sexta-feira, 29 de maio de 2015

Fome, de Knut Hamsun









Creio que nunca fiz isso nestes cinco anos de blog, nunca recomendei que os frequentadores desse espaço comprassem determinado livro, por mais que eu demonstre meu amor por alguns autores e algumas obras. Desmoderadamente, agora: se eu fosse vocês, compraria imediatamente a nova edição de Fome, de Knut Hamsun. Não vou falar nada absolutamente sobre ele, apenas que é uma das experiências mais sublimes de leitura que já tive. A capa parece de livro espírita, mas a tradução é válida pelas mãos do Drummond. Vai passar batido pela imprensa cultural, por ser de uma editora desconhecida e por ser de um autor que nada tem a ver com as tendências modernas da escrita cool institucionalizada, e provavelmente ninguém mais vai falar dele. Para conter um pouquinho só dessa enorme injustiça, aqui vai literalmente meu conselho: deixem tudo que estão fazendo, e vão fixar esse livro dentro de um oásis de eternidade em suas vidas.

28 comentários:

  1. O oásis chegará pelo correio em alguns dias. Era o único em Porto Alegre com essa capa, na estante virtual... 9,90.

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    1. Fiquei tão extasiado que nem vi que se trata de uma edição de 2009. Não a conhecia, pois este livro já há décadas estava esgotado e sem reedição. Não tem como não amar esse livro.

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  2. Livraço, livraço, livraço!!!!

    Li (gostaste?) esta tradução numa antiga e bela edição da Nova Fronteira.

    Recomendo tb!

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    1. Eu li na coleção Nobel, aquela de capa branca com uma aquarela do Picasso na capa, antiquíssima. Tenho ainda, muito velha. Comprei esta agora, exultante!

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    2. Charlles, nesta coleção tem um livro chamado Barrabás, do sueco Lagerkvist que é primoroso. Você já o leu? Deste mesmo autor ninguém se dignou de republicar "O Anão". O jeito é esperar, aprender sueco ou pagar caro, muito caro em sebos.

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    3. Li Barrabás, ótimo livro. Acho que tenho ele; não sei ao certo porque há uns 25 anos comprei uma carrada de livros da coleção Nobel por um real cada, e os guardo em algum canto aqui de casa. "O anão" é muito caro na Estante Virtual e não tem como eu lê-lo.

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    4. Recentemente fiz um post sobre a especulação bibliográfica na EV. Como digo lá, li O Anão em espanhol, por indicação de Milton, e é mesmo ótimo. Li numa fotocópia duma edição argentina que achei na UFBA. Aqui tem por um preço razoável: http://www.estantevirtual.com.br/b/par-lagerkvist/el-enano-anao/3383588622?q=el+enano&vmnqm=0

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    5. Como disse o Marx, toda mercadoria é carregada de seus significativos religiosos e fetichistas. Eu vejo com agrado essa especulação, principalmente se lembrarmos que grande parte do estoque da EV é vendida por preços bastante camaradas (acabo de pagar um boleto de 55 reais pelos dois primeiros romances de Bellow, e pelo livro do meio da trilogia de Dantzig do Grass). Esses livros tem sim que ser bem caros, são verdadeiramente valiosos pela escassez e pelo mérito que causa em quem dispõe a comprá-los na razão de ter alguma vantagem íntima sobre aqueles outros leitores que não o fizeram. Não me critiquem: todo o mundo do consumo em que estamos se baseia nisso. Ainda assim, é bem mais saudável essa concorrência do que os bestas que pagam os absurdos pelos, digamos, carros brasileiros.

      Tem muitos livros pela EV que eu gostaria de comprar mas não o fiz, por um motivo ou outro. Esse do Anão, o sobre as experiências religiosas do William Blake, e uma série de outros. Já sucumbi a esse fetiche na compra de um livro do Said, quando este estava fora de catálogo (foi reeditado depois, o ótimo "Cultura e imperialismo"), e três do Bernhard.

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    6. Vantagem íntima pra mim é comprar barato. Eu até tenho uns livros caros aqui (mesmo com bons descontos): Os Miseraveis, Outono da idade média, Guerra e Paz, O Conde de Monte Cristo e essa edição definitiva de Do Inferno. Livros grandes e luxuosos. Mas acho um absurdo cobrarem R$100 naquele O Naufrago de bolso, por exemplo, com oito lá à venda. Não pago nem a pau.

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    7. Tem um Náufrago por 60 lá. Os mais caros que comprei foram Extinção (95 reais), O sobrinho de Wittgenstein (100) e Árvores Abatidas (120). Se Bernhard, que é um escritor só conhecido por gente que realmente gosta de ler, é desse preço, presumo que seja porque os caras que vendem entendem sobre o produto. Não é o que aconteceu com a alardeada primeira edição de Augie March que comprei por 15 reais (com frete). Livros raros e caros é uma boa tradição em qualquer canto do mundo, e a EV está longe de ser extorsiva. O "Por um fio", do Bellow, que comprei por 33 reais há dois dias, hoje consta um exemplar por 134,98 reais (mais caro, pois, que O anão). Gosto muito disso, e eu pessoalmente não tenho nada a reclamar: há pouco mais de dez anos eu jamais imaginaria que teria comprado e lido os livros que, então, algum dia conseguiria adquirir, e por preços condizíveis.

      http://www.estantevirtual.com.br/busca?vmnqm=0&q=por+um+fio+bellow

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    8. Quem lançou essa reivindicação da grandeza de O anão nas cercanias foi o Milton Ribeiro. E foi motivado puramente pelo fetiche do livro caro (não que eu duvide das qualidades do romance). Note que ele inicia seu post sobre o volume dizendo que o valor mais baixo anunciado pela EV por um exemplar era de R$ 189,90. Se custasse 20 reais, ou 5, o culto seria tão instigante (ou estaria entre os seus 50 melhores)?

      http://miltonribeiro.sul21.com.br/2013/02/21/os-50-maiores-livros-uma-antologia-pessoal-ix-o-anao-de-par-lagerkvist/

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    9. Ironicamente, o Náufrago de R$60 não é o de bolso. E não precisa entender do assunto pra pedir um valor alto pelo Bernhard, basta apenas procurar na EV. "Hum, esse tal de Árvores Abatidas está bem caro... Vou vender o meu pelo mesmo preço".

      Não creio que Milton tenha sido motivado por esse fetiche. Em 2008 ele já falava do livro: http://miltonribeiro.sul21.com.br/2014/09/15/o-dia-do-classico-desconhecido/#more-2979 (note que a postagem de 2014 é uma republicação).

      No mais, eu discordo absolutamente. Pra mim, cultuar um livro porque ele foi caro é ainda pior que cultuá-lo porque ele fez sucesso entre os jovens cool de NY. O que te parece mais instigante, indicar enfaticamente Fome e todo mundo poder comprar, ler e comentar, ou mencionar O Anão e quase ninguém poder conferir se o livro é isso tudo?

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    10. Lembrando, é claro, que meu problema não é com a EV, que me permitiu o acesso a obras incontáveis, mas com a malandragem de certos vendedores.
      Fico bem feliz por saber que os Pynchons e Bernhards que tenho aqui foram comprados por um preço legal.

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    11. É uma lógica de mercado bastante simples, não foi o mercado livreiro que inventou. Se Árvores abatidas fosse reeditado, seria vendido, suponho, por uns 56 reais; nada demais que sua primeira edição, esgotada há 25 anos, seja vendida pelo dobro do preço hoje. O arco-íris da gravidade, se reeditado, não sairia por menos que 100 reais, e estava sendo vendido, quando disponível, por 150 reais na EV. Onde há exploração nisso? Tinha por 300 reais também. Todos foram vendidos, visto que não se acha mais no site_ ou seja, há uma demanda para tais livros, e uma demanda grande. Fui um dos últimos a comprar o Homem sem qualidades novo; não se acha mais ele nem pelo dobro do preço em lugar algum. Talvez seja realmente o livro fetiche a ser revelado, pois nem na Amazon nem na Cultura. O livro sumiu por completo. Há um com o mesmo título na EV, com o aviso "não é do Musil", o que revela a insistência da procura. Não vejo preço abusivo algum pela EV. Se eu fosse vender meus Bernhards, não sairiam por menos que 300 reais cada, o que é absurdo porque eu não os vendo nem por 50000 cada e não vendo livro algum meu por nada.

      Mas o que vc tem que ver é que, de nosso lado, o mercado continua, o livro raro continua com sua valorização progressiva. Lembro que quando eu estava desempregado, vendi a trilogia do José e seus irmãos por uma bagatela em um sebo. Nesses tempos de agora, as chances de se obter um bom preço por livros assim, para venda, são muito maiores.

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    12. As editoras deveriam ter profissionais para averiguar isso, os livros antigos do Bernhard deveriam ser reeditados( eu vou tentar arrematar esse que está custando 60 reais, se o preço continuar até o fim do mês), e os do Pynchon eu acho que nunca foram reeditados, o "Tristran Shande"do Laurence Sterne, vários do Victor Hugo, Dieckens e os do Cornélio Penna todos esses três autores já em domínio público e sem novas reedições, parece até má vontade dos editores, pois os livros desses camaradas estão custando os olhos da cara e as vezes são edições com mais 40 anos.

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    13. Essa questão eu estou sempre martelando aqui, Tiago. O Brasil tem editoras primorosas, que não ficam a dever a nenhuma outra do globo. Mas, por mais que tenham visão e amor aos livros, elas padecem de um lapso recorrente de uma maior organização e, principalmente, de uma estratégia de vendas em que FAÇA CHEGAR O LIVRO AO LEITOR SEDENTO. Eu não consigo mesmo entender essa deficiência, essa burrice. Esse livro do post, por exemplo: não tem nada vendável nele. Custava colocar uma capa melhor e fazer uma divulgação eficiente? O mínimo disso e, tenho certeza, essa edição de 2009 já teria esgotada e estaríamos em outras. Lembro que foi o Cassionei que me informou, no site do Milton, há uns 5 anos, que a Cia das letras havia reeditado O teatro de Sabbath. Não havia e nunca houve qualquer menção a essa reedição no site da editora, eles o reeditaram como se não estivessem nem aí se fosse vender. O principal livro de Roth, para o qual uma dezena de pedidos dos leitores por uma nova edição se lia no site, e eles nem aí. Um ano depois, Roth entra na lista dos mais vendidos da Veja com seu Patrimônio, e assim, espontaneamente.

      Eu pedi ao Ernani Ssó que ele recomendasse à Cosac uma edição dos contos completos do Padre Brown, baseado em um volume de capa dura de Portugal que é um dos livros icônicos para mim. E esses autores todos que você citou. Li um artigo em que relaciona a crise econômica com um aumento da venda de livros clássicos (pois é, surpreendente, mas é um artigo legítimo; no novo Houellebecq o narrador cita algo assim também). Essas editoras necessitam urgentemente de consultores sobre literatura.

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    14. Seus exemplos são ok, mas continuo a achar um abuso os valores cobrados por O Náufrago e similares (vi que o de R$60 foi cadastrado ontem, e só espero que ele seja comprado por um leitor e não outro livreiro). Mas compra quem quer, né? Eu não pago, assim como não pagaria R$150 mil (se tivesse) num terreno triangular de 30m² aqui em Irecê.

      Eu concordo com Tiago. Com tanto apelo da mídia, dos leitores, dos blogueiros, uma reedição de O Leilão do Lote 49, por exemplo, se esgotaria num piscar de olhos.

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    15. O Padre Brown é ótimo, né? Chesterton anda saindo por umas editoras católicas, e creio que mais cedo ou mais tarde lançarão sua ficção.

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    16. Falando do Livro "o anão" vocês sabem dizer se a tradução é direta do sueco como é o "Barrabás" que foi traduzido pelo Guttorm Hanssen?

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  3. Eu tenho a da coleção nobel de capa marrom, estou enrolando já faz alguns anos, então vou colocar na fila.

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  4. Puta merda, é mesmo uma capa de livro espírita, foderam com o livro. Fiquei puto.

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    1. HAHAHAHA! Foderam mesmo; poderiam ter colocado uma pintura Munch na capa...

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    2. Nem dá para dizer que é uma das capas mais horríveis que já vi. Sai tanto de qualquer propósito que nem merece esse título.

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    3. Não me lembro mesmo dessa cena do personagem principal entrando em Nosso Lar. (rs)

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  5. Acabou q o meu não veio com essa capa que encabeça o post, mas com aquela a q te referiu antes, com uma gravura do picasso, mas muito desgastada - a edição é de 63, coleção Nobel, e é acompanhada de um estudo introdutório e ilustrações. No fim, um casal - os donos da livraria - é q trouxeram em casa mesmo.
    Comecei a ler. Um ar de subsolo.

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    1. Eu ia comentar isso, mas faço menção exageradamente a Dostoiévski e temo (inutilmente) ser chato. Mas é isso aí, tenho esse livro como um gêmeo do Subsolo.

      Tivestes sorte. A edição do Nobel traz uns ótimos mimos, tais como biografia, ilustrações, estudo sobre os porquês da escolha da academia.

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  6. Essa coleção nobel já vale só pelas "fofocas" da escolha do laureado mesmo que talvez nem tudo escrito seja verdade.

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