segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Fim do Meu Ecletismo

Vou pôr um ponto final em meu ecletismo de leitor de informações. Aliás, já há alguns meses minha abstinência por certas revistas, jornais e blogs já vem acontecendo de forma espontânea. Hoje só vou à lotérica da cidade, onde se vende revistas e livros, só para fazer uma encomenda ou outra de livros com a simpática proprietária, com a qual já tenho uma relação de cumplicidade (quando ela marca em sua agenda de pedidos um título em meu nome, me liga diligentemente para explicar atrasos ou me manter informado sobre a monitoração de onde está a carga, o que me faz lembrar, romanticamente, a livreira Sylvia Beach e sua livraria, Shakespeare and Company, que atendia em Paris Gertrude Stein, Ernest Hemingway e James Joyce _ não fazendo nem a mais distante comparação). Há muito que cancelei as duas assinaturas da Veja e da Carta Capital, e minha assinatura de 12 edições da revista Piauí encerrou-se neste mês. A editora Abril já entulhou minha caixa de correspondências de facilitações e descontos para a retomada do contrato, mas meu desfastio se completou de forma peremptória com esse representante chic da posição neutra "por cima do muro", com a reportagem de cinco páginas lançada no último número sobre Luan Santana. Cinco loguíssimas páginas que me obrigaram a ler achando que veria uma crítica sobre a mídia massificante e a boçalidade da adolescência, mas que não há nada ali, nenhuma caveira de burro enterrada, além do dia a dia de um milionário de menos de vinte anos e de uma jovem que largou os estudos para presidir honradamente um fã clube a ele destinado. De forma que para mim, foi a gota d`água.

E eis que, após meses _ ou quase um ano_ que não me ocupava com a leitura da Veja, me cai em mãos o exemplar abaixo. Só a capa já embrulha o estômago! A matéria em si sobre o casal de cordeiros, deveria ser alvo de um centro de pesquisas sobre comportamento humano e nível intelectual, pois quem conseguiu lê-la na íntegra, todas aquelas colunas de letras incomensuráveis, só pode sofrer de algum tipo de doença muito profunda, uma anomalia na alma. Nesse mesmo número _ que, sério, é fantasticamente desprovido de conteúdo_, há uma matéria do Diogo Mainard querendo desconstruir ninguém menos que Jared Diamond, o autor de um clássico de antropologia e gestão ecológica moderna intitulado Colapso. O Mainard sofre de oligofrenismo de estilo, um texto dele tem a mesma estrutura técnica de todos os seus outros textos. É como se ele tivesse um programa de computador em que joga sua pretensa ideia, e o software já imprime a coisa dentro de um molde rigoroso. Mainard tem uma espécie de gaguejar de maneirismos da escrita, uma redundância minimalista que só é irritante para os poucos que levam a sério a raiva que suas limitações provocam. Ele não é apenas um péssimo escritor, como lhe falta a mínima coerência e bom gosto artístico. Lembro uma entrevista dele ao Jô, em que comenta sobre o já eternamente esquecido filme por ele lançado no mercado cinematográfico nacional, em que, ele diz, ajuntou a cena gratuita de uma explosão automobilística só para ver se capturava audiência. Nesta decantação que faz ao Jared Diamond (autor que admiro muito, e do qual li Colapso, Armas, Germes e Aço, e Por Que o Sexo É Divertido?) , ele, que demontra não ter lido nenhum desses títulos principais, pega o lançamento nacional de um  dos primeiros livros de Diamond, The Third Chimpanzee, e traça uma série de pre-julgamentos e conceitos sarcásticos (o desproteinado sarcasmo mainardiano) sobre agumas das teorias defendidas pelo autor. Mesmo que estivesse certo em sua crítica da possível obsolescência e enganos de Diamond (não li esse livro, para opinar sobre), seria como alguém afirmar que Roberto Bolaño não é um grande escritor, baseando-se apenas em Uma Pista de Gelo. Sem contar que o Millôr Fernandes, quando tinha uma coluna na Veja, fez um artigo sobre Diamond que consolida o lugar desse grande analista erudito dos negros caminhos que a humanidade depredatória segue. E a própria revista Veja, numa edição especial, publicou com exclusividade um  extenso artigo assinado por Diamond. Aliás, esse texto de Mainard concorda ao menos com um outro absurdo texto em que ele NEGA o aquecimento global !!!! O que mostra que não só a Veja sofre de bipolarismo quanto à arregimentação de sua linha editorial, quanto seus leitores realmente fenecem na mais acomodada burrice.

9 comentários:

  1. Pois eu te afianço que receberás propostas e ofertas de revistas da Abril por anos. Como larguei tudo em 2007, posso te garantir. Mas o pior são os telefonemas. Eu digo que odeio os Civita, que tenho motivos, ideológicos, que meu dinheiro acabou, que fui atropelado e morto anteontem.

    Na próxima, anunciarei que aquele Milton Ribeiro morreu.

    Vamos ver se funciona.

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  2. Ter uma linha editorial clara não é defeito, é virtude. O problema é que Veja fez questão de, como bem diagnosticado por ti, esvaziar-se de conteúdo para transformar-se em mero panfleto conservador, com alguns adendos mercadológicos.

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  3. Esses dias eu recebi uma ligação da Folha de São Paulo. O detalhe é que jamais tive qualquer assintura de jornal. Antes da Dúnia, eu tive assinatura da Casa Claudia, e por causa disso padeci anos de ofertas. Hoje me livro de todas com o argumento de que a oferta é ótima mas tenho um cachorro que come qualquer exemplar que apareça no meu portão (o que não é mentira).

    Eu parei de ter prazer nessas leituras depois que fiz sociologia. Revistas femininas, então, me irritam profundamente. O Luiz comprou uma Veja com a retrospectiva de fim de ano e fim de mandato e a atirei longe antes de chegar à metade. A vida é difícil para leitores críticos.

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  4. Milton, minha sogra recebia muitas ligações pra renovar a assinatura de uma revista de artesanato, acho que de tricô. Um dia ela disse que parou de assinar porque estava com um sério problema nas mãos e não conseguia mais segurar as coisas. Caso você tenha algum pudor de matar o Milton, existe a possibilidade de um problema de visão.

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  5. Milton, me fez lembrar de um amigo meu que era perseguido por aqueles testemunhas de Jeová querendo que lhe comprassem as revistinhas. Já a ponto de explodir, ele, num auto-controle sofrível, pede para que o casal de pentecostas entre e se achegue em um sofá da sala de sua casa. Retira o dinheiro que recebera do mês de sua loja de tecidos (eles já sabiam a hora e o dia de darem o bote), faz três montinhos de notas por cima da mesa, de frente ao casal, e ,com uma voz ultra-doce, diz:

    _ vamos ver, irmãos, esse (pega num monte de dinheiro), é para pagar a pensão dos meninos, esse outro, para as putas que eu frequento todas as semanas, e esse último, (que pena!), é para as pingas de todos os dias. Ó irmãozinhos, não sobrou nada!

    Vou ter que achar algo tão criativo.

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  6. Farinatti, realmente. E os jargões utilizados, as palavras pesadas e a redução da tolerância com as ideias contrárias. Já li chamarem Marx de "pensador de quinta categoria", e Chomski de "completo idiota". Ela caiu demais de qualidade, a um ponto que virou um púlpito de onde os editores acham que instituem comportamentos e ideias para a sociedade. Resta saber a qual ponto estejam certos. Como o mesmo amigo do comentário acima costuma dizer, não há limites para a estupidez humana.

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  7. Genial a postagem, meu caro Charles.
    Outro dia tive o desprazer de folhear essa abominação, enquanto aguardava para cortar o cabelo (era a edição analítica e isenta sobre os oito anos do governo Lula).
    Senti vontade de vomitar e passei para a Caras, infinitamente menos nociva em sua cretinice bovina mas que, pelo menos, tem um monte de foto de mulher bonita :-)
    Como a direita brasileira é tosca, grotesca e completamente desprovida de charme. E como seus arautos se limitam a reproduzir, entre eles mesmos, um discurso raivoso e vazio, rico em preconceitos e chavões mas pobre de conteúdo.
    Quem não tem Roberto Campos caça com Mainardi e Reinaldo Azevedo.

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  8. Érico, meu caro. A revista Veja me lembra uma das cenas dos antológicos filmes da Cicciolina: um bando de amigos numa punhetagem grupal que gozavam na cara de uma loira deslumbrada com os pobres limites da sua realidade.

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  9. O endereço é http://movimentozeitgeist.com.br/

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