Da apresentação do autor, por Rubens Figueiredo, em Ressurreição:
"Embora (Tolstói) tivesse boas relações com todos os seus quatro irmãos, foi Nikolai quem lhe marcou mais profundamente o temperamento. De um lado, era seu modelo de homem, belo, elegante, forte e corajoso. De outro, estimulava sua imaginação, afirmando possuir um segredo capaz de instaurar no mundo uma nova Idade do Ouro, sem doenças, miséria, ódio, e na qual toda a humanidade seria feliz. Nikolai alegava ter gravado esse segredo num graveto verde, o qual enterrara numa ravina da floresta de Zakaz. (...)
Curiosamente, dois anos antes de sua morte, Tolstói ditara as seguintes palavras, tendo em mente a redenção da espécie, tal qual imaginada pelo irmão Nicolai:
Embora seja um assunto desimportante, quero dizer algo que eu gostaria que fosse observado após a minha morte. Mesmo sendo a desimportância da desimportância: que nenhuma cerimônia seja realizada na hora em que meu corpo for enterrado. Um caixão de madeira, e quem quiser que o carregue, ou o remova, a Zakaz, em frente a uma ravina, no lugar do "graveto verde". Ao menos, há uma razão para escolher aquele e não qualquer outro lugar."
depois volto pra ler
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=qyTHJ40pasM
Morreu ontem o Gary Moore. Engraçado estar pensando nisso quando acessei o endereço de seu comentário. Há dois meses repassei a discografia dele toda. É sempre algo muito triste. Fico calado.
ResponderExcluirNão consegui tirar o poema do Quintana da minha cabeça, depois de ler este post. Você, claro, lembra dele, não é? O Poema da Gare de Astapovo. É como se Tolstoy, nesses últimos anos, brincasse com a imagem que o mundo faria dele, unindo o trágico e o patético, o grandiloquente e o minúsculo. O tamanho de Tolstoy não esteve apenas em sua obra.
ResponderExcluirNikelen, minha admiração por Tosltoi cresce a cada dia _ ou renasce, já que passei muito tempo longe dele. Acho que falei tudo sobre isso no post "O Século que Não Foi de Tolstoi".
ResponderExcluirVou procurar esse poema a que referes do Quintana.
As novas traduções da grande tríade de eslavófolos que temos por aqui me gerou uma confusão na cabeça. Também me referia a Tolstoi com "y", assim como me é difícil falar "Anna Kariênina" e não mais "Anna Karenina". Independente desses detalhes de somenos, Tolstoi é uma das minhas maiores felicidades.
Abraço.
Está no livro "Apontamentos de História Sobrenatural", e houve um tempo em que eu sabia esse livro quase de cor. Mas, como foi na pré-história (eu devia estar no 2º grau), voltei a ele para poder digitar direitinho, com cada verso no lugar. Não sei porque, fui lendo e ele foi me vindo a cabeça com a voz do Quintana e seu jeito único de recitar sua pontuação - que é o pesadelo das declamadoras (felizmente).
ResponderExcluirPoema da Gare de Astapovo
Mario Quintana
O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo,
Contra uma parede nua...
Sentou-se... e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda sua vida
Apenas restava de seu a Glória,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê-lo tão sozinho àquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali à sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A Morte chegou em sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos os que realizam os velhos sonhos de infância!
Que lindo, Nikelen! Não conhecia.
ResponderExcluirEsse episódio da vida de Tolstói não me sai da cabeça. A premonição dessas ações estão todas diagnosticadas no seu Ressurreição, em que o personagem principal, Nekhliúdov, se desfaz de toda a sua fortuna, dando suas terras aos mujiques, coisa que o próprio Tolstoi faz aos oitenta anos. Imagino o velho Tolstoi, desgostoso da mesquinharia terrena, abandonando a sua casa, partindo "sem lenço sem documento", enquanto sua esposa Sônia e seu pupilo Tchértkov, disputam os direitos milionários sobre sua obra.
Morre solitário. Aliás, da forma como sua grandiosidade requer, como um dos "loucos de Deus".
Tenho que redundar: belíssimo poema!
ResponderExcluirEu concordo. Neste mesmo livro, Quintana tem poemas maravilhosos sobre a velhice que vê a infância e a ainda a sente presente em si. É uma das seleções mais lindas dele.
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