quarta-feira, 26 de junho de 2013

O sorriso



"Há uma fotografia, tirada por volta de 1945 em Islington, de Orwell com seu filho adotado, Richard Horatio Blair. O garotinho, que devia ter uns dois anos na época, está radiante, repleto de felicidade. Orwell segura-o gentilmente, com as duas mãos, também sorridente, satisfeito, mas não eufórico_  é mais complexo que isso, como se tivesse descoberto algo ainda mais valioso que a raiva_, com a cabeça um pouco inclinada, um olhar prudente que pode trazer aos cinéfilos a lembrança de um personagem de Robert Duvall, em cuja história pregressa havia visto muito mais do que alguém poderia desejar. Winston Smith "acreditava ter nascido em 1944 ou 1945...". Richard Blair nasceu em 14 de maio de 1944. Não é difícil adivinhar que, em 1984, Orwell estava imaginando um futuro para a geração de seu filho_ não um mundo que desejava para ele, mas um contra o qual queria alertá-lo. Ele não tinha paciência para previsões do inevitável e permanecia confiante na habilidade das pessoas comuns de mudar as coisas, se quisessem. Em todo caso, é para o sorriso do garoto que retornamos, um sorriso direto e radiante, saído da fé inabalável de que o mundo é bom, no fim das contas, e de que podemos sempre confiar na decência humana, assim como no amor paterno_ uma fé tão honrada que quase podemos imaginar Orwell, e talvez nós mesmos, por um instante que seja, jurando fazer tudo o que deve ser feito para mantê-la livre de traição." (Thomas Pynchon)

8 comentários:

  1. Bá, que bonito isso. ora quem tem filho deve ser mais ainda.

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  2. Uma coisa bem estadinidense de compor uma cosmogonia tendo a família como centro. Apesar disso, nada me deixa mais puto que essa patrulha comportamental segundo a qual nós temos que fechar a cara para o mundo porque ele é mau, bobo e feio e por isso nós não falamos mais com ele senão através do diálogo das explosões. As alegrias cotidianas não resistem à forma absoluta, mas à miséria, sim, conforme atestam milhões de imagens de adultos e crianças despossuídos mas que, mesmo assim, sorriem entre brincadeiras. O mundo é chato, cruel e estúpido e por isso é que nós falamos com ele, porque ele é como nós e podemos, assim, rir de nossa própria desgraça, quase que com inocência.

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  3. Orwell - talvez ao lado de Camus e Sábato- é um daqueles que ainda merece reflexão. Quando o li estava muito contaminado pelo dogmatismo materialista. Apesar de entendê-lo, não lhe dei o devido valor à época. Orwell foi um escritor que teve a coragem intelectual de desnudar o socialismo real. Tais seres são raros, pois a média da dita intelligentsia é o que hoje, no Brasil, estaria metaforicamente representada pela profundidade de uma reunião de comentaristas de futebol, quero dizer: aqueles cidadãos acima de qualquer suspeita, mas que na realidade não passam de cruéis caçadores de bodes expiatórios… Tal gentalha cabe na síntese duma simples pergunta: CADÊ O CULPADO? Pois sempre deve existir um culpado (ou um grupo, ou um partido, ou uma nação, ou uma ideologia, ou uma civilização).
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    Todavia, na maior parte das vezes, em situações críticas de uma dada civilização, a barbárie disfarçada, com diferentes máscaras, é democraticamente distribuída e aceita por grande parte da população pertencente a um dado tempo histórico.
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    Orwell andou a namorar com a autogestão social (principalmente devido a sua experiência concreta na Guerra Civil Espanhola). Questão polêmica, pois sempre está próxima da complexa ideologia anarquista que no papel parece viável, todavia, até aonde sei, nunca chegou socialmente a nada.
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    Conheci alguns indivíduos que tentaram concretizar as ditas micro-sociedades-alternativas-tupiniquins, sempre regados a muito álcool, maconha, rock e Raulzito… Embora nunca tenha participado efetivamente de nenhuma delas, durante uma dada época convivi próximo de tais bípedes “revolucionários”. Sem qualquer dúvida, foi quando me deparei com os maiores canalhas dessa minha quase estúpida existência. Paulatinamente, tais seres se tornaram piores - mas muito piores!! - do que aqueles ou aquilo que supostamente combatiam (alguns quase assassinaram suas mulheres na porrada; alguns e/ou algumas, em processos complexos de separação, armaram falsos testemunhos judiciais para efetivamente inviabilizar a vida de seus, ou de suas, ex(s), não importando aí a existência de filhos; outros enlouqueceram; poucos se mataram; algumas tornaram-se prostitutas disfarçadas; outros deram golpes econômicos na praça; alguns tornaram-se microempresários pendurados no saco de entidades sindicais oportunistas; outros tentaram virar literalmente “santos” em comunidades esdrúxulas; alguns entraram em ONGs; e por aí vai…: o poema “Esquerda de Merda”, que publiquei anteriormente aqui, trata de tais espécimes).

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    1. Quem é culpado? Ora, todos os inocentes.

      Autogestão, já escrevi algo parecido noutro lugar, só dá certo em sociedades menos complexas. Mas dá para combinar estruturas institucionais com permeabilidade social que aproxime o cidadão da construção da históroia, tirando dele a impressão que ele é um espectador de tudo.

      Desses outros que você fala sobrevivem os budistas, rematados canalhas que sorriem com o olhar mais cândido do mundo enquanto operam a máquina de triturar corpos alheios, pois consideram que, se a dinâmica social o exige, a culpa não se instala na mente do homem são.

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    2. NA TERRA DOS ELEFANTES
      by Ramiro conceição
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      Marcos, não morri do coração, pois ele deve ser muito forte ainda… Lembra, meu amigo, duma recente novela da Globo sobre a Índia?... Pois é, custo a acreditar que possa haver outro produto cultural tão bem acabado à mistificação social, pois ali foram investidos milhões de dólares…
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      Contudo, a História, que nunca foi a prova dos nove - que não existe – ou seja, é a real matemática a descrever a realidade crua e nua, demonstrou recentemente o seriíssimo problema social daquele país associado às mulheres!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Isto é, enquanto no Leblon, uma classe B (ou A), extremamente ignorante, acende velas a um ELEFANTE…. Lá, NA TERRA DOS REAIS ELEFANTES, mulheres são estupradas coletivamente por machos ensandecidos… É muito triste o que vou escrever agora, chega a estremecer meu coração:
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      A AUTORA DA (MAL)DITA NOVELA NÃO ENTENDEU A TRAGÉDIA DO ASSASSINATO DA PRÓPRIA FILHA…
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      Ela vive, NÃO SEI COMO, do dinheiro ideológico SUJO de sangue… (Nessas horas, Marcos, vou pro quarto escuro e rezo… - diante da mediocridade humana…).

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  4. PORQUE HOJE É SÁBADO: VIVA SÃO PEDRO!
    by Ramiro Conceição
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    Hoje, 29.06.13, dia de São Pedro, tudo começa a voltar ao normal… Farei algumas reflexões baseando-me na cidade de Vitória, ES, pois aqui, justamente, em 20.06.13, foi onde acorreu, relativamente à população da cidade, talvez, a maior manisfestação do Brasil, isto é, dos 350.000 habitantes - mais de 100.000 foram às ruas. Assim, considerarei a capital capixaba como uma excelente amostra representativa do universo da população brasileira associada aos últimos eventos ocorridos em nossa República. Vamos lá…:
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    1) Ontem, 28.06.13, menos de 5.000 estiveram nas ruas, ou seja, 5%, aproximadamente, daqueles do dia 20. Como de costume, o protesto teve um início pacífico, mas depois o pau comeu, quer dizer, a mesma rotina daquela rotineira minoria. Em grande escala, os capixabas, ainda sem perceber claramente o seu “voluntarismo político”, começaram a se dar conta que foram cuidadosamente manipulados pela grande mídia e, principalmente, nas ditas redes sociais… Quero dizer: na semana que vem, sem precisar ser nenhum grande bidu, o tal movimento se fu!!!… Ou seja: às ruas, estarão os imberbes estúpidos de sempre: os famigerados mascarados - da classe média - aqueles (mal)ditos de esquerda do movimento estudantil, que deram início a tudo em São Paulo, no início de Junho; mas, com certeza, os profissionais mascarados por que não são idiotas, tais quais aqueles primeiros, voltarão às tocas costumeiras até a próxima grande oportunidade de saque;
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    2) Contudo, o golpista conservadorismo brasileiro, sempre de plantão, não para (eh, acordinho ortográfico…). Pela rede, uma greve geral andou a balbuciar para segunda-feira, 01.07.13, mas, claro, deu “chabu”, então, o novo fogo de artíficio conservador adiou o estrondo, o seu rugido, para o dia 11.07.13;
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    3) Enquanto isso, o PIG e seus asseclas continuam, a qualquer custo, minar o governo Dilma: ora, minhas senhoras e meus senhores, redundantemente, o objetivo deles é isso - e só isso!; quer dizer, é aquela famosa matemática de um único número: 2014… A prova disso é que um dos arautos de tal conservadorimo, em seu protegido poleiro, hoje, ressalta que Dilma perdeu 27 pontos percentuais em seu prestígio… O conhecido galináceo em sua argumentação utiliza uma pesquisa da Folha… Coitadinho… Vamos a ela… O tal galináceo, posando de honesto, mas, tal qual parônimo, pousando em sua “fraquinha” lógica ideológica, rascunha “O Datafolha fez uma pesquisa, com MARGEM DE ERRO ENORME, de 4 pontos percentuais, só entre os manifestantes da passeata realizada no dia 20 em São Paulo”. Ora, ora, ora, não é necessário ter doutorado em estatística para desvendar, não o rojão de cinco tiros à noite de São Pedro, mas a mais infantil das “biribinhas” que estourou no biquinho do bípede…: a) primeiro, a amostra é viciada, pois representa somente o universo constituído pelos participantes das manifestações; b) segundo, o mais grave, pois aí revela “mala fides”, pois o valor médio de 30%, com desvio-padrão de 4%, resulta num coeficiente de variação estátistico, isso é, o quociente entre o desvio-padrão e a média, igual a, aproximadamente, 0,13; estou a admitir, aqui, que a distribuição seja uma curva de Gauss. Talvez tenha sido utilizada a distribuição “t”, associada à pequenas amostras, não sei… Portanto, é uma irresponsabilidade jornalística!!!, que o tal Galináceo cometeu… É bom lembrar que o dito-cujo se autodifine como conservador a proteger o estado de direito democrático (quero deixar claro que respeito tal salutar posição, desde que exercida com honestidade intelectual…: o conservadorismo, numa democracia real, faz muito bem, pois é um contraponto sempre a ser considerado…; sem ele estar-se-á numa ditadura - de esquerda ou de direita - que, efetivamente, não convém);

    (cont...)
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    1. (cont...)
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      4) Enquanto isso, lá, no manicômio de Brasília, o Senado e a Câmara tentam mostrar serviço ao Povo, pois perceberam que rojões estão sendo fabricados para serem colocados em cada respectivo traseiro…;
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      5) Enquanto isso, lá, no Palácio do Planaldo, Dilma continua a ser pessimamente assessorada… Tal fato é extremamente preocupante…;
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      6) Então, o que resta à militância política que deseja verdadeiramente a continuidade do estado de direito no Brasil, não importando a possível derrota ou vitória em 2014? O mais urgente possível fazer uma interlucção sadia em todas as redes sociais…
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      7) VIVA SÃO PEDRO (ora, é claro que não sou católico)!!

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  5. errata: interlocução e não "interlucção"

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