sábado, 30 de abril de 2011

Ernesto Sábato ( 24 de junho de 1911 - 30 de abril de 2011)

Acabo de voltar da casa de um amigo em que discutimos a fundo sobre Sábato e os intelectuais que ainda sobram. Meu amigo me brindou com a notícia de um novo livro de Tzvetan Teodorov, “A beleza vai salvar o mundo”, ou coisa assim. Disse-me quando entrava no carro, ao que eu lhe respondi que parecia parte de uma conspiração, nos levam todos aqueles familiares, no auge da juventude ou da meia idade, ou já beirando o centuagenário, e os que ainda restam vivos colocam-lhes nomes impronunciáveis, quebra-línguas difíceis de falar ou lembrar. E meu amigo foi citando os nomes, Tzevtan Todorov, Zygmunt, Slavoj Zizek, e tantos outros, exagerando nas consoantes para fazer graça.

Meus grandes amigos estão todos mortos. Isso não descarta uma apreensão religiosa toda particular e acima de qualquer crítica de que exista uma continuidade, de todo modo. Como Saul Bellow_ outro que me fala todos os dias do outro reino_ disse quando Allan Bloom morreu, ele não acreditava que alguém como Bloom fosse perecer assim por uma simples lógica orgânica. Sem exageros_ mas cheio do mais perverso sentimentalismo_ eu também não acredito que seja possível perder alguém como Sábato assim tão facilmente para a morte.


8 comentários:

  1. Eu li “El Tunel” quando tinha 22 anos e queria ser escritor. A impressão que me causou é eterna. Li tudo que me caía nas mãos sobre Sábato. Notícias, entrevistas. Na época, não encontre o “Sobre Heroes…” para comprar. Comprei então “Abadon, o Exterminador”, seu terceiro romance publicado. Nunca o li. Naveguei para longe. Voltarei a ele.

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  2. EL Tunel é outro romance intimíssimo para mim. Pode não ser grandiloquente como o Sobre Heroes y Tumbas, mas inaugura e pontifica, com força igual só em Juan Carlos Onetti, a etinografia da nossa nostalgia e malaise toda própria. Seria assim o equivalente à série Caminhos da Liberdade de Sartre? Talvez assim, um La Nausée sem afetação. A etinografia mesmo da tragédia do humano sem a verborragia de um Roquentin.
    Nunca acreditei nas coisas que Roquentin me dizia, nem na sinceridade, nem na verossimilhança delas. Juan Pablo Castel por outro lado falou-me dessa malaise com a propriedade que me convence ainda hoje de que esses são temas que nunca serão datados.
    If you ask me, Unamuno, se pudesse opinar onde encarnaria na próxima vida, diria nos Pampas.

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  3. Gostei muito de O Túnel. Realmente vi ali um existencialismo mais depurado que vc se refere, Luiz, sem afetação. A presença do cego para mim configura uma das mais emblemáticas da literatura latino americana. Mann também elogiou muito esse pequeno livro. Também voltarei aos livros de Sábato, Luis.

    A propósito, Luiz, referistes ao Rayuela como um dos 2 maiores romances deste continente. Qual é o outro?

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  4. Não há nada de programático na forma como alguns dos nossos escritores abordaram a malaise que habita os tratadinhos de existencialismo da tradição continental.
    Não há nada na série Caminhos da Liberdade que você não encontre de forma mais honesta na voz de Juan Pablo Castel.
    Nada em Jaspers ou Unamuno que você não encontre em Roberto Arlt, em especial em Erdosain é claro.
    A Malaise não é um tema para ser debatido em cafés com vistas ao La Seine, entre sippings de café ou Merlot. É sobretudo o gut feeling.
    Acho que ninguém escreveu melhor sobre isso do que nós.
    Sei lá, é pessoalíssimo isso. Mas pra mim o La Vida Breve do Onetti é um dos maiores romances já escritos por aqui justamente pelo que disse acima. Não por se tratar de um tour-de-force descritivo. Mas talvez porque a tristeza portenha nunca fora pintada com maior crueza e honestidade do que lá.

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  5. Mas é falta de decoro falar de Onetti numa elegia ao Sábato...

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  6. Providenciarei a leitura de La Vida Breve, essa semana.

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  7. Entendi: Sábato é a sua Virginia Woolf.

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  8. Ah meu amigo, aí que se engana, como muitos, não é para a morte que deve se preocupar em perder, mas sim para a vida, transeunt et imputantur, lembra.

    thiagojmj@bol.com.br

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