terça-feira, 19 de agosto de 2014

Guebrídguma



Recebo uma chamada em uma tarde quente de agosto em idos de 8 a 9 anos atrás, a voz de mulher do outro lado da linha tornada indistinguível pela mecânica que tinha que passar toda a sua firmeza e protocolo pelos furinhos da caixa de som do celular. Alô, é o professor Charlles?, pergunta; sim, sou eu, respondo. Professor Charlles, aqui é a Luiza, a coordenadora do Colégio Rudyard Kipling. Teria como você vir aqui ao colégio às 15 horas de hoje? Penso um pouco, o suficiente para identificar na minha lista de personas non gratas a tal Luiza, invoco o instantâneo de possíveis erros que cometi em minha disciplina de biologia para a turma do terceiro ano, não me vindo nada de condenável, o que torna a sensação de temor um tanto mais acentuada. A senhora poderia me dizer sobre o que se trata?, pergunto. É um assunto de certa urgência, você vindo aqui na hora proposta discutiremos._ Está bom, respondo e desligo. 

Atravesso a longa avenida em supino ao sol severo da tarde, com meus diários em mãos. O que diabos a coordenadora queria comigo, era a pergunta martelando na cabeça, ao mesmo ritmo que uma artéria ia motorizando em minha têmpora enquanto as mangas da camisa ficavam molhadas de suor. Luiza, uma mulher de uns 40 anos, semblante rígido, voz determinada das pessoas acostumadas com o comando, alguém temido pelos alunos e evitado pelos professores, ou ao menos por mim, que sempre mantinha uma soviética distância dela, restringindo-me a assuntos meramente protocolares. E houvera um incidente meio desagradável que aumentara ainda mais minha indisposição com ela: na época, eu me lançara numa loucura involuntariamente neoliberalista de manter três empregos, o que podara todo meu tempo livre; eu era, além de funcionário público, veterinário de campo e professor de biologia em colégio particular. Até então essa mazela tresloucada parecia molestar apenas a mim, que era solteiro e desimpedido em tudo, mas a tal Luiza, um dia, invocou a psicóloga do colégio para que me chamasse em particular e me colocasse a par de que esse transtorno de comportamento também privava os alunos da harmonia sanitária ideal das salas de aula. Trocando em miúdos, uma aluna flagrou em certa aula um filete de sangue em meu braço, enquanto eu expunha, com esse braço em riste em frente ao quadro negro, uma daquelas fatídicas cadeias de interações genéticas, e essa aluna me delatou junto à coordenadoria. O fato é que eu saía do frigorífico e corria para o colégio, sempre muito preocupado em não chegar atrasado, e nesse dia em particular mal tive tempo de tomar um banho, o que deu origem ao delito. A verdade mesmo é que nessa correria, grande parte das vezes eu só dispunha de tempo para uma higiene satisfatória quando chegava em casa, lá pelas 11:30 da manhã, até essa hora eu devia mesmo exalar um singelo odor de sangue coagulado, fezes, vômito, e gás do sistema de ar condicionado, que são componentes infusos no ambiente de um frigorífico que abate mil animais por dia, e no qual eu ficava submetido desde as quatro horas da madrugada.

A psicóloga me chama, ficamos um de frente ao outro, percebo o desassossego e constrangimento dela ao, enfim, ter coragem de me dizer que eu, um rapaz tão bonito, deveria ter alguém para zelar de mim, contratar uma empregada doméstica, ou, melhor, quem sabe, arranjar uma esposa, e assim vai. Meia hora de conselhos e nada de me dizer que a razão da piedade excessiva era que um filete de sangue fora visto em seu traçado nauseabundo percorrendo todo meu antebraço, como a muralha da China pelos olhos lunares do falecido Neil Armstrong. Saí da sala da psicóloga crente de que ela me usara, em seu longo expediente morto, para preencher uma das suas fichas burocráticas de atendimento mensal, que justificava seu salário, mas duas semanas depois a própria Luiza me encara, em seu gabinete, me dizendo, curto e grosso, que certos alunos haviam reclamado de detalhes perfunctórios em minha indumentária pessoal. Alguém aqui que tenha caído de gaiato nesse blog é veterinário? Não? Pois entendam, leigos, que cheiros, sabores, máculas em tecidos, filetes de sangue em braço, estão longe de poderem constranger um veterinário. Fiz estágios por longos meses em granjas de suínos, e ainda hoje, quando sinto aquela acidez característica, misto de ureia, enxofre, dejetos biológicos de todo tipo, sou tomado por uma lírica nostalgia, da mesma intensidade que quando minhas narinas são surpreendidas por um certo perfume colossal que minha primeira namorada da adolescência usava, que me para com o que eu estiver fazendo e me descentraliza, ou o rescender da relva apreendido na volta para casa pelas janelas semi-abertas do carro me devasta de saudades de uma antiga casa de campo da infância. Aprendemos sobre uma certa poesia dos cheiros na faculdade de veterinária, o que não é nem um pouco assustador para os profissionais das áreas médicas de qualquer tipo_ semana passada mesmo, meu dentista retirava as agulhas coloridas que inseria no canal do meu dente e as passavam pela averiguação de seu nariz de degustação apurada e deleitosa, tal qual um sommelier. (Aperfeiçoa-se nessa filosofia aromática as pessoas que tem filhos ou são donos devotos de animais domésticos, para quem toda escatologia envolvida são íntimos estudos e caminhos revisitados à farta ao conhecimento recolhido do alvo de seus amores.)

Pois bem, a tal Luiza estava longe de poder tirar de mim rubores de qualquer tipo, daí que eu respondi, na mais cordial das distâncias, que o problema seria resolvido se ela atendesse minha antiga recomendação de que passasse minhas aulas para mais tarde, que não fossem as primeiras, das sete da manhã, mas lá pelas nove, ou quem sabe à tarde, tendo tempo então para voltar para minha casa e me dignificar a esfregar meu couro com a mais bruta das esponjas naturais até que meu sangue minasse de saúde asséptica pelos poros. Ela assim o fez; eu, que melhorei muito da minha doce estupidez retaliativa, continuei do mesmo jeito, atento apenas para manchas visíveis, mas só tomando banho depois que voltava do colégio, no intuito de provar que aquelas sensibilidades ou eram psicossomáticas de quem não se dava bem nas notas de minha disciplina, ou eram de fontes erráticas (um adolescente padrão emana odores francamente desagradáveis, os quais eu mesmo não tolero), ou eram simplesmente birras com as quais meu nível de apreensão dos mistérios administrativos colegiais pouco se interessava. Talvez fosse isso, pensei ao dobrar a esquina em direção ao colégio: o reascender dessas antigas questiúnculas, que a tal Luiza queria mais uma vez me jogar na cara, inadmissível foi para ela que eu não me importasse ou não me vexasse. Entro pelos portões do colégio pronto para dizer sem meias palavras que eu iria abrir mão daquilo e me demitir, avanço para a porta da administração, não me faltando a percepção de que era um tanto estranho que não houvesse viva alma ali, nem o porteiro, nem as faxineiras, nem os professores ou monitores das aulas vespertinas de reforço. E eis que, nesse deserto todo, me aparece a tal Luiza, que surge da sala de administração com uma leveza ectoplásmica e se encaixa ali no umbral da porta com algo de fada ou ninfa do vale, cabelos molhados ineditamente soltos, mostrando o quanto eram longos e negros; os lábios, tão rotineiramente adeptos de um fordianismo de discursos produtivos, estavam moldados com um batom vermelho cordial e não-aberrante (lembro que meu senso de observador apurado teve tempo, naquele micro-minuto de tensão, de reconhecer esse mérito feminino nela: era um batom equilibrado, que se condicionava com precisão elegante ao seu espectro de emanação mulheril, mostrava um auto-conhecimento orgulhoso, seguro e de extrema perícia, não são todas as mulheres que tem isso, isso é uma arte invejável_ de modos que naquela fagulha de racionalização que precede a catástrofe me passou cristalinamente pela cabeça: se eu cair hoje, se eu não aguentar e ceder, se eu me trair e me mostrar fraco e cediço, será por causa desse batom). Ela usava um vestido cuja barra ia até os joelhos, mostrando pernas bonitas, lisas, bem torneadas, pernas de uma mulher que envelhecia com uma lascívia concentrada e não de todo secreta (lembrei que haviam os comentários entre colegas professores que evidenciavam uma curiosidade sobre sua vida de divorciada reservada). Não era a mesma mulher, eram o que as faculdades do senso comum diante o inesperado queriam que eu pensasse naquela hora, mas o que eu tinha firme ao me estacar diante aquela visão era a convicção de que era a mesma mulher; talvez a outra, a intrusa e metade debilitada, fosse a que tinha que se confrontar com a psicopatologia do cotidiano de um colégio como aquele, a Luiza das calças jeans e do rosto sem maquiagem e despersonalizadamente assexuado das reuniões de fechamento de diário que a cada dois meses tínhamos que nos submeter; e a  Luiza legítima fosse aquela revelação noturna que se mostrava para mim em pleno dia, como um convite a uma iniciação a uma ciência privilegiada. Ela me disse_ a voz doce, calibradamente trêmula (meu deus, ela era profissional, pensei, daí que sempre me pareceu altiva a sua indiferença ao atravessar aqueles corredores com beldades ingênuas e assustadas de mocinhas de 16 anos): Charlles, eu te vejo sempre sozinho, sem companhia. Pensei se nós, nós dois, não poderíamos, sei lá, um dia, sairmos juntos para jantar, tomarmos um vinho.

Recordo que Bernard Shaw dizia que nada engrandece mais a experiência de uma pessoa do que os momentos de intenso constrangimento pelos quais ela passa. As gafes de Shaw são antológicas, as vaias e ovações que recebeu ao longo de seus 90 anos de vida: lembro que certa vez, ao entrar por uma sala até um bastidor de onde iria discursar para um grande público, tropeçou e rolou pelo chão, sendo que imediatamente se levantou e continuou caminhando como se absolutamente nada tivesse acontecido. Em certa medida, meu comportamento sempre foi inspirado em Shaw, ainda mais pela atitude desabrida que o irlandês possuía em não se importar em não usar as palavras aprazíveis exigidas pelos atos sociais. E meu histórico de momentos ruins inesquecíveis é arrepiantemente extenso; mas estar de frente à escritorial coordenadora Luiza e ter que suportar friamente que ela estivesse me passando uma cantada, às 3 horas da tarde desses verões inglórios do aquecimento global, tendo urdido uma espetacular e na certa dificultosa evasão de todo mundo para que o colégio servisse inteiramente ao seu intento (apenas ela e eu, eu e ela ali), era algo que exorbitava em muito meu estômago de avestruz para digerir impavidamente o constrangimento. Eu desconversei da melhor maneira que pude, mas tudo foi um grande desastre. Disse a ela que eu já tinha uma namorada, que me sentia envaidecido pelo seu convite, mas eu tinha que recusar. Foi uma auto-violência extrema, ainda hoje, ao pensar nisso, faço uma careta e digo comigo "Cacilda!". Analisei ali que nada há de pior do que uma mulher rejeitada, é o mais cruel dos inimigos que se pretenda ter. Era meu ultimato para abandonar o colégio.

E olha só as coincidências: relatei o fato a um amigo apenas, numa noite de bebedeira que ambos tivemos em um bar da cidade. Esse amigo, um tipo aragonês baixinho, barrigudo, careca e com uma falha num dos incisivos, dado a um riso de alegria suprema que lhe é um acometimento natural desde que acorda até o horário em que vai dormir (alguém que nunca, nem na circunstância do falecimento de seu pai, vi de mau-humor), me disse, após cinco minutos de prefácio monologal hilário recheado de frases como "não acredito", "não pode ser", que fazia um ano que ele e a Luiza eram amantes. Olhei-o embasbacado: "sério?". Tive uma dessas decepções egoístas que prescinde de controle mental, em que vi a altiva Luiza pega por aquele amigo descarado e mandrião; ela merecia algo melhor, pensei e disse a ele. Ele concordou, bebendo mais um copo de cerveja e fazendo sua voz em soprano de quem finge se importar para que outros não lhe ouvissem e preservasse a honra de sua vítima: ela é insaciável, precisa de ver! Pôs-se a contar detalhes picantes que fizeram a noite se estender por mais duas horas além do previsto. Era tão simpático em sua canastrice, tão detentor de uma auto-depreciação adstringente, que no final achei que havia algo de dignamente romântico nas farras pantagruélicas que os dois realizavam juntos, fazia mais que um ano, em segredo tão bem guardado que nem as duas filhas que moravam com ela sabiam. Ainda faltavam dois meses para fechar o ano, e eu havia informado ao colégio que só cumpriria a agenda e sairia dali. Via a Luiza em seu jeans e camisas formais, séria, constrita, e imaginava-a dizendo o que meu amigo afirmava que ela dizia, e se posicionando nos malabarismos que ele descrevia prontamente que fazia.

E eis que, para concluir, encontro um tesouro no último volume de Seu Rosto Amanhã, de Javier Marías. Na página 139, do terceiro volume, da edição da Companhia das Letras, encontro a supracitada definição, que é sobre o quase delével grau de parentesco que surge entre homens que se deitaram com a mesma mulher. Marías não trata do assunto de forma grotesca nem masculinista, como pode parecer a uma primeira impressão, mas o faz com sua elegância costumeira e sua erudição. Diz que_ na verdade é seu personagem narrador quem diz, Jacobo Deza_, segundo leu em um livro de um seu compatriota espanhol, o termo achado para definir o parentesco da "co-foda" (sinônimo "grosseiro e contemporâneo", ele admite), ou do "co-jazer", era uma derivação do vocábulo anglo-saxão medieval ge-bryd-guma, que se declina a ser escrito como "guebrídguma". Se eu tivesse me deitado com Luiza, eu teria passado a ser guebrídguma de meu amigo aragonês. É o tipo de coisa que eu não irei falar para ele_ não compartilharei esse tesouro encravado. Ele jura de pés junto, como se diz, que eu me encontrei depois com a Luiza, e nós jazemos juntos. Para ele, nós já temos esse parentesco primal de sermos posse memorialística do conjunto de recordações sexuais de uma mesma mulher. Sempre que nos encontramos, os mesmos usuais achaques são repetidos, de que cada um não voltou a aguar mais aquela horta depois que soube que o outro passara por ali, que a mulher estava estragada para sempre e seria uma vergonha que o outro tivesse coragem de aparecer com a mixaria que deus lhe havia dado,etc.

22 comentários:

  1. Um dos meus favoritos, Carllos. Bom relê-lo. (Estamos na fase em que nosso amigo goiano posta seus melhores momentos como forma de "aquecimento" para a Obra quase acabada. It's haappeniiiing.)

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    1. Depois dos comentários na caixa anterior, devo confessar que escrevi esse texto usando o maiô do Borat?

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    2. É que eu havia me esquecido por completo deste texto, quando me deparei com ele ontem de madrugada. Fiquei surpreso pela releitura não ter me provocado constrangimento e repostei-o, jovem Tod.

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  2. " em que vi a altiva Luiza pega por aquele amigo descarado e mandrião". Tô rindo dessa até agora, parece que eu já experimentei toda essa situação.

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  3. Quem aqui imaginaria o Wagner, sandwiched entre uma Luisa e um mandrião...

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  4. Luiz Luiz, interpretando assim vc me prejudica. Então, aproveitando um pouco da sua imaginação florida, vamos esquecer a graça e me imagine sandwiched sim, porém, entre a Luisa e uma mandriona. Assim fica melhor pelo menos para mim, já para vc..., o teclado acusa o que está transbordando no coração.

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  5. Desculpa a Ramirada, Wagner. À luz de três cervejas trapistas ontem achei que cabia o gracejo. Não cabia. Faux Pas.

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    1. ôÔô…Meu!... Não me coloque no meio desse sanduíche, não… Meu caso é com o Milton Ribeiro, com cerveja ou sem….

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  6. Que isso Luiz, não precisa se desculpar. É sempre bom o frescor de um boa brincadeira, ainda mais quando justificada por essas cervejas trapistas. Vamos em frente.

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  7. Começou...

    http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/08/1504479-mercado-discute-preco-fixo-de-livros-em-reacao-a-amazon.shtml

    Mimimimi vendem mais barato, dane-se o consumidor.

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  8. Charlles, passa lá no Milton depois para você ler uma maísculo exemplo da boa Crônica de futebol.

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  9. O Idelber está me surpreendendo nesta eleição. Incrivelmente tenho concordado com 9 entre 10 posts dele... este é de hoje:

    Idelber Avelar
    15 min ·
    "Quando acontece um tsunami na política -- e acho que podemos todos concordar que à chegada de Marina às eleições presidenciais se aplica essa metáfora --, a pior coisa que você pode fazer é se apressar na análise e deixar que a sua posição no interior dos antagonismos determine imediatamente a sua leitura do fenômeno. Tenho visto muito disso. Tenho poucas convições sobre o que seria um governo Marina Silva, mas uma delas é a seguinte: as linhas de ataque petista e tucana contra ela só fazem-na crescer mais. Na minha opinião, quem não entendeu isso ainda não entendeu nada.
    Dois exemplos rápidos, que nada tem a ver com Marina: Reagan e Lula. Reagan foi o maior pesadelo da história do Partido Democrata nos EUA. Lula foi o maior pesadelo de grande parte da imprensa e da oposição de direita no Brasil. O que essas duas figuras tão diferentes têm em comum? As linhas de ataque contra elas faziam-nas crescer mais.
    Quanto mais os democratas diziam que Reagan era um sorriso vazio, mais os americanos se identificavam com aquele sorriso vazio. Quanto mais eles diziam que Reagan estava gagá e errava nomes, fatos e datas, menos os americanos se importavam com essas coisas tipo fatos e datas. Quanto mais eles diziam que Reagan ia isolar os EUA do mundo, mais os americanos optavam pelo isolamento. Depois de passar quatro anos rindo vazio e errando fatos e nomes na TV, Reagan impôs a Mondale, em 1984, a maior humilhação da história do Partido Democrata nos EUA. Ganhou 49 estados.
    O caso de Lula todo mundo conhece: quanto mais a imprensa e a oposição diziam que ele "falava errado", mais o povo se identificava com a forma dele de falar. Quanto mais o ridicularizavam por aparecer no jornal, num feriado com Marisa, de bermudão, sem camisa, e carregando ele mesmo um isopor com cerveja, mais o povo se orgulhava de ter um presidente que carregava a própria cerveja. Mesma coisa com o ataque pela esquerda: o PSTU e o PSOL corretamente apontavam que Lula havia entregado a política monetária ao presidente do BankBoston, mas isso nem arranhava a popularidade de Lula com os pobres.
    Ao atacar Marina como "melancia" (verde por fora, vermelha por dentro), ao dizer que ela saiu do PT mas o PT não saiu dela, os tucanos erram feio, pois se colocam à direita dela, e o eleitorado à direita os tucanos já têm. Precisam do outro. Ao atacar Marina como "fundamentalista", "criacionista" ou "pró-bancos", os petistas atacam-na pela esquerda, mas o problema é que a esquerda é exatamente o que petismo desprezou nestes anos. Se você passou quatro anos na cama com Crivella, Feliciano, Marisa Lobo e Kátia Abreu, fica difícil tentar pintar Marina como representante da direita. Depois de reprimir indígenas, quilombolas, LGBTs e manifestantes durante quatro anos, o petismo agora quer que estes setores o salvem de Marina Silva. Spoiler: não vai rolar, baby blue.
    Marina deriva sua força do fato de que passou a representar, para milhões de pessoas, um antagonismo a TODO o sistema político. Deixo para outro texto a tentativa de explicação do porquê, mas adianto outro spoiler: você dizer que ela é parte desse sistema, que ela na verdade não é nada de novo, que o que ela diz é vago e inclui coisas contraditórias não vai ajudá-lo a entender o que está acontecendo.
    Porque o que tanta gente está chamando de "vago" e "contraditório" (e é vago e contraditório mesmo) não é uma fraqueza dela. É aquilo do qual ela retira sua força. Ela, que foi alfabetizada aos 16 anos, já entendeu isso muito bem. Tantos militantes e funcionários doutos por aí, crentes de que possuem a verdade, não entenderam nem isso ainda."

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    1. Faz tempo q ñ visito o Idelber. Esse texto é realmente muito surpreendente. Ou talvez nem tanto, se vermos q já há algum tempo o cara despertou e vem tendo opinoes politicas bastante consistentes.

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    2. O coronel aqui de Goiás vai ganhar, se reelegendo para mais oito anos, talvez mesmo no primeiro turno. Assisti a uns dois programas eleitorais de oposição e... praticamente nenhuma palavra sobre os tantos escândalos e crimes graves que rondam seu nome. E eu que, por uma sempre recorrente ingenuidade vocacional de brasileiro, pensava que a oposição teria tanto assunto para bater no cara que sua derrota já estava decretada. O coronel tem até uma investigação aceita recentemente pelo judiciário em que aparece como mandante do assassinato de um policial militar. A imprensa não noticiou isso, mas os blogs miúdos postaram a página do processo e demais provas, de forma que ninguém é ileso dessa informação. E o cara vai ganhar de novo, sem nenhuma reação da dita oposição. Fácil perceber porque: uns vão ganhar secretarias, outros ministérios (o candidato de esquerda já tem seu ministério garantido se a Dilma ganhar). Ninguém não está nem aí para o povo. É até ridículo usar essa terminologia: "povo". Ressalta ainda mais nossa ingenuidade telúrica incorrigível.

      Eu vou deixar de votar em branco para votar na Marina. Nenhuma aposta nem medianamente racional nela, o que dizer então de minha ausência absoluta de otimismo. Mas tem que ter alternância, tem que ter auto-crítica nacional, tem que ter resguardos sobre preconceitos enrustidos. A tal cara de pobre da Marina, da qual tanto se fala. Preconceito! A tal carinha de coitadinha, "tenham dó de mim" dito na voz mais sumida, um fiapo de fôlego radiográfico que revela instantaneamente seu passado de sofrimento que assegura o determinismo do direito ao cargo. Mas eu vou votar nela. Nem que pelo complexo estudo que estamos vendo da politica cafajeste brasileira, as coisas que o Idelber diz aí em cima, os medos e as hipocrisias canalhas dos dois partidos que agiotam o expoliam o país há anos: PT e PSDB, que são a mesma merda.

      Meu voto é da Marina.

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    3. Esse é o Brasil: três candidatos à esquerda no top3, dois deles petistas, e o mais moderado é o que tem os votos da da direita, pois os outros dois que puxam brasa para esse lado querem ou fazer um aerotrem ou não sabem o que defendem. Tamo bem.

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  10. Tbm votarei nela, sem maiores ilusões, por todo o contexto. Estou por sair do facebook, assim q agosto acabar, foi o q estipulei. O q segue abaixo escrevi dois dias depois da morte do Campos.

    "Bah. O chorume contra a Marina Silva está forte. Estão atirando de todos os lados. Seria ingenuidade minha acreditar que estão fazendo gratuitamente. Então só façam o favor de parar de emular a Regina Duarte (Eu tenho medo, 2002) e falem de coisas concretas, tragam argumentos relevantes.

    De minha parte, nas oportunidades em que pude escutá-la, inclusive presencialmente, sempre foi muito clara, coerente e íntegra. Vale o que deve sempre valer: escutar, pensar, pesar as palavras e ponderar as alternativas. Evita, no mínimo, generalizações e preconceitos.

    Não é campanha pró-Marina, que teve meu voto na última eleição. É só uma questão de concatenar os pensamentos e não sair papagaiando qualquer coisa, vale para todos os casos. Tenho certeza que vão achar o que falar, sempre há.

    (A menção desonrosa fica por conta de gente boa que cai no mesmo erro que diz recriminar, o do preconceito raso. Que a pessoa seja evangélica me diz pouca coisa, a priori. Assim como a posição ateia não dá salva-conduto pra ninguém, não é atestado de nada. Não diminuam o diminuto debate político, pelo menos enquanto recém entramos na era da nanotecnologia)."

    vai ser bom dar um tempo nas "redes sociais". vou poder vir aqui, por exemplo, com mais vagar.

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    1. Para mim, o que mais falta à Marina é clareza (o que ela defende?). E isso a ajudará ao menos a abalar o PT - quiçá ganhar. Quanto mais claro, pior para o eleitor.

      Voto em Aécio pelos nomes da sua equipe econômica.

      *Charlles: votas no Caiado por mim, votas? =) Voto na Luciana Genro por ti.

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  11. Eu voto em Dilma, pois os peseudotsunamis da morte de Eduardo Campos e principalmente aquele outro famoso de 2013, no Brasil, sobre o qual chegaram a afirmar que estávamos diande de um novo "1968", têm a mesma origem: a crise do capitalismo financeiro internacional que explodiu em 2008.

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    1. ERRATA À MARINA: é preciso “ressignificar” a experiência da escrita social e cultural que temos, a partir dela mesma, pois ela, a escrita, é uma espécie de e também em mutação (pois entre “de” e “em” há um profundo sentido semântico e semiótico); logo, onde se lê “PESEUDOTSUNAMI” leia-se, pela sustentabilidade da língua mãe da sobre-humana cultura tupiniquim, PSEUDOTSUNAMI.

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    2. Andas usando algo mais forte do que o Aécio usa.

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  12. FUNDO DO POÇO
    by ramiro conceição
    *
    *
    Sim, de muitas coisas que fiz
    me arrependo de muitas que
    não fiz. Medíocre fui tantas
    vezes que em poucas deixei, sim,
    de sê-lo. Desta maneira,
    carrego-me como posso
    porque o fundo do poço é,
    sem dúvida, não fazê-lo.

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