terça-feira, 22 de novembro de 2011

A Péssima Trilha Sonora de Nossa Angústia Adolescente


Um amigo afirma que chegou à literatura através do rock nacional. Já ficamos entardeceres tratando disso, tanto de como cada qual fora convidado gentilmente a entrar no reino da leitura, como sobre a qualidade do rock nacional. A banda gaúcha Engenheiros do Hawaii e a banda candanga Legião Urbana o introduziram em obras de contextos tão díspares quanto a de Thomas Mann e John Fante. Esse amigo, nota-se, tem essa porta de entrada como uma das mais emocionalmente efetivas para o gosto da leitura, e sua profissão de professor de adolescentes o faz ver como um apostolado passar essa graça adiante para seus alunos. Ajuda-o muito seu talento natural para o teatro e a excentricidade. Como todo apaixonado pelas descobertas do intelecto engajado, já me convidou algumas vezes a assistir a suas exibições coletivas. Numa delas, cantou na íntegra uma canção de 11 minutos intitulada Metal Contra as Nuvens, do quinto álbum da Legião. Em outra, forrou as paredes de uma das salas do colégio com espelhos de variados tamanhos, distribuiu caixas de som pelos cantos, e, à medida que os alunos eram convidados a entrarem, ouvia-se músicas dos Engenheiros. Tenho a obrigação de ser demasiado sincero com meus amigos, de forma que vi como uma enorme felicidade que apenas uma vez ele tenha me perguntado sobre o que eu achava dessas performances. Ainda procurei amortecer as palavras o máximo possível, assim, meu veredicto foi o de que sempre achei o rock nacional medíocre quando não se consegue ter a lucidez de parar de escutá-lo após os 20 anos de idade. (Esse meu amigo também é um exímio gozador e nada é mais avesso a ele que a iconização, daí suportarmos sem sensibilidades as visões opostas um do outro.)

Atualmente esse amigo se empenha em comprar um dos ouros de tolo da editora Abril: o catálogo completo dos álbuns oficiais da Legião Urbana, com capas duras e preços acessíveis (mas sem a única coisa que seria realmente indispensável, que é uma nova remasterização). Assim, ir à casa dele conversar é ter que suportar horas de relembramentos do imaginário adolescente dos anos 80, com Será, Eduardo e Mônica, Faroeste Caboclo, Há Tempos, como trilha sonora de fundo; toda aquela depressão distintiva de excluídos da classe média, aqueles quartos escuros e festinhas de becos onde não se pegava nenhuma garota, aquelas voltas para casa em madrugadas solitárias; e, sobretudo, a visão forçada, através de retalhos mal digeridos de poesia de segunda categoria, de um mundo onde o antagonismo da dominação de adultos perversos nos diminuía ainda mais em nosso paroxismo imóvel de adolescentes inadaptáveis, cujo único escape lógico era o suicídio, mesmo que simbólico. Quando ele se levanta para substituir o àlbum Quatro Estações já devidamente detonado, com os olhos de satisfação lupina de que minha total falta de menção à música por todos os 40 minutos de execução fosse afinal uma rendição à supremacia de Renato Russo, eu solto o que havia preparado com a devida atenção, dizendo que o único momento de humor entre tanta rima fácil e mensagens truncadas de auto-ajuda católica e de seja você mesmo da Seven-up, eram aqueles versos abomináveis de sei rimar romã com travesseiro. Aproveito para soltar o deboche de que eles deixaram de ser a Geração Coca-Cola, para serem os Gurus do Seven-up.

Como vingança, ele coloca o que já sabe ser o álbum que para mim é o supra-sumo da covardia moral e da implosão artística de Renato Russo, o constrangedor A Tempestade. Já então abandonamos qualquer outro assunto e eu me preparo para a apreciação do martírio com um visível êxtase. Um monte de faixas descartáveis, péssimas letras, instrumentalizações que fazem lembrar que tudo é possível para a eficiência impessoal da indústria fonográfica, até mesmo juntar os dedilhamentos sofríveis da cozinha da Legião afim de lucrar-se com o sofrimento do vocalista. Uma atmosfera de depressão tão pouco saudável, como se o sentenciado à morte desejasse vampirizar em vingança a alegria de viver dos que ficavam. Lembrei a meu amigo a moda jovem de alguns centros urbanos norte-americanos de convidar-se um soro positivo desconhecido para participar de uma loteria de sexo grupal. Não foi isso que a vítima fez, um tanto pior a leviandade de tê-lo cometido no auge da cruência da doença?, para a qual ainda não haviam coquetéis que garantissem a sobrevivência controlada?

Que direito ele tinha então de difundir aquelas mensagens de suicídio? Não foi uma fatalidade, ele não pertencia à classe de Lennon, um morto súbito; não era Morrison, Duane Allman, Brian Jones; só fez com que uma coerência depreciativa se instalasse nessa nova fase da emulação do rock brasileiro em querer ser o carbono sem mais consequências do rock inglês: estava na linha sequencial de repetição despirocada de um Arnaldo Baptista, que não conseguia ser um porra-loca de cérebro torrado cultuado e que morava com a mãe e assistia tv o dia inteiro, como o Syd Barret, mas tinha que cair por uma janela e desaparecer, e reaparecer já velho e disposto a viver da condescendência pública em gravar coisas sem a mínima substância. Na verdade, os anos 80 sepultaram a possibilidade de um rock inteligente e bem produzido que só deu as caras no final dos anos 70 para desaparecer para sempre: os Engenheiros e a RPM acabaram com essa possibilidade, os acordes toscos de Gessinger e as suas rimas que juntam chiclé de menta com você aguenta destruíram a excelência jazzística da Bacamarte. A nossa trilha sonora, eu continuava dizendo, sempre foi paupérrima. Do que adianta criticar a Globo, se o rock nacional soa, transpira, é um selo de qualidade da visão massificada de controle social sobre a adolescência das corporações Globo? Que distância há entre Renato Russo e Tarcísio Meira? As letras da Legião e dos Engenheiros dão a dosagem terapêutica precisa para o cidadão médio que espera para ser inserido no mercado de trabalho para extravasar suas curtas angústias quanto às privações do final dos anos de ditadura, e tudo era ainda mais fácil por essas privações nunca terem sido as reais e relevantes, mas as que de antemão preparavam-nos para os desejos de consumo. Mãe, eu quero uma guitarra elétrica.

Por isso que nada soa mais comprado e coadaptado que ver um Gessinger e um Toni Belloto hoje em dia, esses que sempre foram falsos profetas da juventude, agentes da acomodação. Nenhum deles se deu um tiro na cabeça e legou uma carta de suicídio que reassumisse suas canções como legítimas armas de contestação. Perder tempo ouvindo as lamentações arrependidas de Renato Russo é um tanto pior por saber que Edward Said, Thomas Bernhard, Roberto Bolaño, quando diante a morte iminente, produziram textos maravilhosos, verdadeiros, corajosos, que em nada colocavam suas sinas como o centro do universo.

Mas talvez haja mesmo um critério possível nesse investimento de fé de meu amigo no rock nacional como promotor de leitura. Não vi ainda nenhum de seus alunos falando de Thomas Mann, mas ainda julgo que mesmo na bestialidade existam padrões hierárquicos de gosto. Ouvir Titãs ainda é menos deletério que ouvir Luan Santana. E os rapazes que vejo pela casa desse meu amigo demonstram ao menos alimentarem os preconceitos usuais que eu via quando eu era da idade deles: nada é mais repulsivo que o sertanejo, o pagode e a música romântica.

47 comentários:

  1. Tenho que concordar contigo no geral. É uma bosta. Vou pontuar alguns senões.

    Renato Russo, embora tenha descambado na lembrança a São Sebastião antes do verso em que diz gostar de meninos e meninas (eu ainda acho As Quatro Estações um álbum com algumas boas canções), tem Daniel na Cova dos Leões no currículo, uma composição digna e melódica.

    Eu nunca havia percebido como é uma canção de inspirada e uma nem tão sutil afirmação de sua homossexualidade. Recentemente fui instado a ouvi-la por tal viés. É sem sê-lo e dá a dimensão recorrente do armário. Eu fiquei meio supreso de não ter notado a obviedade do verso "teu corpo é meu espelho e em ti navego", mas acabei concluindo haver boa letra por ali mesmo.

    Acho Faroeste Caboclo, ao lado de Angra, das coisas mais chatas que já ouvi na vida. Aquele João do Santo Cristo, Jisuis, eu quis vê-lo pregado na cruz, ainda bem que o Jeremias, meu herói, deu cinco tiros nele. A Tempestade é abaixo da crítica. Gosto de Ainda é Cedo e O mundo anda tão complicado é música gostosa.

    Logo, não é a oitava maravilha do mundo mesmo. Renato Russo para mim é meio como Cazuza. Gosto de Todo Amor que Houver Nessa Vida, acho muito sonoros os acordes de Bete Balanço e rio d'aquele garoto que ia mudar o mundo e agora frequenta as festas do grand monde. Mas não dá para ouvir Burguesia. Da lavra de um drogadito exagerado, há boa letra em "por você eu largo tudo, carreira, dinheiro e canudo".

    Paralamas tem boas músicas, fazem bom uso de metais, talvez seja o meu preferido dessa turma toda, porque é o que teve mais constância por mais tempo. O melhor álbum dos Titãs não é o hediondo Titanomaquia: para mim, é O blesq blom. O Pulso tem letra divertida. Miséria mistura um lance de Pernambuco que ficou bem bom. Eu gostava do Hojerizah e do Camisa de Vênus.

    Fui a um show do Chico Science em que ele detonou com o Pato Fu, que se apresentaria na sequência. E eu gosto mesmo do vocal da Fernanda, meio Everything but the girl.

    Para além de rock nacional, eu ouvi Marisa Monte em sua melhor fase durante miha adolescência, que praticamente me apresentou o samba quando eu era jovem. Tinha Calcanhoto cortando os pulsos também. Ou seja, a gente sobrevive com alguma coisa que presta, mesmo não sendo rock e apesar do Kid Abelha.

    Para não falar em Doutor Silvana e Companhia, Erva Doce, Zero etc e tal.

    Fábio Carvalho

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  2. Também respeito até certo ponto os Paralamas, pensando no bom uso dos metais, na bateria de Barone e, sobretudo, em que eles fugiram dessa orbe de adolescente revoltado que frequenta o colégio Marista. "Alagados" tem muito a dizer. A brasilidade inventada por eles no rock, o fusion entre regionalismo invocado e bem-humorado com Talking Heads e o melhor do pós-punk britânico, foi continuado neste que, para mim, é o melhor álbum de rock nacional dos ultimos 30 anos: Calango, do Skank. Nesse disco o Samuel Rosa coloca Russo e os demais adolescentes tardios no bolso, com poesia sofisticada, arranjos maravilhosos, referências culurais escondidas na extraordinária produção das músicas. Eles são ingleses em tudo_ o que o rock por aqui precisa ser para ser bom, ou ninguém notou os riffs descaradamente copiados dos The Smiths e Echo and The Bunnyman pela Legião?_ sem, contudo, deixarem de ser, na alma, brasileiros (numa alta concepção de etnia investida de crítica social ácida). Skank, antes de se tornar banda de jingles para celulares, foi a banda mais inteligente da música pátria.

    Ouvi muito o Blesq bom. Titãs é uma banda de achados dispersos: existem umas quatro músicas absolutamente geniais dos caras.

    E o Antunes, o Reis, fizeram a época excelsa da Marisa Monte. O que aconteceu com ela? Ouvistes o último cd? Fiquei espantado e muito triste. Foi a comprovação de que a tríade_ com a falta do Carlinhos Brown_ já se esgotou, de que a velhice se aproxima. Um dos espetáculos mais feios, a vista da senilidade artística. A mulher fica 5 anos sem gravar, e aí aparece com esse álbum!

    Cara, tem muita coisa que eu não gosto da Legião. Como todo adolescente daquela época, eu era bombardeado pelas músicas dos caras. Lembro da tristeza que eu sentia, uma tarde, diante a necessidade de ficar esperando o radialista anunciar que iria tocar outra vez a "Será", daí eu preparei a fita cassete e apertei o play. A gente aprende muito sobre indústria cultural com essas lembranças. Eu odiava a "Será", mas todo muito ouvia, daí eu, 11, 12, 13 anos, tinha que me socializar. Ouvi a "Pais e Filhos" na rádio, num carro em Brasília, pela primeira vez, e pensei: "nossa, eles pioraram bastante. Que letra tosca." Mas tive que reouví-la, comprar o bolachão, até simular gostar.

    Ontem ouvi, após 20 anos, o disco V. "Sou metal, raio, relâmpago e trovão". Perder tempo tentando saber qual o significado subliminar por detrás de uma quase redundância, de uma pobreza cuja necessidade é o encaixe fácil na melodia.

    Já ouviu o Bacamarte, com a Jane Duboc nos vocais? As letras são datadas, mas os caras tocam que são um prodígio.

    Também gosto do Patu Fu.

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  3. “Não foi isso que a vítima fez, um tanto pior a leviandade de tê-lo cometido no auge da cruência da doença?, para a qual ainda não haviam coquetéis que garantissem a sobrevivência controlada?”

    Charlles, não entendi. Você está querendo dizer que o Renato Russo tornou-se doente numa roleta russa insensata, porém tendo consciência dos riscos? É isso?

    Quanto ao rock nacional, não sei se esse é o termo correto, Legião, Titãs e Paralamas foram (são) bandas que me agradaram esteticamente. Porém, muito acima dos supracitados,a meu ver, estão dois caras: Chico Science e Lenine.

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  4. Em tempo ainda. No "Vagalúmen", 1999, presto uma homenagem ao Chico Science e Lenine. Lamentei muito a morte de Science, pois creio que ele, efetivamente, representava algo de novo na cultura brasileira.

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  5. Gosto muito de Legião, não ouvia há tempos (há tempos...), que curioso, esses dias peguei o violão e fui pra frente do computador pegar umas cifras, fiquei horas só na Legião (menos pq é o pouco q sei tocar, mais pq a banda nacional de q mais gosto, eu juro). Mas não vou defender aqui, tou sem tempo, e nem sei se o faria bem. Basta dizer que tbm gosto da extinta, pelo menos por ora, Los Hermanos, de que tu deve gostar menos hauhauhuaha. Mas digo sem vergonha que gosto dessas duas. Me arrisco apenas a dizer, q é menos do q pelo Renato diz e canta, mais pela forma como ele faz isso. Pra mim soa como uma sinceridade difícil de encontrar. Ele vive o q ele canta. é claro, isso não é garantia de nada. Mas há várias letras q me tocam. claro, me tocavam mais, tenho certeza de q agora a nostalgia opera loucamente. mas não acredito q seja só isso. tive todos os discos à exceção dos derradeiros, q ouvi bastante, mas nunca adquiri. talvez por respeito? sempre admirei seu "animal sentimental", seu sentido revolucionário, sua verve mística. por todos os lados ele foi intenso. o q ainda não é garantia de nada. hauhauhauha

    E O RAUL SEIXAS, cara? eu acho q sobra até bastante destes caras. ainda mais se formos comparar com o q temos aqui. não é só por chegar a Thomas Mann via faixa 4 do V (melhor disco). Outro dia fui ver o documentário Rock Brasília (ok, admito q sou muito fã de Legião) e até q sobram umas coisas, sim. Claro, tu tem q botar no mute o Dinho Ouro Preto e um monte de outras coisas, mas...

    Calango é mto bom.
    Hj gosto de mombojó.

    e pra seguir no nacional fugindo um pouco do rock, caetano e vitor ramil.

    ah, e fábio, ocorreu o mesmo comigo, só fui me dar conta depois q um radialista fez um comentário sobre o primeiro verso de daniel na cova... "Aquele gosto amargo do teu corpo
    Ficou na minha boca por mais tempo."

    e se eu sou um pouco crstão hj (serei?), devo (deverei?) a essa banda. o q pode servir de argumento contrário.

    ah, sim. tbm não entendi essa parte q o Ramiro colou.

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  6. Ramiro, eu disse que o Renato sabia das consequências a que estava exposto no auge da disseminação da Aids. Ele não foi uma vitima da dramaticidade do acaso. Já havia o caso do Cazuza, ao qual o Renato se referiu quando falou mais abertamente da doença; não era de forma alguma um inocente sobre os riscos de seu estilo de vida. Lembro-me de uma entrevista dele, poucos meses antes dele mesmo saber que estava contaminado, em que alegava que havia passado da idade de morrer tragicamente, como as estrelas do rock, que seu futuro era a de envelhecer confortavelmente.

    Eu gosto do Lenine e do Balero. E, claro, do Teatro Mágico.

    Como instrumentistas, gosto muito do Cachorro Grande, mas as letras são péssimas. Mas a vantagem dos caras é serem devotos consumados e sinceros da estética do rock.

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  7. arbo, eu tive uns sete álbuns da Legião. Vinis. Sei letras e letras de cór.

    Meu preferido também é o V, o que eles admitiram ser influência do King Crimson (até a capa é uma repaginação explícita de Lark´s Tongues in Aspic). Pena que eles eram instrumentistas falíveis. Imagine a Metais Contra as Nuvens tocada por uma banda do naipe do Yes, p. ex.

    Mas, tirando a nostalgia, não me desce. Gosto muito do Caetano.

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  8. Ah...

    Existe umas 15 músicas do Raul que eu venero insofismavelmente, que me fazem chorar e ser mais feliz. "Gita" uma delas.

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  9. P.S.: na minha época de universitário, havia uma dicotomia entre os que gostavam do Renato e os que gostavam de Raul. Esses últimos, aos quais me incluia, eram os "clássicos", os envolvidos com questões transcendentes, enquanto a tribo inimiga era a dos mauricinhos ocupados com traumas mundanos da não aceitação social. Eramos superiores (risos). Na época havia então os que gostavam do rock dos anos 60 e 70, e desprezavam o pós-punk de tudo após 1979. Eu ficava à margem , pois além de amar o Zepellin e o Jethro Tull, não conseguia conter minha paixão pelo Echo, o Kraftwerk, os Smiths...

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  10. bá, legal, não sabia dessa admissão de influência do KG! tudo a ver mesmo. e a criança aqui ficou só MEIO feliz qdo ganhou seu primeiro álbum da legião e viu que era um tal de "Vê", q botou pra tocar, e não encontrou é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. fui curtir mesmo só depois. mto daí.
    gosto q o caetano se renova (arte não estanca né?). paralamas, titãs principalmente, parecem ter parado no tempo. há mto. e respeito o lobão. fui num show dele recentemente. com ressalvas, gostei. tem isso de se renovar e isso de ser intenso. NÃO É GARANTIA... hehehe

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  11. foda é q o q temos hj de novo? de novo?

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  12. Vai me dizer que tu não gostas do Restart?

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  13. huahuahuah tava pensando nisso. há uns dois meses inventei de ouvir rádio, depois de anos, e aí caí numa entrevista com os caras do jota quest pedindo respeito "pros meninos". jota quest né, entendo.
    desculpa manchar teu post, mas foi tu q pediu.

    mombojó já ouviu? o homem espuma é um disco tri. o anterior tbm.

    ps: ficou praticamente um poema isso, ironia fina:
    o que temos hoje de novo?
    de novo?
    restart.

    [bã]

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  14. ah sim, me liguei agora na data q consta na imagem do post. não sei se o renato gostaria disso, embora pense q o ego dele fosse bastante insaciável.
    nesses casos, eu sempre lembro da passagem q mais guardo de nietzsche (verá agora q o q guardo da "passagem q mais guardo" do cara é tão fiel qto minha memória DEVASSA pode alcançar), q é qdo ele se refere, acho q em ecce homo, a como gostaria q pensassem sobre ele (ou sobre seu zaratustra?)... que ele abominaria seguidores, que a nossa melhor ação é querer sempre superar, PISAR SOBRE, em certo nível ODIAR seus grandes "mestres". nada de exemplos, mas de destruição (implicitamente, até como HOMENAGEM). talvez como ele fizera com Wagner, Schopenhauer, Jesus.
    talvez como tu faça agora q tu virou um velho ressentido (hauhauahua totalmente brincadeira essa minha última frase)

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  15. Tu és um cara muito lúcido e tri (como dizem) inteligente, arbo. Não me escapa essa interpretação.

    Parafraseando um marca página que costuma vir de brinde nas encomendas da Livraria Cultura, de Oscar Wilde: ainda não sou velho o bastante. (Risos.)

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  16. Cor de Rosa e Carvão é uma coisa e tanto! Que sonoridade; não sei porque me faz lembrar de varandas de antigas casas de Minas, a mais nobre configuração de nobreza e saudades a que meu imaginário íntimo pode conceber. Sombras, cheiros e chuvas. Algo que existe muito no disco de estúdio de Barulinho Bom. "Arrepio" marcou a minha vida. "Pancada de arrepio" é uma das mais belas metáforas que já ouvi. Não sei porque, também, no início vocal dessa canção sempre me parece que a Marisa está entoando um lema da Revolução Francesa (a de 1789, quando os sonhos eram límpidos e celestes): algo como se dissesse "alare-relareê, a humanidadeeê". Meio loucura, mas é meu estilo solto de interpretar a música.

    Vou conferir isso aí.

    Conheces o Teatro Mágico. Iniciei o Ramiro nesta banda e obtive mais sucesso de quando ele passou a ler Ulisses e estancou na página 400.

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  17. barulinho bom tenho límpido na memória. rosa e carvão tenho q voltar a ouvir.

    e não sei como é ouvido o ramil fora do rs, mas aqui ele é O CARA. pelo menos pra mim. o último trabalho é uma coisa mais regionalista (na verdade ele sempre é, no esquema do ser universal cantando sua aldeia), cantando poemas de borges e do gaúcho joão da cunha vargas, mas os álbuns anteriores são melhores para uma primeira ouvida

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  18. Meu sentimento por Legião: ódio. Algo totalmente irracional que tem a ver com o que eu vivi com ele, ou melhor, o que me fizeram viver. Nem me venham com argumentos técnicos. Muito menos ouvir essa porcaria do meu lado.

    O único Renato Russo que admito ouvir é ele cantando aquela música dos Menudos.

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  19. Caminhante, "o que me fizeram viver"?

    Eu peguei meu banquinho e tô aqui sentado curioso...

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  20. Sou de 90, mas também não escapei da porra de Legião Urbana, veneração ao Russo e ao Cazuza, na época de escola. Pior época (ao menos a modinha Raul Seixas serviu!). Somos forçados por todos os lados a "fazer parte", seguir a manada. Como já revelei quando nasci, fica meio óbvio que entrei forçadamente também na onda dos anos 2000: funkarioca. Hoje, quando lembro do que ouvia até os 15, quero me esconder, levo as mãos ao rosto, para as câmeras acusadoras da Globo não me filmarem - se eu fosse traficante, como o "Nem", acho que não me envergonharia.

    Lembrando agora...gostei (gosto) de uma coisa específica que NINGUÉM GOSTA, FAMILIARES OU AMIGOS: sambas-enredo. Como amo muito isso. Quanto mais antigo (Salgueiro 1960, 69, 71; Império de Silas de Oliveira; ou ainda das escolas de Porto Alegre, Imperadores do Samba) melhor. Assim como os sambas de macaco-velho, de nego cancheiro, samba de verdade, não essas porcarias de samba de mauricinho (pagode) dos anos 2000 pra cá. Caramba, gostava muito de (preparem-se) MOLEJÃO. Molejão é muito mais samba do que todas as bandinhas de hoje juntas. Meu Deus, Molejão É MELHOR QUE BEATLES (google it)!

    Mas quanto ao Rock...demorei pra gostar. De nacional, mesmo, só curti Raimundos, porque é totalmente fuleiro, meio jagunço, brega, bem sem-vergonha safado. E, com um pouquinho de embaraço, Tequila Baby (bah) e (perderei o pouco de respeito que tinha no blog) Comunidade Nin-Jitsu (um wannabe Raimundos portoalegrense funkariocado pior²).

    Ainda bem que adolescência passa, ufa...

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  21. Nada tão interessante assim, Charlles. Meu irmão me acordando TODAS as manhãs ouvindo Legião, meu outro irmão cantando "você culpa seu IRMÃO por tudo, isso é absurdo" pra me provocar, um sujeito de quem eu era a fim ficando automaticamente deprimido, pelo resto da noite, cada vez que tocava Legião... precisa de mais?

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  22. Matheus,


    eu gosto muito do Tião Carreiro, um artista do underground absoluto que, particularmente, sustento a visão de que ele tem a mesma carga mítica que Robert Jonhson. Faltam biógrafos que se interessem por ele, um Rui Castro, um Fernando Morais. Tem tanta história interessante do cara.

    Tenho uma memória maravilhosa compartilhada com meu pai de quando ele e o Tião cantaram juntos. Ainda faço um texto aqui sobre isso. Nada do território da subcultura musical brasileira foi explorada nesse assunto. Falta a mídia nacional que, em contrapartida, nos EUA há meritocraticamente em excesso: a historiografia sobre essas personalidades geniais, mas que estão na contramão da narrativa acadêmica das faculdades brasileiras.

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  23. hauhauh ri mto com o matheus
    comunidade foi o fim, porra. tinha um tempo tava em TODAS as festas de poa hehe
    raça negra>>>>>>>>>>>>>>>>molejão
    [implosão do blog do charlles em 3,2,1...]

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  24. Caminhante,

    "Você culpa seu IRMÃO por tudo, isso é absurdo".

    Aahahahahahahah. Muito bom. Muito bom. Tô dobrando de rir, porque jamais tive essa ideia magnífica. Vou usar com a minha irmã sempre que necessário (e para sempre). Sério. Ou não.

    Charlles,

    Vou googlar o teatro mágico, Charlles, conheçco não, mas já ouvi falar. Barulhinho bom eu gosto também e boa parte dele é o Cor de Rosa e Carvão ao vivo. Não consigo aceitar, e nem pirateei (sic), esse último disco da Marisa Monte.

    Matheus,

    Sê bem-vindo ao mundo dos estranhos. Vou verificar o Molejão por tua conta. Depois te xingo. Ou não.

    F.C

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  25. a outra música que eu queria mostrar do Hurtmold é

    http://www.youtube.com/watch?v=Pq4Jwsdbgaw

    acabou saindo a mesma repetida.

    Fernando

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  26. Putz, outra que saiu repetida...

    a música do coletivo Metà Metà é

    http://www.youtube.com/watch?v=zODbiRuHpsQ&feature=related

    desculpe a confusão.

    Fernando

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  27. Fernando, essas informações são valiosíssimas!!!

    (Vou dar os meus dois cents, que talvez não sirvam para nada: o cenário de rock alternativo do centro-oeste também é muito afamado, a ponto de chamarem Goiânia de a Seatle brasileira. Isso posto, talvez alguém aqui se interesse pelo Violins, uma banda que segue a linha Radiohead, e uma outra, chamada Vanguart, cujos primeiros trabalhos prometiam muito, à lá Neil Young e Dylan, mas cujo recentíssimo album não é uma das melhores coisas desse mundo.)

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  28. Arbo, olha o que acabei de descobrir que vai ter AMANHÃ:

    http://cnj.com.br/imagens/index.gif

    Sentimentos da adolescência voltando... pqp ahahaha passarei longe do Opinião.

    * E o cara é DEPUTADO, dale RS melhor em tudo =D

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  29. Obrigado Charles. Desculpe-me pelo texto torto, que escrevi com pressa e sem revisão (como se vê pelo entusiamo desgrabado dos diversos "interessantíssimos"). A questão do atual estado da música brasileira interessa-me muito. Vejo uma geração de músicos independentes muito talentosa que pela facilidade em divulgar seu trabalho através da interenet e pela possibilidade de viver somente da música (através da renda de shows, participação como músicos de cantores famosos, incentivos públicos...) dedica-se tão somente a ela, produzindo discos e mais discos de inestimável valor. O problema é que em geral essa música não nos chega aos ouvidos, é preciso buscá-la, garimpá-la na internet, daí o desconhecimento da maioria sobre esses artistas.

    Fernando

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  30. huahauha, matheus, fui ao link achando q ia ser MOLEJO. pq parece q esses tempos rolou.

    acho q a "crítica" q se faz é justamente essa, Fernando, antes pelo menos alguma coisas boa chegava ao "mainstream" (mas tbm, grande coisa). antes acompanhava mais, mas tou ligado q tem uma cena boa aí, o charlles citou alguns, tu outros. achei q vanguart ia dar melhor coisa. mas hurtmold é realmente bem bom. móveis coloniais me enganou mto por uma música, mas são fracos. tenho q ouvir tudo isso aí depois, não tenho tube aqui. me interessei, principalmente a saberr se esse rodrigo campos é um cara q ouvi apenas uma vez (cantando acho q num festival, transmitido na tv), e achei MTO BOM, mas de quem nunca mais ouvi falar (mas tbm, nem procurei).

    ah, e pra ti q gosta de dylan, charlles, volto a recomendar o ramil. ele regravou algumas do cara. e acho q tem algum trabalho com o lenine tbm.

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  31. arbo, vou seguir a indicação e escutar o ramil.

    Fernando, estou experimentando o "Uhuuu!", e "O Método Tulfo de Experiências", além de dois do Hurtmold. Estou gostando.

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  32. Os discos que estás ouvindo do Cidadão Instigado, são seus dois últimos discos, ambos ótimos, o "Uhuuu!", o último, é mais bem acabado e homogêneo, quase um clásico, mas o "Tufo" não fica muito atrás. Não sei se isso irá se passar contigo, mas sempre que mostro para alguém essa banda, dada sua estética peculiar e original, a primeira reação é de estranhamento e até de rejeição, seguida, após algumas audições, de grande gosto e até algum arrebatamento (isso aconteceu comigo!). Quanto ao Hurtmold, sou fã incondicional. Já tive o prazer de ver alguns shows deles, e são incríveis ao vivo. Tudo deles é ótimo. Além disso, quase todos os membros (e são vários!) desenvolvem trabalhos paralelos de grande qualidade.

    abraços,
    Fernando

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  33. Fernando,

    sou treinado em àlbuns arredios à primeira audição. Esses são os realmente grandes!

    Amanhã planejo ouvir a fundo esses discos do Cidadão. A propósito, levei um pendrive com eles dentro para o amigo ao qual me refiro no post.

    Do Hurtmold, devo confessar, ouvi uma música e me assombrei com uma proficiência em fusion que não se vê dessa maneira tão exemplar por aqui. Eles trabalham muito com percussão, que adoro.

    Você deve conhecer os àlbuns solos do Airto Moreira, o maior percussionista do mundo (por acaso: brasileiro). Se não, ouça os três primeiros discos do cara. São maravilhosos! Tocou com o Miles, e num desses discos há a presença de gente do calibre do Keith Jarret. Amo demais esses álbuns.

    Abraços.

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  34. Conheço sim o trabalho do Airto. É maravilhoso. Temos, aqui no Brasil, uma grande tradição de percussionistas. Além do Airto, há o grandíssimo Nana Vasconselos e, da nova geração, há o Cyro Baptista que, além de trabalho próprio, toca num dos conjuntos do John Zorn.

    Quanto ao Hurtmold, percebeste tudo. O núcleo do grupo é o baterista, Maurício Takara, verdadeiro monstro das baquetas, e ainda bastante jovem. Ele também tem um trabalho solo, bem mais experimental que o Hurtmold, sob a alcunha M. Takara, que é muito bom também.

    Boa audição!

    Abraços,
    Fernando

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  35. Acabei de chegar… (22h55min). Agora, com mais calma - pois segunda, terça e quarta são dias repletos de aulas de graduação é pós-graduação no Instituto (Ifes) -, tentarei dar uma pequena contribuição ao excelente conteúdo dos comentários anteriores associados a esse post. Sei, de antemão, que vou desagradar alguns dos comentaristas que, diga-se de passagem, tenho muito respeito. Como aqui é um espaço democrático à discussão, falarei abertamente o que penso-sinto. Escreverei de memória, portanto corro o risco de ser impreciso. Mas… vamos lá!
    1) Ao Charlles. Já passei - e muito!…- da página 400 do Ulisses de Joyce. Cada vez mais tenho a certeza que Joyce foi supervalorizado. Sem dúvida, há muita coisa criativa, porém muito, mas muito!, é descartável. Chego a considerar que, talvez, o livro deveria ser a metade, ou até menos, do que efetivamente é. Tal afirmação pode ser uma tremenda estupidez de minha parte, pois não possuo pedigree para ler Joyce no original. Contudo, há tantos pontos nebulosos no texto que até a tradutora, Bernardina da Silveira Pinheiro, se omite em tecer qualquer comentário em muitíssimas passagens do livro. Ora, para mim isso é uma grave fragilidade da obra (não da tradução, é claro). Ficou-me a impressão, até onde li, de devaneios de um autor alcoolizado. Não conheço o contexto em que Joyce publicou a sua obra, mas fiquei com a impressão que faltou uma revisão final. Algo semelhante se percebe em muitos textos de Pessoa que, percebendo o fim próximo, tentou de todas as maneiras dar uma versão final aos mesmos, porém não teve tempo. Não sei se esse é exatamente o caso de Joyce. Todavia, essa foi a sensação que ficou em mim.
    2) Ao Charlles ainda. Além do Balero e do Teatro Mágico, lembraria do Moska, que andou compondo, junto com a Zélia Ducan, coisas que me agradam esteticamente. Gosto muito do trabalho do Arnaldo Antunes que fez e faz coisas belíssimas, principalmente, associadas à linguagem poética. Gosto muito do Fred Martins, ganhador de um prêmio Sharp, que escreveu “Janelas” que, a meu ver, poderia muito bem ser assinada por MacCartney, se o ex-Beatle escrevesse em português. Sou admirador do Pato Fu, da Calcanhotto. (Porra! fugiu-me da memória o nome daquela menina que morreu e precisou disputar a guarda do filho a favor de sua companheira, caralho, esqueci o nome dela nesse instante…). Ah, não poderia esquecer-me de Pedro Luis e a Parede que, a meu ver, são geniais. Mas tem outros, muitos outros, que agora me fogem…

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  36. (continuação...)

    3) Ao arbo. Caríssimo, a meu ver, Raul Seixas foi um engodo. Como cantor: medíocre. Como músico (arbo não sou músico, mas pergunte aos músicos…): medíocre. Como poeta, aí, creio, posso opinar: medíocre. Como alternativa política: medíocre. Como roqueiro: medíocre. Raul junto com Paulo Coelho, para ter mídia, inventaram um contato com discos voadores. Raul, para ter mídia, simulou um encontro com, nada mais, nada menos, John Lennon. Raul não teve qualquer importância estética durante a ditadura. O incomodo que teve, se é que teve, foi porque, simplesmente, era um porra louca e a ditadura, como era burra, se incomodou com ele como também com Odair José, aquele de “pare de tomar a pílula”. Raul não teve sorte, pois por ser medíocre teve que conviver com caras do naipe de: Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano, Gil, João Bosco, Paulinho da Viola, Elomar, Egberto Gismonti, Edu Lobo, Jorge Bem, Tim Maia, Ney Matogrosso, Wagner Tiso, Lô Borges, Fernando Brant, Ermeto Pascoal, Gonzaguinha, Nana Vasconcelos, Itamar Assunção e etc. Ou seja, não havia qualquer espaço junto à sua geração. Aí, o bicho ficou velho e apareceram: Barão Vermelho, Cazuza, Renato Russo, Paralamas, o Terço e etc, muito superiores a ele artisticamente. O que restava: o suicídio anunciado… No desbunde geral, que ocorreu depois da queda da ditadura, uma esquerda festiva o elegeu como ícone, e o mercado, sempre de olho no mercado, faturou! Só foi isso, nada além disso. Lembro-me agora dum vídeo ridículo no qual Raul, totalmente TREBADO, tenta no palco ler as normas da tal SOCIDADE ALTERNATIVA, e num ridículo descomunal começou a ler um texto, como se fosse um pseudopergaminho a ser desenrolado por suas mãos; no final, numa bravata, afirma que aquelas normas se não fossem observadas, poder-se-ia cometer assassinatos justificados historicamente; depois do dito banal, os óculos escuros se dirigiram ao fundo do palco escuro onde certamente uma carreira de cocaína o esperava em abraço esplêndido… Costumo brincar, arbo, que o Raul deve baixar em terreiros de vigaristas (que fique claro tenho profundo respeito pela religião alegre dos afrobrasileiros), dizendo: “Pô fiz tudo igualzinho ao Paulo Coelho, por que pra ele sobraram os ramalhetes da grandeza e pra mim só foguetes que detonaram o meu cu? Sabem duma coisa: vão todos tomar no cu!”.
    4) Ao F.C. Por acaso é o grande poeta português, Francisco Coimbra, que esta a nos visitar?
    5) Aos outros ilustres comentaristas, não tive tempo de pesquisar todos os sites deixados aqui como recomendação. Vou visitá-los. Depois, comento…

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  37. Em tempo ainda. Caralho lembrei: CÁSSIA ELLER..

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  38. ESQUERDA DE MERDA
    by Ramiro Conceição



    É, já fiz cada quiproquó
    que mereci levar no fiofó.
    Até já casei com fantasma.
    Até já fedi… feito miasma.

    Casar com um fantasma,
    não teve problema algum:
    trepei; dormi; viajei; e me
    habituei ao sujo dito-cujo.

    O dilema foi que, por ser uma alma penada,
    o fantasma… não veio desacompanhado,
    mas… junto à fantasmanada acorrentada
    ao fantasmagórico de uma monada de putas,
    de estafetas, de piolhos diplomados na USP,
    um embuste!, um bando de metidos a besta,
    que se diziam “do Bem”, mas eram soleiras:
    era a geração pós-maluco-beleza,
    que enriqueceu o pobre mago da esperteza.

    Nunca cultivaram o belo,
    nunca puderam conhecê-lo:
    eram moçinhas e mocinhos
    a farejar com… focinhos.

    Ai... quanto papo cabeça!
    Quanta merda de esquerda!
    Ainda bem que tudo findou.
    O fantasma me abandonou.

    Por isso, grato, estou aqui,
    a finalizar essa obra-bufa;
    pois soube à boca pequena
    que algumas almas penadas,
    em solitárias, fétidas, cloacas,
    vestiram-se, com as gravatas
    de suas línguas, enforcadas.

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  39. Esse texto me lembra um meu anterior, sobre Lobão e lembranças de minha juventude. Também não gosto do Legião Urbana e também acho que, depois de certa idade (20? 30? 40?) fica realmente difícil gostar de coisas que eram queridas aos 15. Mesmo que eu não acredite em etapas de vida e que sejamos hoje um momento e um processo que não descarta o que fomos um dia, inclusive bebês. Acho, mesmo assim, que podemos fazer um apanhado de boas músicas da época, como, por exemplo, três bons discos com o melhor dos Paralamas, dois bons discos com o melhor do Lobão, um bom disco com o melhor dos Titãs, e pelos menos uns 10 bons discos com apanhados gerais de músicos e bandas que produziram, cada um e cada qual, suas duas, tr~es, quatro boas músicas, não músicas pretensiosas, porque na época a descompressão da ditadura rendia um hedonismo adolescente próprio do período, quando não estávamos mais com vontade de ouvir metáforas politicas e chamados pela unidade da Améruica Latina, e sim queríamos experimentar coisas novas, mesmo que elas contivessem um apelo afim da da velha Jovem Guarda anterior, e muito fosse imitação (ou influência...) de músicos e grupos da Inglaterra ou dos Estados Unidos. Acho que não dá para fazer tábula rasa da produção do rock nacional, mas dá, sim, para descartar, hoje, o Legião Urbana, cujo fenômeno de comunicação deve-se às letras de autoajuda e pelo jeitão pastor protestante de cantar do Renato Russo. Poderia fazer até uma relação de músicas bobas de que eu gostava na época, e que agora me dão vontade de rir de tanta ruindade. O melhor é não sentir esse saudade anacrônica que para mim é tão adoravelmente mostrada em um filme francês, Esta Noite é Minha, cujo protagonista, ao sonhar, transfere para épocas passadas seus amores do presente e, com isso, segue também um velhinho que sempre repete o bordão: "Ah, vocês acham que agora é que está bom? Precisavam ver na época do..." e completava com coisas como "rei Luís XIV" até chegar na Idade da Pedra Lascada.

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  40. Ramiro,

    não vai adiantar nada debatermos aqui sobre Joyce. Percebo isso por ver que a coisa assumiu um grau de idiossincrasia imune a qualquer argumentação contrária. O mesmo caso comigo, em relação ao Chico Buarque. Por mais que dizem sobre a sofisticação e as letras geniais do Chico, eu apenas e tão somente consigo ver um tédio e uma chatice extrema. Jamais vou conseguir gostar das músicas, ou de qualquer arte que ele faça. Chegou um livrinho aqui para a Júlia, intitulado "Chapeuzinho Amarelo", de autoria do autor de "Construção", e...puff! Decepcionante! É a súmula de tudo que ele fez: um moralismo pretensamente despojado que, à força da catarse da simples exposição, quer tornar-se libertário. Nesse livrinho, ele compõe variações, que não passam de simplórias inversões de sílabas, dos nomes dos Bichos Papões infantis, no intuito de pregar uma racionalidade precoce que espante superstições. E...distribuído pelo Itaú, às custas de verbas federais liberadas por uma dessas instituições coligadas, mas que, sem dúvida, rendeu uma boa gaita para o irmão ilustre da ministra da cultura (qual o nome dela mesmo, que vem antes de Buarque?).

    Concordo em tudo que você disse sobre Joyce, e sobre Raul. O que distoa na visão sua sobre o irlandês é a não percepção de que o excesso e a excentricidade dele que o fazem genial. Mas se quer Joyce conciso, busque os maravilhosos contos de "Dublinenses". Mas nada igual a "Ulisses", meu camarada! Ainda mais nesses tempos de emburrecimento internáutico, o excesso na boa literatura é um fator de redenção. Cada página ali é a demarcação do território pessoal de plena liberdade de Joyce. Não à toa que existam tantos estudiosos de "Ulisses". Recentemente li "Dublinesca", do Villa-Matas, e senti o quanto a homilia em cima dos mais comezinhos detalhes desse romance fazem a alegria e a vida de milhares de leitores. Isso é o máximo a que uma criação humana pode se prestar: criar um universo coerente próprio, um livro-casa, um livro-cosmo, um abrigo para tempos de mediocridade.

    Sobre Raul: não tenho nada dele aqui. Não o ouço seriamente já faz décadas. Mas quando começam os acordes de guitarra de "Maluco Beleza", minha alma encolhe. Sobre a poética de Raul, você se engana redondamente: não existe nenhuma letra de música de toda a MPB superior a "Ouro de Tolo". Tem disco voador nela, também. Mas isso é coisa a época, e talvez nem seja tão vinculada à cultura defasada do LSD, mas uma questão geográfica lúdica dos descampados do sertão nordestino. Caetano os citam em "London, London", não é?

    Mas que Raul é brega, é. Que Raul é o mais descarado plagiador, é. Mas que Raul é mentirsos, é. Que ficou apiedantemente derrotado com as drogas, de frente às câmeras, mal sustentando uma palavra, isso ficou. Mas vc se engana sobre a mercantização oportunista dele por músicos, no final da vida, seja pelo vocalista do Camisa de Vênus ou qualquer outro. Me recordo que Raul era discriminado entre a juventude escolar, e os jovens em geral. Era muito mal afamado, e, portanto, não-capitalizável.

    Gosto dele por ter sido um canastrão consciente, um comediante. Sua inteligência era elátrica, no auge da carreira, mas, como a maioria de sua classe, sucumbiu na paixão da vaidade.

    E vc acha mesmo que a crítica de Raul à ditadura não procede? Ouça "Capim-guiné" e "Metrô 743".

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  41. Rachel,

    ontem mesmo estava ouvindo com a Dani o V, da Legião. A Dani gostou muito, pediu para baixar a discografia, que vi já pronta no torrente assim que amanheceu. A Dani tem esse frescor de sobrepor a pureza do gosto acima da crítica, coisa que eu jamais consegui. Nessa falta de preconceitos, ela consegue fazer as aproximações mais ofensivas com um ar maroto de quem o fez "sem maldade". Daí ter dito, certo dia, que os acordes iniciais de "African Blue", do Coltrane, parecer bastante com o "Adocica, meu amor, adocica", do Beto Barbosa.

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  42. Ramiro,

    O F.C. aqui é um futebol clube rebaixado para a 298ª divisão poética da última, inculta e bela flor. Batatinha não nasceu e não espalhou rama no meu quintal cimentado.(Fábio Carvalho)

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  43. Olha só o que vem bem a calhar:

    http://renatoerachato.tumblr.com/

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  44. Charlles,

    Lembrei-me de que um amigo seu comentou sobre as boas qualidades do Kindle. O leitor está custando uns quinhentos reais (dentro de minhas possibilidades), mas estou tendo problemas em fazer o pedido à Amazon.com - eles pedem endereço jurídico e cálculo de impostos, coisas que não sei fazer. Será que Luis, acho que é o nome desse seu amigo, se você tiver o email deve, não poderia me orientar nessa compra? Tem um site brasileiro que o vende, mas eu não confio nele...

    Abraço,

    Milton Cardoso.

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  45. Milton,

    vou passar uma mensagem para ele sobre essa sua solicitação. Eu li seu email e acabei me esquecendo de te responder. Desculpe.

    Abraço.

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  46. Charlles, não vou entrar em polêmica...

    Mas compare "Cálice" com qualquer verso de Raul Seixas que, por sinal, aparece aqui...


    http://www.youtube.com/watch?v=oXGDlMMOEWg

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