judt, sobrinho do ministro da igreja Menonita de Uetze e mesquinho tocador de clavier sob a a direção de Georg, fabrica uma inverossímil história com fins de assassinar a reputação de Georg e tomar o seu lugar de Kappelmeister. O conto, que nunca chega a ser alardeado para fora dos portões da diocese, mas que se alastra como fagulha pelos corredores da capela, envolve o Kappelmeister e uma série de visitas furtivas do homem de cinquenta anos aos aposentos dos imberbes sopraninos enquanto toda a Hanover dorme. Os meninos do coral comprovam a inocência de Georg numa entrevista a portas fechadas com o Arcebispo. Mas o estrago do libel se comprova quando, em meio à condução do Miserere num domingo, um rumor abafado de vozes e risos cruzando a primeira fileira de bancos da capela interrompe o momento solene da Missa.
    Georg se vê forçado a entregar o cargo de Kappelmeister o qual não demora a ser ocupado pelo ambicioso Judt.
    Georg, só, abandonado num sujo apartamento de Hanover, confabula a vendetta perfeita. Responder ao anúncio de emprego de organista da pequenina igreja Menonita de Uetze - suas credenciais de Kappelmeister seriam mais que definitivas em sepultar as chances de qualquer rival. Matar Judt no sábado que antecederia o domingo de sua primeira Missa com um tiro na boca. Pagar uma carruagem até Uetze com tempo hábil para conduzir a liturgia matutina na capela Menonita.
    É aqui que encontramos a cena. Georg entra pelas portas da capela de Uetze, uma das mãos no bolso agarrada ao crucifixo, a outra mão acena para a congregação e para o sorriso efusivo do ministro Menonita, tio de Judt. Georg senta-se no simplório orgão da pequena capela e intenta as primeiras notas do Kyrie da Missa em B Menor de Bach.

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    1. Algo me diz que você anda contagiado por Borges. Isso está parecendo "O sul".

      É uma ótima história, e você deu uma primorosa versão. Li quase todos os romances de Mann, mas nenhum conto dele.

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  3. Pode ser que Sur tenha me contaminado além do que me resta do ótimo conto. Um assassinato. Uma viagem de trem para o Sul. Isso é tudo o que me sobrou conscientemente. Mas se há plágio, mesmo que involuntário, não me rescinto. Sou um confesso plagiador.
    Os trejeitos de Mann que tentei colocar ali em cima são mais temáticos. Coisinhas do Doctor Faustus e Morte em Veneza.
    Mas te desafio a escrever uma versão da história se contada por Haruki Murakami.

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    1. Ensaiei reler Doutor Fausto inúmeras vezes. Ontem mesmo sopesei-o nas mãos. Intuí que fosse desse romance. Mas o seu "plágio" está muito bom.

      Começou com Singer, passou por Mann, e termina com Murakami! Não me parece que as traduções americanas e portuguesas do japonês sejam tão diferentes assim. Nas mãos do Murakami a coisa teria saído bem aquém, com todo meu respeito pelo autor de 1Q84.

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    2. (Mas sério, o seu mini-conto aí de cima tem ares fidedignos a Borges, basta ver a frase final em suspenso e o verbo bem borgeano usado: "intenta".)

      Se não em engano, fiz que você comprasse Sabres e utopias em um dia de neve intensa em que teve que sair de casa para ir a uma livraria. Pois leia, ou releia, o ótimo ensaio sobre Borges que Llosa escreve aí, mirando nos incríveis e inusitados advérbios e verbos usados pelo argentino. E como isso é um manto de impregnação inconsciente para todos que leram Borges e escreve.

      Lendo comentários como o seu e o do João no post anterior, eu desde já reafirmo a minha defesa: deixem-me ser burro, pelo amor de Deus!

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    3. Preciso terminar o Sabres e Utopias. Não cheguei a ler esse ensaio sobre Borges. Fiquei curioso agora com a análise verbal feito pelo Llosa.
      Se eu pudesse escrever igual gente grande eu encheria páginas e páginas de sentenças em suspenso.
      Mas você está muito bobo hoje. Queria que você continuasse a brincadeira já que inadvertidamente você me convidou a ela.
      Aliás, seria muito divertido se os outros colegas do blog continuassem a sua historinha a partir de, sei lá, Poe, Jane Austen, Dostoievski ou seja lá quem mais.

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    4. Eu saquei, mas você me jogou o Murakami, pô! Seria um exercício de didatismo e repetições quase maníacas, do tipo:

      Ele entrou na pequena saleta da igreja, com um tamborete colocado no canto esquerdo com um vaso de crisântemos envelhecidos e passando da hora de trocá-los, e avançou até o círculo de fiéis postados em cima de um tapete conhaque com um desenho de pessoas sentadas à mesa de chá. Trazia a cruz no bolso, mas a apertava sem dar conta das conotações que isso envolvia naquele ambiente. Trazia a cruz de madeira com um pequena chapa de cobre onde vinha escrito o acrônimo de Jesus Rei dos Judeus, em aramaico antigo (essa frase deve vir em negrito, bastante didaticamente ressaltada em seu óbvio comum).

      Quando se posicionou de joelhos e com as mãos unidas de frente a seu rosto compenetrado, pronto para receber a graça semanal, ouviu um profundo e compacto silêncio que parecia reverberar diante suas pálpebras cerradas. Abriu os olhos lentamente, como uma gaivota que desperta de seu sono saturnino e ganha voo preguiçoso rumo aonde estão seus companheiros (sempre se deve colocar metáforas usando aves, animais, regatos e outras ternuras bem nipônicas da natureza).

      O pastor o olhava com uma dureza inexpressiva; aliás, não o olhava, mas olhava o espaço acima de sua cabeça. O pastor olhava por sobre sua cabeça, mas era como se o mirasse diretamente nos olhos. Ele estava com a cruz dentro de seu bolso, a cruz de madeira com uma placa de bronze com o acrônimo sobre Cristo.

      _Alguém entre vocês leva uma cruz no bolso. Por favor, queira se revelar diante todos, imediatamente. (Os personagens de Murakami são sempre bem educados, como se recém tivessem aprendido a falar por cartilhas de regras de comportamento bem severas, ou como se lessem scripts num telepronto. São palavrosos e pedantes.)



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    5. ANEL DE COURO
      by Ramiro Conceição
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      Introdução dada, então a história começa aqui. Porque: era um vez um jardineiro, Miro Preto, era poeta, mas tinha alma de pajé; tinha também uma mulé, Rosinha da Água. Ultimamente Miro Preto andava azogado porque Rosinha, fazendo sol ou chuva ainda, às treis da tarde, tomava banho de asseio. Tododia…Tododia…
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      Abilolado…, na rachadura da porta do valterclose, o bardo começou a vigiá sua grizmela molhada, às treis da tarde… Tododia…Tododia… Perseguido por uma punhalada duvidosa se preguntava numa gemedeira: pro que Rosinha lavava tanto o anelzinho de couro, sempre tão buscado, mas nunca ofrecido pra ser tocado? E lavava, lavava com um risinho que espera… “Espera o quê? Espera o quê?” – gritava sem palavra o home da palavra…
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      Enfim, chegou um belo dia: Miro Preto arresolveu seguir Rosinha, que sempre saia depois das águas… E num é que a desprezada foi direto pra igreja crente do pastor Macedo… Mas Rosinha, até aonde de sabia, era católica apostólica romana e conrintiana… Tinha até um São Jorge, de cavalo branco, matando o dragão, do lado esquerdo da cama…
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      Rosinha entrou na biboca… Não tinha ninguém… E Miro Preto observava, de longe, atrás das árvores… Fez 15 minutos… O marido entrou… E escutou uma arrulhada, uma mistura de gargalhadas sufocadas que vinha do chão… A manjuba do Macedo bimbava, entrando e saindo do anel de couro… E Miro Preto ficou grande de raiva… E gritou: “ Isso é um puteiro “… E o cambalafoice Macedo, por ser crente no envangelho, balbuciou: “Aqui só entra gente sem crucifixo…” Na velocidade de uma estrela cadente, Miro Preto arrancou o dito-cujo do pescoço, presente de sua mãe… E do bolso direito tirou uma quicé, quase canivete e pulou sobre os dois ex-gargalhadores: o primeiro golpe foi preciso, abriu uma vermelha boca sorridente, de orelha a orelha, no pescoço do Macedo… Depois foram 15 punhaladas na Rosinha que desabrochara… Por fim, meteu a faca no coração… E tudo silenciou…
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      Passou o tempo… Ninguém no lugarejo gosta de lembrar do assunto… Mas, às vezes, na lua crescente, gritam gritos… Ninguém abre as janelas… Ninguém fica ruas… Um medo se acoberta entre as cobertas…
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      PS: i) adaptação livre do conto “Corpo Fechado” de Guimarães Rosa, em Sagarana; ii) foi utilizado o Dicionário de Temos Nordestinos de Gilberto Albuquerque (http://www.jessierquirino.com.br/2006/dados/dicionario.pdf).

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  4. "O pastor o olhava com uma dureza inexpressiva; aliás, não o olhava, mas olhava o espaço acima de sua cabeça. O pastor olhava por sobre sua cabeça, mas era como se o mirasse diretamente nos olhos. Ele estava com a cruz dentro de seu bolso, a cruz de madeira com uma placa de bronze com o acrônimo sobre Cristo."

    Hahahahahahahahahahahahahahahahahaha

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    1. Ficou muito tosco e não faz justiça nenhuma nem ao que o Muraka tem de bom e de mau. Mas você que me iniciou na leitura dele sabe que é por aí. Aliás, estou com o terceiro volume aqui novinho do 1Q84 e vou logo me livrar dessa missão de completar a leitura. Gosto do cara, apesar dos pesares. Se o Marcos Nunes estivesse ainda entre nós, em nosso plano existencial, poderia fazer seu exercício com a Virgínia Woolf (se ele aparecesse, claro que iria contrariar a previsão e iria vir de Nelson Rodrigues ou algum escritor oriental quase desconhecido).

      Mas a sua emulação ficou magistral, sério mesmo, sem descascar elogios. Nós é que somos uns desocupados, doutores na arte do vagabundismo faquirista, e eu porque não tenho a quantidade de pessoas que você se engana achando que tem visitando meu blog.

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  5. Ficou bem engraçado. Eu só trocaria a igreja pentecostal por um templo Shinto e o crucifixo pelo dedo mindinho de algum Buddha Indiano.
    Mas é isso mesmo. Não há maior desocupado que nós, os doutorandos. Estou aqui hoje dosando a minha raiva e o meu aborrecimento com a correção de provas dos meus alunos com a leitura do seu blogue. Então, danke schon.
    Seu blogue é muitas coisas, mas nenhuma delas passa perto do seu acesso de modéstia ou de auto-flagelação. Entre elas, seu blogue é uma esperança.

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    1. Mais. Pagaria algum dinheiro para ler a versão Nelson Rodrigueana dessa história na narração do Marcos Nunes.

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    2. Na verdade foi um ardil da minha parte só para ganhar um elogio. Vou tirar o cilício agora.

      Minhas férias acabam depois do carnaval. E estou puto da vida também porque acabo de descobrir que o torrent com cantatas completas de Bach, de 18,5 GB que estou baixando há cinco dias, e que já está em 91,3%, vem numa compactação impossível de se abrir por meu computador. Sou louco pela Peasant Cantata, No. 212, que eu a tinha baixado do PQPBach, mas que não a achei nem vasculhando pasta por pasta dos hds daqui. Devo tê-la apagado sem ver, logo ela, LOGO ELA...

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    3. Nunca escutei a Peasant Cantata no. 212. (Conduzida por quem?)
      Mas ando apaixonada pela Paixão de São João do Bach, Principalmente o primeiro movimento, Herr, unser Herrscher (alguma coisa no sentido do apelo "Senhor, meu Senhor" do pecador diante do seu pecado). Tenho escutado isso o dia inteiro por esses tempos.

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    4. Charlles, ainda há um link pra Cantata dos Camponeses no PQPBach, vem junto com a Cantata do Café: http://pqpbach.sul21.com.br/2013/05/31/j-s-bach-1685-1750-cantata-do-cafe-e-dos-camponeses/

      Testei o link e tá funcionando.

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    5. João, Muitíssimo obrigado. Nem tinha procurado no arquivo do PQP porque aqueles caras são muito sistemáticos quanto a manter arquivos antigos. Fui lá com gana, e, realmente, está baixando.

      Luiz, todas as cantatas de Bach são obras divinas. Me limito a apenas exercer meu direito de simples mortal com um repertório de devoção sincera. A de São João é magnífica.

      Tenho um vinil duplo aqui com a Peasant. Todo mundo fala da cantata do café, o Milton a adora. Mas me toca de uma maneira muito particular a grandeza modesta da Peasant.

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