quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Platero e Eu

Estava puxando pela memória algum livro infantil de que eu gostasse, e hoje me veio, de súbito, o “Platero e Eu”, do poeta espanhol Juan Ramón Jiménez. Muito popular na primeira metade do século passado, hoje exige atenção mais restrita e uma sensibilidade apurada, passando a ser destinado a crianças, poucas, que num momento descubram a felicidade de um mundo anterior onde as coisas eram menos autônomas, e havia espaço para a delicadeza. Charles Bukowski escreveu: “Onde foram parar as coisas doces e delicadas desse mundo?”. Um pouco delas está em Platero.




A Menininha


A menininha era o encanto de Platero. Quando se encaminhava para êle, entre os lilases em flor, com seu vestidinho branco e o chapéu de palha-de-arroz, chamando-o, dengosa, de Platero! Platerinho! o burrinho queria arrebentar a soga, e saltava como uma criança, e rebusnava como louco.

Com uma confiança cega, passava por baixo dêle, e dava-lhe palmadas, e punha a mão_ cândido nardo_ na bôca de Platero, ornada das ameias dos grandes dentes amarelados; ou, então, agarrando-lhes as orelhas e puxando-as até a altura de seu rosto, chamava-o por tôdas as variações de seu nome: _ Platero! Platerão! Platerinho! Platerete! Platerote!

Durante os longos dias em que a menininha navegou em seu berço de aurora, rio abaixo, até a Morte, ninguém se lembrou de Platero. Ela, em seu delírio, chamava por êle, triste:_ Platerinho! Da casa sombria e cheia de suspiros, ouvia-se, às vezes, o grito distante e choroso, do amigo a chamá-la. Oh! verão melancólico!

Como Deus cobriu de esplendor e beleza a tarde do ênterro! Setembro, rosa e ouro, como neste instante, declinava. Como vibravam os sinos naquele ocaso maravilhoso! Voltei pelo taipal, sòzinho e triste, entrei em casa pela porta do cercado e, fugindo do convívio dos homens, encaminhei-me para a estrebaria e sentei-me, a recordar, com Platero…

2 comentários:

  1. À menininha
    que, certamente, deve estar lá...


    ALFA DO CENTAURO
    by Ramiro Conceição


    No escuro, de vez em quando, costuro
    uma bela asa-delta ao canto do catassol
    inocente, pequeno e tão… enamorado.

    Então às cegas no muro salto… Ao alto!
    E vou pra Alfa do Centauro em que tudo
    é áureo de um ouro sem valor: porque lá

    o importante é a expansão do esplendor
    que houve, há – e que sempre haverá!



    PS: publiquei este poema, antes, no blog da Caminhante... Ela merece!

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