sábado, 5 de fevereiro de 2011

O Graveto Verde


Da apresentação do autor, por Rubens Figueiredo, em Ressurreição:

"Embora (Tolstói) tivesse boas relações com todos os seus quatro irmãos, foi Nikolai quem lhe marcou mais profundamente o temperamento. De um lado, era seu modelo de homem, belo, elegante, forte e corajoso. De outro, estimulava sua imaginação, afirmando possuir um segredo capaz de instaurar no mundo uma nova Idade do Ouro, sem doenças, miséria, ódio, e na qual toda a humanidade seria feliz. Nikolai alegava ter gravado esse segredo num graveto verde, o qual enterrara numa ravina da floresta de Zakaz. (...)

Curiosamente, dois anos antes de sua morte, Tolstói ditara as seguintes palavras, tendo em mente a redenção da espécie, tal qual imaginada pelo irmão Nicolai:

Embora seja um assunto desimportante, quero dizer algo que eu gostaria que fosse observado após a minha morte. Mesmo sendo a desimportância da desimportância: que nenhuma cerimônia seja realizada na hora em que meu corpo for enterrado. Um caixão de madeira, e quem quiser que  o carregue, ou o remova, a Zakaz, em frente a uma ravina, no lugar do "graveto verde". Ao menos, há uma razão para escolher aquele e não qualquer outro lugar."



8 comentários:

  1. depois volto pra ler
    http://www.youtube.com/watch?v=qyTHJ40pasM

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  2. Morreu ontem o Gary Moore. Engraçado estar pensando nisso quando acessei o endereço de seu comentário. Há dois meses repassei a discografia dele toda. É sempre algo muito triste. Fico calado.

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  3. Não consegui tirar o poema do Quintana da minha cabeça, depois de ler este post. Você, claro, lembra dele, não é? O Poema da Gare de Astapovo. É como se Tolstoy, nesses últimos anos, brincasse com a imagem que o mundo faria dele, unindo o trágico e o patético, o grandiloquente e o minúsculo. O tamanho de Tolstoy não esteve apenas em sua obra.

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  4. Nikelen, minha admiração por Tosltoi cresce a cada dia _ ou renasce, já que passei muito tempo longe dele. Acho que falei tudo sobre isso no post "O Século que Não Foi de Tolstoi".

    Vou procurar esse poema a que referes do Quintana.

    As novas traduções da grande tríade de eslavófolos que temos por aqui me gerou uma confusão na cabeça. Também me referia a Tolstoi com "y", assim como me é difícil falar "Anna Kariênina" e não mais "Anna Karenina". Independente desses detalhes de somenos, Tolstoi é uma das minhas maiores felicidades.

    Abraço.

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  5. Está no livro "Apontamentos de História Sobrenatural", e houve um tempo em que eu sabia esse livro quase de cor. Mas, como foi na pré-história (eu devia estar no 2º grau), voltei a ele para poder digitar direitinho, com cada verso no lugar. Não sei porque, fui lendo e ele foi me vindo a cabeça com a voz do Quintana e seu jeito único de recitar sua pontuação - que é o pesadelo das declamadoras (felizmente).




    Poema da Gare de Astapovo
    Mario Quintana

    O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
    E foi morrer na gare de Astapovo!
    Com certeza sentou-se a um velho banco,
    Um desses bancos lustrosos pelo uso
    Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo,
    Contra uma parede nua...
    Sentou-se... e sorriu amargamente
    Pensando que
    Em toda sua vida
    Apenas restava de seu a Glória,
    Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
    Coloridas
    Nas mãos esclerosadas de um caduco!
    E então a Morte,
    Ao vê-lo tão sozinho àquela hora
    Na estação deserta,
    Julgou que ele estivesse ali à sua espera,
    Quando apenas sentara para descansar um pouco!
    A Morte chegou em sua antiga locomotiva
    (Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
    Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
    E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu...
    Ele fugiu de casa...
    Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
    Não são todos os que realizam os velhos sonhos de infância!

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  6. Que lindo, Nikelen! Não conhecia.

    Esse episódio da vida de Tolstói não me sai da cabeça. A premonição dessas ações estão todas diagnosticadas no seu Ressurreição, em que o personagem principal, Nekhliúdov, se desfaz de toda a sua fortuna, dando suas terras aos mujiques, coisa que o próprio Tolstoi faz aos oitenta anos. Imagino o velho Tolstoi, desgostoso da mesquinharia terrena, abandonando a sua casa, partindo "sem lenço sem documento", enquanto sua esposa Sônia e seu pupilo Tchértkov, disputam os direitos milionários sobre sua obra.

    Morre solitário. Aliás, da forma como sua grandiosidade requer, como um dos "loucos de Deus".

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  7. Eu concordo. Neste mesmo livro, Quintana tem poemas maravilhosos sobre a velhice que vê a infância e a ainda a sente presente em si. É uma das seleções mais lindas dele.

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