Na metade da década passada recebi via celular esta mensagem: "Atende. Minha mãe morreu". A autora do pedido era minha mãe e a mãe relacionada, lógico, era minha avó Mirtes, que deveria ter, à época, oitenta e nove anos. Quem lesse aquelas palavras e as interpretasse sem o devido envolvimento familiar, acharia que eu era o mais desalmado dos canalhas, para que a própria mãe tivesse que me pedir direito de atenção. Mas acontece que, de maneira incontornável e gerada por anos de atritos, choques e desmandos irracionais, eu havia firmado a decisão de não mais falar com a minha mãe. Não estabelecera um prazo para esse afastamento, mas estava com a paciência tão exacerbada que bem me parecia que o tempo ideal de um rompimento desse porte fosse para sempre. Passaram-se dois anos de belíssimo sossego, no final dos quais minha mãe havia demonstrado que enfim desistira, não me telefonando, não me mandando mensagens, não obrigando que algum de meus amigos_ ou mesmo alguém completamente desconhecido_ intercedesse para que eu quebrasse o que, para ela, era meu "coração de gelo". Todas as suas tentativas batiam contra minha mais sincera indiferença, mas ela havia insistido demasiadamente. Aproveitara de sua influência jurídica e mandara em caráter de urgência duas viaturas da vigilância sanitária até minha casa para acabar com focos de mosquito da dengue; passava horas no telefone com algum colega de serviço, chorando; mandava-me presentes através de entregadores a domicílio, que acompanhavam longos bilhetes misericordiosos que pareciam escritos por uma freira da idade média. Mas eu já estava além do vexame e dos mais refinados pudores: eu abria a casa para os agentes da vigilância para que investigassem a denúncia e servia-lhes misto-quente; interrompia o colega intercessor, dizendo, com a alma leve, que eu nada tinha a ver com o fato dele ter que dar atenção à minha mãe; e ficava com os presentes, jogando os bilhetes na cesta de lixo, pois devolvê-los era também uma forma de mostrar que me importava.
De maneiras que era óbvio que algum fato terrível me aguardava por detrás daquela bonança de liberdade em que, finalmente, eu fazia jus à realidade de ter mais que 30 anos e ser independente. A morte de minha avó me pegou em cheio. Aquelas frases concisas da mensagem insinuavam tantos estados de espírito, tantos arrependimentos e necessidade de consolo efetivo, que, no meio da perplexidade de ter que aceitar o encerramento da única entidade no meio das individualidades enfadonhas que compunham minha família, tinha que aceitar também a hipótese de que aquele tom calmo, superiormente digno que minha mãe impusera naquelas palavras mudavam minha concepção dela. Era como se, com a morte de minha avó, minha mãe enfim encontrara o seu remanso na existência, suavizara-se. Mas eu já estava longe de qualquer caminho de retorno, e por isso, desliguei o celular, não informei a ninguém o meu paradeiro, e procurei um refúgio. Um amigo que conhecera a minha avó ainda conseguiu me encontrar, antes que eu saísse, ao que informei-o da verdade: minha avó falecera.
Sempre tive imensa curiosidade por meus antepassados. O pai de meu pai era índio. Gostaria de saber de qual tribo, como ele se miscigenara, em que ele acreditava, como era a sua voz, como ele tratava as mulheres de sua vida, qual a verdadeira concepção que meu pai tinha dele. Conheço em excesso o que se pode conhecer da família por parte da minha mãe, mas nada, ou quase nada, das inúmeras derivações regressas de tios, avós, primos, que compôe as miríades de parentes do meu pai. A mãe de meu pai, que faleceu aos 95 anos, era descendente de espanhóis, tinha belos olhos azuis e traços tão finos e delicados que sempre me ajudavam a cogitar os fabulosos acidentes da sensibilidade que fizera com que, há 3 gerações, os conluios de casta aceitassem que um silvícula arrombasse suas rígidas crenças sociais pela porta da frente. Ela tinha o encantador nome de Dercídia, que nunca vi mais em nenhum lugar, e ele se chamava pura e simplesmente João. No funeral do meu avô, a lembrança de meus oito anos retêm a sala de sombras taciturnas no velho casebre em que sempre moraram, o caixão estendido numa mesa de centro, as velas tristes que eufemizavam a cena aludindo à certeza muito mais terrível de que nunca haveria um reencontro; um casal de pobres para quem a pobreza nunca assustara e nunca lhes representara nada. Entre tantos mistérios da ignorância que dominava os ocupantes daquelas esquecidas cidadezinhas do interior, o que mais me chama atenção é o do poder indefectível para que fizessem sempre as escolhas erradas, que acabariam, assim que dado o primeiro e inconspícuo passo em direção aos seus destinos encerrados, com o restante de suas vidas. Nunca existiram duas pessoas tão incomensuravelmente incompatíveis quanto meu pai e minha mãe. Eu sou fruto de uma coalizão errática e impossivel. Apenas às minhas custas prova-se o desastre de duas retas paralelas que nunca se encontrariam terem se tocado no infinito. A unica comunhão que aquela criança de oito anos tem com seu avô, por isso, foi a do medo, o banal e ridículo medo do morto, que minha mãe incutiu na minha cabeça à custa de me proteger da influência daquela pobreza acentuada que só ela via. Tantos recados e sinais perdidos, tantas fotos que meu olhar deixara de apreciar _ o casal jovem e belo pintado em tons de azul claro na moldura abaulada_ apenas porque era fresca a impressão da importância da experiência que eu representava entre dois universos avessos, e quanto antes trouxessem a mim para o lado certo, melhor seria.
Eu puxei em tudo a família do meu pai, o que serviu a dar ares de arte superior às condenações que minha mãe me infligiu por toda a vida pela minha preguiça, a minha falta de ambição, o meu descaso corporal, a minha propensão doentia à lentidão, ao meu olhar vagaroso, à minha índole do músico em substituição à selvageria ostensiva do comerciante. Mesmo me formar numa faculdade foi o resultado de muita determinação castradora por parte dela, porque o Velho Índio sem nome e desconhecido o qual o distante cadáver proibido representava me acenava a deixar tudo e me enfunar num desaparecimento filosófico em algum lugar suave e perigoso no caminho oposto daquilo tudo.
E minha avó Mirtes, somente ela, oferecia o grau de semelhança que permitia que me identificasse como pertencente à família de minha mãe. Minha avó Mirtes era uma exilada, alguém que perdera tudo, fora reduzida à estaca zero, a um impossível recomeço. Ela era professora doutorada, naquele tempo em que as professoras eram respeitadíssimas, falava três idiomas, era o que se chamava uma mulher de casta, vinda de uma família patriarcalista composta de juízes, advogados e médicos. Depois de ter dado 5 filhos a meu avô, meu avô a trocara pela empregada doméstica da casa. Isso foi algo pior do que a morte para uma mulher carregada de princípios católicos, de preconceitos de classe. Qualquer outra mulher desmoronaria. Seu filho mais velho tinha 11 anos, os outros quatro mal a viam por estarem confinados nos célebres e europeizados internatos daquela época. Ela abandonou tudo, recusou-se à disputa judicial impossível, à menção de desforra violenta por parte de seu pai e seus irmãos, ao apego doentio baseado na lástima eterna a seus filhos. Chamara dois advogados da capital e, educadamente, sem alterar as feições, fizera meu avô assinar o divórcio. O divórcio, na década de 50! Deixou o cargo de professora/diretora que tinha na escola, e, com o pouco de dinheiro que tinha, foi para os Estados Unidos. Escolheu esse país pelas razões óbvias de a América ser, naquela época, A América_ e por dominar o inglês. Passou fome durante um massacrante período, mas a vejo invergável em suas roupas distintas de professora, seus grandes óculos escuros, sua maquiagem impecável, seu arsenal de palavras bem pronunciadas, sua incapacidade para a lamentação. Enquanto penava por lá, a esposa substituta de seu ex-marido fazia a cabeça de seus 5 filhos a aceitarem a inversão de verem nela a madrasta má, que renegara e abandonara os filhos, a mulher sem sentimentos, a alienígena. Por todos os anos em que minha mãe a mencionara e eu apreendia a conversa alheia entre adultos com minha atenção curiosa, minha mãe a tratava como "a Mirtes", aquela mãe convertida em madrasta que era obrigação odiarem-na, um judas para a malhação. Das poucas vezes em que a Mirtes atravessara o continente com o único propósito de visitar aos 5 filhos, estes eram escondidos dela, a empregada usurpadora já tendo-lhes inflamado tanto ódio e terror que não sobrava nem a mais leve consideração humanista.
Eu fui, por muitos anos, seu primeiro e único neto, mas não a conhecia. Como seu nome era raramente falado, e o ódio fora suplantado pela indiferença, a impressão que eu tinha era que ela não era desse mundo, ela era uma espécie de fantasiazão exuberante para a qual esgotara-se todo tipo de piada e curiosidade. Ela era a Mirtes que fora para os Estados Unidos, alguém em franco estágio de esquecimento coletivo. Quando tinha dez anos, surpreendentemente, começaram a me chegar as cartas. Longas cartas em papel apergaminhado amarelo_ ou o amarelo se firmou para mim pelo efeito do tempo_, escritas em uma letra bonita e disciplinada, que mesmo naquela época já me parecia antiquada, e assinadas, ao final das caudalosas 5, 6 ou 10 páginas, com seu nome e sobrenome. Ela achara, finalmente, alguém a quem pudesse quebrar o silêncio, o seu neto miscigenado que, assim como ela, também partira de uma aventurosa estaca zero, também era um alienígena. Não sei por quais bases ela intuira a minha sensibilidade, mas vejo isso como uma prova cabal de sua inteligência superior. Ter sabido, sem um traço de dúvida (como via nas cartas), que eu representava um novo começo, o fim de todas as vagas de sofrimento e atraso do passado do qual ela fugira e o qual lhe era violentamento ofensivo, era de uma lucidez extrema, e tanto era mais certo isso porque ela me alertava que isso não era nenhum privilégio, eu sofreria horrores por ser incompatível tal como ela o era.
Essas cartas eram vistas como coisas inofensivas por minha mãe. Cartas singelas de uma avó ausente ao neto que nunca iria conhecer. Deveriam falar as trivialidades das cartas, os "oi como vai", "abraços com carinho". Mas eram cargas de desforra acentuadas para uma criança de minha idade. Talvez esses textos foram meu primeiro contato com a literatura séria, ou mais, com as verdades fundamentais do homem, as torpezas, as injustiças, a crueza das relações familiares, a farsa do amor constitucionalizado, os dogmas do povo antigo que só geravam ódio e hipocrisia. Eu reconhecia a grande confiança que minha avó depositava em mim ao me erigir o receptor daquelas confissões. A ausência, o tempo, a geografia, haviam me dado, em compensação ao amor da avózinha dos pães de queijo, o tesouro de uma avó maquiavélica, na mais genuína e vantajosa acepção do termo. Suas cartas, que eu ainda as conservei as principais, formam o único testamento genealógico que tenho da história da minha família_ mais, formam o único testamento da minha família inteira.
Ali estão os 5 benéficos anos em que ela trabalhou com Vladimir Horowitz, o "mais gentil dos homens", o tempo em que trabalhou para João Gilberto, o" mais desprezível dos homens", suas viagens pela Europa e Canadá, seus estudos de aperfeiçoamento universitário, o dia em que ganhou a cidadania norte-americana, nos mais de 35 anos que vivera nos EUA antes de retornar em definitivo para o Brasil, no começo dos anos 90, quando a conheci pessoalmente. Por isso o meu impacto diante a informação de sua morte, e minha decisão de que pouco representaria ir vê-la naquele momento. Duas semanas depois, o meu amigo ao qual mencionei a morte de minha avó me telefona, simulando ira. Por algum motivo de consulta jurídica ele telefonara para minha mãe, e, findo o diálogo, aproveitou para dirigir a ela os seus pêsames. "A morte de minha mãe?", minha mãe retrucara, surpresa, e logo lhe respondera: "mas a dona Mirtes não morreu, ela está viva. Quem lhe disse isso?". Eu fui dominado por uma onda de surrealismo e caí numa gargalhada convulsiva ao telefone. Meu amigo chorava de tanto rir. "Quer dizer então que você está este tempo todo acreditando que sua avó está morta! Puta que pariu!". O ùltimo estratagema da minha mãe.
Há duas semanas a Mirtes me ligou, aos 96 anos, perguntando se havia algum perigo de que uma das araras que lhe bicara o braço pudesse lhe transmitir raiva.
Charlles, sem palavras diante da história da tua família, da tua avó. Ficamos todos com vontade de dar um abraço na Mirtes. (já a tua mãe...)
ResponderExcluirPutaquipariu, Charlles!
ResponderExcluirNão me diga q tu não a conhece pessoalmente, caso contrário isso deve ser marcado para ontem, com alguém fazendo um DOCUMENTÁRIO nos bastidores. que história, che.
arbo [toca aqui, caminhante, sempre a mesma impressão, sempre a mesma atonicidade]
Isso ficou mal explicado. Claro que a conheço, desde que ela voltou, no final dos anos 80. Já havia comentado sobre ela lá no blog do Milton, há muito tempo.
ResponderExcluirNão coube no texto (me descupem estar truncado, mas foi feito às pressas), mas, quando moravam ela, meu avô, e os cinco filhos juntos, houve um acidente sério, em que um ônibus desgovernado entrou na casa, matando um de seus filhos, e quebrando o crânio da minha mãe em dois lugares. Minha mãe escapou da morte por meu avô ter muita influência política. Conta-se que ele entrou em contato direto com o Jango, que era vice-presidente, e esse disponibilizou transporte e cirurgia para a minha mãe no melhor hospital de Brasília. O trauma para minha avò foi muito grande.
Já contei esse episódio o Milton, falseando a cidade do acidente como sendo em minas. Na verdade, por um conluio do acaso, a cidade é a mesma onde moro agora. A casa do acidente pertence, hoje, à avó de um amigo. Poucas pessoas se recordam do acidente, e entre essas, algumas dizem que o fantasma do garoto ainda pode ser visto na casa.
Caminhante, não tenho qualquer mágoa da minha mãe. Na verdade, nunca foi oferecida a ela bases sólidas para a maturidade, e ela teve que inventá-las. Se sou interessante e culto (entendam isso com carinho, please!), devo a ela.
Toca aqui, Arbo! o/
ResponderExcluirCharlles, sei como é. Já te disse que me identifico muito quando você fala da tua mãe. Vai uma historinha:
Estou fazendo natação, há dois meses. Era um sonho de infância ser nadadora, mas quando meus pais se separaram ficou apenas a paixão pela água. Pegava onda quando ia a Salvador, adorava piscinas e só, fui esquecendo com os anos. Aí no ano passado deu tudo errado, mudei de foco e isso me permitiu começar a fazer natação agora, relativamente perto da minha casa. E muito perto da casa da minha mãe.
Em paralelo a isso, minha mãe está com uma recomendação médica de colocar pinos nos dois pés, por torcer muito. Os médicos ficam nessa de colocar ou não colocar, e um professor de educação física recomendou que ela fizesse atividades na água. Só que minha mãe tem fobia a água. Ela quis fazer hidro, não conseguiu, e por sorte a academia tem aula especial para adultos com medo de água. Depois de um mês inteiro querendo abandonar e sofrendo, agora ela está até gostando.
Fui repor uma aula essa semana e nos encontramos por acaso. Entramos juntas, cada uma na sua piscina (ela vai na psicina infantil, na sala ao lado) e na hora de sair também nos cruzamos. Ela me chamou, toda orgulhosa, para ver as coisas que tinha aprendido. Pulou de novo na água e mostrou que agora sabe nada de frente e de costas com a bóia, que consegue mergulhar a cabeça na água. Ela estava feliz como uma criança. E eu orgulhosa como uma mãe.
Com todos os seus defeitos e imaturidades, minha mãe tem uma coisa de criança que não foi amada que é muito forte, e me comove muito. Fiquei muito feliz de poder estar lá, de me mostrar orgulhosa e fazer por ela o papel que eu sei que meus avós jamais fizeram. É exatamente como você definiu "nunca foi oferecida a ela bases sólidas para a maturidade, e ela teve que inventá-las".
Teria muita coisa a dizer sobre isso, Fernanda. Mas, agora, acho que seria redundância. O caso de minha mãe parece ser muito mais grave. Não me recordo de nenhum momento entre ela e eu em que, realmente, conversamos. Havia apenas o cumprimento, à risca, das ordens familiares. Ela jamais se predisporia a demonstrar suas fraquezas da forma como você relatou. Lembro de um insight que tive aos dez anos, em perceber que ela não cruzava as pernas e mantinha os braços rígidos diante ao dono do apartamento que vinha nos cobrar o aluguel, para aparentar força.
ResponderExcluirMas tive a presença de espírito de nunca me deixar afetar por essas coisas. Saí de casa muito cedo, e, quando ouvia aquelas belas canções sobre a volta ao lar (de Roberto Carlos a Steve Winwood) jamais relacionava o sossego ao retorno à casa da minha mãe. A Casa era um lugar ainda por construir, inexistente.
Nunca a culpei por nada, mas também nunca permiti que ela viesse com seu tonél de martírio e culpa para cima de mim.
Agora fiquei com vontade de apagar meu comentário =/
ResponderExcluirRichard Gardner, em 1985, diagnosticou que, durante o complexo processo de separação, muitas vezes um dos cônjuges tenta de todas as formas incutir, no subjetivo e/ou objetivo da criança (ou das crianças), um processo profundo de ódio ou desprezo, geralmente, contra aquele genitor que fica longe da criança ou que a vê periodicamente, mas em tempos curtos de visitação.
ResponderExcluirA covardia é tão orquestrada que não somente a mãe (ou o pai) criminoso participa do infante massacre psicológico, mas toda a família do genitor bandido passa também a ter um comportamento facínora; ou seja, é um verdadeiro linchamento de mãos limpas e sempre com o principal objetivo de não deixar qualquer suspeita.
Tal crime tem nome, Charlles: alienação parental. Um dado interessante: parece que as mulheres são aquelas que mais cometem esse tipo de crime contra seus ex-maridos.
A quadrilha , em geral, é constituída por seres aparentemente respeitáveis. São hábeis no discursar sobre maternidade ou paternidade, sobre o sentido fundamental da família, sobre a importância de Deus no mundo. Às vezes são indivíduos influentes dentro de uma denominação religiosa ou mesmo dentro dum grupo político, podem ser também ateus convictos... Em geral são seres que adoram demonstrar em público sua emotividade e sua grandeza de caráter… Em poucas palavras: constituem um vil bando de animais acima de qualquer suspeita.
Charlles, sua avó, Mirtes, foi uma vítima da síndrome da alienação parental; e o crime foi cometido por seu avô e a madrasta. É isso.
Minhas saudações poéticas a sua avó e a você que, na realidade, são os sobreviventes do crime cometido. Quanto à sua mãe, é melhor calar… Porém lembrar que ela também foi vítima; afinal sua mãe, durante o crime cometido, era filha de sua avó.
Em tempo ainda, Charlles.
ResponderExcluirAgora com enfoque literário: seu texto está cada vez mais primoroso...
O TELEFONEMA
ResponderExcluirToca o celular.
- Oi, vó!
- Oi… Sabe, estou ligando porque duas araras me bicaram… Será que corro risco de adquirir raiva?
- Não vó! As araras cruéis já foram enterradas e viraram pó no passado longínquo.
- Então, tá bom… Fique com Deus, meu neto.
- Amém… vó.
Hahahahahaha!
ResponderExcluirVc é um maluco impagável, Ramiro!
Ramiro, concordo com cada palavra do que disse no seu primeiro comentário. A propósito, um dos motivos da minha rejeição às igrejas evangélicas é justo por essa madrasta da minha mãe ter sido evangélica, da Assembléia de Deus. Ela exercia um verdadeiro terror pentecostal sobre meu imaginário infantil.
ResponderExcluirÉ, Charlles, além de phd em engenharia, sou phd em alienação parental: vivi tal violência, durante 23 anos, associada à minha filha. Hoje, tudo está quase bem… porém minha filha, hoje com 26, adquiriu um grande medo associado ao casamento… Quanto aos criminosos - estão a se engalfinhar entre paredes e a chafurdar na lama gerada por décadas…
ResponderExcluirEu?... Caminho livre à beira do mar, todos os dias… Meu riso é quieto!
Ramiro, não fala assim que você me lembra o meu pai - pela alienação e por caminhar à beira mar todos os dias...
ResponderExcluirhttp://caminhandoporfora.blogspot.com/2011/08/paternidade-voluntaria.html
HUAHUHAUHAUAHUHA
ResponderExcluirmuito boa, Ramiro!
arbo
Caminhante, talvez não tenha sido claro. Eu venci. Não perdi a paternidade. Converso com minha filha, que mora em São Paulo, todas as semanas. Nas férias, de julho ou de Janeiro, ela vem para Vitória e passa alguns dias comigo. Ultimamente, andou vindo com o namorado. O casal de pombinhos ficou em meu apartamento(sou um elétron, às vezes passo semanas com Ângela e o Isaac, depois, quando necessito escrever, ou literalmente estar só, volto ao apartamento que fica na mesma rua...) logicamente, lendo a Bíblia...
ResponderExcluirCaminhante, nos últimos dez anos minha filha tem estado muito próxima de mim, apesar da energia negativa do outro lado...
Grato, arbo
ResponderExcluirVerdade, Ramiro, tinha entendido outra coisa. Que bom que não foi nada disso, que você se dá tão bem com a tua filha.
ResponderExcluirRISO QUIETO
ResponderExcluirby Ramiro Conceição
Ah… vis senhoras e senhores que
por décadas, ou séculos, tentaram
aviltar a arte, o que restou por fim?
Esse… engalfinhar entre paredes.
Esse… chafurdar na lama gerada.
Esse… trair próprio dos bandidos.
Eu?... Caminho livre à beira do mar
todos os dias… Meu riso é quieto!
PS: criei hoje; já faz parte do "Jardim dos Castanhos".
Depois disso, o meu filme familiar fica parecendo comercial de Doriana. Fiquei quase culpado, mas relaxei ao pensar que margarina tem gordura trans.
ResponderExcluirLembrei do meu vô.
Ele tem 97, viúvo há quase 30. Foi para num hospital esta semana: engasgou com um pedaço de aipim. Já voltou para casa, tá tudo bem. Ele goza de excelente saúde, não é hipertenso, nem tem diabetes. Está um pouco surdo, sofre com certa incontinência urinária e seria bom se perdesse uns cinco quilos.
Conforme prescrito pela geriatra, faz caligrafia. Terapia. Ele copia uma página da Bíblia todos os dias para manter o controle motor fino. Tem letra bonita.
O mais engraçado é a queixa da minha tia que mora com ele: meu vô toca punheta. Ela fica indignada e eu não consigo conter o riso. Daí, ela foi se queixar para a geriatra. A médica disse que é normal (imagino a cara da médica!).
- Eu só não tive coragem de falar para ela as safadezas que eu escuto, porque ele geme alto, dá para ouvir do meu quarto à noite.
Segundo minha tia, meu avô tem fantasia sexual com a geriatra dele.
Fábio Carvalho
Hahahahahha.
ResponderExcluirFábio, isso é maravilhoso, cara! Você chama isso de Doriana?
Isso é tão deliciosamente perigoso quanto aquele nosso assunto do leite, ou a Doriana dos anos 80, que não tinha nada de inocente em seus segredos supersaturados.
Hahahahaha, adorei a história!
ResponderExcluirFábio,
ResponderExcluiro seu avô tá louquinho é pra pegar a Doriana e dançar o último tango com a geriatra.
Charlles, eu nem sei como ainda uso minha família para fazer literatura. Bando de gente convencional...
ResponderExcluirGrande texto! Quase perdi o fôlego.
Obrigado, Farinatti. Talvez por eu já estar suficientemente acostumado, acho tudo isso muito trivial. Também, a única personalidade mesmo da minha família é a minha avó. O restante...as mesmas pessoas da sala de jantar.
ResponderExcluirAbraço.