sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O pintassilgo


Tanto se fala de Donna Tartt, e mais ainda de seu novo romance, O pintassilgo, que estou ansioso para conhecê-los. Estou em uma dessas semanas em que fico absolutamente sozinho em casa, à mercê da música, da escrita, da leitura e dos pratos de solteiro preparados aventureiramente à noite. E hoje me chega o pacote da Companhia das Letras, que vem em ótima hora. Vou iniciar a leitura de O pintassilgo na segunda-feira; quem estiver passando por esse blog que queira testar se Tartt é essa grande escritora de que tanto se fala, e que tal best-seller e vencedor do Pulitzer seja mesmo a tão aclamada obra-prima, lendo concomitante comigo o romance, poderemos no post da minha resenha talvez debater sobre o assunto.

15 comentários:

  1. Já tinha ele na mão quando abri a carteira e descobri que não estava com o vale-cultura.

    Li esse mês o primeiro romance dela, A História Secreta, e foi um vício. Devorei as 500 páginas em quatro dias. Simplesmente não conseguia parar. Um thriller sobre estudantes de grego com spoiler na primeira linha, e mesmo assim queremos saber o que vai acontecer. O livro que Joël Dicker tentou escrever e não conseguiu. Detalhe: fui atrás dele por causa de um perfil dela de 1992 em que ela termina falando de pintassilgos... Me pergunto se já não pensava nesse livro desde aquela época.

    O Pintassilgo será uma boa leitura, não tenho dúvidas.

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  2. Li a amostra gratuita do Pintassilgo na Amazon e fiquei impressionado com a prosa cativante e envolvente de Tartt, entretanto, no momento, estou envolvido com outro projeto, concluir Karl Ove.

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  3. A Amazon está me assustando. Não sei se penso bem ou mal dela. Há livros lá mais baratos que na Estante Virtual. Auto-de-fé, do Canetti, que custa 89 reais nas outras livrarias, está sendo vendido na Amazon por 36 reais. E frete grátis acima de 70 reais, se não me engano. E dá uma nova esperança ao ver a opinião dos leitores: são quase 400 resenhas feitas por leitores de Telegraph Avenue na página correspondente no site da empresa. Fiquei uma tarde inteira lendo os comentários de leitores dos meus livros preferidos.

    Esses pontos são ótimos para fazer as empresas nacionais se endireitarem quanto a cobrança abusiva de frete, demora no envio, preços altos demais de livros, etc. Mas, a coisa talvez devesse envolver uma lei de protecionismo ao mercado nacional de livros, porque senão a coisa vai ser uma quebradeira pra todo mundo.

    Por coincidência, esse é o tema do novo Chabon: uma mega-empresa que chega para acabar com o comércio local de uma pequena cidade.

    Vou ver se minha esposa encontra o História secreta para me trazer.

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    1. Protecionismo a favor dos livreiros nacionais? penso que isso seria uma tragédia. Deus nos proteja contra isso! O que precisamos é de um choque de realidade para as grandes editoras, competitividade, lucros numa faixa mais racional. No Brasil, os produtos culturais de primeira linha são caríssimos, produtos de luxo, é só comparar quanto custa o e-book de Chabon em inglês com o traduzido: R$ 14,69 contra R$ 39,50, PQP mais do dobro! Qual é, será que o tradutor ganha tão bem assim? E não me venham falar em custo Brasil, carga tributária, porque já considero isso uma grande falácia, desculpa pronta pra não vender barato.

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  4. A SAGA DE CHARLLES CAMPOS NUM TERREIRO
    by ramiro conceição
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    No escuro de uma sexta-feira desterrada, perto da meia-noite, Charlles Campos perambulava, lá, pelo interior de Goiás… Distraído, a mirar estrelas, a escutar latidos, não percebeu que chegara ao terreiro do preto velho Miro Conceição… A porteira estava aberta e o solitário leitor profissional resolveu entrar… Era uma pequena trilha que o luar tornara um riozinho de terra com mato pra todo o lado… Uns pirilampos, por pirraça, amolavam os grilos que protestavam pela escuridade… No fundo do quintal, do íntimo de uma cabana de taipa, uma lamparina soprava uma luzinha pela porta semiaberta… De repente, alguém no imperativo lá de dentro…
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    – Zifinho, zuncê qué intrá? – Charlles Campos, encafifado, aceitou.
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    – Com licença!… – Em meio à fumarada de um cachimbo, Charlles Campos em silêncio se acomodou em um banquinho à frente do octogenário que, cabisbaixo e cachimbado, preparou dois copos repletos de aguabraba…
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    – Toma zifinho, mas numa talagada… – Charlles Campos pegou o copo e detonou num trago só – Zefinho, já sei…Nem precisa falá!… Zuncê tá borocochudo, tá num bololô danado, num é?
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    – É, pai Miro, tá tudo confuso… – Charlles Campos transpirava com um olhar esbugalhado… – É forte a danada, num é, pai Miro?
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    – É zifinho… É… Huummm… Parece que zuncê tá com coisa do jurabê… Deixa preguntá… Zuncê andou falando no seu brog arguma coisa sobre argum canguete ou argum traíra?
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    Charlles Campos, agora um pêndulo, balbuciou… – Bem, pai Miro, lá no blog escrevo sobre muita gente… Normalmente, são escritores que amo e admiro… Ah, sim… Há umas duas semanas escrevi elogiando o Reinaldo Azevedo, da Veja…
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    – Huumm… É mucho grave, mucho grave… Vai, zifinho, disimbucha mais, abre o bico…

    (continua...)

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  5. A outra questão é a rixa entre ficção literária e ficção comercial, que Umberto Eco resumiu há décadas sob a dicotomia “apocalípticos e integrados”. Foi aí que o bicho pegou. Mais precisamente, numa longa reportagem publicada no número de julho da revista Vanity Fair, com uma piadinha meio besta no título: “It’s Tartt – But is it Art?” (“É Tartt, mas é arte?”). Para refutar a opinião canônica do New York Times, a Vanity Fair recrutou três outros pesos pesados da crítica: a New Yorker, o New York Review of Books e a Paris Review. James Wood, resenhista da New Yorker e talvez o ensaísta mais respeitado da atualidade, cuspiu fogo. “O arrebatamento com que O pintassilgo foi recebido é mais uma prova da infantilização da nossa cultura: um mundo no qual adultos circulam com Harry Potter sob as axilas”, escreveu.

    No New York Review of Books, a crítica Francine Prose afirmou sobre a prosa de Tartt: “Ninguém se importa mais se um romance é ou não bem escrito?”. O editor da Paris Review, Lorin Stein, foi impiedoso: “Hoje, até o New York Times tem medo de dizer que um livro popular é uma bela droga”.

    A controvérsia, apesar de divertida, saudável e útil, não é nova. A crítica literária não é uma ciência exata. Está impregnada de subjetividade. Já suspirava George Steiner, um dos hermeneutas mais prestigiosos de todos os tempos: “Quem seria crítico, se pudesse ser escritor?”.

    http://epoca.globo.com/vida/noticia/2014/09/donna-tartt-e-um-bgenio-ou-escreve-malb.html


    Fiquei interessado pelo História Secreta.

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    1. Que está havendo mesmo um infantiloidismo da escrita com base em um emburrecimento do gosto devido à internet e aos filmes cada vez mais boçais de Hollywood é um fato incontestável. Telegraph Avenue, digamos assim, foi a tentativa não muito bem realizada de um escritor com amplos potenciais fazer desse cenário uma obra equivalente ao melhor de Joyce. Fracassou, mas não redundantemente.

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  6. Li o texto do link, e pô, até onde sei a galera ainda lê Lagerkvist. O Anão é ótimo.

    Pelo visto a Vanity Fair adora trocadilhos com o nome dela. O [elogioso] texto de 1992 se chama Smart Tartt. É lendo obras como A História Secreta, Kavalier & Clay, Jonathan Strange & Mr. Norrell que eu gosto da tal expressão "middlebrow". Independentemente de serem thrillers, sobre HQs ou de fantasia, são muito divertidos e bem escritos.

    Claro, não é a prosa elaborada de Marias ou Knausgaard, mas acho que dá para ler ambos com prazer equivalente.

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    1. Não me atenho muito ao mundo cultural da crítica etc. Vejo pela superfície. Mas é muito válido que ele exista, com seu fetichismo e seu misantropismo. Estou devendo uma resenha séria do novo romance de Chabon, o qual me deixou em uma sinuca de bico.

      Os únicos escritores de quem aceito sem suspeitas o milagre da excelência, hoje em dia, são Marías, Pynchon, e Roth, mais ninguém.

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  7. Pros americanos, é tudo ão! ão! ão! A vez em que o Freedom do Franzen foi declarado o-romance-do-século -- sim, tínhamos todos vivido só dez anos de século XXI -- tem que ser sempre lembrada a cada nova sensação literária ianque. Eu gostei bastante de ter lido a Tartt, qualquer dia desses vou na biblioteca lá da Letras -- já disse que a biblioteca da faculdade de letras da Ufrj se chama hilariamente Biblioteca José de Alencar? -- e pego emprestado a edição novinha da The Secret History que tem lá; mas a Tartt não sobrevive soterrada no hype dos marqueteiros americanos, o que diz muito menos de como ela escreve do que de como aquela velha egomania ianque, fundadora de coisas como a ânsia pela great american novel, corrompe tudo.

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    O problema com a Amazon são as práticas escrotas. Ainda este ano, por causa de uma briguinha sobre preços de ebooks, a Amazon impediu que seus próprios clientes comprassem livros do grupo Hachette. Fez isso inventando previsões pra envio longuíssimas, que consumidor nenhum ia querer, e botando só nos livros da Hachette. Enfim, ser grande demais é um problema -- problema pros outros, menores, que não conseguem peitar o agrandalhado.

    Aliás, por causa dessa situação Amazon x Hachette, teve uma carta aberta contra a Amazon assinada por uma boa quantidade de autores. No meio, tanto a Tartt quanto o Chabon.

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  8. oi charlles. eu ja perguntei em uma outra oportunidade - eu fui o cara que voce apagou sem querer o comentario, e nao se preucupe com isso, sei a atençao que voce da a comentarios e fez questao de explicar que estava usando o celualar-, e pergunto novamente: ja tentou escrever um romance? voce simplesmente me parece ter voceçao, apenas isso.

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  9. Vou esperar teu parecer pra ver se é bom o livro.

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    1. Estou na página 300, e tenho por mim q está sendo uma das minhas melhores leituras dos últimos 5 anos. Delicioso!

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