Neste momento me comovo com o segundo movimento da belíssima Sinfonia No. 11 de Shostakovich, efusivamente recomendada pelo Carlinus. Mas ontem, estava com a Júlia nos braços dançando ao som de Watching and Waiting, esta magnífica música desta magnífica coletânea de uma das mais elegantes bandas de progressivo da história.
PICARETALHAS
ResponderExcluirby Ramiro Conceição
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Estava cá, com os meus botões, a pensar em escrever algo à cultura que anda a perambular por essas plagas… Mas, desisti!... Tal atitude não se deve porventura a qualquer falta de argumento, mas, sim, ao espetáculo pedagógico que presencie, em todas as mídias sociais, associado à retomada do dito prédio, digo cortiço, conhecido como museu do índio ou uma suposta aldeia denominada de maracanã, que estava sediada, até ontem, 22/03/13, no Rio.
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Foi extremamente divertido, para não dizer patético, dramático, idiota ou piegas, constatar alguns heróis com penachos, chocalhos e arcos, a enfrentar a terrível injustiça que ali estava a se dar. Cheguei às gargalhadas quando um pseudoadvogado varonil apareceu em cena na tentativa de impedir a desocupação, digo, limpeza, daquele terreno baldio. Literalmente, o rato – será que seriamente diplomado? - tomou no cu, digo, um apimentado cacete no rabo. Deveras interessante também foi obsevar que nossos renomados presidiários então a fazer escola: aquelas camisetas, enfiadas na cabeça a esconder focinhos, parecem que se tornaram moda no Brasil, principalmente entre as lideranças, digo, embustes, do movimento estudantil; ah, certamente, ali estavam verdadeiros revolucionários da UFRJ, da UFF e, vai saber, até da USP (não se deve esquecer que tal vestimenta, própria à tal cerimônia, foi utilizada com sucesso naquela célebre e célere invasão da reitoria às margens do Rio Pinheiros.
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Ionesco revirou-se na tumba, pelo plágio descarado do absurdo, quando uma personagem masculina, de cocar azul, começou a relatar, com todos os ritmos e acentos do benquisto e castiço português, sobre a violência da polícia contra mulheres e crianças.
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Fenomenal foi a retirada de poucos indígenas retirantes numa vã: Glauber jamais teria imaginado tal cena registrada por um câmera de TV que, se aproximando em primeiro plano, trepidamente, rápido, desvendou o interior do automotivo: um jovem gorduchinho que, sem qualquer dúvida, foi muito bem alimentado por esses vitaminados da Nestlé a venda, e facilmente encontrado em qualquer supermercado.
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Porém o mais fantástico – do que aquele do “plim-plim” – foi quando o bando de refugiados chegou aos terrenos cedidos pelo estado à construção da “sede representativa de todas as nações indígenas brasileiras”: uma personagem, agora, feminina, com ares de antropóloga, com indubitáveis rugas macróbias, regadas durante muito tempo a álcool, à cocaína e muito fumo (da lata!) começou a balbuciar algumas palavras. Corte milimétrico de edição: a cena seguinte: uma rodinha a dançar… a dançar…: a antropóloga, um barbudinho da zona sul de jeans e penas, penas… Que pena!
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Após tal ópera bufa, cheguei à conclusão que a humanidade está num estágio de transição, um degrau mutante da social escala evolutiva – é o tempo dos picaretalhas: uma mutação genética que se dá quando um conjunto de seres humanos possuem em seus genes, em complexa sinergia, partes de picaretas e outras de canalhas…
errata: é óbvio que um conjunto de seres humanos "POSSUI"...
ExcluirAFORISMOS
Excluirby Ramiro Conceição
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1.
O poder
só lambe
o umbigo.
Perigo!
2.
Por assustador que pareça
não existem portos seguros.
As religiões são barcos náufragos
onde só os capitães - são salvos.
3.
Pros antigos romanos,
Lúcifer… era Vênus:
a falsa estrela,
a metáfora perfeita.
4.
Brilhar
é uma brincadeira viva
duma estrela - grávida.
5.
Quando vem o silêncio… que quase mata,
faço logo algum barulho pra ver se passa
essa burrice intermitente… que ameaça.
6.
Ao lidar com capachos,
cuidado com escarros.
7.
A gargalhada é o estampido,
o tiro d’alma a matar o tédio
da bípede súplica a Deus:
pra privatizar as graças,
socializando desgraças.
8.
Quando
se cuida
contente,
o amor
cuida
da gente.
9.
Quando o amor é mar:
um cobertor de orelha
cobre - a Terra inteira.
10.
Quem der mais, leva.
A justiça é puta cega.
11.
Não há perguntas idiotas.
Mas… respostas idiotas.
12.
O amor é uma promessa
que atravessa… bichos.
Então - além desse lixo -,
onde está o “ser-humano”?
Ramiro, tem aí uns três ou quatro aforismos que são muito bons!
ExcluirGrande, Charlles! Bom gosto é o que não falta a esse rapaz!
ResponderExcluirGrato, Carlinus,
Excluirpelo rapaz... Esse contumaz
conjunto de cabelos brancos.
Carlinus, fiquei curioso depois que comentaste a sua formação em teologia.
ResponderExcluirFizeste teologia por um acaso na FTBB?
Não, Luiz, fiz o curso de Teologia em um seminário calvinista - um presbiteriano. Estudei para ser pastor, mas acabei abortando a ideia. A experiência foi boa. Deu-me bastante conhecimento, mas o teto da religião é muito baixo. Quem quer levantar-se e olhar um pouco mais longe acaba se machucando. Hoje, vou à igreja (presbiteriana) sem compromisso. Vou mesmo por causa da minha esposa.
ResponderExcluirOpa, Carlinus. Não sei quando você começou os seus estudos e quando os abandonou. Estudou com o Marcos Alexandre Faria?
ResponderExcluirNão sei se frequentou o seminário da Presbiteriana Independente ou IPB (?).
Teologia Reformada pode bem ser uma draga, especialmente quando vindo dessa escola brasileira.
Gosto do Ricardo Quadros Gouveia, especialista em Kierkegaard da Presbiteriana (deu aula durante um tempo no Andrew Jumper). Conhece ele?
Luiz, eu não abandonei os estudos. Bacharelei-me em Teologia pelo seminário da IPB. Conheci, sim, o Marcos Alexandre. Estudei quatro anos com ele. Tive a oportunidade experimentar bons bate-papos com o cara. Você o conhece? O Marcos era admirado pelos seminaristas. Ele havia lido muita coisa. Era um modelo de piedade diligente. Você se formou também em Teologia?
ResponderExcluirConheço o Ricardo Quadros. Possuo dois livros dele em minha biblioteca: "A paixão pelo paradoxo" e "A palavra e o silêncio", ambas as obras versam sobre sua especialidade, Kierkegaard. O Ricardo Quadros é mal visto pela ala mais conservadora da Igreja por causa dessa inclinação para com um existencialista, que é resultado do pensamento teológico do liberalismo.
Outra coisa: você mora em Brasília? Se, sim, poderíamos marcar um encontro para conversamos.