terça-feira, 1 de janeiro de 2013

La Civilizacíon del Espectáculo




“A literatura light, como o cinema light e a arte light, dá a impressão cômoda ao leitor e ao espectador de ser culto, revolucionário, moderno e de estar na vanguarda, com o mínimo de esforço intelectual. Deste modo, essa cultura que se pretende avançada e ‘rupturista’ na verdade propaga o conformismo através de suas piores manifestações: a complacência e a autossatisfação”. (Mario Vargas Llosa)

13 comentários:

  1. MINHA RESPOSTA
    by Ramiro Conceição
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    Sem pretensão alguma de elaborar aqui um esboço crítico à Lhosa, pois sempre fui um leitor an passant de suas linhas e, portanto, não possuo pedigree para tal. Contudo, por estar sempre preocupado com os destinos da América Latina, sempre acompanhei com atenção a trajetória política do peruano. Embora Lhosa sempre tenha se revelado um liberal, um adepto à solução de nossa civilização via a regulamentação “natural” do mercado e, dessa maneira, admitindo a realidade do espectro ideológico, creio que referido intelectual estaria, digamos, na centro-direita ou, traduzindo ao espectro ideológico brasileiro, na interface teórica, por exemplo, entre o PSDB e PMDB. Dando vitalidade política à personagem "lhosana" diria que ela seria muito semelhante ao nosso, querido e respeitável, senador Pedro Simon. Dessa maneira, se eu fosse peruano à época da eleição à Presidência da Republica, diante do que representava Fujimori, sem qualquer dúvida, teria sido seu eleitor. Da mesma maneira que, também sem qualquer dúvida, se fosse venezuelano, hoje, votaria na oposição contra o perigo que representa Chaves ao retrocesso político em nosso continente.
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    Feito o preâmbulo e lembrando Heidegger, que dava mais destaque à obra do artista do que à vida do artista (sem entrar aqui na complexa questão entre o filósofo e o nazismo, assunto para outro lugar e hora), passo a comentar as palavras de Lhosa.
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    Concordo plenamente com a observação de Lhosa. Esta postura da dita intelligentzia tem sido uma das maiores pragas ideológicas em nosso continente. Porém serei mais contundente que o ilustre peruano. Parafraseando o período do peruano, mas com um cinismo - aquele dos gregos imemoriais – reescreveria:
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    “A literatura dita heavy, como o cinema dito heavy e a arte dita heavy, dá a impressão ao leitor e ao espectador de ser culto, revolucionário, moderno e de estar na vanguarda, com o máximo de esforço intelectual mas, todavia, sempre superficial!! Deste modo, essa dita cultura que se pretende, que se diz avançada e ‘rupturista’ na verdade propaga o conformismo através de suas piores manifestações: a complacência e a autossatisfação” ou numa palavra: alienação.
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    Mas que cultura heavy e essa? Perguntar- me-ão vocês, minhas queridas senhoras e - não tão queridos! - senhores. Ora, basta efetuar um périplo pela rede para constatar o número colossal de punheteiros - oriundos de onipotentes e cutâneos escrotos.

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    1. É óbvio que é Chávez...: não é o tradutor mas, sim, o próprio autor, por sua fragilidade, o traidor de sua obra...

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    2. Ramiro, esta citação foi retirada deste excepcional artigo:

      http://www.dicta.com.br/cemiterio-da-alta-cultura/#more-5574


      Segue mais um excerto do artigo acima mencionado (a última linha me fez lembrar do post da Caminhante sobre "Moby Dick", em que alguém teve a histriônica indignação nos comentários de repudiar o livro por ser incitador à violência contra cetáceos).

      "Em um ensaio iluminado e, infelizmente, não mencionado por Mario Vargas Llosa em La Civilización del Espectáculo, intitulado “Culture of Complaint”, o grande crítico de arte Robert Hughes (falecido ontem) teoriza sobre o que chama de “dois PCs”. Um deles é o “patrioticamente correto”, que acomete em particular certa direita nostálgica e pateticamente populista (em especial a norte-americana), que não admite mudanças, e o outro é o já mencionado “politicamente correto”, mais comum na esquerda e que rende monstrengos como o multiculturalismo, unido pelo cordão umbilical ao relativismo abordado acima. Hughes publicou o livro no início dos anos 90, época em que o multiculturalismo chegou aos píncaros, com os departamentos de estudos de gênero dominando as universidades americanas e tentando banir dos currículos acadêmicos Mark Twain, pelo suposto racismo em Huckleberry Finn, e até Shakespeare, pelo alegado antissemitismo de O Mercador de Veneza. O próprio Robert Hughes sofreu a patrulha: foi chamado de racista ao demolir nos anos 80 o trabalho do então celebradíssimo (e medíocre) pintor negro Jean-Michel Basquiat. Saul Bellow pode ter errado na forma ao questionar “quem é o Tolstói dos zulus”, e errou mesmo, mas não no conteúdo. Alguém ainda acha que Toni Morrison merecia mais o Nobel do que Philip Roth ou Cormac McCarthy? À época de Culture of Complaint, o então recém-lançado volume Columbia History of American Novel considerava que Harriet Beecher Stowe era melhor romancista do que Herman Melville, pois era mulher, “socialmente construtiva”, e A Cabana do Pai Tomás ajudou a engajar os americanos contra a escravidão, enquanto o capitão do Pequod era um “símbolo do individualismo laissez-faire e capitalista com uma atitude ruim em relação às baleias”."

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  2. "creio que referido intelectual estaria, digamos, na centro-direita ou, traduzindo ao espectro ideológico brasileiro, na interface teórica, por exemplo, entre o PSDB e PMDB"

    Eu ouso discordar, Ramiro. Tais partidos são de direita? PMDB, aliado de Dilmão, sempre é governo, sempre é a favor de mamar nas tetas do ESTADO, é, no máximo, centro-esquerda. E o PSDB, da mesma forma, colocou um presidente marxista social-democrata (e social-democracia é de esquerda) e seu último candidato foi mais um de esquerda, cepalino. Creio que se MVL estivesse aqui ou fosse brasileiro, não encontraria nenhum partido representativo, pois TODOS são de esquerda, anti-liberdade/antiliberalismo. E seria, como já o é, chamado de reaça, neo-liberal (como se o neo-liberalismo existisse e fosse de direita!), e etc...

    "considerava que Harriet Beecher Stowe era melhor romancista do que Herman Melville, pois era mulher, “socialmente construtiva”

    "enquanto o capitão do Pequod era um “símbolo do individualismo laissez-faire e capitalista com uma atitude ruim em relação às baleias”."

    Quase vomitei meu almoço.

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    1. Matheus, talvez tenha cometido alguma imprecisão. Escrevi muito rápido. Qualquer engano, por favor, me desculpe.

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    2. Desculpe, não entendi. Fui grosseiro com minha resposta? Não era minha vontade, não mesmo. Só entendo assim MVL e a politica brasileira.

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    3. Não, em nenhum instante você foi grosseiro. É que, devido um ocorrido na rede, escrevi muito rápido, e ao mesmo tempo, estou a responder questões complexas.
      Volto a dizer, em nenhum instante você foi grosseiro...

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  3. Charlles,
    do seu escrito, que li muito rapidamente, tenho apenas uma objeção estética:
    Basquiat não foi medíocre.
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    Como você bem sabe sou um engenheiro com pós-doutoramento em minha área. Porém, por ser poeta, sou ligadíssimo na arte. Considero Basquiat no mesmo nível de Miró. Dentro do meu olhar poético, Basquiat levou o surrealismo às ruas da cidade, ou seja, sua arte é o inconsciente urbano levado à dita civilizada cidade.
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    Aqui, em Vitória, vejo murais urbanos – basquiatianos - elaborados por artistas invisíveis à sociedade capixaba. Seres que vivem tal qual mendigos, a batalhar o prato de comida do dia a dia. É lamentável… Vou mais longe. Como você sabe, sou professor do Ifes (Instituto Federal do ES), pois bem: ministro aulas para turmas do curso técnico, superior em engenharia, e na pós. Acredite, Charlles, se puder: já encontrei ex-alunos a fazer malabares nos cruzamentos; alunos que obtiveram o diploma de técnico; alunos que foram aprovados com altíssima média em minha cadeira – Siderurgia; alunos que a seguir batalharam e entraram na Ufes (Universidade Federal do ES) em cursos associados à arte.
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    Porém qual o resumo dessa ópera trágica? Tais ex-alunos e ex-alunas produzem competentemente o melhor de si, contudo não geram no produto de seu trabalho valor de troca (no sentido marxista) e, portanto, consequente e paulatinamente são e tornar-se-ão proto-marginais na presente e futura sociedade capixaba.

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    1. Que coisa mais triste, Ramiro...

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    2. Ramiro, a opinião sobre o Basquiat acima não é minha. O texto entre aspas é de autoria de Jonas Lopes.

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  4. Mas amada Caminhante, não acontece isso dentro daquilo que você mais ama, a dança?

    Por exemplo, do que conheço de você, às vezes me pergunto: se a Caminhante vivesse em outro tempo, em outro país, uma outra história, quantas vidas ela salvaria simplesmente no ensinar de sua arte?

    Pois o que mais admiro em você, dentro do que é possível, via rede, é a sua não-conformidade com a estagnação: amada caminhante, você é movimento: o silencioso rodopiar da saia sob o discursar contínuo de uma guitarra espanhola:
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    Olé!

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    1. Muito obrigada pelos elogios, Ramiro, levarei no coração...

      Pois então, Ramiro, acho que fiquei tocada justamente porque o que você disse é exatamente o que vivo e vivi. As pessoas que se dedicam à arte estão fadadas a ter outro emprego ou se conformar em ganhar muito pouco. O trabalho artístico tem um valor de troca pequeno. Na maior parte do tempo, as pessoas não são remuneradas. O que elas ganham é "o espaço", "a possibilidade de mostrar seu trabalho", "a publicidade", o que nem de longe paga os gastos com aulas, ensaios, figurinos, dedicação, etc. Outra maneira de desvalor é dizer que tudo isso não passa de uma diversão, então pra quê remunerar quem está apenas se divertindo.

      Um dos maiores bailarinos que eu já conheci, ex-ginasta e capaz de dançar qualquer coisa, vivia num quartinho apertado de dar pena. Atrás da cama, um desenho feito em cartolina porque nem dinheiro para ter um quadro ele tinha. Outro caso foi de uma das minhas professoras de balé. Ela dançava desde criança e era bacharel em dança. Casou e engravidou. No início da gravidez ela veio me dizer que teria que parar de dar aulas, porque ia trabalhar como vendedora numa loja, dessas bem simples, quase uma portinha. Ela estava feliz porque o dono havia concordado em deixá-la trabalhar grávida sem carteira. Era pouco, sem nenhum direito trabalhista, mas ainda sim melhor porque ela ganharia mais. Agora que teria um filho ela não poderia mais se dar ao luxo de ganhar pouco na área que ela amava.

      E são tantas histórias assim...

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    2. Uma situação parecida a esta dos artistas, que já me fez passar horas e horas pensando sobre, é a dos atletas olímpicos. No Brasil, se você não for jogador de futebol, de voleibol, de basketball, maratonista ou atleta de natação (na maioria das vezes, ligados a um time de futebol), já era. Não terás patrocínio, muito menos "torcida". Então, há cada quatro nos, sempre ouvimos dos sofridos guerreiros da NAÇÃO VERDE E AMARELA o mesmo papo: falta incentivo governamental. Mas eu pergunto: por que? Por que você, arremessador de peso, de dardo, PENTATLETA, por que você merece incentivo? Por ninguém mais fazer? Mas ninguém fazer já não é um indício que ninguém se importa, que ninguém dá valor algum a isso?

      Se não é da mesma maneira, é parecido com artistas. Noventa e nove por cento dos atores não trabalham na Globo, não estrelam comerciais de absorventes e de dentaduras, não recebem salários polpudos. É injusto que alguns recebam milhões por ano enquanto outros imploram para que venham assistir sua peça quase que de graça? É injusto que a digitadora de 50 Tons de Cinza receba milhões por suas vendas astronômicas enquanto escritores melhores precisam se desdobrar para sobreviver (ao menos até atingir a fama e reconhecimento merecidos, como Faulkner)? É injusto que as cachorronas do funk recebam uma boa grana esfregando seus rabos purpurinados nas fuças de plateias descerebradas enquanto bailarinos sensacionais levam a vida em kitnets?

      Não sei se estou sendo chato, um provocador troll barato, pois não é minha intenção. O problema disso tudo é o SOFRIMENTO. É a tristeza, o vazio no peito dessas pessoas (e nesse grupo entra não somente os artistas, mas professores, historiadores, todas as profissões que costumam remunerar pouco). É que não vejo outra saída: ou é tudo liberado, com todos tendo de aceitar as agruras da profissão, a vontade do mercado (que é nada mais, nada menos que a vontade do povo) por mais dura que ela seja ou se cria um WELFAREHAPPINESS onde ninguém sofrerá nenhum revés econômico, onde um artista sem platéia ganhará um bom salário todo mês taxando-se os burgueses da Globo apesar de sua arte não tocar almas e bolsos suficientes para pagar suas contas.

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      Agora me lembrei do Houellebecq falando sobre uma espécie de WELFARESEX4EVAH! num dos seus livros, acho que no primeiro, onde era injusto alguns levaram pra cama tantas e outros tão poucas ou nenhuma, que o liberalismo sexual era injusto e precisaria de um sistema meio SOCIALDEMOCRATA nisso também hehe

      ESTADO DE BEM ESTAR SEXUAL, só tu mesmo Beck...

      (ainda bem que o Charlles voltou a postar seguido posts enormes, assim ninguém lerá essa porcaria mesmo aushuhsu)

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