sábado, 5 de janeiro de 2013

Proscrição



Uma delegada local me processou por desacato e o juiz determinou que, por punição, eu preste serviço todas as quartas-feiras em uma associação de auxílio à comunidade carente. Foi um desacato muito bem feito e do qual jamais me arrependo, sendo possível que, se as reviravoltas da vida me colocar mais uma vez no caminho dessa mulher, eu o faça mais uma vez. É um assunto que não merece ser vasculhado e, por isso, passo adiante. Quando me apresentei na associação, uma mulher gorda, de óculos e um sorriso radiante, me informou sobre o serviço realizado ali, que era o de ajudar pessoas desconhecedoras de seus direitos com o Estado, e pobres num grau de martírio tão grande que jamais seriam capazes de perceber o toque fino de ironia na necessidade de intermediadores como essa mulher e os funcionários do instituto para exigirem por elas. A instituição fica em um cubículo minúsculo recém pintado de branco, ao lado de uma pamonharia e convenientemente de frente ao hospital municipal. A mulher, nas beiradas de sua simpatia contagiante, me olha com uma cautelosa curiosidade, pois sabe que estou ali por uma obrigação judicial sem saber o motivo, e que na certa acha um mistério da sombria natureza humana que  por detrás de alguém bem vestido, sério e com a educação excessiva que eu uso nessas ocasiões protocolares se esconda uma espécie de pária social. Ela é delicada comigo mas demonstra ser segura o suficiente para exercer sua autoridade: um comunicado seu ao juiz e eu estou ferrado. No primeiro dia já nos entendemos e surge mesmo uma venturosa possibilidade de tornarmo-nos amigos; talvez daqui dois meses, quando acabar meu tempo ali, estejamos relaxados para confessarmos um ao outro que ela não era gorda o bastante para meu pre-conceito contra obsoletas e enraivecidas funcionárias públicas, e eu não era alto o bastante para seu alerta de aviso contra machos com atributos de barbarismos de gênero muito evidentes.

Entramos em um Fiat Uno branco que solta fumaça pelo escapamento em quantidades alarmantes, mas que a ela é absolutamente natural, e ela nos leva a uma das ruas mais distantes da cidade. Paramos de frente a uma casa com um muro grande de alvenaria e um portão fechado, diante o qual não se pode saber se a moça de uns 23 anos, grávida e com cara empanzinada parada em pé, mora ali ou apenas combinou o local por conveniência. A mulher, com muita doçura, abre a porta e inclina o banco para que a moça entre, e logo em seguida dirige o carro fazendo delicadas e diretas perguntas de sério funcionalismo para a gestante. A moça responde com a mesma eficiência concisa, com uma voz prontificada em ser o mais clara possível; é o tipo de conversa para a qual, ao ouvi-las, passo a acreditar por um momento que as palavras foram criadas, sem conversa fiada, sem individualismos e sentimentalismos. Uma voz moral sentencia em minha mente que se as pessoas se renegassem a conversarem assim entre elas todos os problemas do mundo estariam resolvidos. A gestante tem um ar desconfiado, algo inerente à sua natureza e que parece ter sua condição atual como uma das raízes dessa visão para com o exterior. Aos poucos, enquanto eu a ouço e tomo consciência de sua realidade, vou sabendo mais sobre sua altiva indiferença quanto a si mesma, sua negligência algo impassível diante a responsabilidade de promover a entrada de mais uma outra criatura no mundo. Na sala de espera do hospital, em que aguardamos que a obstetra a chame, capto as conversas sobre seu quadro clínico e seu diagnóstico social: está grávida do quinto filho; fora essas gravidezes bem solucionadas, teve dois abortos espontâneos; e está ali para tratar uma sífilis que, segundo a enfermeira que a direciona à médica, passou para o feto de oito meses. Olho para ela a cada nova descoberta anunciada para ver se há alguma reação, mas a única coisa que ela faz é adotar a mesma conversa estatística de respostas eficazes; há um ar erraticamente científico em seu rosto, como se dela irradiasse grande parte da atmosfera de experimento competentemente direcionado que as paredes brancas e os objetos do hospital novo propagam. Como se falassem de outra pessoa que ela representasse ali corporalmente apenas por uma questão elucidativa.

Há mais um fato novo: ela na verdade é uma sentenciada. Como eu, eu penso. Ambos, ela e eu, sentados nos bancos duros de arquibancada de estádio de futebol na sala de espera, ali reunidos por uma determinação judicial. Ela está cumprindo prisão domiciliar por tráfico de drogas. Há duas semanas, introduziu no canal da vagina um rolo cilíndrico muito bem embalado com fita crepe e plástico Insulfilm com 40 gramas de maconha no interior, e tentou levá-lo a seu namorado num presídio. As agentes femininas a pegaram na revista, e ela ficou uma semana presa. Como sua gravidez é de alto risco, o juiz abrandou a pena para que ela pudesse ser acompanhada em tratamento médico. É uma garota loira, os cabelos um tanto diáfanos e finos que passam a representar sua fragilidade diante esse súbito retrato, cabelos presos atrás por um laço azul e que ela enquanto fala constantemente tem que recolocar uma mecha por cima da orelha; tem os olhos claros; seu português é de periferia, mas ela tem uma energia verbal invejável, que mostra vez ou outra o quanto pode ser afiada. Ela não ri em nenhum momento; uma enfermeira alta e bonita se aproxima dela fazendo festa, com aqueles "mas olha só que custosa", "que linda que essa menina tá", abraçando-a como se fossem velhas amigas; e a moça apenas devolve uma amistosa mas fria resposta cordial. Ela expressa essa lucidez com estoica paciência aos que não conhecem a nudez sem eufemismos da vida real, respondendo de forma o mais contida possível à enfermeira por saber o quanto esta dirige seu galanteio à la mode de boutique mais às circunstâncias auto-referentes de sua beleza exuberante, a seu jaleco, ao piso marmorizado caro, às séries televisivas que dizem que deve se comportar infantilmente assim, mais que se dirige a ela. Falta-lhe, percebo, os dentes superiores da frente, por isso a vocalização soprada, e talvez por isso, afinal das contas, ela seja mais simples que eu imagino e não sorri por vergonha.

Minha função ali parece ser meramente ornamental, já que não me foi oferecido dirigir o carro, e não posso acompanhar senão de fora os exames exigidos pela médica da moça. A mulher_ minha chefe_, me coloca para ficar sentado à espera em um banco esfacelado, com as espumas à mostra, em uma saleta minúscula para a qual somos os três direcionados e que fica de fora do prédio novo do hospital. A sala de ultrassonografia. Fico por quinze minutos sozinho esperando, enquanto as duas estão lá dentro. Pouco depois entram duas adolescentes, uma gordinha e outra muito magra; a muito magra tem um piercing no nariz e leva uma cânula de soro. As duas não param de falar, rindo, com a gordinha tampando a boca como um cacoete diante a linguagem cifrada que a outra usa, mostrando um falso estupor. A mais magrinha ergue a blusa e mostra a barriga morena com outro piercing no umbigo, e olha para mim furtivamente. Puxa assunto comigo, diz ter 16 anos mas não acredito, pois parece 14, mas não a desminto. Teve um aborto espontâneo há uma semana e não para de sangrar. Fala e fala e quando cede lugar a ouvir a amiga falando continua me olhando. Lembro de uma criança índia, os cabelos negros muito lisos, os olhos vivazes. Tem os dentes como se fossem ainda a primeira dentição, um tanto separados e com os caninos rombudos, despreparadamente sem poder de presa. Ela pergunta tudo sobre mim, o que estou fazendo ali, quem estou esperando. Ela conta que não é casada, que conhecia o pai de seu filho abortado há três meses, que quando lhe fizeram a curetagem todo mundo queria dar-lhe o toque, médico, enfermeira, quem estivesse passando de frente à sala de cirurgia, entrava para vê-la arreganhada e para dar-lhe o toque, até que ela mandou todos para a puta que pariu e que a deixassem em paz. Contou isso com uma seriedade que destoou do tom aerado que tinha para todas as coisas, e somente nessa hora mostrou um ódio que exorbitava acima de sua idade. Mas logo voltou a me olhar e dizer coisas que um demônio antigo, morto de sonolência e que é um dos que já estão fora do prisma funesto de poder me prejudicar, me fazia recordar antigos caminhos pelos quais andava a febre, antigos despudores e adstringências. Ela mexia com o brinco do umbigo perfurado e dizia que deveria ter ouvido a mãe, assim teria se conservado virgem de orelha. Era tão magra e havia se desnutrido tanto pelas hemorragias, que me deu a certeza de que sua preocupação em se mostrar atinada a uma acirrada exigência moderna de concupiscência era uma ortodoxia aprendida muito cedo, um dos primeiros ensinamentos de sua vida. Era tão arraigado em seu espirito quanto seria no meu a impressão de liberdade em que eu poderia dizer a quem me desse na telha o que eu pensava, e o quanto isso me gerara de contusões e brigas nos parques das escolas, o quanto eu fizera com que ex-namoradas me odiassem apaixonadamente, o quanto perdi em oportunidades financeiras, o quanto criei ao longo dos anos a personalidade de misantropo e louco predestinado à solidão, de modos que quando meus vizinhos me viram com filhos e esposa houve uma espécie de expiração conjunta, uma descompressão com uma piedade no final (afinal ele não passava de um frágil assustado). O que uma doutrina dessas poderia fazer com ela futuramente, já que nesse paralelismo eu estava ali por ter mais uma vez me comportado segundo minhas mais irrefutáveis premissas sobre a vida.

Assim passou meu primeiro dia de sursis. Levamos a moça de volta à sua casa, após pegarmos os medicamentos e após terem lhe dado duas benzetacil. Próxima quarta eu retorno. Mas, nesta quinta, enquanto estávamos minha esposa e eu sentados nas cadeiras de fio na garagem, olhando as crianças brincando, eis que as duas adolescentes passam de bicicleta. A gordinha olha firmemente para mim, para comprovar se era eu mesmo, e grita: "olha ele lá, olha ele lá!". A outra me olha e me acena com a mão. Seguem adiante e eu retraio a língua em tensão e me nego a olhar para o lado antes de desejar ter uma audácia retórica para explicar aquilo que fosse tão grande quanto o nonsense delas em passarem ali de frente naquele momento. Imagino os cabelos da nuca da Dani arrepiados iguais a de um gato do mato. Respiro fundo e a encaro.

32 comentários:

  1. Arrepiante a história da gravidez, tão diferente da nossa realidade.

    Acho que o que você sentiu quando a moças te viram era o mesmo que eu sentia quando era reconhecida pelos pacientes psiquiátricos da clínica onde eu estagiava. Não havia quem me quisesse mal lá, só que a idéia de misturar a minha vida com pessoas de histórico agressivo, de paranóia ou até de pedofilia me causava arrepios. Era algo que eu queria evitar, fora da clínica eu não era mais estagiária.

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    1. Vou responder abrindo um espaço para cada comentário, para neguim olhar e ver o número de comentários do post (essas picuinhas compulsivas de blogueiro!)

      Antes de mais nada: o narrado acima é absoluta verdade, em tudo.

      Assim: Caminhante, é um tanto instrutivo conhecer esse, digamos, mundo submerso da nossa sociedade. É muito mais frequente e presente que se pode imaginar. Aqui é uma cidade de menos que 30 mil habitantes, agora imagine Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, o Rio...

      Sempre me preocupei com a superpopulação e pelos governos não ligarem a mínima em controle de natalidade. Quantos mais nascerem, na penúria ou não, maior o número de consumidores. Hoje li um artigo que falava do potencial de profecia de escritores como Orwell, com a Revolução dos Bichos e 1984, e Dellilo, com Ruído Branco e Cosmópolis, e como o próprio meio intelectual os repudia por pintarem um mundo tão distópico, tão retilíneo em direção à catástrofe inerente e subconscientemente programada para onde seguimos. Sei que é um assunto pesado, desculpe. Mas o Centro-oeste está sofrendo um dramático processo de desertificação, todos sentem o calor descomunal, mas ninguém percebe, como se Deus, ou Gaia, fosse nos salvar. Daqui a dez anos seremos o novo Ceará. Assim acontece com Porto Alegre (40 graus!!), que, em vários dias, faz mais calor do que aqui.

      E a sífilis está retornando, pelo que ouvi no hospital. Muitos casos. E adolescentes grávidas, sem a mínima condição para serem mães. A televisão eufemiza a prostituição_ concurso de piriguete, em pleno programa da tarde, e dá nisso.

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    2. Uma vez li sobre uma pesquisa que comparava dois países asiáticos, que tinham uma situação política e econômica muito semelhantes. Depois de dez anos, um deles estava se desenvolvendo e o outro se afundava cada vez mais. A única diferença significativa na política dos dois países havia sido o controle de natalidade fornecido pelo primeiro e negado pelo segundo, que tinha fortes raízes católicas. Não é o mero crescimento populacional, como você mesmo apontou e sim de uma população com pouca instrução, poucas perspectivas, que usaram ainda mais recursos assistenciais, etc.

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  2. Que beleza de texto. Tirando algumas poucas arestas menos polidas aqui e ali, coisa pequena que vai embora numa revisão mais atenta, isso aqui tá bem bom!
    Estranho. Ainda não consigo bem colocar o meu dedo sobre o x da questão. Mas você me parece já pronto como um novelista quando nessas incursões de inspiração biográfica. A coisa flui com muita naturalidade, como uma canção que você já conhece bem e que só depende de ser tocada num tom acima ou numa cadência um tanto diferente daquela da pretensa vida real. É claro que as texturas e os volteios que você arquiteta por sobre a matéria bruta da vida são mérito todo seu e tornam essa música que você repete na literatura uma composição toda sua.
    Sua ficção-ficção não flui com a mesma naturalidade para mim. Ainda que essa última seja auspiciosa.

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    1. Puxa, Luiz, adorei tua análise. Faço minhas as tuas palavras, especialmente a última frase.

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    2. Que beleza: após um excelente texto (semi?)biográfico do Charlles um comentário certeiro do Luiz. Como é comum nesses relatos (?) dele você é pego pela mão logo no começo e não consegue se soltar - e nem pretende. Prosseguindo com a leitura, nossa satisfação só aumenta e quando chegamos ao fim temos a certeza de que se non è vero, è ben trovato. E era esse o objetivo, não é mesmo?

      Já os textos de ficção-fição também não encaro direito. É um caminho (uma subida ingrime) que eu faço com muito esforço, desviando das pedras, cuidando para não tropeçar e ter de começar tudo de novo.

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    3. Obrigado, Luiz.

      Seria o caso de me renegar a procurar seguir o caminho de autores autobiográficos, como Sebald e Marías, sempre usando a primeira pessoa do singular? Esse texto eu o escrevi à noite, ontem, no caderno; quando fui digitá-lo, estava literário demais, longo, de maneiras que acabei escrevendo outra versão completamente diferente. Só conservei a frase (o que imagino que dê para perceber, se se olhar em, pela quebra de tom):

      "No primeiro dia já nos entendemos e surge mesmo uma venturosa possibilidade de tornarmo-nos amigos; talvez daqui dois meses, quando acabar meu tempo ali, estejamos relaxados para confessarmos um ao outro que ela não era gorda o bastante para meu pre-conceito contra obsoletas e enraivecidas funcionárias públicas, e eu não era alto o bastante para seu alerta de aviso contra machos com atributos de barbarismos de gênero muito evidentes."

      Vi depois os vários erros; escrevi rápido pois meus filhos estavam todos grudados em mim.

      Esse seu comentário é muitíssimo esclarecedor, e muito proveitoso para mim.

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    4. Fernanda, gostaria de enfatizar bem minha última frase. A ficção-ficção do Charlles é muito auspiciosa. E o adjetivo não é um paleativo não. Significa apenas que, de novo na minha opinião, ainda não atingiu a maturação ideal.
      A ficção auto-biográfica por outro lado está prontinha, penso.
      Pode ser também que falta a narrativa maior dos excertos que o Charlles põe aqui para que nos importemos com os destinos de "Eme" ou de outros personagens. A narrativa maior do narrador Charlles, nós, os leitores privilegiados dele, já conhecemos um pouco. A peregrinação até os confins do Pará para o acerto do conflito Edipiano. Os anos na obscuridade da timidez e da gagueira. O acidente de carro que funcionou como um rito de passagem existencial. A descoberta da paternidade. O auto-exílio no interior do Goiás. Etc, etc, etc.

      Matheus, gostei muito disso aqui.
      "Prosseguindo com a leitura, nossa satisfação só aumenta e quando chegamos ao fim temos a certeza de que se non è vero, è ben trovato."

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    5. Obrigado, Luiz. Mas o privilegiado aqui sou eu pelas qualidades dos frequentadores do blog.

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    6. Acredito que escreva mesmo em meio ao doce caótico de quem tem filhos pequenos. Se não fosse assim, como teria tempo para a vida interessante que aparece nos seus continhos?
      Você pensou em Sebald e Marías. A mim veio à mente a literatura, as vezes descaradamente biográfica, de Hemingway e Proust.
      Hemingway desperta em mim a mesma sensação que essa sua literatura biográfica. Não sei se invejo mais a biografia do autor ou o seu talento literário. Touradas e o festival de San Farmino, noitadas parisienses com a trupe de Gertrude Stein, a guerra civil espanhola, pesca no alto-mar do Caribe...
      Ao fim e ao cabo, e à guisa de confissão, fico imaginando quais renúncias e qual o preço que se paga na vida, por certas escolhas que se disfarçam num asceticismo da mente, que são contudo renúncias muito mais pusilânimes...

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    7. É como aquela ilustre cena de Adaptation de Charlie Kaufman em que o roteirista e palestrante profissional Robert McKee destila, em forma de rent, as renúncias de Kaufman...

      [at a seminar, Charlie Kaufman has asked McKee for advice on his new screenplay in which 'nothing much happens']

      Robert McKee: Nothing happens in the world? Are you out of your fucking mind? People are murdered every day. There's genocide, war, corruption. Every fucking day, somewhere in the world, somebody sacrifices his life to save someone else. Every fucking day, someone, somewhere takes a conscious decision to destroy someone else. People find love, people lose it. For Christ's sake, a child watches her mother beaten to death on the steps of a church. Someone goes hungry. Somebody else betrays his best friend for a woman. If you can't find that stuff in life, then you, my friend, don't know crap about life! And why the FUCK are you wasting my two precious hours with your movie? I don't have any use for it! I don't have any bloody use for it!

      Charlie Kaufman: Okay, thanks.

      http://criterioncorner.tumblr.com/post/10767159819/nothing-happens-in-this-world-are-you-out-of-your

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    8. Escrever sob esse furacão me instrui a ir direto ao assunto.

      O teor desse seu último comentário é meu estilo de vida aqui.

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  3. Caminhante II:

    Algo me dizia que você pensaria assim.

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  4. Legal essa imagem Matheus. Fico envaidecido.

    Minha ficção-ficção é algo muito particular, e posto os rascunhos aqui como uma auto-violação. A vantagem minha é que essa crítica não me escapa. Mas vejo que, se eu quiser seguir no projeto desse romance específico que tantas vezes relatei aqui, terei que radicalizar mais, tornar a coisa mais literária. Para bom ou para ruim. Não conseguirei escrever algo mais fluido antes de botar isso para fora.

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  5. "Vou responder abrindo um espaço para cada comentário, para neguim olhar e ver o número de comentários do post (essas picuinhas compulsivas de blogueiro!)"

    Pois é, mas sinto falta do gadget que ficava ali do lado direito, avisando os comentários novos... As vezes entro num post antigo e lá no fim tem um comentário de meses depois dos outros, esquecido.

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    1. Pô mermão, só agora que vi que esse gadget sumiu. Juro que não tinha reparado. Vai ver eu apertei alguma coisa errada. Vou lá corrigir.

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    2. É um problema do blogspot. Estão dizendo lá que essa opção está temporariamente fora do ar.

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  6. Você mora em Sucupira, Charlles.

    Magistratura com auto-ajuda, delegada que faz valer sua "otoridade", a gestante com sífilis, a vítima de pedofilia carregando sua cruz, o prefeito eleito com contrato mais feio que bater na mãe e a praça da maconha onde você bebe vinho clandestinamente em copo de plástico.

    É tudo tão medonho que rir é quase imoral. Mas não dá para não rir das mocinhas passando na frente da tua casa. "É ele!". É, é o Charlles, a versão masculina da Macabéa sentenciada a escrever suas memórias do cárcere (?). Se nem tudo é verdadeiro, tua versão é melhor que o suceder de fatos em si.

    Fábio Carvalho

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    1. Às vezes me falta a visão dimensionada desse universo sucupiriano, talvez por eu estar tão inserido nesse cotidiano absurdo.

      Mas o que me deixa intrigado é como você, Fábio, acha que tais coisas estão distantes de você. Desde que moro em cidades pequenas, descobri que tais locais são microcosmos da realidade do país. O que mais há no país, talvez acobertado por uma ilusória e analgésica distância escritorial, são esses elementos apontados em seu comentário.

      Uma pesquisa rápida do sucupirismo nacional:

      http://veja.abril.com.br/noticia/saude/cinco-novos-casos-de-sifilis-sao-diagnosticados-por-dia-no-instituto-emilio-ribas

      http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/camara-debate-criacao-de-estatuto-para-conceder-beneficios-a-presos

      http://www.parana-online.com.br/editoria/policia/news/561392/?noticia=PEDOFILO+E+LIBERADO+APOS+PAGAR+FIANCA+DE+UM+SALARIO+MINIMO

      http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2711200826.htm

      Achei muitos outros exemplos no Google só em uma olhada rápida.

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    2. E sobre:

      "e a praça da maconha onde você bebe vinho clandestinamente em copo de plástico."

      É sempre bom se precaver:

      http://www.pulgaonline.com/videos/details/id/umEmVICOfoE

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    3. Só nos damos conta MESMO em momentos que o contato com esta outra realidade paralela - mas também real - é inevitável e nada melhor que um Hospital de Pronto Socorro para o choque de realidades. Dias atrás, quando meu pai quebrou o colon do femur, passei o dia no local (e fui visitá-lo ainda outras vezes durante a semana), e a quantidade de coisas que ouvimos e vemos, pessoas e histórias que jamais encontraríamos e saberíamos se não tivéssemos um familiar necessitado de cura, é absurdo. Uma parte minha queria muito ouvir tudo e tentar ajudar todos, mas outra parte queria sair correndo por puro horror. Esta parte encontrou paz quando meu pai foi transferido para outro hospital, onde o contato com outros pacientes e familiares era raro, somente na sala de espera do bloco cirúrgico.

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    4. Sucupira está perto demais de mim, Charlles. Além do Pronto Socorro, eu ando de ônibus e confesso meu imenso interesse pela conversa alheia. Mas é fato que talvez a capital onde eu vivo me dê a falsa sensação de que essas coisas estão longe. Numa cidadela que eu conheço bem de perto, no interior de Minas, cerca de 10 mil habitantes formam a melhor Sucupira que eu conheço.

      Tenho parentes na prostituição e na drogadição. Loucos diagnosticados são vários (eu só não tenho o CID - por enquanto). O médico da cidade foi condenado recentemente por disputar racha na estrada e matar uma família inteira. Deu no Jornal Nacional, imagina? E o doutor nem prestou socorro à família que morreu.

      Tem os lances mais prosaicos.

      O juiz estudou comigo no antigo segundo grau (ele é técnico em laticínios também, risos). Um fulano meio maluco roubava calcinhas do varal da minha tia. Na praça, há um bicho-preguiça que SEMPRE despenca das árvores e quase mata a gente de susto. Há ainda um macaco, ou mico, que gosta de visitar as cozinhas da vizinhança. Levou a manteigueira de outra tia numa incursão.

      F.C.

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    5. Matheus, passei por esse sofrimento quando dos últimos dias de meu pai.

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    6. Fábio, me fez lembrar que um determinado repórter norte-americano foi a Caribe fazer uma matéria sobre o Garcia Márquez. No final dos três dias que passou por lá, ao ser deixado no aeroporto, ele disse ao GGM: "Você não inventou nada em seus livros. É o escritor mais sem imaginação que eu conheço. Tudo aquilo que escreveu acontece dia a dia por aqui."

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  7. O vídeo que não quer aparecer em meu comentário acima é esse aqui:

    http://www.youtube.com/watch?v=umEmVICOfoE

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  8. Violência doméstica DAS BRABA isso daí, hein. Tá com medo de algo parecido se chegar cambaleando, Charlles? Confesso que gosto de PERIGO feminino.

    Bah, mas a tiazinha CAGOU O CARA A PAU. Gostei.

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  9. Basicamente, concordo com o que foi dito pelos comentaristas anteriores sobre a “Proscrição”. Tal qual ressaltou a Fernanda, a nossa Caminhante, quando se referiu sobre o comentário do Luiz “…Sua ficção-ficção não flui com a mesma naturalidade para mim. Ainda que essa última seja auspiciosa”, creio que esse seja o primeiro degrau a subir em direção à publicação de seu primeiro livro.

    Tentarei ser claro. No fundo, todo escritor, por mais que se esconda, é o narrador fundamental de sua obra. Bem, aqui, é você que terá de decidir: seu primeiro livro será o relato de sua experiência explícita ou a voz de uma personagem a relatar uma (ou várias) experiência(s) histórica(s)? As duas opções, para mim, são válidas. De tudo que li dos seus textos, em minha opinião, creio que você está maduro a dar voz para uma personagem narradora. Se ao final, depois de tanto trabalho, for gerada uma coletânea de contos ou um romance, bem, isso é sua decisão.

    Noto também que você optou, ou se adaptou, à criação de períodos longos. Nada contra. Contudo, então, um extremo cuidado é necessario com a estrutura do mesmo. Por exemplo:

    “Uma delegada local me processou por desacato e o juiz determinou que, por punição, eu preste serviço todas as quartas-feiras em uma associação de auxílio à comunidade carente.”, aqui, claramente ocorre uma redundância, pois se o juiz determinou a você uma prestação de serviço em uma associação de auxílio à comunidade carente, então, é óbvio que isso é uma punição e, portanto, não é necessário ser explicitado; já está dito, sacou? ou

    “Foi um desacato muito bem feito e do qual jamais me arrependo, sendo possível que, se as reviravoltas da vida me colocar mais uma vez no caminho dessa mulher, eu o faça mais uma vez.” Aqui, sem dúvida, há erro de construção, que se resolve facilmente; contudo, você volta ao desacato, sacou?

    Charlles, vou parar por aqui… Creio que está dito o essencial. Gostaria que ficasse claro que enfrento justamente o contrário, isto é, por escrever fundamentalmente poesia – embora muitos, na rede, a definam como pseudopoesia!! – a síntese também é muito difícil. Mas se não fosse assim, qual valor teria tal ofício?

    É isso (espero ter contribuído com alguma coisa…).

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    1. Ramiro, meus textos aqui são escritos, a maioria, sem muito sossego. Eu reservo minhas 3 horas de isolamento em meu "escritório" caseiro, em que fico longe dos filhos e esposa,e eles compreendem. Às vezes escrevo de madrugada, em um caderno, coisas para o blog. E a família, fora dessas 3 horas, sempre exige a minha presença, ou eu fico tão precisado dela que eu mesmo me disponho. Há textos em que eu escrevi em Lan House, em 20 minutos, com barulho de toda espécie, como o "Patagônia", esse um dos hits do blog (:-))))
      Penso que foi sobre esse imediatismo sofredor que escritores como Hemingway aludia, ao dizer que escrevia em pé sobre uma banqueta, ou os sapatos apertados de algum outro, ou outro que dizia escrever melhor quando brigava com a esposa, etc.

      Claro que existem erros demais em meus textos aqui. É sempre bom quando alguém aponta-os para mim, e de modo algum ficaria ofendido ou melindroso com isso. Mas não posso ficar pedindo isso para os frequentadores do blog, claro. Ainda escrevo um post sobre o "analfabetismo" de grandes escritores. Tenho uma lista imensa sobre isso: os manuscritos de John Cheever são carregados de erros de gramática; Garcia Márquez diz que alguns de seus livros seriam ilógicos se não fosse a intermediação de corretores e editores, como é o caso da cronologia temporal em "O General em seu labirinto, além de ter escrito uma crônica sobre seu desejo de ter um ghost-writer para escrever bilhetes e recados, pois para isso era um energúmeno. E os tantos e tantos erros que existem nas páginas de Dostoiévski.

      Pode até parecer que estou procurando um álibi, mas Tolstói colocava redundâncias e repetições em seus textos justamente para ir contra as normas de eufonia da literatura europeia.

      Mas não concordo com você sobre a redundância nessa parte do texto:

      “Uma delegada local me processou por desacato e o juiz determinou que, por punição, eu preste serviço todas as quartas-feiras em uma associação de auxílio à comunidade carente.”

      A meu ver aqui houve uma enfática em prol do ritmo do texto, já que sem ela a frase ficaria menor e perderia-se o tom protocolar, de coisa burocrática e sem sentido que eu pretendi ressaltar. Já li vários textos jurídicos na época em que morava com minha mãe, defensora pública, em que vinha escrito: "O juiz decretou, nos autos da lei, que..."; mas não é claro que, se o juiz tem de decretar algo, não é "nos autos da lei"? Só que a importância soberana do juiz ficaria comprometida se não houvesse esse aposto que diz o óbvio.

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    2. Charlles,
      sem qualquer latido feroz - daqueles que sempre estão à disposição de lapidar alguém, principalmente, quando em bando e que, quando sozinhos, parecem inocentes cachorrinhos -, meu comentário, espero, tenha ficado claro: quis adicionar apenas uma ferramenta a mais à construção da sua literatura… Nada mais além ou aquém disso, por favor.

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    3. E desde quando nós dois medimos palavras para escrever um ao outro, Ramiro?

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    4. Pois é, Charlles, ultimamente ando em estado de choque...

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  10. apenas para dizer q é um GOSTO ler a tua autobiografia, charrles. um gosto mto grande, como todos aqui bem colocaram.

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