segunda-feira, 10 de junho de 2013

Yukio Mishima_ a leitura de "O templo do Pavilhão Dourado"



Sempre foi uma das minhas intuições de leitor de que a literatura nipônica não era para mim. Que eu me lembre, nunca li um autor japonês, até então_ afora, agora me dou conta, de Haruki Murakami, que quase não entra na categoria dos romancistas japoneses pelo que ele mesmo se propõe em caminhar na contra-mão da tradição. Acredito que se vai levando pela vida uma série de preconceitos não verificáveis, mantidos em seu patamar de inércia acrítica por não serem jamais visitados, e um desses meus preconceitos é de que não me dou bem com a cultura japonesa. A cultura japonesa vive por milênios sem ter se incomodado com essa minha atitude, assim como vou percorrendo meu tempo por essa terra o mais aprazível possível sem que a ausência da cultura japonesa em meus horizontes particulares represente a mínima queda de qualidade. Deixo os japoneses em paz e eles nunca me incomodaram. Só recentemente fui confrontado com esse fantasma absolutamente bem resolvido de minha indiferença à literatura nipônica pela quase ostensiva propaganda que o Luiz Ribeiro vem fazendo dela aqui no blog e em nossas conversas por e-mail. O Luiz chegou a dar um link de um blog especializado em literatura japonesa e, em um ataque massivo difícil de relegar, me enviou dois romances japoneses. Me vi diante o imperativo inadiável de ser cordial com um amigo me violentando naquilo que tenho como mais sagrado: a escolha das minhas leituras ditada única e exclusivamente, à lá Borges, pelo deleite. Já abandonei livros cultuadíssimos e respeitabilíssimos antes da metade por não me despertar prazer: assim foi com Henry Miller, com Updike, com Middlemarch, com Virgínia Woolf, com Gonçalo Tavares, Sartre, entre vários outros. Todo grande leitor tem que se conformar com a primeira regra da leitura: a geografia do que sempre irá desconhecer é absurdamente maior que o campinho de flores de um alqueire e meio aonde ficarão seu autores preferidos e seus livros de cabeceira. Assim, não me parece mais tão espantoso a confissão do já velho Ezra Pound, ao Hemingway, de que ele nunca lera os russos. Na época em que li isso, parecia-me algo miraculoso que um escritor tivesse feito renome universal sem nunca ter lido Dostoiévski. Ou o próprio Borges anunciando que não lia autores nascidos depois do século XIX (apesar de hora e outra se desmentir, com seus prólogos sobre Chesterton, Kipling, Faulkner, e um quase anacrônico e surreal desmonte de um romance de Hemingway); e Allan Bloom, que ia mais além_ ou aquém_, com seu repúdio a tudo que não fosse do primitivismo clássico grego e a filosofia iluminista. Eu nunca fui um desses leitores que tem a ridícula preocupação de usar a cultura como ascensão social, armando-se de ornamentos imaginários para impressionar em bailes e casamentos. Uma vez sofri a saudabilíssima experiência de quebrar a cara aprendendo que a cultura não serve em nada para atrair uma fêmea da espécie para a cópula, e isso tem me evitado cair no ridículo sempre que vejo uma bela mulher de óculos e com um ar intelectual que alimente esperanças de que tratar com ela sobre as aflições de Ulisses me elevará à condição do grande macho alfa arrastando-a, agradecida por sua lubricidade, pelos cabelos.

Mas vamos ao que interessa: li o Mishima que o Luiz me mandou. De antemão, três coisas me repudiavam em definitivo em relação a Mishima. Certa vez vi, de madrugada, um filme na televisão baseado nos livros desse autor. Seus simbolismos e sua pesada atmosfera freudiana me incutiram que Mishima era um chato ortodoxo do qual eu deveria manter distância e esquecê-lo sossegadamente. (Como Canetti, eu odeio Freud e o acho o maior impostor do pensamento dos últimos 200 anos.) Depois vem seu suicídio absurdo, em nome do imperador, cuja teatralidade e vaidade violentamente ególatra me solidificou a decisão, se algum dia me surgisse a fímbria de curiosidade contrária, de nunca ler nada dele. Terceiro, e talvez o que me parecia mais incontestável, eram as fotos a que ele se submetia para levar ao mundo o que poderia haver de qualidade no fundo de sua estampa. Suas fotos, puramente, não fogem do fascismo motivado pela certeza incontestável. Para quem foi criado lendo os russos e os médio-europeus, vendo aqueles rostos alquebrados cheios de dúvida e dor, cheios de degradação e incompatibilidade com o mundo, a imagem do ostensivamente saudável e fálico Mishima me causava asco, quando muito mexia no núcleo de meu preconceito adormecido fazendo-o emitir um riso de mofa. Em uma das fotos do Mishima, esse menino solitário que precisava provar tanta coisa diante o espelho, a sugestão de uma genitália avantajada por debaixo da faixa do quimono era até enternecedora. Mishima ia de contra toda a minha consolidada crença do que um escritor deveria ser; Mishima era seguro de si, militarizado, crente, de direção determinada e inamovível, severo, imperioso, fundamentalista. Em um e-mail, comparei apressadamente ao Luiz o Mishima ao José de Alencar, sem explicar que para mim o japonês parecia tão pedante e datado, tão ilegível e de um mundo pré-shoá quanto o brasileiro da "virgem de cabelos como as asas da graúna". (O que tem a shoá a ver com isso? É que me parece implausível que um escritor como Mishima tirasse aquelas fotos risíveis e ostentasse uma vaidade de samurai depois do que aconteceu com seu país na segunda-guerra, e com a humanidade depois de Auschwitz; parecia-me uma alienação indesculpável para a obrigação de um artista sério que tivesse vivido esses eventos. O suicídio de Primo Levi é infinitamente mais nobre e diz muito mais que aquela partida mimada e obtusamente patriótica de Mishima.) 

Posto assim, estava na defensiva com o livro que o Luiz me mandou de Mishima, The Temple of the Golden Pavilion. E qual a surpresa por, já nas três primeiras páginas, o livro ter me desarmado. O romance é um deleite do começo ao fim, e enormemente informativo sobre a profundidade e a complexa personalidade do autor. Como disse depois da leitura para o Luiz, é incontestável para quem lê esse livro que Mishima foi um gênio. A escrita é carregada de luz e audaciosamente leve, ágil, cheia disso que Bellow uma vez disse ser "intrusões inesperadas de beleza". Os grandes escritores tem a capacidade de mostrar insights sobre algo que está além das palavras e que nenhuma academia autorizaria afirmar sem cair-se no ridículo, e nesse romance de Mishima há generosas porções desse chute nos portões do comedimento ortodoxo. Por exemplo: há duas cenas inesquecíveis, como a que o narrador vê o corpo de seu pai na cerimônia de sepultamento, e pensa que a evidência do quanto estamos distantes da matéria é essa intangibilidade da forma como ela existe; outra cena é de uma cristalinidade pictórica, arrebatadora, em que o narrador, escondido em um templo abandonado da montanha, flagra o ritual de despedida entre uma moça e um rapaz que está destinado a morrer nas frentes da guerra: ela despeja o leite de seu seio e ele o bebe, em lembrança do filho natimorto dos dois. Há muitas cenas de beleza impactante como essas, proporcionadas pela visão privilegiada de Mishima pelo trivialesco esotérico. Em uma entrevista, li que o objetivo de Murakami era derrubar o beletrismo da literatura japonesa, o que entendi como um ato de ocidentalizá-la; algo como Cortázar certa vez disse estar escrevendo cada vez pior em oposição à plasticidade imposta pelo cansaço das fórmulas feitas. Mishima me surpreendeu no que ele antecipa da intenção de Murakami. Sua escrita foge do que eu tinha como concepção de uma literatura japonesa excessivamente preocupada com uma tradição estética fechada e avessa às revoluções nas letras do século passado.

A história do livro, resumidamente, é sobre a obrigação do narrador, um rapaz pobre, atormentado por uma gagueira deformadora, a ganhar espaço no mundo através da única ocupação que lhe resta, a de ser aprendiz de monge em um templo budista. Seu pai, desde que ele era pequeno, já lhe cambiou a certeza de que a representação da beleza em todo o universo se centra no templo do Pavilhão Dourado, com seus três andares, seus sutis mistérios apreendidos furtivamente nos refúgios das noites de chuva, e sua fênix dourada colocada no cimo do telhado, representando sua capacidade de resiliência através dos anos. Esses elementos, intransigentemente japoneses e aparentemente desprovidos de transcendência, servem a Mishima para compor uma obra que tem tanto a melifluidade de Dostoiévski quanto a ironia auto-implosiva de Robert Walser, a frescura de um Bildungsroman como o de Salinger e a confissão sediciosa das autobiografias de Thomas Bernhard. Sua faceta de Dostoiévski é algo bastante propalado: há um outro personagem no livro, uma espécie de Quasimodo maquiavélico chamado Kashiwagi, desenhado milimetricamente com os mesmos traços de personagens do russo, como Ivan Karamazov, Piotr Stiepánovitch, Raskólnikov e Rogójin, uma entidade desprovida de moral até o ponto de uma maldade pragmática que leva o sinal das possíveis revoluções políticas e sociais. São impagáveis os diálogos entre Mizoguchi, o narrador, e Kashiwagi, esse aleijado de pernas tortas que cativa as mulheres mais lindas pelo que ele desperta de pena e peso de consciência que sente a perfeição diante a deformidade_ ele as usa e depois as repudia com surras e depreciações violentas. Só o conhecimento tem capacidade de mudar o mundo, diz o aleijado Kashiwagi, enquanto o gago Mizoguchi, mal conseguindo terminar uma frase, rebate que só a ação transforma o mundo, numa antecipação profética de sua fúria nas páginas finais do livro.

Se as marcas de Dostoiévski são inconfundíveis em Mishima, por outro lado, em minhas pesquisas, não achei ninguém que tenha aproximado esse Pavilhão Dourado do romance Jakob von Gunten, do suíço Robert Walser. A história é surpreendentemente a mesma nesses dois grandes romances. O monastério do Pavilhão Dourado serve com a mesma precisão para matar o espírito quanto o Instituto Benjamenta no livro do Walser. Ambos esses refúgios do mundo são máquinas de apequenização e humilhação da vontade. E ambos os narradores, tanto de Mishima quanto de Walser, são percepções em formação, intimamente angustiados por suas juventudes gritantes, querendo quebrar a barreira da falta de conhecimento mas sempre se batendo de contra a parede da enormidade de suas insuficiências.  Ambos tem o gene do assassino instrumental movido por uma distante necessidade darwiniana de evoluir a espécie, mas que nunca é ativado pela cordialidade patológica que as tradições consuetudinárias e as instituições sociais da repressão incrustaram neles; mas é a voz do assassino que fala em boa parte dos livros, com uma sinfonia nietzschiana, com uma eletricidade das grandes tempestades sentidas nas montanhas. Mishima, em contraposição às suas fotos, apresenta tudo o que move os grandes escritores a criarem: a angústia diante as verdades instituídas, os cabrestos religiosos, as morais de fachada (como quando se depara com o chefe espiritual do mosteiro com uma prostituta); a busca, em suma, pelo imponderável e o inominado.

Concluí a leitura desse grande romance sabendo que de agora em diante terei que ir atrás das outras obras de Mishima. A última frase do livro traz similitudes com a biografia de Thomas Bernhard. "Eu quis viver", Mishima faz seu herói dizer. Também o jovem Berhnard, após abandonar a sucessão de confinamentos em sanatórios para manterem-no no pneumotórax, diz que queria viver, apesar de tudo. Isso ainda torna o Mishima do ritual de suicídio um enigma e um desperdício para mim (o quanto ele teria ainda para escrever!). Mas aqui entra as palavras de Montaigne, que atenuam um pouco o mistério:

"Somos todos retalhos de uma textura tão disforme e diversa que cada pedaço, a cada momento, faz o seu jogo. E existem tantas diferenças entre nós e nós próprios como entre nós e os outros."

a edição enviada pelo amigo Luiz Ribeiro

edição nacional publicada pela Cia das Letras
Amanhã, um texto sobre A Festa do Bode, de Mario Vargas Llosa.

40 comentários:

  1. Estamos em 2013

    Estamos em 2013; ainda sim, nesses tempos persistem os heróis japoneses, nas manhãs e tardes televisivas. Produções novas. Uma estranha fusão entre as pretensões imperiais do Japão com os métodos escapistas dos Estados Unidos.
    Quando digo que não tenho letras, apenas palavras, os ocidentais riem. São meros símbolos, daí se equivalem? Penso que não. Nossos símbolos são ao mesmo tempo busca de precisão e ciência da imprecisão. Todo conhecimento tem seu desenho, sua paisagem, e ao mesmo tempo é um mundo indevassável.
    Quando recebo um estrangeiro, penso desde em um animal repugnante qualquer, um inseto, uma hiena, até em uma ave do paraíso, um pégaso, um espírito que não se permite ver. O preconceito vem antes, a dúvida vem depois e eu luto para nela não permanecer. Senão, deponho as armas e não faço meu trabalho. E é preciso não dispor aos estrangeiros tudo que está ao nosso alcance. Por sorte, sequer eles percebem isso: a objetividade ocidental é o acesso direto à própria mediocridade.
    Alguns emigrados voltam; alguns de seus filhos são transformações bizarras: cruzamentos de pandas com serpentes, batedeiras com helicópteros.
    Faço as preces da manhã, queimo um punhado de ervas e bebo um copo de água, apesar de estarmos em 2013, impregnados de falta de fé em deuses ou convenções em que eles sobrevivem sob os hábitos mais comezinhos.
    Quando um japonês passa dedilhando, em um instrumento miúdo, uma música do outro lado do mundo, não encontro símbolo compatível com sua vontade aguda e não mais ser japonês, e isso me entristece.
    A vida, porém, continua com seu peso de vento e trinados naturais de aves escorregadias.
    Reponho, assim, o trágico em um hai-kai, aperto a gravata e sorrio quando o primeiro rosto anômalo (uma francesa) revela constrangimento diante de minha fisionomia de funcionários.
    Um hábito que compartilhamos.

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  2. Ai, meu deus do céu, pelo Luiz e por você, Charlles, vou ter que ler um livro, não sobre, mas do Mishima.
    Por ser um phd em metalurgia, vou começar a rever o melhor tratamento térmico e o melhor processo de forjamento à elaboração de uma espada... De acordo com a tradição metalúrgica, na Idade Média, descobriu-se que a urina (estou a falar a sério!) era um excelente meio de têmpera para se obter espadas confiáveis ao combate ou à degola...

    Talvez, assim, chegue à sintese da existência humana que a Rachel Nunes elaborou em seu blog:


    "1) Toda visão humana, por mais inteligente, perspicaz, e recheada de dados e conhecimentos possíveis acerca do tempo e da história, da ciência e da vida, bem, mesmo que a pretensão seja saber tudo e tomar as melhores decisões, abalizadas na melhor lógica, ainda assim toda visão humana nada será que uma parcela, um percentual mínimo a que um sujeito acessa e, por pensar e sentir, permite-se chegar a conclusões;

    "2) Todas as conclusões, que produzem resultados e nos dirigem a determinadas metas, tendem a se perder em um emaranhado indistinguível de conclusões, projetos, metas alheias, em um mundo onde as relações políticas, por melhores que sejam as intenções, são fixações ideológicas que comprometem ainda mais o juízo por si só deficiente;

    "3) O resultado é, claro, e sempre, o malogro: um interstício de alegrias e dores, realizações e fracassos, incompletudes severas, sonhos complacentes."

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    1. Ramiro, sério, leia esse O Pavilhão Dourado. É de uma ternura raivosa e de um lirismo poético, adrenérgico e febrilmente contido. Já agradeci ao Luiz e o faço novamente. Procurei nas editoras nacionais: há traduções diretas do japonês de boa parte da obra do Mishima pela Companhia das Letras, e belas edições pela Cosac.

      Engraçado que o que me motivou a ler o livro, além do Luiz, foi uma crônica do Garcia Marquez. Assim como eu, GGM tinha preconceito em relação à literatura nipônica. Quando lhe perguntaram o que sabia sobre escritores japoneses, ele respondeu que "só sei que todos acabam suicidando". Daí, por puro hipnotismo, ele passou uma ano lendo apenas romancistas japoneses. Seu preferido é o Kawabata da Casa das Virgens. Tal crônica, por sinal, se chama "O voô com a bela adormecida", que é o começo da obsessão de GGM por esse romancinho do Kawabata, que resultaria em um conto e no romance das putas tristes.

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  3. HÍFEN
    by Ramiro Conceição
    .
    .
    Quem me dera
    ser um peixe, um pássaro,
    um leão ou…quem sabe…um dragão,
    mas  não... Sequer sou um homem
    apenas o hífen do “ser-humano” que,
    no dicionário, ainda não existe.

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  4. Charlles,

    Grande resenha para um grande livro de um grande artista!
    Parabéns por ter conseguido falar tanto sobre o enredo sem no entanto estragá-lo com spoilers.
    Não me importa que continue divorciado da cultura Japonesa. Eu acreditava perceber algum contorno de resistência ao nipônico em você, sem contudo entendê-lo bem. Depois desse texto acho que te entendo. Pois bem, quero dizer que, e talvez não precise salientar isso posto que está declarado aqui, que Mishima representa o crisântemo e a espada, a resurreição da tradição pré-Meiji, sem que o seja. E justamente por isso ele é tão universal. Justamente por isso ele encarna a obsessão do ocidente pelo belo - dos gregos com suas odes e esculturas aos ascetas cristãos do deserto os quais sonhavam fazer de seus próprios corpos massacrados numa obra de arte. O que mais me cativa em Mishima é isso: sua inabalável disposição a preservar a arte que tergiversa pelo clássico de Genji, ou que serpenteia pelos gestos do teatro No ou da cerimônia do chá, ou seja o Japão da arte de precisão mimeográfica, violada pelo seu contágio com a tradição do romance ocidental. Trocando em poucas palavras, trata-se da personificação do grande dilema japonês que se instaura pós-restauração Meiji, mas que se corporifica de fato e de direito no pós-Guerra, da cópula (para usar uma palavra engraçadinha que você testa aqui) entre Murasaki Shikibu (a legendária autora de clássico do Japão medievo Genji) e Goethe (por exemplo; mas veja que Goethe poderia ser facilmente substituído como ingrediente dessa alquimia por Mann, ou Nietzsche, ou por algum grande vulto do espírito latino oitocentista). O que me instiga em Mishima é que, ao contrário de Tanizaki ou Soseki (ou mesmo Kawabata, que foi consumido pelo ocidente por intermédio do nobel), se você se senta como espectador de uma de suas reescrituras do teatro No, ou se você secretamente observa a brancura de suas máscaras Kabuki, ou alguma releitura sua de obscuros Koans budistas, você acaba encontrando ali, como numa declaração de descoberta, de assombro pueril, o contato com Eurípides e Sófocles, como no suas versões do No, ou o contágio com a perversidade de um Marquis de Sade ou a transvaluação da moral de um Nietzsche, como na sua releitura da sangha budista, onde como você bem colocou, monges amorais dividem o espaço com o imemorial da efígie de Shakyamuni. The Temple of Dawn, me dizem, seria por exemplo algo como uma declaração de amor perversa de um acecla do zen budismo, de um devoto da idéia zen do Sunyata, algo como a "declaração de fé" no vazio espacial e temporal da não-existência, se esse acecla zen tivesse se sentado à sombra de uma castanheira da Baviera lendo Além do Bem e do Mal.
    Mas além disso tudo, acho hipnótica essa a idéia, a qual não atribuo originalidade necessariamente, do belo que aterroriza e asfixia.

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  5. O Japão de Sakuraba, o que venceu os Gracies. Um lutador engraçado na sua ingenuidade. Um lutador genial, corajoso e criativo, que impávido em seu personagem, conseguia desarticular qualquer estratégia do adversário.
    No fim, como em um suicídio, se expôs a lutas desnecessárias contra lutadores bem maiores, sofrendo por isso traumas e lesões que lhe impediram de seguir lutando, abreviando voluntariamente a sua gloriosa carreira de forma triste, pequena e imprevisível, como uma grande porém pequena ilha, como um paradoxo, como o Japão.

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  6. "abreviando voluntariamente a sua gloriosa carreira de forma triste, pequena e imprevisível, como uma grande porém pequena ilha, como um paradoxo, como o Japão."

    Belíssimo aparte, Wagner! Obrigado.

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    1. Só um parêntese (sem querer tomar de assalto de novo a caixa de comentários como naquele post sobre o Mishima segundo Marías): Concordo absolutamente com você,Wagner, que os embates de Mishima ía muito além de mesquinharias como a figura do Imperador ou o patético Patriotismo que o Charlles ridiculariza aqui no blog.
      Nesse tocante, apesar do Charlles e eu concordamos no desperdício que foi o fim do Mishima, e discordamos sobre o significado daquela ritualística derradeira, a epígrafe de Montaigne é um tapa de luva de pelica, a esses senhores que guardam, tal qual cães-vigia, a ilusão ocidental do sujeito uno, bem compartimentalizado. (E contudo Freud ofereceria aqui a demitologização dessas coisas também, apesar de ser ocidentalíssimo. Parêntese do parêntese, que surpresa a confissão do Charlles com relação a Freud)

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    2. Belo aparte do Wagner, realmente!

      Sobre Freud, concordo com parte da crítica literária que valoriza nele mais o grande estilista da língua que o médico. Li apenas o Mal-estar da civilização, e aquela primeira página deve ter causado inveja em Bellow. Mas não compactuo com nenhuma de suas teorias, na medida que vejo que eu não me enquadro em nenhuma delas. Meus traumas são muito mais complexos que a simplificação sexual e os recalques que ele criou. As teorias de Freud só servem para o Freud, o muito doente e muito ocidental (no tocante a tanta repressão patriarcal típica das classes altas europeias) Freud. Por exemplo: nenhuma de suas teorias servem para o homem latino-americano, ou para o africano, ou para o australiano. Trata-se de placebo para meninos de salas vitorianas, acostumados a serem vestidos na infância com vestidos femininos (?), e tratados já como adultos assim que aprendem a andar (li não sei onde que a invenção da infância se deu na metade final do século XX: imagine se isso não iria acabar criando um dogmático cientificista como Freud). Certa vez aqui escrevi um texto sobre Garcia Marquez, onde repito no título a falta de coqueteria que GGM empregou na primeira frase de "Ninguém Escreve ao Coronel". Nesse romance singular, uma das três obras primas indiscutíveis do colombiano, o autor inicia descrevendo o velho coronel cagando em uma latrina. Nunca na história da literatura se fez isso_ é algo mais revolucionário que a tal frase direta de um conto de Puchkin que fez Tosltói rever toda sua escrita e escrever com mais liberdade o Ana Kariênina. E algo muito revelador sobre a alma latino-americana. Não cabe Freud aqui. Pelo menos isso temos à frente dos europeus: somos muito menos empolados psiquicamente.

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    3. Quando o compreendo, gosto da releitura de Freud em Lacan, da sua guinada particular do inconsciente como construto da linguagem, da desexualização do inconsciente, da preocupação renovada com a construção do mundo enquanto construto narcisístico, um narciso aqui quase completamente desexualizado.
      Não sei, eu tenho o Lacan como um dos exegetas mais fiéis de Freud. Talvez sua leitura um pouco aquém da etiologia da sexualidade Freudiana não seja tão heterodoxa assim, como querem alguns. Eu leio um Freud em camadas. A obstinação com o sexual seria apenas uma delas.
      Aquele Freud da psicanálise clínica é sobretudo apenas um dos muitos Freuds da sua extensa werke. Você cita aí em cima o Freud comentarista do zeitgeist ocidental. Esse Freud é para mim quase irretocável, i.e. aquele de Totem e Tabu, Mal-Estar da Civilização, O Futuro de uma Ilusão, Moisés e Monoteísmo... Desses últimos eu só não li o Moisés e Monoteísmo. Uma nota de rodapé que leio no momento num livro sobre a história cultural da idéia do pecado original me atiçou a buscá-lo. Aparentemente Freud faz uma glossa muito interessante ali sobre Paulo de Tarso quando na Epístola aos Romanos, da genealogia da culpabilização no ocidente, um grande comentário sobre a origem dessa noção de culpa por contágio, que é afinal em miúdos a horrivel idéia do pecado original. Se você acha que isso não faz parte da constituição do homem latino-americano, então fomos criados em mundos muito diferentes.

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    4. (Não vai me fazer ler Freud agora, né?)

      Fui criado num meio extremamente traumático. Fui generosamente presenteado com tudo que Freud analisou e que você bem expõe aí em cima. Já escrevi sobre isso. O sofrimento da infância, em sua potência deformadora, é o mesmo em qualquer parte do mundo. Mas a interpretação e a superação dele é bem diferente. Nunca me interessei por psicanálise. Lacan me parece falar em uma língua alienígena, sobre uma realidade alienígena, que não se enquadra na minha realidade. Trocando em miúdos, sem muita retórica, repito a crítica que se faz a gente como Lacan, de que eles complicavam para alcançar uma distinção intelectual que não teriam em outros campos da criação: eles criaram um mundo palavrosamente complexo para construírem seus nichos maçônicos, seus códigos, seus salários institucionais, etc.

      Li os opositores de Freud, desde Huxley a Canetti (li-os por outras razões, não por me interessar em saber sobre Freud). Na sua autobiografia, Canetti desconstrói com elegância as ideias de Freud: o Canetti que sofria dos mesmos sintomas multi-castradores do Freud.

      Sei que é uma simplificação dizer isso (mas é um kitsch verdadeiro da obra de Freud), mas eu jamais senti desejo sexual por minha mãe, e nem a mínima oposição a meu pai. Alguém com a genialidade de Freud tinha mesmo que diversificar seu leque de criações, como esse que você diz aí sobre Moisés e tal, mas essa abundância não me cativa nem um pouco. Prefiro Jung, se fosse para escolher. Mas, na verdade, prefiro em muito Canetti. Massa e Poder tem mais verdade que as interpretações de Freud. Tanto que Freud já há muito se encontra em galope para o olvido.

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    5. De fato, a metáfora utilizada pelo Wagner sintetiza uma ideologia que dominou a elite japonesa à época do grande conflito. Num post anterior, tentei dentro do possível esclarecer tal forma de pensar e agir, quer dizer, durante aqueles dias terríveis algo, que se poderia denominar de “um delírio de onipotência”, contaminou, por exemplo, renomados acadêmicos japoneses que, a qualquer custo, tentaram justificar ideologicamente o expansionismo imperial como rota natural à evolução da humanidade à tal pseudofelicidade. Tais seres humanos acreditaram, sem pestanejar, que sua civilização, por desígnios sagrados, seria hegemônica a comandar tal destino colossal. Delírio total…

      Na realidade, a questão essencial era bem terrena, ou seja, quem comandaria o capitalismo expansionista, no restante do XX, após a vitória inquestionável do Eixo? Ou melhor, quem estaria apto a enfrentar aquele vermelho capeta assassino instalado confortavelmente em Moscou?

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  7. Eu julgo Jung só um pouco acima dos jumentinhos. Arquétipos, avatares culturais que se movem sob camadas subreptícias de estruturas mentais universais engessadas, quase imóveis, a bobagem do inconsciente coletivo. Se vamos falar de olvido, que tal começar por aqui?
    A parte clínica de Freud está mesmo fadada ao desuso. Pelo menos no tocante ao sonho Lacaniano de uma ciência do inconsciente. Contudo, também porque as Epístolas de Seneca a Lucílio continuarão a ser publicadas em edições de bolso da Penguin, a serem lidas por aborrecidos ou ávidos alunos das humanidades, também Freud, pelo mesmo motivo, nunca cairá no esquecimento. Minha leitura da psicanálise Freudiana é aquela mesma de Foucault. Ele vê Freud como uma extensão de Seneca, Epictetus, Marcus Aurelius, etc. A psicanálise enquanto Técnica de Si, Souci de Soi, como "Cuidado de Si Mesmo", Self-refashioning, e enquanto tal não cairá em desuso enquanto houver a necessidade do milenar gênero da auto-ajuda.

    O meu Freud é o requintado comentarista do espírito moderno; Édipo a mais elaborada filologia clássica já executada. Espanta-me que não leia Freud em continuidade com as letras.

    Prometo porém não te forçar a leitura de Freud (rs)...

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    1. “A parte clínica de Freud está mesmo fadada ao desuso. Pelo menos no tocante ao sonho Lacaniano de uma ciência do inconsciente.”
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      Luiz, com todo o respeito, às vezes, você declara juízos que, a meu ver, parecem absolutos (por que não dizer mishimanianos?). Durante vinte anos - isso mesmo, vinte anos - fiz uma terapia que poderia ser considerada com fundamentos freudianos. Se rigidamente clássica como Freud propôs, talvez não tenha sido. Não tenho pedigree para fazer tal julgamento. Contudo, na maior parte do tempo as hipóteses levantadas pelo judeu rabugento foram seguidas e também lidas, principalmente, a obra fundamental sobre os sonhos.
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      Nunca fiquei deitado olhando para o teto. Tudo sempre aconteceu olho no olho. Aqui e ali, certamente, houve pitadas de Melanie Klein, de Reich, talvez até de Foucault, pois tais autores li durante o tratamento… Como sou um vira-lata rastreador li um pouco de Lacan e muito de Jung. Com certeza, o dois últimos não fizeram parte de meu tratamento. Aliás, Lacan lembrou-me de Sartre, principalmente, na “Imaginação”, quero dizer: uma punheta! Quanto a Jung, bem, deixa pra lá…
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      O fato é o seguinte: entrei na terapia muito próximo da total ruptura com a realidade. Cheguei num ponto em que: ou fazia o tratamento ou, seguramente, meu destino seria a internação em alguma casa de repouso. Não havia saída: isso aos 29!! Durante meu longo tratamento: elaborei minha dissertação de mestrado; meu doutorado; e meu pós-doutoramento, na Epusp; casei 4 vezes; bebi, fumei e cherei de tudo; quase morri algumas vezes, mas consegui fazer meu livro de poesia; publiquei cientificamente nas mais renomadas revistas do Japão, Inglaterra e Canada; ganhei dois prêmios nacionais em minha área de atuação científica; e tive dois filhos.
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      Ao final do meu tratamento tornei-me, dentro do possível, amigo de meu psiquiatra: a terapia terminou. Ele faleceu, porém nunca tive qualquer problema de projeção: sempre soube durante todo o tratamento que, fundamentalmente, ele era um médico, um especialista em sua área. Ele foi um ateu convicto. Eu? Fui, e continuo a ser cristão (talvez por minha formação ou deformação familiar); contudo, certamente, nunca frequentarei qualquer uma dessas abominações denominadas de igrejas. Ao final dessa opereta, posso seguramente afirmar que valeu. Não estaria aqui se não tivesse acontecido. Essencialmente, sou grato!

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    2. Ramiro,
      Você provavelmente não seguiu muito de perto a troca aqui entre o Charlles e eu sobre Freud.
      Se você perceber eu defendo o Freud do início ao fim. Meu ponto aí em cima, que me parece você não entendeu, é o de que a tentativa estruturalista (Lacaniana, pois) de transformar o Freudismo clínico numa ciência no seu sentido mais absoluto, não só falhou como era uma ilusão.
      Se você conhece por exemplo alguma prova médica da existência e funcionamento do inconsciente, por favor me aponte para ela.

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    3. Luiz,
      o que você me pede é difícil: uma prova médica incontestável da existência do inconsciente. Não tenho conhecimento médico para tal façanha. Responderei a você, Luiz, da maneira que consigo. Certamente, a tentativa de resposta será insuficiente, pois aqui se está a pisar sobre um campo minado: sempre houve, há e haverá um MAS…que muda tudo. Todavia, vamos lá:
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      1) Um indício, que suponho ser uma prova da existência de meu inconsciente, me parece que tenha sido a minha enfermidade que aflorou paulatinamente a partir dos 24, aproximadamente. Acontecia um mal estar não propriamente físico, mas uma pequena angústia difusa que aparecia e desaparecia sem qualquer razão aparente. Com o passar do tempo, tornou-se rotineira e cada vez mais opressiva. Fui levando como dava… Após 5 anos, a tal não durava mais 10 ou 15 minutos, mas um dia, uma semana, meses… Até que um belo dia, numa reunião costumeira entre casais amigos, perdi a fala… Bem, vou parar por aqui para chegar logo ao finalmente: foi nesse estado que iniciei o tal tratamento. Luiz, se você me perguntar o que aconteceu de grave durante esses 5 anos iniciais da doença, minha resposta objetiva mais razoável é - não sei.
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      2) Já no doutorado enfrentei uma outra crise, contudo, dessa vez bem consciente: após, aproximadamente, 100 experiências associadas ao tema de minha tese, não havia conseguido eliminar um fenômeno físico-químico que acontecia num processo pirometalúrgico que o tornava inviável tecnologicamente. Em síntese: não conseguia elaborar o meu projeto científico. Cheguei ao ponto de quase desistir. Minha ex-companheira, à época, relatou-me muitas vezes que durante o sono eu efetuava uma verdadeira palestra científica entre as cobertas. Curioso, perguntava sobre o que efetivamente discursava e, assustadoramente, minha ex começava a relatar nomes e nomes de pesquisadores que eu lera. Ou seja, um delírio total. Pois bem, numa certa manhã apareceu-me, praticamente do nada, uma experiência que não havia realizado. Não deu outra. Levantei correndo, tomei banho e café e tal qual um relâmpago cheguei ao laboratório. Resultado: reverti o fenômeno, naquele momento tive a certeza do meu doutoramento. Porém, levei mais dois anos na tentativa de explicar o que havia acontecido. O bicho era “capetudo”, pois lidava com um processo que acontecia numa escala de 10 micrômetros. Tal trabalho foi publicado na maior revista japonesa, de então, o ISIJ. Passaram-se quase vinte anos e ainda o “bichinho” aparece em trabalhos especializados.
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      Bem, Luiz, essa é a prova que posso lhe dar nesse instante. Não é uma prova médica, porém creio que o descrito (em 1) e 2)) foi fruto de mecanismos pertencentes ao inconsciente, pelo menos até o momento não consigo ter outra explicação.

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    4. Você é um fofo mesmo, Ramiro.
      Uma prova da existência do insconciente a partir da suas experiências pessoais e subjetivas.

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  8. Se puder me passar as referências anti-Freudianas em Canetti e Huxley ficaria agradecido. (Os títulos onde aparecem as inventivas, digo).

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    1. Huxley em uma de suas famosas entrevistas à Paris Review. Canetti, em sua maravilhosa trilogia autobiográfica ("uma luz em meu ouvido", a língua absolvida" e "o jogo dos olhos"), indispensável para todo pretendente a intelectual e pensador (aqui ou nas distâncias canadenses), e "massa e poder" é todo uma antítese a Freud, uma contestação a Freud (neste livro há insights à la Freud muito divertidos, como a análise de que rimos instintivamente quando assistimos a queda literal de alguém no chão, por retornar nossa concepção intuitiva cerebral de que o que cai é caça: rimos de alguém que cai por substituição a não podermos comê-lo. Essas gracinhas retóricas).

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  9. O título "Massa e Poder" instintivamente me interessa. Lembra o tipo de textos produzidos pela escola de Frankfurt. Vou atrás.

    Vez ou outra me recordo de você quando passo pelo meu sebo predileto aqui da cidade. É que tem uma cópia de artigos seletos do século XX da Paris Review que segue rejeitado e desprezado na prateleira por mais ou menos uns dois anos...

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    1. Hierosolimitas rejeitando essas entrevistas da Paris Review?

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    2. Os Sarracenos não lêem o Paris Review of Books.

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    3. Então esse é o sinal da guerra. Vamos invadir a cidade.

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    4. Minto, Luiz. Já li também, de Freud, sobre o caso Schreber, aquele mesmo que escreveu suas memórias e intitulou-as como "Memórias de um doente dos nervos", que também li. Fui fascinado pelo Schreber após ler o sensacional capítulo que Canetti dedica a ele em Massa e Poder. O sistema que a paranoia dele criou para interpretar a existência é absolutamente aterrorizante e claustrofóbica.

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    5. Lembro de ter lido Massa e Poder em 2011 - quando passei a vir aqui umas trocentas vezes por dia - de pé, entre as estantes de Literatura Alemã na universidade, apoiado entre os espaços de livros emprestados, durante uma semana inteira em que preferi "perder tempo" na biblioteca no lugar de ir à aula. Fazer o que, né?, fiquei hipnotizado.

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    6. Por falar em Sarracenos pilhando a cidade, viu lá como os protestos populares em São Paulo são solenemente ignorados pelo Milton e pelo Sul21 quando o Hadad está do lado do poder?

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    7. Já me perguntava por onde andava o Matheus.

      Charlles,
      Pelo que você diz, me parece que o "Massa e Poder" tem parentesco com outra crítica ao Freudismo, aquela do Anti-Édipo de Deleuze e Guattari (que por sinal não li ainda inteiro por conta do cabalismo da linguagem de Deleuze). Aliás, sempre gostei muito do nome desse livro, o Anti-Édipo.

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    8. Ah, Luiz, mas esse é o padrão deles, né. Ainda mais o Sul21, que tem relação direta com o governo estadual do PT. É a "nossa" Carta Capital. Engraçado que na matéria em NENHUM MOMENTO cita o nome do prefeito querido pelo Lula ou fala em "prefeitura".

      Mas o pior sempre se encontra nos comentários: "Para mudar só com muito povo na rua.Pelo fim da ditadura da democracia formal burguesa!"

      Claro, a "burguesia" é o problema.

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    9. Eu tô aqui, Luiz, lendo os comentários dos NOBRES DOUTORES (ns). Poxa, notaste minha falta, tô emocionado! Irei agora ao trabalho - cheio de petistas e outros que lutam por uma sociedade mais justa, diversa e igualitária (nonsense eterno deles) - bem feliz haha.

      *Cara, há séculos que quero te perguntar: és judeu? Tem algum RABICHO com alguma pessoa judia? Tenho essa curiosidade pq não conheço nenhum judeu e todo dia leio um rapaz, brasileiro, que está no Canadá estudando Judaísmo. Se estou abusando, desculpa aí.

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    10. Deixo claro que, tirante alguns excessos, eu apoio os Sarracenos. O que me deixa perplexo é o cinismo do realpolitik da moda. Há pouco o Milton era todo entusiasmo com o movimento popular de protesto contra o aumento das passagens que começou aí no Sul.
      E é certo que não é EXATAMENTE a subida de tom em São Paulo que explica o desinteresse da inteligentsia do PT pelo que ocorre agora em SP...

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    11. Matheus, eu não sou doutor de coisa nenhuma. Como sempre digo, me agarro firmemente em minha condição de leigo e não a largo por nada.

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    12. "Nobre Doutor" sou eu dando honoris causa pra vcs ;)

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  10. Matheus,

    Não sou Judeu não. Mas de fato estudo Judaísmo Antigo. Na verdade, e isso é matéria de perplexidade para a turma do departamento de Judaísmo daqui de Toronto, eu sou o único pesquisador do programa que se propõe a estudar o Judaísmo sem se interessar nada pelo Hebraíco. (Pesquiso a literatura Judaíca antiga em grego)
    Mais ou menos como o contrasenso de um brasileiro, que raramente dá de frente com um Judeu, dar na telha de estudar essa tradição.

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    1. Obrigado por matar minha curiosidade, Luiz. Se possível, que livros recomendarias sobre a questão da "Nação Judaica", possíveis de se achar aqui no Brasil?

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    2. Livros sobre a questão do Estado Laico de Israel?

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    3. Hum, ficou bem vaga minha pergunta. Perdão.
      Livros que talvez falem sobre o "lugar dos judeus" ser em Israel; que apesar de ficarem mil anos espalhados pela Europa, principalmente em sua parte oriental, fosse na Polônia ou na Rússia, nunca foram ou sentiram-se integrados nas sociedades em que viviam, permanecendo "afastados do mundo" em seus guetos. Tentando entender um pouquinho sobre hassidismo, Ahad Haam, Dubnow, Bundm Herzl e Sionismo em relação a isso. Ficou um pouquinho melhor?
      Sou total ignorante em matéria de judeus, o mais próximo que cheguei perto de sua cultura foi passar em frente de uma sinagoga no Bom Fim quando minha madrinha lá morava. Estou me sentindo como Jerry Seinfeld, procurando ter maior contato com ~ black people ~ em plena NY no meio dos anos 90...

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    4. Oi, Matheus.
      Cara, se você conhece mesmo de nome Herzl e Dubnow (principalmente o último), então com certeza você é bem mais que um iniciado no assunto.
      Sionismo não é bem o que eu faço. Interessa-me a questão da construção da identidade do Judeu moderno. Aqui eu indicaria com muita ênfase os livros de David Biale e Daniel Boyarin (Boyarin é o Talmudista que é referenciado no início do filme israelense The Footnote). De David Biale tente o Cultures of the Jews: A New History.

      http://www.amazon.com/History-Jewish-People-Jesus-Christ/dp/1565630491/ref=sr_1_72?s=books&ie=UTF8&qid=1371127106&sr=1-72&keywords=History+of+the+Jews

      Do Boyarin eu recomendo muito o Unheroic Conduct: The rise of Heterossexuality and the Invention of the Jewish Man. Pode parecer que o livro pelo título tem um nicho bem específico da história cultural em vista. Mas na realidade, o que ele trata é de como a identidade do Judeu é transformada, da imagem medieva do Judeu feminino, não-viril, apolítico, para a do Judeu militarizado, político, viril, a partir do Sionismo e da criação do Estado de Israel.

      http://www.amazon.com/Unheroic-Conduct-Heterosexuality-Contraversions-Literature/dp/0520210506/ref=sr_1_5?ie=UTF8&qid=1371127562&sr=8-5&keywords=Daniel+Boyarin

      Sobre a história da formação do Judaísmo clássico, o tratado de cinco volumes de Emil Schurer continua sendo leitura obrigatória. History of the Jewish People in the Time of Jesus Christ.

      http://www.amazon.com/History-Jewish-People-Jesus-Christ/dp/1565630491/ref=sr_1_72?s=books&ie=UTF8&qid=1371127106&sr=1-72&keywords=History+of+the+Jews

      Agora, se essa literatura existe em português, não sei dizer. Acho provável que não. Não existe ainda no Brasil estudo laico de religião.

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    5. Muito obrigado pelas indicações, Luiz! Estava tateando no escuro. E em português tem pouca coisa mesmo, somente uma ou outra obra de cada um deles, edições bem antigas e raras.

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  11. Para me defender, Ulysses,

    "Jewgreek is greekjew"

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    1. Eu aqui em meu canto fugindo de confusão e você querendo me arrastar para ela. Sobre o Sul 21 e suas omissões, não difere do que se faz nos jornais publicitários espalhados por toda a net. Todo mundo precisa ganhar seu pão de cada dia. Mas os que vivem disso sabem que não tem, em compensação, autoridade nenhuma de criticar ninguém. Fico imaginando se eles dominassem o monopólio da mídia. Que alívio que ainda seja a revista dos Civita. Não se dá asa par cobra.

      Mas as revistas de esquerda ou perdem oportunidades valiosíssimas ou são mesmo muito covardes. Mais uma vez minha surpresa por eles não usarem da mesma arma que as revistas da direita. Se eu fosse editor de uma dessas publicações progressistas estaríamos rachando de ganhar dinheiro, nem que fosse para sustentar o preço das indenizações por danos morais. Ontem mesmo começou aqui no meu estado um convite truculento para a briga do Cachoeira para o governador. E nenhuma das publicações da esquerda aproveitaram o furo. Coisa de capa, mas nada...

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