quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Julio



"Um pouco antes de morrer, Cortázar estava em Barcelona, andando à noite pelo Bairro Gótico. Havia uma garota, americana, bonita, que tocava violão e cantava meio como Joan Baez. Um grupo de jovens estava ao redor, ouvindo. Cortázar parou, meio afastado, nas sombras. Dali a pouco, um jovem de uns vinte anos se aproximou dele com um bolo na mão e disse: “Julio, pegue um pedaço”. Ele pegou, comeu e disse: “Muito obrigado por ter vindo e me dado o bolo”. O rapaz: “Olhe, eu lhe dei tão pouco comparado com o que você me deu”. Cortázar: “Não diga isso, não diga isso”. Então se abraçaram e o rapaz foi embora." (De um texto de Ernani Ssó, tirado daqui.)

5 comentários:

  1. Li esse trecho, passei pro do Ssó, procurei e encontrei os do Idelber e do Milton também. Me pergunto o porquê, mas não o da análise -- o porquê da urgência, a coisinha que justifica o esforço tão suado de quebrar Cortázar no Brasil.

    O texto do Idelber diz que a razão são teses que botam Cortázar e Borges pau a pau; aí parte pra dizer que Cortázar é o É o tchan, e poucas pessoas atentaram para essa sacanagem num texto que o Idelber, numa resposta atravessada para um dos comentários da postagem, disse ser sério. Aí a gente pega essa comparação pejorativa, junta ela mais a ideia de que os adolescentes são bichinhos babacas que o Ssó pinçou, e olha para a postagem chiliquenta do Idelber da época de lançamento dum livro do Paulo Coelho.

    Lembram? A equipe que cuida da imagem do Coelho teve a brilhante -- porque isso é brilhante, sim, maldosamente brilhante como toda propaganda -- ideia de botar o mago pra falar mal de James Joyce. Foi um fuzuê da porra*. O principal da postagem era o fato de que o próprio James Joyce ridicularizaria a reação dos seus defensores; Joyce, afinal, é ele próprio a prova de que o erudito e o popular se irmanam. Ou seja: o maior está com o menor em toda a parte, mas na academia não!, não pode!, heresia!, Cortázar nunca deve estar pau a pau com Borges! Isso só me mostra que Joyce riria... do próprio Idelber, que o defendia de seus defensores, que o defendiam de um detrator só, que na verdade só falou o que falou porque foi instruído por uma equipe de publicitários, que fizeram o que fizeram mas nem se preocupam realmente com James Joyce. Estou confuso. Enfim: Joyce ri.

    Nunca percebi essa devoção tão grande ao Cortázar na faculdade de letras da Ufrj. Forçando a cabeça, lembro de umas duas pessoas com a cara do Cortázar estampada numa camisa; mais um pouco e lembro da artista-antes-conhecida-como-Carol-Bensimon, conhecida agora como a-que-o-Luiz-comeria-enquanto-o-Charlles-come-a-Dilma. Não é uma lembrança particularmente prazerosa. O que fica me martelando então é se a parte disso tudo realmente irritante para o Idelber e o Milton é só isso: jovens estúpidos com ídolos no peito, e que, consequentemente, sonham. Se for, é muita maldade.

    * - Naquela bagunça, concordei com o Idelber sobre a necessidade de se fazer uma voz contrária à berraria. Quebrei a cara quando ele começou a apontar proezas que Paulo Coelho nunca realizou em seus romances. Pior ainda: quando ele prometeu (e inchou um hype danado) uma resenha do tal romance, Manuscrito encontrado em Ágraba, e que isso seria a prova de que o mago não era mal escritor coisa nenhuma; mas, quando a resenha realmente chegou, era só uma sinopse estendida, um fracassinho que ninguém teve colhão de apontar.

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    1. A internet serve para sabermos e saberem que nós, os grandes leitores, existimos. Diante essa revolução, fica um tanto desconcertante para os Idelbers sustentarem serem as "antenas do saber e do gosto", a régua para que se mensure o que tem ou não valor. Gente que surge com essa pretensão umbiguista tende a parecer e ser bastante obsoleta. Foi tudo um teatrinho preguiçoso aquela "resenha" do cara do livro do Coelho_ como se fosse possível fazer resenhas de rascunhozinhos feitos em cadernos escolares_, e sobre isso você disse tudo, e da melhor maneira possível. Quando as orelhas tão evidentes de alguém que compara Cortázar com É o Tchan não são imediatamente vistas, pode-se perceber o grau de coerência daquele séquito de estudantes e puxa-sacos do nobre professor de letras. Nada do que o profe falou tem sentido, aquele esqueminha reducionista de dar uma matemática dos contos do argentino.

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  2. Quando estive na Argentina, durante o bicentenário e a copa de 2010, ou seja, época de exagerada idolatria a ícones nacionais, me pareceu que Cortázar era o mais celebrado por lá, mais até que Borges e Sábato, que ainda vivia (as livrarias ficavam abertas após meia noite). Evidentemente, isto nem melhora nem piora a obra dele, mas contradiz o que pesquei do texto de Idelber. Só li alguns volumes de contos, e não entendo por que o Ssó (qual a lógica desses dois esses?) nem menciona Todos os Fogos o Fogo, livro que me assombrou por muito tempo.

    Estes dias peguei pra reler alguns contos do Bestiário e não consegui parar. A tradução que tenho é mesmo uma porqueira. Há um conto em que são citados vários palíndromos, mas como foram traduzidos ao pé da letra, tive que procurar em espanhol, pois em português não podiam ser lidos de trás pra frente. Uma desgraça, isso de ter que procurar o "original" (palavra proibida na academia).

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  3. Sensacional.

    Charlles, meu caro, passe-me seu endereço para que eu envie um exemplar de meu novo livro.
    abraço.

    Grijó

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    1. Grande Grijó! Que bom que está de volta. Grande felicidade e envaidecimento pelo envio do livro. Passei meu endereço.

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