O senhor Galheb repetia, a fumaça de seu cigarro de palha fazendo ornamentos arábicos no ar, ao tom de seu determinismo cansado,vendo tudo da posição privilegiada de uma lucidez que o excluia de alguma maneira desse fim. Ele morava no porão do edifício, um apartamento improvisado cujos livros espalhados por toda a parte e os três abajures franceses encarnados davam uma distinção remota. Ali dentro eu gastava as horas de muitos entardeceres a ouví-lo, um libanês incorporado à vida da grande cidade ocidental, insolvido nas miragens de sua cultura adotada e com uma personalidade latino-americana mais legítima que a de alguém nascido em Acapulco. Trazia as características étnicas na grande cabeça de traficante do deserto, que não conseguia evitar imaginá-la esteticamente perfeita cortada sobre uma bandeja, alcançando a sua condição adequada de monarca destituído. Os olhos argutos, incansáveis, soltavam faíscas discriminativas quando se deparavam com seus alvos cotidianos (que, para meu deleite, quando andavamos pela avenida do mercado central, eram muitos). O nariz cinzelado, terminado um pouco antes de ter atingido a metade, curto e empinado, condizendo com o afiamento da lingua. Uns óculos redondos de lentes escuras fechavam como a cereja do bolo a sua constituição de estrangeiro singular, alguém cuja natureza era de outra órbita mais dinâmica e avessa ao tédio daquele conjunto de prédios. Estava abstraído de tudo aquilo, ainda que a realidade fosse bastante valiosa para ele, com todos os seus tormentos. Ele tinha plena consciência da morte que pressagiava, conhecia a fundo a corrupção que acarretaria a purgação por ele anunciada. Mas não sofria, era ferrenhamente adepto de uma filosofia de que tudo nessa realidade terrena era passageiro demais para merecer seu sofrimento. Ria da últimas novas com uma felicidade contagiante, seus dentes devastados acrescentando um ar traquina diante a falência do dono da funerária Salstinieri, da notícia de que a mulher do contador do bloco C estava tendo uma escapada com o motorista do ônibus da usina, que o pastor da igreja metodista da esquina havia feito desconto nos dízimos para cinco por cento dos ganhos dos fieis.
_ A podridão da espécie humana_ele dizia, com uma seriedade de profeta bíblico, depois de ter-se refestelado de tanto rir_ Nunca se teve tanta degradação, nem em Sodoma e Gomorra.
Estava antenado a todas as notícias, lia a todos os jornais e revistas. Furtava-os de escritórios de advogados e salas de espera de dentistas. Citava cifras, estatísticas, medidas territoriais, com assombrosa precisão. Conhecia de astronomia, deslumbrado pelo milionésimo de segundo na criação do universo que permitiu que a vida fosse possível. Um micro segundo a mais ou a menos, Halperin, e não estaríamos aqui. Anunciava a morte com uma amargura pela danação de todos, mas a vida o impressionava com uma força inexorável. Era um solitário, mas a solidão não o angustiava. Era imune a qualquer tipo de nostalgia, a não ser a de um tempo tão longuínquo que não se podia precisar ao certo se já existira. Tinha três filhos, como uma vez me dissera, mas sua relação com eles parecia ser de uma complexa provação de acusações e ressentimentos que lhe estafava. Uma vez, quando cheguei a seu apartamento, encontrei um rapaz um pouco mais jovem que eu, alto, os cabelos cortados rente ao couro cabeludo, à moda militar, o quadril largo de uma desengonçada herança materna, os olhos carregados de uma inocência que ele tentava afogar sob trejeitos de argúcia estudada. Era seu filho mais velho. Entre os dois pairava um mal estar de pesadas obrigações. A brutalidade simpática de Galheb reduzia-se a uma irritação cuja lentidão do relógio comia-lhe os nervos. Por final, diante seu Golias de pele láctea e enormes bíceps por sob a camiseta colada de estivador, algo da tribo do deserto lhe tomava conta, saltando-lhe em cima. A coqueteria cheia de lugares comuns da paternidade vinha abaixo, de forma que eu o sentia retraír-se no movimento para não deixar o gancho de direita de seu super-ego deslocar-lhe o maxilar. Ele olhava sem compaixão ao filho e soltava, sem paciência e aos trotes, os conselhos usuais de um bom emprego, de uma boa mulher. Considerava o portento hormonal que tinha diante de si e voltava a vaticinar sobre auto-controle. Falava sobre o perigo das ganguês que estavam se exportando de Juárez para a capital, narrando algo dos jornais, um estupro grupal, uma briga de bar. E o garoto encolhia-se como um patinho, as mãos grandes e voluntariosas cruzadas sobre as coxas como um par de ferramentas erradas. A firmeza falsa do garoto, sua curiosidade propositalmente infinita diante o pai, era massacrada por um gaguejar desconcertante.
Quando Galheb se via livre dele, as raízes beduínas desapareciam. Ele abria a porta de sua caverna e quando via que era eu que estava ali esperando, lançava-me um cumprimento cordial, simulando surpresa, sempre referindo-se a um pressentimento de minha chegada.
_ Eu juro que há pouco, enquanto almoçava, me veio a certeza de que você apareceria, e eu pensei: Vou ter que comer duas vezes com Halperin_ dizia.
Da soleira até a sala disparava a falar, disfarçando a impressão de que ensaiara a procissão de conhecimento no silêncio de sua reclusão, rumorejando um por um os artifícios de humor, crítica, e dados documentais.Mas os efeitos daquela vida comum e insípida que a presença do filho lhe afrontara se fazia ver em seu rosto concentrado. Era um homem talhado para a solidão. Seus olhos ferozes abaixavam-se um quarto de circunferência e se mostravam focados num impreciso ponto adiante, de novo sem se assombrarem com nada.
Isso é Bolaño, não é? De qual livro mesmo? Bem, se não for é um paralelismo ou palimpsesto perfeito. É incrível como esses personagens, que trazem em si uma imensa ancestralidade, pululam por aí, imersos no admirável mundo novo, perplexos, estóicos, resistentes e ao mesmo tempo completamente perdidos de sentido, tanto no que se refere à significação quanto a direção, às vezes se aferrando, como numa última bóia de náufragos, nos mitos formados/formadores.
ResponderExcluirBom texto nesse momento exato em que os árabes tem diante de si tantas encruzilhadas sobrepostas, a maioria delas pesando sobre os ombros como uma obrigação - vá por aqui ou por ali, porque senão...
Nossa, Rachel, muito obrigado pelo elogio. Esse é parte do quinto ou sexto rascunho de um romance que estou escrevendo, por ora intitulado "As Aventuras de Halperin Sás". É um apanhado ficcional de grande parte de minha experiência, com retratos da minha mãe, de meu avô, meus tios, de minhas botas ortopédicas, de minha redescoberta de meu pai na floresta Amazônica, das várias profissões que exerci, desde funcionário de cartório a agente prisional, das viagens que fiz na adolescência por um Brasil que pouco ou disfarçadamente aparece na trama. Estou reparando tudo para que soe dentro de meu propósito de um romance picaresco (no melhor sentido, não caricatural, mas com humor e insinuações de fé whitmanianas).
ResponderExcluirGalheb existe e é um senhor de 60 anos, um dos meus melhores e mais geniais amigos. Procurei fazer a descrição dele de modo fiel, assim como sua relação com o filho. É um curdo despatriado, que me ensinou muito sobre orientalismo e sobre a questão árabe. Minha história trata da guetização na america latina, pois no prédio onde eu morava, na infância,(que já daria um romance à parte, com ares de Bernard Malamud), tinha judeus e caipiras do interior na mesma proporção.
O propósito desses rascunhos (talvez haja a publicação de mais outros por aqui), é tornar visível coisas que por tanto tempo estão guardadas comigo, que necessito da perspectiva alheia para compreender excessos e acertos.
Espero que este post apareça, pois o meu anterior foi engolido por algum monstro dos circuitos da blogosfera.
ResponderExcluirPrimeiro, quero dizer do meu encanto em que tenhas decidido dividir isso. Tenho ficado muito satisfeita com os olhares alheios que recebo, não apenas pelos elogios (que fazem muito bem ao ego, não se pode negar), mas principalmente pelas críticas e correções. Tenho sempre a sensação que, quando alguém se demora a fazer isso por um texto seu, é porque viu nele qualidades o suficiente para dar minutos do seu dia a contribuir com um projeto alheio.
É, claro, mais difícil falar sobre um excerto. Algo que deveria estar engastado em uma parede, mas é destacado. E, ao se fazer isso, ganhamos ao ver os detalhes lapidares, mas ainda assim ficamos buscando o todo. Confesso que tudo ganhou mais sentido ao ler teu comentário, mas mesmo puro, o texto tem força.
O enigmático é muito atraente em teu "personagem", com seus comportamentos diferenciados às suas relações. No andamento do texto, eu confesso que fiquei mais à vontade no segundo parágrafo que no primeiro. Está mais solto, mais fluido. A descrição da relação com o filho ficou realmente muito interessante, assim como a descrição do filho.
Entendi que na primeira parte trabalhaste com um misto que envolvia a descrição física, a psicológica e a do ambiente que cerca o personagem. Isso, por vezes, colocou muitas informações em uma única frase. Talvez, daí, meu pequeno desconforto com a primeira parte do texto. Isso, sem dúvida, não ocorre na segunda parte.
Na frase:
"Estava abstraído de tudo aquilo, ainda que a realidade era bastante valiosa para ele, com todos os seus tormentos." Acho que a conjugação é "fosse", não é?
Novamente, afirmo minha felicidade em que dividas isso conosco.
Beijos e aguardo mais.
Muito, muito bom personagem o Sr. Galheb. Gostei da aura de mistério que o narrador-personagem percebe e enuncia sobre ele, contando-nos sobre sua imagem de sábio oriental, ou o que Halperín imagina como sendo isso (ele até mora em uma caverna de tesouros, não é mesmo?), sua figura de enorme cabeça (que me remeteu aos retratos de Arcimboldo - que são sombrios e tem cores, o que forma a estética visual que construí lendo tua descrição).
ResponderExcluirA Nikelen falou em mistério. Não há dúvida que também percebi o mesmo. O Sr. Galheb me pareceu uma porta para um outro mundo (os livros, as percepção do mundo, a morte).
Concordo com ela, também, no que se refere ao fato de que a cena com o filho funcionou bem e que o início está um pouco turvo. Especialmente as primeiras setenças. Se me permite, ali, parecem mesmo haver coisas demais em uma só frase. É um excerto e não sei o que o leitor já sabe sobre Galheb. Essa minha percepção talvez mudasse se soubesse o que vem antes. Enfim, este é o lugar de onde te digo estas coisas...
Lembrei também, de E. Sábato, no que posso estar enaganado.
Enfim, é isso. Por favor, continue postando aqui essas partes da obra. Ficamos agradecidos e esfregando as mãos!
Ah... e preciso destacar uma passagem.
ResponderExcluirExcelente:
"E o garoto encolhia-se como um patinho, as mãos grandes e voluntariosas cruzadas sobre as coxas como um par de ferramentas erradas. A firmeza falsa do garoto, sua curiosidade propositalmente infinita diante o pai, era massacrada por um gaguejar desconcertante."
Charlles,
ResponderExcluirVou discordar da Nikelen e do Luís.
Gostei muito do início do excerto. Um início digno de tantas outros inícios que vieram a marcar o frontispício de toda boa literatura
"O senhor Galheb repetia, a fumaça de seu cigarro de palha fazendo ornamentos arábicos no ar, ao tom de seu determinismo cansado,vendo tudo da posição privilegiada de uma lucidez que o excluia de alguma maneira desse fim."
Frontispício que anuncia, como omen, a boa literatura.
Poderia muito bem fazer companhia a outros grandes inícios,
Aujourd'hui, maman est morte. Ou peut-être hier, je ne sais pas.
Se pudesse mudar uma coisa. Mudaria o vaticínio de Galheb que inicia o texto. Faria-o mais Qohelth-like, mais carregado da antiga orientalidade que exulta do resto da narrativa.
I meant to write Qoheleth.
ResponderExcluirPuxa! Acessei o blog agora, e quanta alegria de ver comentários tão ricos. Vou procurar responder organizadamente:
ResponderExcluirNikelen: tenho enormes lapsos de conhecimento da gramática portuguesa. Vejo isso como uma espécie de dislexia na escrita, equiparado à gaguera na fala. Quando comecei a me curar da gaguera extrema, percebi que me tornei um ser-humano desprovido de sotaque (e olha que para um mineiro-goiano isso é aberrador!). Uma vez uma menina me perguntou de qual país eu era, pois falava numa musicalidade diferente. Isso passou a ser recorrente. Da mesma forma, quando comecei a confrontar meus textos com alguns leitores, as observações eram de estranhismo, um tom antigo, meio demodé, como se eu escrevesse numa lingua menos sinérgica que a de Mia Couto, mas mais "africana" que a de João Gilberto Noll.
Eu escrevi a outro escritor por nós conhecido, Marcos Nunes, que achava que ele deveria persistir em seus cacoetes e maneirismos de estilo, até transformar a coisa em um traço distinguidor distintivo do "modo Marcos Nunes" de escrever. Recomendei que mergulhasse em Javier Marías, o romancista espanhol que se impôs sobre a literatura e seus 6 milhões de leitores com um estilo idiossincratissíssimo.
Isso tudo acima para falar que meu molde para escrever vem de escolher (ou intuir) uma conjuntura musical, um 1,2,3,4 que direciona a escrita através de sua sonoplastia sinfônica, que, num primeiro momento, despreza a gramática para considerar as opções e caminhos espontâneos insurgentes. Por isso que correções como as que vc fez, são benefícios de se publicar tais excertos e APARECER. Vou lá corrigir.
(Por exemplo: inspirado pelos ótimos contos que vc e o Farinatti escreveram, semana passada cometi escrever também um meu. Imaginei a história _ um borrão semi-definível_ e comecei o trabalho, ouvindo a musiquinha interna que sempre é ligada no meu pen-drive interno quando escreve. E surgiu a seguinte frase inicial (as aspas são marcadores):
"Tantas opções que uma memória preenchida por cinqüenta anos de experiências poderia lhe dar diante o cadáver, e só sobrava ao adido Geraldo Mertem o pensamento do quanto a pele humana, no fim das contas, se esforçava por prevalecer ao tempo."
Isso me veio do nada, não sei porque meu personagem tinha que ser adido, e só fui descobrir a razão da "pele" estar ali, só mais adiante. Parece coisa do diabo, mas a música que esse início propôs tinha que ser a do conto, não havia meios de mudar isso.)
Farinatti, o apartamento do Gahleb é justo dessa maneira que dissestes. Sua casa original tem livros por todos os cantos, e mil pés de guariroba a cercando, além de mais algumas centenas de pés de mangas de todas as variedades existentes (inclusive a manga-pequi, um projeto de indigestão gástrica de cinco centímetros que é uma das coisas mais intensamente odoríferas que já cherei). Mas transportei o cenário para as sombras e entulhamentos do edifício católico em que morei quando criança. Se te fiz corresponder a cabeça do monarca destituído a uma pintura, então meu propósito foi correspondido.
ResponderExcluirReconheço um certo excesso de informações no primeiro parágrafo, e não sei se isso funciona da maneira que idealizei. Mas meu objetivo ao longo da composição desse romance era dar a impressão de que muitas coisas estivessem acontecendo. Meus modelos de leitura mais pertinazes avalizam isso (as inúmeras histórias por página do GGM; o jorro sensorial da escrita de Saul Bellow; a inapreensão do tempo e da realidade no "mundo paralelo" similar a esse, onde transitam os personagens de Isaac Bashevis Singer e outros autores judeus como Sholem Ash).
E Sabato não é o maior escritor "judeu" que temos por aqui?
Luiz, espero para meu bem psicológico que vc não tenha escrito isso com um sorrizinho sarcástico na boca. :¬)))
ResponderExcluirMas o que vale mais é saber da confiança que tens na minha sobriedade e auto-crítica em como receber tais comparações.
Seu último conselho é valiosíssimo.
Esse começo do Camus mata a pau.
Obrigado a todos!
comecei a ler e pensei, com o charlles fica melhor lendo de bate pronto, voltei e li essa primeira frase e acho ela perfeita, no q diz e como diz, apenas com um detalhe: talvez ficasse melhor, depois de dita a frase "determinista cansada":
ResponderExcluir"Era o que o senhor Galheb repetia, a fumaça..."
pois do jeito q está A MIM me confundiu um pouco...
tenho q ir mas volto já
voltei
ResponderExcluirfora essa abertura de q gostei mto, me tocou foi o último parágrafo.
"Mas os efeitos daquela vida comum e insípida que a presença do filho lhe afrontara se fazia ver em seu rosto concentrado."
acho q essa frase guardou mais do q tu escreveu. talvez esteja bem assim, mas talvez seja sobre isso q tenha q escrever mais.
é bom q tenha me poupado de escrever o óbvio, o qto o escrito toma das histórias q já contou da tua vida e família (se não estou enganado, até esse senhor galheb tu já mencionou). até a gagueira apareceu ali. eu acho legal isso, parece q tua riqueza vem disso tudo, q bom usá-la.
como poderia ser chato só escrever do q gostei, e parece q estamos numa espécie de brainstorming, digo q me incomoda um pouco ler frases basilares (excetuando-se a do começo) como a q termina com sodoma e gomorra. parece q chamam demais a atenção para elas, não serei eu o pscicólogo q não sou a dizer q tu nos está escondendo alguma coisa. achei POUCO misterioso o senhor galheb, talvez por contraste. devia ser mais, ou sou apenas eu q gostaria de saborear mais, e pouco a pouco, aquele porão [figurativamente falando], talvez por ter lido a palavra e lembrado do homem do subsolo.
provavelmente já estou me perdendo, são só primeiras impressões.
[qto ao português escrito, não q me incomode, mas eu sempre note, sempre me causa estranheza, como usa o "diante", sem a preposição "de". aí na voz do galheb, admito, me soou artificial. mas tbm, estou acostumado a só ouvi-lo (aliás, sem acento agudo aqui) na tua voz]
desculpa, mas só pra me fazer entender sobre aquele "POUCO misterioso". quero dizer q, porra, charlles, te conheço um pouco e tenho boa intuição, tu pode bem mais.
ResponderExcluirArbo, há descuido mesmo na fala do Galheb. Não sou bom em diálogos, e essa é uma das partes a serem modificadas. O que torna sua crítica valiosa. O problema desse cara é que já fiz inúmeros retratos dele, e tais partes apresentam-se soltas no conjunto do projeto.
ResponderExcluirRealmente eu só escrevo sobre mim. Sobre certas palavras, pode ser que a estranheza que mencionas venha de expressões regionais. É incrível como o Brasil se revela enorme. Às vezes tenho que perguntar ao Milton e à Caminhante o significado de alguns termos óbvios para vcs do sul (como agora, ao dizeres "bate pronto", que não conhecia).
Mas estou tergiversando. Gostei muito de sua crítica. Mostrou onde falta intensidade.
O Galheb já apareceu num postizinho sem muito brilho e autobiográfico intitulado "O Suicída na biblioteca", aí lá para trás.
Obrigado mesmo, Arbo! Não sabes o quanto suas palavras valem para mim.
Sim, Charlles, depois da leitura desse seu ‘rascunho’, pressinto claramente que, paulatinamente, além do ‘profissional’ leitor, começa a nascer seu escritor. Tomara!
ResponderExcluirCharlles, nossa briga é de passarinho grande diante de serpentes, pois nós, escritores, somos Penélopes a tecer o manto ao AMOR longínquo…
ESCREVER É RE-VER!
Como prova do que digo, deixo aqui o qüinquagésimo rascunho de algo a ser escrito…
NUNCA MAIS
by Ramiro Conceição
Silencio… por aquilo que não foi;
que ter nascido poderia por aquilo;
por aquilo... que jamais será vivido.
Nunca mais
a primavera,
nossos odores.
Nunca mais
aquelas cores.
Nunca mais
qualquer risada
naquela estrada.
Nunca mais
qualquer palavra…
Nunca mais!
PS: creio que tive uma vertigem, pois li em algum lugar desse post ‘SER-HUMANO’ – esse composto-substantivo-complexo. Puxa, teria sido a primeira vez, em português, que alguém se atreveu a escrevê-lo com naturalidade! Fez 15 anos o “Nascimento”!… Por isso, mesmo assim, caro Charlles, obrigado!
Charlles,
ResponderExcluirmorreu Moacyr Scliar...
Acessei o blog agora e vi essa sua notícia. Pouco assisto televisão (será que interromperiam o anão vestido de beringela se esfregando num apresentador, que vagamente vi ontem, para anunciarem a morte de um escritor?), mas todos os dias visito o site da Cia. das Letras, e, inocência a minha, interpretei as linhas debaixo da foto do Scliar como uma "retirada" e afastamento da família para escrever. E era só a poesia do amigo Schwartz que se despedia, o modo dele dizer que o autor havia morrido.
ResponderExcluirNunca li o Scliar. Escapara da minha obsessão por literatura judaica por uma série de fatores que não sei explicar. Mas nunca me passou pela cabeça que fôssemos perdê-lo tão cedo. 70 anos é muito pouco para um autor judeu, a não ser que a opção partisse de seu próprio punho, como Primo Levi. É sempre triste isso. Vou ligar a tv hoje à noite para ver como vão tratá-lo. Não foge ao tema recorrente de um professor amigo meu que desistira de uma carga horária excessiva para poupar-se da depressão. "Os alunos ficam lá na minha frente, Charlles", ele disse," e me veio à cabeça a cena do Homens de Preto. É como se fossem extraterrestes, criaturas bestializadas, zumbis. Só absorvem o que a mídia autoriza e avalia como legítimos. Privam-se de serem humanos, e descartam o prêmio do raciocíno."
Queria explicar porque me veio à mente, de imediato, o Bolaño. Quem o leu conhece aqueles personagens que surgem do nada, dizem algo que lhe é distintivo e, logo em seguida, pequenos detalhes vão construindo/desconstruindo, de tal forma que percebemos que, à parte suas obsessões, o tal personagem está, de maneira equivalente ao narrador (que pode ou não ser um personagem), meio perdido em um mundo que se desloca das ideias que nutre, envolvido em um meio hostil e violento, de uma violência insidiosa, como na Casa Tomada, de Julio Cortázar. A primeira parte do miolo me fez desconfiar que não, não era Bolaño, mas a última parte e o parágrafo seguinte me fez retomar as dúvidas. No final estava errada, mas creio que o século XXI, à parte as excentricidades de sempre, aliás incorporadas ao todo, torna a todos semelhantes; fica difícil perceber as singularidades, principalmente às 8 da manhã...
ResponderExcluirPoxa, se a Rachel, squinting eyes, viu Bolaño, por que é que eu não posso comparar o início a Camus? ;)
ResponderExcluir“Poxa, se a Rachel, squinting eyes, viu Bolaño, por que é que eu não posso comparar o início a Camus? ;)”
ResponderExcluirPuxa (do espanhol pucha, alteração de puta, puta, prostituta) interj. Algo semelhante à “porra” em português, quando diante duma situação de espanto…
Mas… ‘poxa’, Luiz, “squinting eyes” para a Rachel, por quê? Por que tamanha indelicadeza?
Todos nós aqui, salvo triste engano, somos festejadores da grande literatura. Poxa, puxa, Luiz, gostaria de conhecer o seu processo dialético, no sentido de Platão, para afirmar que isso é Bolanho, mas aquilo é Camus. Que maravilha seria!... Eu, por exemplo, aprenderia muito… Aliás, Luiz, meu destino é aprender até o instante derradeiro com aquela Senhora que não tolera zombarias…
Outra coisa, Luiz, por que da utilização constante de expressões em outra língua? Como se tal escritura tivesse algum respaldo ao conteúdo que você quer expressar? Para mim é muito estranho, pois nas penitenciarias americanas e inglesas a matula também escreve assim…
Luiz, tenha a certeza que, neste blog, todos, começando pelo dono, são profundos admiradores e conhecedores do silêncio… gerador de novidades ainda não sonhadas…
Portanto em respeito ao Charlles, me calo aqui… Pois acabo de engolir um “calo” extremamente duro de engolir…
LuJARDIM DOS CASTANHOS
ResponderExcluirLuiz, preste muita atenção...
JARDIM DOS CASTANHOS
by Ramiro Conceição
Não tenho casa,
porque a tenho
sob os cabelos.
Meu jardim dos castanhos
será o que verei, vejo e vi:
uma celebração do existir.
Assim, quando vier o medo
em que o senhor é o escuro
da certeza de que - se é só,
uma alegria terei de dizer, ao olhar ao lado:
“Obrigado, por te amar até o dia que findará
pela falta de sorte, que será a nossa morte.
É,
ResponderExcluirparece que os deuses deram pau...
MAS NÃO DERAM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Ô, amigo Ramiro, não vi nada de ofensivo no comentário do Luiz. Assim como não tem nada ali ofensivo à professora Rachel. E fica muito legal esses termos em inglês e francês que o Luiz interpõe em seu texto.
ResponderExcluirCalma, amigo poeta. Tu tá parecendo eu há dois anos, lá no blog do Milton.
Só agora pude vir aqui. Pelo que entendi, eu teria um olhar torto, o que é, claro, só uma questão de ponto de vista (sei, foi péssimo). Nada a reparar: o olhar vê seletivamente. O ponto a partir do qual se olha (a luz da razão que, em nós, quase equivale a um buraco negro) se antecipa ao objeto, que raramente está onde está e é o que ele é. Bem, é só isso.
ResponderExcluir"Nenhum nacionalismo, nenhum regionalismo; aqui se fala português por força do acaso. Mas também se falará outro idioma quando necessário e, principalmente, quando desnecessário"
ResponderExcluirGosto muito dessa brincadeira do portal Apostos, e até subscreveria a ela se não fosse pelo fato de aqui no Canadá, onde moro, usar constantemente tanto o inglês como o francês. As expressões vem naturalmente, meu karo.
A Rachel,
A quem ainda não conheço mas gosto muito de ler os comentários quando aparecem por aqui no blog.
Squinting eyes é uma expressão que se usa quando a pessoa (qualquer pessoa) aperta os olhos para poder enxergar e perceber alguma coisa. Foi, óbvio, uma bricadeira, primeiro com o Charlles que havia brincado com a minha comparação que fiz do texto dele com Camus, e segundo, uma referência a isso aqui, "fica difícil perceber as singularidades, principalmente às 8 da manhã", nada mais. Much ado for nothing por causa da leitura errada da sintaxe da frase.
Em tempo,
ResponderExcluirSe me permitem adicionar outro quinhão.
Eu achei o máximo que a Rachel genuinamente confundiu o texto do Charlles com o de Bolaño. Digo isso com toda a candura do mundo, sem nenhuma condescendência.
Luiz, então essa porcaria do Google Analytics tá certo! Tem alguém no Canadá que acessa esse blog.
ResponderExcluirQue me perdoe o Ramiro...aliás que me perdoe nada, já que me sinto por demais íntimo dele! Mas acho que ele tomou umas cangibrinas antes de escrever o acima, e deixou a verve apaixonada tomar conta (Vc que ainda não viu esse cara brabo!). Sinto-me privilegiado por ter conseguido, em algum momento, cativar a atenção de pessoas como vc, o Ramiro, a Rachel, ... que frequentam esse espaço. E aqui impera a total liberdade, tanto que não faço restrição de comentários e deixo a coisa a solta.
E achei estranho o Ramiro, porque diversas vezes vi alguém, nos outros blogs que ele frequenta, o atacar por escrever em versos. Más entendimentos à parte, harmonizemo-nos irmãos!
(Ninguém mais do que eu achei o máximo o engano da Rachel!)