Chegou-me hoje Guerra e Paz, traduzido por Rubens Figueiredo e publicado pela Cosacnaify. Volumes belíssimos, cuja tiragem extravagante para os números da Cosac (7.ooo exemplares) revela o ensejo de repetir o que foi feito em efeitos de boa promoção mercadológica com a primeira tradução de Crime e Castigo do russo, pela Editora 34. Letras grandes, dois charmosos fios de seda em cinza e azul escuro como marcadores de página, capas de material aveludado, estudo introdutório (ainda que bastante resumido), painéis históricos e de ajuntamento didático para que o leitor não se perca com os inúmeros personagens que trafegam pelas 2.536 páginas, mapas e uma série de outros mimos. Vai vender. Vai entrar para a lista de best-sellers de revistas como a Cult e a Bravo.
Mas a chegada desses livros me fez meio que esclarecer e arrefecer uma dúvida que tenho há décadas. Li Guerra e Paz pela editora portuguesa Europa-América, lá se vão uns 15 anos. Mas não há a mínima referência se a tradução, assinada pelo enigmático casal de tradutores lusitanos Isabel da Nóbrega e João Gaspar Simões, foi feita diretamente do russo. Daí justo hoje, que resgatei essa edição das prateleiras da minha biblioteca, me veio à ideia as possibilidades de sanar tal dúvida através do Google. (Um desses insights desarroadamente tardios que me mostra o quanto a tecnologia me deixa ciente da minha latente obsolescência, do quanto passam-se os anos.) Eis que digito os nomes da dupla e me surge uma revelação: Isabel da Nóbrega não só foi a primeira mulher de José Saramago, como está no centro de uma história da biografia negada do nobel português. Saramago dedicou toda a sua produção literária entre 1968 a 1986 a Isabel, o período de tempo em que durou o consorciado entre eles, para depois apagar por completo seu nome e substituir pelo de Pilar del Río. E Isabel, pelo que consta, foi a responsável por abrir as portas da elite cultural portuguesa para o autor de Caim. Mais detalhes no seguinte endereço:
Mas, ainda assim, nada foi esclarecido sobre se a propalada estatura intelectual da Isabel desprezada e apagada do passado de Saramago, comportava a proficiência no idioma russo.
Dois posts sobre os russos: o Renato e o escritor, hehe. Não quis comentar no outro post porque discordo de muita coisa, mas deixa pra lá.
ResponderExcluirCassionei, passei seu blog para um grupo de amigos aqui que são absolutamente fanáticos pelos Engenheiros do Hawaii. Chega a ser quase escravidão (já que estamos no lance dos trocadilhos russoanos). Não sei se foi no Porém que vi uma referência a gravações raras da turma do Gessinger, que deixou esses meus amigos loucos.
ResponderExcluirComo vc diz lá: não fique à vontade aqui. Mas é sacanagem apagar comentário. Diga o que quiser.
Abraço.
Só não sou um fanático pelos Engenheiros, o que é uma escravidão mesmo.
ResponderExcluirEu apaguei esse mesmo comentário que estava no post errado.
Não sei do resultado final do Guerra e Paz recente, mas já tratei da questão das traduções de romances russos vertidos para português a partir de traduções em inglês ou francês, cujos profissionais simplesmente não respeitavam os originais e adaptavam os romances russos às cores locais sem qualquer escrúpulo. Por isso essa tradução atual deve se sobrepor a qualquer uma das anteriores. Apesar das pregações de Tolstói, vai dar briga aqui em casa na disputa de quem lerá primeiro este livro...
ResponderExcluirQuanto ao apagamento da primeira esposa de Saramago, isso parece coisa de stalinista, que Saramago, com efeito, um dia foi. Algo parece ter ficado, não?
Essa da esposa do Saramago me deixou muito decepcionado.
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