terça-feira, 12 de junho de 2012

De Novo


 Não quero aprender a viver, quero descobrir a vida de uma vez e para sempre. (Juan Carlos Onetti)

12 comentários:

  1. ...e como não descobrirei, poderia prosseguir Onetti, viverei a aprender tudo - mas de má vontade!

    Aqui não somos entusiastas do autor. Acontece. Cruzamos leituras por caminhos distintos; às vezes nos encontramos em uma interseção rápida, mas penso que o que desconhecemos ajuda a propor novas luzes e cores àquilo que julgamos conhecer. Você acha que isso é um aprendizado?

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    1. Tenho bem poucos autores que nutro antipatia, Rachel. Deixe-me ver: Henry Miller, e mais ninguém. Não gosto, por exemplo, do Salinger superestimado, mas li o Salinger mediano do Apanhador com o deleite na medida certa. Onetti foi uma descoberta de apenas um ano, vindo desta interseção a que menciona. Um grande aprendizado.

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    2. Charlles,
      Tenho curiosidade de saber que Henry Miller você leu deixando-o tão assim assim.
      O trilogia do Rosy Crucifixion é um tour-de-force. Ainda mais quando você contextualiza os três livros na época em que foram escrito. O grande problema de Miller para mim, problema nada atípico entre grandes autores, é o de não ter sabido quando terminar os seus livros. Por vezes eles se arrastam para além do seu frustrado clímax.
      A mim, que o arquétipo do intelectual vagabundo enternece, foi irresistível o encontro com o Henry de Sexus.
      Mas admito que Miller foi maior em composições de esparsos parágrafos soberbos do que um soberbo romancista.

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    3. Acho que li umas cem páginas de Nexus, há alguns anos, Luiz. Há textos esparsos interessantes de Miller, coisa que pode ser emoldurada e pendurada na parede. Mas não gosto dele por não ver a mínima originalidade, e um tanto de pieguismo erótico e de filosofia on the road americana.Penso que ele escrevia mal, com aquela cor exagerada, aquela necessidade toda de passar uma desesperada certeza de se estar vivendo intensamente. É o único escritor com o qual não consegui o recolhimento para lê-lo. Há outro com o qual mantenho a mesma postura: Updike. Mas de Updike li Coelho Fica Rico, e não foi de todo desagradável. Tenho um medidor de valor de livros aqui, que assinala qualidade naqueles que podem ser relidos. Mal consegui ler cem páginas de Miller, e já sei que jamais perpetraria uma releitura. Também não releria Updike. (Isso é preconceito, eu sei.)

      Também gosto do intelectual vagabundo. Tenho Hamsun ("Fome"), e George Orwell ("O caminho para Wigan Pier"), como exemplos desse gênero.

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  2. Toda descoberta é fruto de um ritual baseado em engodos, uma epifania a nadar em um vazio de intelectos soberbos, isso se tu não és um cientista; se és, a descoberta é uma figura aberta em interrogações, e não bastará a ti uma vida para responder sequer a um mínimo delas, ao menos sem abrir outras e igualmente infinitas dúvidas.

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  3. Resta dizer que a máxima é dita pelo narrador de Junta-Cadávares. Um rapaz de 16 anos.

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    1. Realmente essa informação faz toda diferença; é quase impensável ouvi-la de alguém com mais de, digamos, 22 anos. Daí a armadilha de por uma frase de um personagem na boca do velhinho aí da foto; a gente fica a pensar - pô, catzo, que velho tolo!

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  4. Marcos,
    Ultimately, essa é a nossa maior diferença. Adivinho você entrando nos cinquenta. Sou aí uns 15 anos mais novo que você. Aguardo com certa ansiedade um pouco da impertubabilidade que o tempo confere.
    Mas há que se manter aberto ao assombro, não?

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    1. Faço coro com você, Luiz. Não vi a idade por detrás dessa frase de Onetti. Nada é mais distante para mim que qualquer tipo de conformismo que se atribua à velhice. Acho o Marcos por demais inteligente para se permitir dizer tais coisas, mas não me assombro por sabermos da técnica nunesca de procurar sempre a provocação. Se há uma coisa que rejeito peremptoriamente é o culto à adolescência_ coisa que o Marcos não faz, seja dito. Se não fosse o "se manter aberto para o assombro", o que seria da literatura e do pensamento? As maiores obras, as maiores páginas e ideias, vem de escritores que as produziram acima dos 40, 50,60, 70 anos.Os exemplos são excessivos, e pelas horas de leitura demonstradas pelos visitantes que ora vem aqui, não é preciso externá-los.

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    2. Um único exemplo: Tolstói fugiu de casa aos 80...

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    3. Continuo a achar a frase restrita à sua aplicação, isto é, denunciar um estado de percepção e intelectualidade de um jovem. isso não quer dizer que ser jovem é uma garantia de precariedade; talvez se trate de um determinado jovem, não de todos os jovens pois eles, como os velhos, diferem muito entre si. Há aqueles que gostam de heavy metal, há os que curtem madonna, há os que tocam violino, os que leem Hesse e os que leem Calvino, além da grande maioria, é claro, que não lê porra nenhuma.

      O Tolstói tava piradinho quando fugiu de casa. Talvez tenha sido um ato reflexo de uma necessidade suicida sublimada. Aliás, Tolstói foi pirado a vida inteira, pobre infeliz. Eu acho que no livro do padre Sérgio ele fala de si mesmo e de suas inexauríveis contradições para não se desesperar por tê-las por insuperáveis.

      Ah, especificação: tenho 51 anos. Mas é claro que o rock'n'roll não morre. Já eu...

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  5. Em termos psicanalíticos Tolstói seria um perverso, qual seja, sua narrativa pessoal segue emperrada no mesmo lugar, repentido a si mesma indefinidamente. Quer dizer, sua narrativa pessoal é impedida de progredir de forma apropriada (e.g. como fugir de casa aos 80 anos).
    Eu acho que a citação do Onetti tem a ver com a juventude. Minha discordância com o Marcos, em jargão psicanalítico, é a de que não consigo conceber a narrativa pessoal (falo aqui antes dela do que da literatura, que é como um simulacro da primeira) sem que se intrometa nela (vez ou outra, ou para alguns, vez e muita) o retorno do assombro da juventude. Isso sem falar de que a linearidade dessa narrativa é também uma balela. Mas me falta aqui imaginação geométrica para desenhar essa narrativa pessoal, posto que não é também o círculo do eterno retorno.
    Isso aí deve ter certamente consequências por sobre a maneira como se aprecia a literatura também (embora essa narrativa menor tenha menos interesse a mim por agora)

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