domingo, 18 de março de 2012

Notas Sobre Duas Leituras - Roth e Bolaño


Como Philip Roth é ostensivamente vaidoso! Não conheço nenhum outro escritor que seja tão auto-referente e mantenha uma sistemática organização em torno de sua figura icônica de literato. Já havia tido um exemplo disso em Operação Shylock e O Avesso da Vida, e de novo encontro esse meta-egocentrismo em Zuckerman Acorrentado. Se tivesse que resumir do que esse último trata, a única resposta coerente seria: de Philip Roth. Especificamente da fama e dos milhões conseguidos depois da publicação de Complexo de Portnoy. Roth/Zuckerman translada em torno do antes e do depois de sua proeminência definitiva no mundo das letras americanas com Portnoy/Carnovsky. E esses sintomas evidentes de egolatria são ainda mais didáticos quando se tem como leitura paralela o mais recente lançamento no mercado nacional de Roberto Bolaño, Chamadas Telefônicas

Roth tem um adendo fundamental que não o faz se perder na mera chatice, que é seu enorme talento e sua capacidade inigualável de dar coerência a seu universo particular. Ele desempenha essas duas qualidades num nível tão alto que é evidente que se faria um grande escritor em qualquer ambiente e sob quaisquer imposições conceituais de geografia e política. Coube-lhe nascer no país onde o Mercado mais poderoso do mundo tanto oferece pleno surtimento às artes quanto lhe impõe alguns sacrifícios matizados. Não é pouco o peso que a América sobrecarrega nas costas de seus escritores da última metade do século passado para cá. Não é à toa que esse fardo faz com que seus escritores procurem a prova de seus conteúdos reais em explorações de níveis mais espiritualmente relevantes de experiências humanas. É um capítulo à parte da literatura norte-americana a busca de seus romancistas pela legitimidade orientalista. Daí Roth ter sido, por um bom tempo, editor de autores do leste europeu, e ter escrito Shylock; daí o Bellow de Dean´s December; o Franzen da parte lituana de As Correções; o Updike de seus romances "brasileiro" e "africano". Mas dessas aventuras, mesmo Bellow perde para Roth no quesito de poder imaginativo. E mesmo Bellow fica um nível abaixo diante da profunda percuciência textual dessas cenas produzidas por Roth. Algumas das páginas mais bem escritas de Roth podem bem ser identificadas nas da descrição do julgamento de Demjanjuk, o acusado de ser Ivan, o Terrível, o carrasco das câmaras de gás de Treblinka, em Operação Shylock. E no primeiro romance do volume Zuckerman Acorrentado, intitulado O Escritor Fantasma, há um capítulo magistral sobre uma hipotética sobrevivência de Anne Frank que se enche de uma experiência nos campos de concentração que só tem um detalhe desabonador: é tudo fruto da imaginação e da escrita de Roth.

Como se lhe faltassem assuntos, Roth brinca em Zuckerman Acorrentado em inventar significâncias. Esbanja com a maior má fé um talento grandioso para a escrita, driblando a escassez de experiência relevante com imposturas acompanhadas claramente da confissão de seu isolamento em uma vida sem profundidades. Em determinada altura de Zuckerman Libertado (um dos 3 romances e 1 epílogo que compõem o volume editado pela Cia das Letras), escreve que o cotidiano insosso de Zuckerman poria qualquer leitor para dormir, com as descrições de seu alter-ego em experimentar ternos de 3 mil dólares e suas mornas aflições sentimentais_ e isso depois de ter brindado em seu texto justamente longas páginas onde a única coisa que acontece são experimentações de ternos de 3 mil dólares e mornas aflições sentimentais. Roth aqui apenas mostra seu lado departamental de escritor profissional bem organizado que escreve seis páginas diárias, haja o que houver. E seu egocentrismo_ mesmo posteriormente suavizado com a descoberta de que Zuckerman distancia do verdadeiro Roth, como o fato do pai do autor real ter sido mais longevo que o do autor fictício_ chega a ser incômodo para o leitor que não conheça os grandes livros da trilogia americana e O Teatro de Sabbath; muitas vezes se vê ali o mesmo encanto pela fama e pela fortuna que nas entrevistas com astros do rock, e nem sempre a dosagem de substância oferecida serve para maneirar a exposição exageradamente vaidosa do quanto O Complexo de Portnoy/Carnovsky fez bem para às contas bancárias de Roth. Não é um livro recomendado para iniciantes a Roth, com riscos de que jamais se abra os livros importantes que vieram depois, que nada tem desses jogos dúbios. Roth é um autor tardio, por mais que tenha se iniciado cedo nas letras. Só seus romances da maturidade tem escopo para durar. O resto_ as pequenas diatribes e diversões_ ainda que sirvam para regalar seus admiradores com sua escrita afiada e sua inteligência incansável, não sobreviveria por si mesmo.

Chamadas Telefônicas serve de completa antítese política e social ao livro de Roth. Roth mostra um mundo quase absurdo em que escritores e pensadores vivem como estrelas de cinema, perseguidos por fãs ardorosos capazes de obsessões paranóicas; escritores cuja vida social tumultuada de uma Nova York babilônica sedenta pelos seus grandes gênios espirituais, lhes oferece as mais belas mulheres (artistas de cinema que vão para a cama tanto com Fidel Castro quanto com magnatas do entretenimento), carros de luxo, viagens pelo mundo para jantares com Yves Saint Laurent e diplomatas da Birmânia. Já os heróis desse volume de contos de Bolaño, como não deveriam deixar de ser, são eternos desafortunados homens das letras, resignados com o fracasso, com o descaso, com a ausência de público, em exílio de seus países latino-americanos de origem, em defasagem até mesmo com o direito de serem bons escritores. Os escritores que aparecem nesses contos são conformados com suas faltas de talento, de forma que o único atributo que eles tem é a disposição física imorredoura para a movimentação manual da escrita. Escrevem para preencher o tempo sem sentido de suas existências efêmeras, como é o caso de um dos poucos realmente bons contos dessa coletânea, Sensini, em que o escritor homônimo é um especialista em participar de concursos literários provincianos e obscuros da Espanha, cuja vitória simultânea em vários deles lhe garante não mais que o pagamento de um mês e meio de aluguel. Temos aqui a marca d´água identificadora de Bolaño: a tristeza inerente, a falta de redenção, a derrota, a falta de sentido. Há mesmo uma terna elegia ao papel social do escritor menor, em um dos contos.

Em Chamadas Telefônicas vemos a mesma disciplina para escrever e a obsessão de workaholic de Roth, também com os mesmos resultados medianos. Há contos francamente ruins, como A Neve, mas o que parece contar a favor aqui é o esforço da escrita como propulsor à procura da imaginação, à transcendência pela disciplina rígida do exercício literário. Não se deve exercer sobre a escrita as mesmas regras do que seja entretenimento atribuídas a outras áreas da mídia. Bem acima do que sugere o frescor da grife que ronda esses dois nomes, Roth e Bolaño ainda são Roth e Bolaño.

18 comentários:

  1. Põe Auster e Vila-Matas nessa lista de escritores auto-referentes.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom, de Auster eu só li Leviatã e O Livro das Ilusões_ os quais gostei muito_ que não se enquadram na categoria.

      E Vila-Matas, a meu ver, é muitíssimo menos auto-referente. Vila-Matas trabalha com as referências biográficas de outros autores, já Roth se usa excessivamente como modelo.

      Nesse ponto, só vejo um antepassado de Roth, o Hemingway.

      Excluir
  2. "Exploradores del abismo", "El mal de Montano" e "Paris no se acaba nunca" (inspirado em Hemingway) são bem autorreferentes. Quanto a Auster, "Trilogia de NY", "A invenção da solidão", "O caderno vermelho" e outros podem ser citados.
    E no Brasil?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu não sei muito sobre a vida de Vila-Matas, mas será que a ficção de Montano coincide tanto com a vida dele assim? Terá ele um filho problemático que se nega a escrever, e coisa e tais? Já Roth põe suas ex-esposas na parada e muitos aspectos de sua vida.

      No Brasil sou bastante falho. O que me vem na cabeça é o Noll.

      Excluir
    2. Em todo o livro Vila-Matas está presente. O filho, na verdade..., bem, não vou te tirar o prazer de buscar mais informações sobre a obra.
      No Noll são mais inspirações autobiográficas do que autorreferência. Meu orientado no mestrado escreveu sua dissertação sobre a obra dele, vou perguntar o que ele pensa.
      Quem sabe o Autran Dourado (por sinal, o meu preferido entre os brazucas) e seu João da Fonseca Nogueira.

      Excluir
    3. Bom, me falta conhecimento para discutir contigo literatura brasileira.

      Philip Roth parece mais explícito no aspecto da auto-referência por ser mais realista. Vila-Matas coloca pitadas de picaresco e nonsense da tradição romanesca, como a corcunda do narrador de Bartleby, os elementos persecutórios em Dublinesca, as farsas suicidas de Suicídios exemplares, e assim vai.

      Um caso de auto-referência sutil é o Bellow. Ele se coloca nos romances mas em franca desvantagem, em papel coadjuvante.

      Excluir
    4. Bellow eu não li ainda.
      A diferença entre Roth e Vila-Matas, que eu vejo, é que o segundo tem um projeto metaliterário bem claro, enquanto que o americano preocupa-se em contar histórias e a metaliteratura vem na carona em alguns momentos, tanto que nos últimos anos foi deixada um pouco de lado, "saiu de cena".
      Sobre Bolaño: dizem que o Sensini é uma referência a Antonio Di Benedetto. Estou relendo os contos, não sei se vou escrever sobre. Mas aqui são bem nítidas as referências à biografia de Bolaño via Belano.

      Excluir
    5. Bolaño aí se mostra o mesmo exibicionista de conhecedor das grandes técnicas da escrita. Não gostei de A Neve, p. ex., por ser uma historieta fraca, mas devo dar crédito que Bolaño escamoteou as chances de clichês oferecidas (e há uma parte em que o herói anda pela neve urbana russa, e vê silhuetas entre os prédios, que revela a precisão atmosférica em que o chileno era um mestre), mas em sua inversão das expectativas, sua fuga ao lugar comum, acaba que produz uma narrativa que não convence, com pontas soltas demais. Por exemplo: o chefão da máfia é quem lê bastante, sendo seu autor preferido Bulgakóv. Tudo bem, mas o que Bolaño faz com essa manipulação? Nada, só despista o óbvio. Essa é a parte mais fraca de Bolaño, a meu ver, esse esquematismo ao contrário. Mas há uns bons contos nesse livro. Preferi ele ao Putas Assassinas.

      Não lestes Bellow, cara!!! Retrate-se imediatamente. Sugiro que comece por Herzog e nunca, NUNCA, com Henderson.

      Sério, vc tem que ler Bellow.

      Excluir
    6. Eu tenho o Herzog e mais alguns dele, mas estão na pilha do "talvez".

      Excluir
    7. Vai por mim, todos esses outros devem imensamente a Bellow. Eu tenho três volumes de Herzog aqui, duas traduções brasileiras, e um de bolso americano. Estão fartamente sublinhados por mim. Há tantas páginas majestosas, de prosa sublime, de inteligência e beleza, que não tem como ler sem uma caneta nas mãos. Bellow é o maior escritor da língua inglesa da metade finas do século XX. Me recordo que a única vez em que ele dividiu essa posição (elegível pelos outros escritores da língua), foi com o também excelente V.S.Naipaul.

      Excluir
  3. Temo ter ficado dependente dessa literatura ensimesmada, essa mesma que esnoba a voz literária do não-intelectual, do motorista de ônibus, da camponesa, se isolando no solipsismo de preocupações extra-mundanas - o solstício do romance, a obsolência do homem de letras moderno, o pós-apocalíptico da literatura. Por isso o meu prazer em ter descoberto através de ti o Roth.
    A tua resenha da trilogia Zuckerman Bound, a qual não li ainda (interessei-me mais pela trilogia de outro intelectual de Roth, o Kapesh de Professor of Desire, The Breast e Dying Animal) chamou-me à memória Elizabeth Costello de Coetzee (não sei se já lestes esse livro menor do escritor). Costello, aclamada novelista da Austrália, sucumbe à essa mesma ânsia de consumo do gênio que você retrata no Roth e recorre a um desses convites de convidada ilustre e lecturer oficial na itinerância de um desses cruzeiros da Norwegian. Sua palestra, cujo tópico agora me foge, é intercalada entre a aula de Rumba e um workshop de dobragens de guardanapo. O outro itinerante intelectual ilustre do navio, um poeta Nigeriano que palestra sobre a oralidade da poesia africana, já experimentado na vida do homem-de-letras para consumo, usa do seu exotismo para dormir com a Sueca cantora de caberé do piano bar.
    Mas confesso que fiquei mais curioso ainda pelo livro do Bolaño. Comove-me ao ponto de deixar escapar umas poucas lágrimas o demover do homem de letras fracassado do limbo literário . Esse fora uma obsessão de Juan Carlos Onetti - ainda que o universo literário abortado tenha sido sua paixão maior - e, arriscando-me a me repetir, me comoveria muito se me caísse às mãos a execução bem feita do ocaso do homem de letras.

    ResponderExcluir
  4. Leio de forma intermitente vários tesourinhos da tradição judaica moderna, tanto que essas suas notas no Roth me tentam a largar o projeto no qual trabalho agora para deliciar-me nos Roth da lista de espera (The Human Stain, The American Pastoral). Trata-se do lemma Klage (Lamento) para uma enciclopédia de cultura Judaica moderna em lingua alemã. Leio a poesia em Yiddish dos poetas do ghetto de Warsaw e descubro, boquiaberto, Yitzhak Katzenelson. Releio também a poesia Hebraica (embora não em Hebraico) de Bialik, mesmerized pelo famoso tour de force acerca do Pogrom em Kishinev entitulado In the City of Slaughter - uma hora dessas transcrevo aqui alguns versos dessa última. E leio também, me recordando um pouco da tua maneira própria de escrever (o ranço autobiográfico) o tenro Tabela Periódica do Primo Levi. Esse último me convence em definitivo, que Levi foi, à revelia, e como um egresso tresloucado do Hades, o escritor italiano mais significativo do século XX. O Tabela Periódica mostra Levi como um Renascentista, do quilate de Giordano Bruno ou Galileo, um desses homens que o nosso mundo não fabrica mais, que buscou na ciência o decifrar do texto secreto escrito pela Natureza e que tardiamente narrou esse texto tal como lhe pareceu aos seus ouvidos. Escritor formidável que poderia ter sido também um formidável cientista, não tivesse Auschwitz lhe arrancado a fé na ciência.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tenho Elizabeth Costello como um dos melhores livros de Coetzee, ao lado ali de Desonra e Michael K.. Maravilhei-me com esse livro em uma tarde de ócio em que estava numa livraria do shopping e sentei-me com ele no sofá e devorei ali mesmo, antes de comprá-lo, até mais da metade. Se não me engano Elizabeth dissertava sobre abatedouros de animais e suas relações sutis com Auschwitz, naquele cruzeiro. Um grande livro! Ali está Coetzee em seu esplendor. A parte final, fabulesca, do campo de refugiados, penso eu, está à altura do universo de pesadelo de Kafka.

      Roth merece um investimento a sério. É um autor riquíssimo! Há muitas fases na escrita dele. Se ainda não leu o cerne de seus excelentes livros, vai uma pequena recomendação: a trilogia da vida americana (Pastoral Americana, Casei com um Comunista, A Marca Humana), e esse que é um dos maiores romances do século passado, O Teatro de Sabbath. E o cara não para: li há dois meses Nêmesis e ele está ali à toda prova, como se não tivesse envelhecido, e trabalhando em uma nova série de livros que partem da temática de Ivan Illich sobre a morte e a finitude.

      (Mas, não é tietismo da minha parte ao dizer que a leitura de Roth obriga ao conhecimento dos livros de Bellow. Eu não sei qual dos dois é Tolstói e Dostoiévski nessa história.)

      Sugiro que compre Shop Talk (Entre Nós) ainda amanhã e o devore. Se procura o judaísmo investigativo concentrado, vai achar aí. Inclusive foi através dele que tomei conhecimento de outro tremendo escritor judeu, justificadamente comparado a Kafka, chamado Bruno Schulz, que, caso não conheça, vai ser uma agradabilíssima surpresa.

      Ainda não li Primo Levi, mas isso vai ser retratado nos livros a serem comprados mês que vem. Há um ensaio ótimo sobre ele em Mecanismos Internos, de Coetzee.

      Excluir
    2. E o espaço do blog está sempre aberto para você, cara!

      Talvez haja um tom frio na escrita, como é praxe irremediável da internet, mas esses seus temas me enchem de curiosidade.

      Excluir
  5. No cruzeiro, se não me falha a memória, Elizabeth Costello disserta sobre um tema mais ameno. Algo como, "o destino do Romance", etc. Gostei muito desse Coetzee menor. Mas engraçado, a única parte do romance que me desagradou foi o aparte Kafkaesco no epílogo: a farsa purgatorial que imita vários temas de Kafka de Colônia Penal. Eu achei a construção toda um pouco vulgar. Também não entendi porque a escritora era incapaz de firmar uma declaração sobre o que acredita afim de ter acesso ao que se encontra além dos portões do purgatório Kafkaesco. Não era Costello uma determinada vegan, defensora da dignidade animal quase à moda dos neopitagóricos (essa coisa do argumento Vegetariano baseado na sustentação de que os animais tem alma...)? Não é isso belief?

    Do Bruno Schulz li parte do Streets of Crocodiles sem conseguir passar do primeiro terço do livro. Não me lembro exatamente o que me desagradou.

    Shop Talk é de quem mesmo?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Shop Talk, aqui traduzido como "Entre Nós", é do Philip Roth. Trata-se de uma série de entrevistas com autores médio-europeus, como Bashevis Singer, Ivan Klima, Milan Kundera..., e uma releitura dos romances de Bellow e outros petiscos. É muito bom.

      Creio que foi esse tema mais ameno o centro da palestra do cruzeiro, mas não sei se deriva disso ou é em outras partes do livro (afinal há dois capítulos nele que já saíram publicados em "Vida dos Animais") que ela passa a falar sobre abatedouros. É nessa hora que me recordo de ter pensado o quanto ela estava se deixando revelar uma anciã neurastênica para o público bocejante do cruzeiro. Eu já gostei dessa fábula final, pois notei uma despreocupação de Coetzee em parecer sério; é quase uma paródia de pesadelo em que Costello sofre uma auto-avaliação retomando dos arquivos de suas leituras de uma vida inteira. Como o li após Desonra, estava mais afeito ao caráter didático de sua ficção, em que ele simula propôr métodos alternativos de expurgação: em Desonra, a abnegação diante a violência como compensação por anos de domínio e massacre do branco sobre o negro africano; em Costello, a revelação de uma passagem indeterminada em que suas teorias sobre a aproximação dos matadouros com a propensão ao holocausto são vivenciadas em um sonho kafkiano; uma catarse.

      Sempre quando se fala em abates de animais vejo a insuficiência do debate diante as necessidades reais da vida. A filosofia pede sua carga de beleza e profundidade diante a mera despesa biológica. Minha vida profissional é um exemplo disso. Daí suponho que Coetzee se baseia em Dialética do Esclarecimento, quando Adorno diz que a simples exposição da violência dos abatedouros de animais, mesmo ainda fundamental no modo de vida de nossa espécie, serve para incitar possibilidades futuras, ainda não compreendidas. Talvez por isso o uso em arquétipo da fábula kafkiana.

      Gostei de Schulz. Vi os elementos que podem por abaixo o interesse por sua leitura, mas não me deixei engambelar por eles. Sua visão da infância é muito bonita. Sua resistência completa em se deixar imergir na contemporaneidade talvez seja seu maior trunfo.

      Parte do assunto entre Singer e Roth é sobre Schulz.

      Excluir
  6. Mas que confusão...
    Mas o que é um projeto metaliterário?

    Tanta conversa de ervanária!

    Falemos para que toda a gente nos perceba:
    PHILIP ROTH é o maior escritor americano vivo - claro que não é para todos, mas isto de ler também se aprende e há que ter paciência porque com muitas leituras se chegará lá, mas primeiro há que passar por Paul Auster, Steinbeck, Jorge Amado, Mia Couto, e muitos outros e chegar-se-à a Roth, Saramago, Corman McCarthy e por aí fora...

    ResponderExcluir