domingo, 3 de maio de 2015

Neste domingo desterrado do infinito


15 comentários:

  1. Sempre gostei da série Desterrado no Infinito. Meu domingo desterrado no infinito vai de Proust, Knausgaard, Kobo Abe (Ark Sakura) e comida chinesa a domicílio.

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    1. Eu estou com O Tambor e uma súbita volta a meus escritores de língua alemã, que tanto me envolveram na minha juventude. O que me faz reavaliar, libertariamente, o papel sufocante dos americanos pós-Faulkner nisso que eu chamo de minha escrita profissional. Não quero aqui remoer minha inconstância na escrita, que isso nunca rendeu proveito para ninguém, ainda mais que pode parecer inconstâncias mas se trata mesmo de caminhos sendo descobertos, explorações felizes. Aquilo que me disse um dia, não sei se por e-mail, sobre Knausgaard e o quanto uma aproximação minha no sentido a ele me faria bem, tem repercutido em minha alma (oh, pomposidade bronteana que não me larga, Jesus!). Pensei e pensei: será, será que o caminho é elevar as gracinhas autobiográficas do blog ao nível de um dogmatismo sério e disciplinado? Dar adeus ao romance e partir para essa ultramoderna vibe da autobiografia precoce proustiana?

      Mas não dá. Tentei, e um indicador me aponta que talvez não seja a minha praia. Por isso esse retorno_ vejo agora_ à literatura em estado plenipotente, maiúscula, sem firulas e viril de Faulkner e Grass. Mas paremos por aí nisso que pode parecer frescuras de um anônimo auto-enganado.

      Esse trio de belas moças do post faz um som de primeira. Folk de primeira. Tocante.

      Hoje foi dia de churrasco com algumas excêntricas cervejas pretas, e o papo feliz e longo com um amigo.

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    2. Não sei se Charlles tirou dali, mas vi a expressão "(dia da semana) desterrado do infinito" várias vezes em Todas as Almas. Do mesmo jeito, me lembro de algo parecido com o "porque hoje é sábado" de Milton em O Caminho de Swann.

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    3. Marías repete essa expressão em Seu rosto amanhã, também. Não tinha me tocado da referência de PHéS no Milton.

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  2. Hoje aqui em casa foi dia de faxina e Swans tocando em alto e bom som. Uma combinação bem bizarra, sem dúvida. Agora de noite sim, alguma comida, vinho, filme e leitura. Mas, belas moças e folk? Conhece Smoke Fairies, Charlles? Caso não, tente escutá-las.

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    1. Não conheço. Vou atrás.

      Um amigo que surgiu ontem com esse álbum, dizendo que o descobriu porque alguma revista havia o escolhido como melhor lançamento do ano passado. Eu me desmotivei com a informação, daí ele insistiu que o ouvisse enquanto bebíamos o chá de camomila. E é lindo.

      Esses dias estou ouvindo muito Rival Sons. Escuto pelo fone, enquanto faço minha rotina de caminhar por uma hora e meia pela cidade. O rock atual, para mim, virou contador de passos, nada que tenha a devida sacralidade para ouvir no aparelho de som à noite, durante o vinho. Não é pessimismo nem apocalipsismo, mas acredito que o rock acabou mesmo. É até uma notícia feliz: o rock acabou. Porque o que se tem feito para suplantar o rock dos anos 60, 70, 80 e parte dos 90, é deplorável. Rival Sons é um rock honesto, bom de ouvir, mas descartável. O álbum Great Westen Valkyries, que é o único que ouço deles, aclamado clássico e comparado ao Zep e ao Doors, é totalmente referente ao Led Zeppelin IV. Um pouquinho a mais e se tornaria um pastiche. Mas é bom escutá-lo. Um grande vocalista, discípulo, não por acaso, fiel do Plant e do Jim Morrison; e o guitarrista é inteligente o suficiente para viver dentro de seus limites, sem a promessa de grandes solos, com o aval de ser "pós-rock" e por isso sem exuberâncias. Em uma época como a nossa, pós-ideológica e ultra-consumista, virtual e individualista, o rock não tem vez. O rock é revolucionário e seriamente infantil. Por isso, acabou.

      Tenho ouvido muito Maire Brennam e Clannad. Perfect Lime e Whisper to the wild water são dois dos álbuns mais lindos que já ouvi. Tenho-os de presente, originais, desde o ano 2000.

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    2. Rival Sons, esse nome não me é estranho, mas acho que ainda não os escutei. Essas bandas que tentam replicar muito fidedignamente os sons de outras épocas nos dias atuais nunca me fizeram a cabeça. O Black Crowes já fazia isso nos anos 90, chupando Stones e outros, e eu não conseguia gostar, a despeito de todos falarem maravilhas deles. É isso: revival em geral não me empolga; prefiro ficar ouvindo os originais mesmo. O que não quer dizer que eu não ouça nada contemporâneo. Por exemplo: às Smoke Fairies que te recomendei acima, junte uma outra banda só de meninas: Warpaint. O primeiro disco delas, The Fool, é fantástico. Só não sei se dá de chamar de rock. Esse rock a que você se refere, de fato, acabou, já não faz muito sentido, tens total razão. Gosto muito de uma banda que é cópia que nem se dá o trabalho de disfarçar do Clash, o Rancid, mas eles nunca tiveram sequer um fiapo da pretensão revolucionária dos ingleses. É pura diversão, only rock 'n' roll, como anunciavam os Stones. De todo modo, sempre há boa música nova suplantando a velha. Maire Brennam e Clannad? Nunca ouvi falar nem de um nem de outro! Vou garimpar.

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    3. Marie Brennam e Clannad, assim como Vangelis, entram na definição de hudba, inventado pelo Elias Canetti. Hudba é tudo aquilo que pode ser ouvido sem preconceito, pois não é chamado de "música", não tem o peso de uma definição padrão carregado de exigências e ideias prontas que a palavra "música" envolve. Hudba seria a world music, que para vários clichês da crítica padronizada é coisa brega.

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  3. Saiu no El País,
    http://cultura.elpais.com/cultura/2015/05/05/actualidad/1430856411_358465.html

    Vargas Llosa deu por esses dias uma palestra apaixonada sobre Onetti. Ele afirma que há marcas de leituras em Onetti, como o seu parentesco com O Estrangeiro de Camus, que estão lá no autor Uruguayo, mas como que encubadas antes do tempo, como numa avant premiére. Porque, por exemplo na época de El Pozo, Onetti não poderia ter lido Estrangeiro.
    Há ainda uma interessante nota sobre uma viagem que Onetti e Llosa teriam feito juntos a San Francisco. Eles visitaram Allen Ginsberg e viram hippies consumir Peyote. Nada mais distante de Onetti que a contracutura Californiana.
    Queria poder ver registros fotográficos dessa viagem.

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    1. Muito interessante isso. Tem um livro escrito pelo Llosa todo dedicado ao Onetti, mas não consigo encontrá-lo. Não coloco Onetti abaixo de Camus em momento algum, embora uma comparação entre os dois não me pareça exequível. Onetti poderia ser comparado, pelo humor ácido, ao Italo Svevo. Aliás, muito me impressiona a excelência de Onetti e Saer, e como eles são absurdamente desconhecidos.

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    2. Achei a tradução alemã do ensaio, Die Welt des Juan Carlos Onetti.
      http://www.amazon.com/Die-Welt-Juan-Carlos-Onetti/dp/3518420887/ref=sr_1_7?ie=UTF8&qid=1430929835&sr=8-7&keywords=Vargas+Llosa+Onetti
      Obrigado, não fazia idéia. Aliás, não fazia idéia dessa amizade literária.
      Eu tenho uma coisa com o tema das amizades literárias. Elas me parecem meio que uma chave para a grande discussão platônica das almas que se identificam no mundo depois de vagar pela Terra, criam asas e voam juntas ao mundo das Idéias. Tá lá em algum lugar do Phaedrus.
      Sobre o parentesco dos existencialistas europeus e Onetti, lembro de ter dito uma conversa boa com o Marcos Nunes sobre o assunto em algum canto do seu blog.

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    3. Günter Grass e José Saramago eram grandes amigos, também. Grass chegou a comprar uma casa em Portugal, e passava lá muito tempo do ano.

      Por falar em Grass, e voltando ao nosso assunto sobre a crise das livrarias, vi o quanto os sebos, em seu avatar virtual, perdeu em qualidade e em credibilidade. Semana passada comprei pela Estante Virtual uns livros do Grass, e Cachorros de palha, do Gray. Estavam muito baratos, inclusive o Cachorros, que tinha mais 2 custando 160 reais e 200 reais. O que eu pedi, custava 54 reais. Paguei o boleto e, uma semana depois, eles me informam que não tem o livro do Gray no estoque, e que meu dinheiro seria devolvido em 4 dias. Torrei minha paciência em comprar pela EV. Cada compra tem um contratempo, uma indignação. Os livreiros dos sebos perdem terreno assustadoramente devido a suas incompatibilidades com a idoneidade requerida pelo mercado em épocas da Amazon. A Amazon manda passo a passo o envio do livro, pode-se saber em qual parte do país o livro está, indo em seu encalço, além do que, assim que se pede o livro, eles imediatamente respondem ao cliente. A Cultura não fica muito para trás. E os velhos donos de sebos, os sebos que estão entranhados em minha memória cordial e nas minhas mais ternas lembranças, não sabem mais caminhar 10 metros até a prateleira de filosofia para ver se o livro pedido está mesmo ali, e não sabem atualizar a informação da oferta no computador. Assim, não há mercado livresco que sobreviva.

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  4. Entrevista que Coltrane deu em 1966 para Kofsky e que foi divulgada numa rádio da California. A entrevista ocorreu a pouco menos de um ano da sua morte (uma de suas derradeiras entrevistas). Nela ele conversa sobre a sua transição do sax tenor para o soprano (em My Favourite Things) e de como o novo instrumento era mais próximo da sua concepção espiritual de arte, do estranhamento da crítica para com o Novo Jazz dele e de Archie Shepp (The New Thing), os particulares da gravação dos seus discos de baladas e sobre a acolhida calorosa do Jazz na Europa versus a sua ghettoização na América como música de negro night clubs.
    De Nada!
    https://soundcloud.com/pacificaradioarchives/bc1266-an-interview-with-john-coltrane-by-frank-kofsky

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  5. Geoff Dyer's, de All About That Jazz, e seu delicioso texto no The Guardian em celebração aos 70 anos de Keith Jarrett, no dia 8 de Maio.
    http://www.theguardian.com/commentisfree/2015/may/10/keith-jarrett-70-greatest-living-musican-geoff-dyer
    É melhor se apressar, caro Charlles, se quiser vê-lo tocar ainda em vida.

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