quinta-feira, 7 de junho de 2012

E. M. Cioran II





Sem Bach, a teologia seria desprovida de objectivo, a Criação fictícia, o nada peremptório.
Se há alguém que deve tudo a Bach, é seguramente Deus.


(Meu agradecimento ao Cassionei Petry por ter me apresentado esse cara)

13 comentários:

  1. Um dos maiores aforistas de que tenho notícia.
    Discípulo de Nietzsche e um de seus maiores comentadores.
    Tenho um apreço muito grande por seu Breviário de Decomposição. Mas sempre que retorno a esse livro sou infectado pelo niilismo do romeno.
    Da mesma obra gosto muito de "A vida só é possível pelas deficiências de nossa imaginação e de nossa memória."

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    1. Excepcional esse aforismo que você cita! Realmente não o conhecia, só por hora ou outra ter visto o nome em algum lugar. O que é um ótimo sinal de evidente incompletude: sempre há algo de novo por conhecer nos livros.

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    2. Na ensaística Emil Cioran é tão bom quanto Albert Camus. Nada li de literatura do Romeno e ignoro se escreveu romances.
      Ele trabalha dentro de uma tradição niilista que acompanha bem de perto o Absurdo do Franco-argelino. No caso, Cioran fala do Tédio.

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    3. Como disse o Cassionei, abaixo, a obra publicada de Cioran por aqui é pouca. O que você diz me deixa ainda mais ansioso por ler o romeno. Notei mesmo a semelhança da intensidade que expressa muito por detrás da crueza dos aforismos dele com a escrita de Camus. Me fez lembrar uma vez quando li um estudo bibliográfico sobre o argelino, na coleção Prêmio Nobel, cujos aforismos citados me pareceram de uma pureza de dar inveja.

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  2. Quanto honra ter te apresentado a ele, tu que tens uma grande bagagem literária.
    Os aforismos do Cioran estão entrando de uma forma no meu romance, que não tenho como segurar.

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    1. Cassionei, você sabe que todo dia estou ligado em seus textos e em suas indicações. Agora mesmo estou esperando o tratante de um amigo meu que marcou aparecer por aqui à tarde para juntos encomendarmos com algumas economias guardadas uns dois livros cada pela Livraria Cultura, mas nada dele aparecer. Em minha lista estão dois do Cioran, o volume sobre Baudelaire de Walter Benjamin, e o segundo e terceiro volumes do Teu Rosto Amanhã, do Marías. Claro que vou filtrar essas querências, mas não me vejo muito disposto a abrir mão do Cioran.

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  3. Não abra mão, até porque o Cioran é um pouco raro por aqui. Estou suprindo isso com alguma coisa em espanhol, baixada aqui e acolá.

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    1. Os títulos nacionais do Cioran pela LC são até bem baratos. Já que somos devoradores de livros, acho que é perdoável eu falar de compras: encomendei "História e Utopia", "Breviário da Decomposição" e "Silogismos da Amargura". Pedi também para as crianças o "Três Sombras", traduzido pela Bensimon, e o "Microcosmos", que já faz tempo que estava namorando desde que fui agraciado pela maravilha de "Danúbio".

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  4. Para variar, discordo. A teologia se sustenta sem Bach, e vice-versa. Se há alguém que deve muito (mas não tudo) a bach, são seus ouvintes. O resto são bazófias de pretenso gênio. Godard já provou que aforisma tem tanto a ver com pensamento quanto os filmes dele tem a ver com cinema: porra nenhuma.

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    1. Um bom aforismo pode valer por um volume de 600 páginas. Já os li de Kafka e Nietzsche o suficiente para ficar pensando neles por toda a vida. O alemão dizendo só ser capaz de acreditar em um deus que soubesse dançar, ou, com uma brusca quebra de ternura em seu amargor típico, afirmar que estamos nessa existência errática não pelo poder ou pelo intelecto, mas pelo amor; e o tcheco dizendo que uma gaiola voa atrás de seu pássaro, ou que o cavalo de Napoleão desistiu das andanças para se dedicar a ler antigos livros sobre batalhas: poucas coisas possuem tal força.

      E aforismos, a meu ver, pouco tem a ver com a Verdade, seja o que isso queira dizer. São mais aquela sensação de aterrorizamento e premonição produzida pelo arrepio de se escutar uma trompa de caça soando numa noite escura.

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  5. O aforisma tem tudo a ver com o pensamento. Se encontra na raiz do mesmo e representa o fundamento tanto do saber pré-científico quanto do racionalismo. Basta ler um pouquinho dos aforismata pré-socráticos para sentenciar que Aristóteles não seria nada sem o saber minimalista dos aforismas de um Empendócles ou de um Epícuro.

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  6. O aforisma é a patada do gênio enquanto jovem cavalo.

    Mais vale um pássaro na mão do que dois filósofos voando.

    Heráclito fluiu até a experiência científica da barragem transformar o rio em energia com o uso de cálculos precisos; depois disso, restou-lhe a fama da precisão do poeta.

    Enquanto a poesia falou alemão ela fulgia como a filosofia grega clássica; mas a poesia nunca falou alemão.

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  7. Dos aforismata pode-se também adivinhar Homero certamente. Do ritmismo e do paralelismo das sentenças à encarnação e complexificação da oralidade na poesis... o verbo que se faz carne.
    O aforisma é a patada do gênio enquanto jovem cavalo? Negativo.
    Talvez esteja pensando mais em La Rochefoucauld quando diz isso. O aforismo não se prestou apenas à construção da sabedoria milenar hebraica ou do moralismo helenista.

    Tentei evitar Heráclito. Não é no entanto o seu aforisma do rio que não se repete o ponta-pé da física e cosmologia grega? Coice do jovem cavalo? Seria pretensão demais afirmá-lo.

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