sábado, 10 de dezembro de 2011

Sábado à Noite, Bem Perto do Paraiso

25 comentários:

  1. TAMANHOS
    by Ramiro Conceição



    O amor
    que se sente
    é estranho:

    se novo, é forte
    porque quer viver;
    se antigo, é fraco
    porque quer morrer.

    O amor,
    dentro da gente,
    tem tamanhos.

    ResponderExcluir
  2. Charlles,

    encontrei uma coisa bacana:

    http://carlinhosdeipanema.blogspot.com/2008/02/van-morrison-john-lee-hooker-2007.html

    Rodrigo

    ResponderExcluir
  3. Não conheço esse álbum. Baixei os bootlegs de Van Morrison, 12 GB, incluso aquele álbum duplo que você me indicou uma vez.

    Tem uma versão de Morrison e Hooker para Glória muito boa em Too Long in Exile.

    ResponderExcluir
  4. Olha Charlles,

    o blog supracitado tem muita coisa interessante: encontrei álbuns ao vivo que não foram lançados de artistas tais como: Frank Zappa, Pink Floyd, Allman Brothers Band, Jimi hendrix, Roger Waters,... - vale a pena dar uma boa perscrutada.(dá uma olhada, por exemplo, nisto aqui: http://carlinhosdeipanema.blogspot.com/2010/12/led-zeppelin-1973-06-02-san-francisco.html)


    Rodrigo

    ResponderExcluir
  5. Nunca me larga a impressão de você é exageradamente preso ao Miles dos idos da Prestige.
    Todo a reverência à dupla de demiurgos Miles e Coltrane, Kind of Blue a mais magnífica criação suas.
    Não que não me alegre a presença de Miles, Red Garland, Philly Joe Jones, Coltrane e Percy Heath por aqui. Ou das variações com Paul Chambers, Cannonball Adderley et. al.
    Mas me alegraria muito vez ou outra a lembrança do maior quinteto do Jazz sobre a face da Terra. Tony Williams, Ron Carter, Miles, Wayne Shorter, Herbie Hancock. A despeito de toda devoção que sinto a Coltrane, e do êxtase, religioso mesmo, que o tenor dele (acima da flauta e do Alto) induz em mim, para mim é matéria incontestável que, do ponto de vista composicional, a parceria Miles-Shorter foi muito mais frutífera. Shorter foi maior compositor que Coltrane. Footprints é uma das evidências que traria à memória se posto contra a parede. Nada disso trago "to the fore" a fim de paradear a enciclopedia que ameaça o Jazz como Jazz. É que a minha insistência nesse ponto noutros foruns realça a minha posição de solitude.
    (P.s. Não me passa despercebido que Milestones fora lançado pela Columbia Records. A referência à Prestige é cronológica e das formações dos quintetos do Miles)

    ResponderExcluir
  6. Luiz, bastante polêmica essa sua concepção. O famoso quinteto do Miles realmente é uma das maravilhas da criação, basta lembrar, entre tantos títulos, My Funny Valentine. O quinteto fez uma penca de álbuns do bom e sofisticado e elegante jazz modal, insuperáveis, antes de partirem de vez para o nem sempre genial fusion (apesar de Jack Johnson, Bitches Brew, In Silente Way, que para cada um teve os seus excessos a qual mais nos adaptamos do que nos deleitamos, como On The Corner, Live/Evil e Big Fun). Mas NADA é melhor que a turma de Kind of Blue, cara. Não vou dizer que você cometeu heresia pois estamos mesmo em tempos desleais, ainda mais que você faz por esquecido de que Blue Train mostra d vez todo o potencial de exímio compositor de Coltrane, faixas perigosas de plenitude que deixam Shorter bem pequeno com a plasticidade de suas miniaturas que revelam mais um grande conhecedor técnico da música do que propriamente um compositor genuíno. A onda de Coltrane não era a composição, e Blue Train é seu atestado que calou a boca dos puristas quando ele incinerou suas fronteiras do convencional e partiu para a transcendência. Basta se fazer uma pergunta: para onde partiu os músicos de Miles quando o quinteto foi desfeito? Para as bandas do jazz progressivo bastante discutível que tornou o jazz de um didatismo meio cínico por repetir tudo que Miles e Coltrande fizeram, com uma capa eletrônica precursora do New Age: Weather Report, Return to Forever, aquelas bandas de nomes complicados do McLaughlin. E, em comparação, o que Coltrane fez depois de Kind of Blue? Ora, nada menos que A Love Supreme. Coltrane e Miles e Cannonbal e a galera estão no patamar de FUNDADORES, por isso estão acima da crítica e do relativismo, são intocáveis.

    Difícil dizer qual o meu Miles preferido. Kind of Blue é inevitável. Mas, depois, amo demais Milestones, a sua alegria, a sua pureza, a sua força interativa...

    ResponderExcluir
  7. Rodrigo, faz a mesma linha do excelente site:

    http://butseriouslyfolks11.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  8. Então, Charlles. Na sua resposta, de novo, o buraco negro desse período musical do Miles ao qual me refiro. O quinteto supracitado produziu discos como o excelente Miles Smiles. Fora também com Ron Carter, Wayne Shorter, Herbie Hancock e Tony Williams que Miles fez Nefertiti e E.S.P. Essa formação, se não me falha a memória, já estava desfeita quando In Silent Way, Bitches Brew foram arquitetados. Se de novo não me falha a lembrança em Bitches Brew se alternam Chick Corea e Joe Zawinul no piano e orgão sintetizado e não o Hancock. Wayne Shorter ainda persiste no score de uns dois discos em diante para depois seguir no seu vôo rumo à catedra do Jazz onde já se sentam Bird, Gillespie, Sun Ra, Mingus, Coltrane, e o próprio Miles. A turma da maior formação de cinco no jazz a qual citei (palavras também do próprio Miles na sua autobiografia) não parou no fusion como você equivocadamente disse. Antes do fusion, e depois do fusion, com o Miles, e independentemente do Miles, eles fizeram discos que marcaram o gênero. Marcaram não porque burlaram com as divisas do estilo (como foi o caso do fusion). Falo da alquimia do Cool e o Modal com o Blues que resultara em coisas maravilhosas como o Speak No Evil do Shorter ou o Maiden Voyage do Hancock, só para ficar com dois exemplos. Nada desses dois discos tem a menor ligação com o progressivo. Speak No Evil, um dos tracks mais formidáveis da herança blue-jazz, concebida por Shorter, é só um exemplo do tipo de coisas que esses caras criaram depois dos anos de escola com o Miles (ainda que julgue que Shorter não tenha ído a escola nenhuma, gigante que era já nos tempos do Jazz Messengers). Sabia que a maioria dos scores do Jazz Messengers (algumas delas memoráveis composições originais e não recriações de standards como se alardeia) são originais ou do Shorter ou do trumpetista Lee Morgan? Acho mesmo passível de discussão a relevância do Weather Report para o gênero - mesmo que a chatíssima pergunta se o que se fez lá é jazz ou não não me interesse. Mas antes de Shorter partir para o tal projeto ele já tinha enfileirado pelo menos 5 albuns originais como band leader pelo selo da Blue Note.
    Tenho um carinho muito grande pelo Blue Train. Mas o Coltrane que mudou para sempre o jeito se tocar o tenor, o Coltrane que sucede a fase Sheets of Sounds (ainda que essa última fase seja também memorável), o Trane dos infindáveis solos de flauta e tenor que duravam 20-30 minutos, ou mesmo o Coltrane de alquimiza scores alheios ao cancioneiro de Hart, Gershwin, Porter (como é o caso de My Favourite Things), ainda está miles way (me perdoe a brincadeira infame). Blue Train é um excelente disco que mescla algumas composições originais com standards. É um ótimo disco do Coltrane que nos ensinou ab ovo a sacralidade do cancioneiro americano (como foram também a série de discos lançados quase simultaneamente pela Prestige, produzidos por Rudy Van Gelder onde figura o canônico quinteto com Red Garland, Miles e Coltrane). Em termos composicionais porém, de tracks originais que se tornaram por sua vez standards de anos vindouros em performances de Jazz, Speak No Evil é superior a Blue Train.
    Mas vejo a mesma cautela e ortodoxia sua com as formações do Miles também na sua experimentação com o Trane. Abundam referências ao Coltrane do Sheets of Sound e do Modal (de outro modo criação muito mais do gênio de Bill Evans que do Miles, se permite a correção) e faltam as do Coltrane tocado pela experiência do Ascension (por exemplo) ou das versões mais heterodoxas do My Favourite Things e de Naima, como no segundo disco gravado ao vivo no Village Vanguard.

    ResponderExcluir
  9. Luiz,

    confesso que até então, antes de sua menção, não sinto muita curiosidade quanto à carreira solo de Shorter. Limito-me ao Weather Report que, diga-se de passagem, eu adoro_ mas não com veneração. Não sei se aquilo se adequa a jazz ou ao famigerado rótulo de World Music, mas apesar de ser quilometros de distância da era dourada do modal (minha preferida), ainda assim possuía a alegria despojada que faz parte do melhor do jazz_ o despojamento e o espaço para a alteridade sadia, de forma que Pastorius tem tanto espaço quanto Zawinul e Moreira, assim como Miles dava pleno espaço de liberdade para seus músicos. Meu preferido do WR não é o blockbuster Heavy Weather, mas o 8:30_ nesse primeiro há algumas faixas datadas, com o sax soprano eletrônico à lá Kenny G.. De Hancock só conheço o Headhunters, que não me agrada além do que poderia agradar Heavy Weather.

    Eu aludi à presença da nata do quinteto de álbuns formidáveis como Nefertiti e ESP na fase fusion de Miles porque a banda (ou orquestra, pois tratavam-se de uma média de 20 músicos), nunca era a mesma no período de Bitches Brew, variando em gravações ao vivo e nas jams posteriormante disponibilizadas nas caixas de gravações de estúdio completas. O Hancock aparece em In the silent way (como posso confirmar no meu cd aqui nas mãos), junto com o Zawinul e o Corea, e há a presença de tony Williams, Shorter e Dave Holland. Ou seja, quase o quinteto. Antes de Bitches Brew ter sido lançado, uma monte de músicos se revesavam com Miles em apresentações ao vivo do álbum. Penso que a fase "quinteto" de Nefertiti pode ser conceitualmente extendido para o nascimento desses discos monumentais de fusion, pois juntavam-se Keith Jarret, Ermeto Pascual, Zawinul, Shorter e Williams e mais uma cambada para ajudar a definir a sonoridade que criou escola dessa fase.

    Uma correção: Blue Train possui 5 tracks, todos de composição de Coltrane, com exceção de "Im Old Fashioned", de Kern and Mercer. Logo é um álbum autoral. Pelo que vi do debate entre você e o Grijó, conheço muito menos de jazz do que você, mas creio que Coltrane nunca tocou flauta. O único álbum de Coltrane que conheço tendo participação de flauta transversa é Olé, a encargo de Eric Dolphy. Não dispenso a enorme possibilidade de você me surpreender nesse aspecto.

    Concordo com o mérito de Bill Evans na criação do modal, embora esse assunto seja imensamente prolífico (atribuem a paternidade do modal desde Ornette Coleman a Herbie Mann).

    ResponderExcluir
  10. Charlles,
    Por favor, julgue as linhas que seguem, tanto quanto as que antecederam como o compartilhar entre amigos daquilo que é caro.
    Você se antecipou a mim na correção sobre a minha apreciação do Blue Train. No chuveiro mesmo, repassando os titles do disco na cabeça, fui me lembrando que não havia standards no disco. Workin', Relaxin', Bags Groove, Steamin', Cookin' são os discos mais famosos da parceria Miles Coltrane onde se revisita os standards do cancioneiro americano. Achava que "I am Old Fashioned" fazia parte da tradição dos standards, posto que a balada se acha dentro dos limites dessa tradição que vai de Porter a Gershwin. "Lazy Bird" apesar de composição original é baseado em música de Tadd Dameron, o que vai um pouco na direção da minha equivocada nota.
    Mas feita as devidas correções, o meu ponto era de que o disco gravita no mesmo espírito da pentalogia dos albuns da Prestige.

    Mas eu acho que as grandes orquestrações que Miles produziu no final dos anos 60 - Bitches Brew entre 68 e 69 e In a Silent Way em 69, os quais você bem pontuou tinham ensemble de uns 20 músicos - pouco tem a ver com o som e o Jazz que se testemunhou (e infelizmente as testemunhas não superabundam) mais ou menos entre 64 e 68 na formação Carter-Williams-Hancock-Shorter-Miles. Resulta num dos maiores infortúnios para história da música que as road trips desse quintento não tenha resultado em vários discos de performance ao vivo como fora o caso com o quinteto Miles-Coltrane. Ouça Miles in Berlin e principalmente o Live at the Plugged Nickel, para uma amostragem do que esses caras foram capazes de fazer in locu, fora de estúdio. A exuberância do sax de Shorter e virtuose já bem além da fama de enfant terrible dos vários quintetos e sextetos com Art Blakey. O tom sobre tom do Flugelhorn de Miles sopreposto pelo tenor de Shorter, numa aquarela de insinuações que destoam do cock fight e do duelo que marcam algumas das parcerias entre Miles e Coltrane (não é mistério hoje para ninguém que Miles sentia-se ameaçado pelo talento de Coltrane e que este, quando começara a ensaiar ofuscá-lo nos solos, nas menções da crítica especializada e como referência na banda, essa competição, que, não me leve a mal, produziu capítulos impagáveis, marcou a música desse quinteto). A harmonia entre Miles e Shorter trouxe benefícios à música de Miles que não se conheceu em Coltrane.
    Os discos de estúdio desse período, em que essa formação, considerada de novo por críticos e pelo próprio Miles como a mais notável, são o E.S.P. (1965), Miles Smiles (1966), Sorcerer (1967) e Nefertiti (1967). Essa formação pouco teve a ver com as experimentações elétricas que vieram dois anos depois e com as fusões genéticas entre Rock, Blues e Jazz que juntaram ao Miles Corea, Zawinul, McLaughlin, Holland, e, posteriormente, Hermeto, Jarett, etc.
    Indulge me. Escute em caráter de urgência o Live at the Plugged Nickel, um gig inesquecível na trajetória de Miles nesse que era um club quando muito marginal no roteiro Atlântico do Jazz norte-americano, mas que mudou para sempre a cara da música.

    Sobre Coltrane e a flauta, os discos de fins dos anos 60, posteriores ao Ascension são as referências. Foi aí que Coltrane, já emancipado de tudo que pudesse recordar a influência de Miles Davies, experimenta com o sax soprano e com a flauta transversal.

    ResponderExcluir
  11. Eu me agarro ferrenhamente à minha condição de leigo, Luiz, o que definistes bem como um compartilhamento entre amigos de coisas que nos são caras.

    Tenho aqui uns 30 cds originais do Miles, a maioria do período anterior ao do quinteto. Tenho os 4 da época do Gil Evans, os primeiros álbuns da fase be-bop de Birth of Cool, e um tanto da época modal. Também Bitches Brew, Silent Way, Jack Johnson, Carnegie Hall.

    De download tenho mais de cem álbuns, e já ouço o nefertiti, sorcerer, esp e miles smiles (tens a caixa com takes alternativos desses álbuns? Maravilhosa!) já faz tempo. Esquecestes de salientar o álbum My Funny Valentine entre os melhores documentos ao vivo da trupe.

    Suas informações são valiosas.

    ResponderExcluir
  12. Charlles,
    Espero não tê-lo cansado em demasia.
    Apesar de brincar de Richard Cook de vez em quando, não passo também de um recém-iniciado, um diletante quando muito.
    Há muito de intuição na minha experiência com a música. Quase nada de teoria musical. Zero de execução instrumental.
    Custa-me colocar em palavras o divórcio que experimento por exemplo com as copiosas notas em Doktor Faustus à polifonia germânica, às revoluções de orquestração, e até às composições tardias mesmo de Beethoven.

    Depois de constatar o rarefeito de gravações (em label) ao vivo do quinteto de 64-68, resolvi dar uma passadinha numa loja especializada em erudito e Jazz aqui perto de casa e adquiri uma caixa "bootleg" da excursão do quinteto pela Europa (Antwerp, Copenhagen, Paris) do outono de 1967.
    Acho covardia comparar qualquer disco com o Kind of Blue (mas você sabe bem que a estória desse album é complexa e providencial). Portanto, vou ouvir as gravações da excursão européia lado a lado com os discos de apresentação ao vivo do quinteto Miles-Coltrane nos próximos dias para fazer a prova dos 7.

    ResponderExcluir
  13. Engraçado que parece ser natural que todo mundo pense que incomoda no universo virtual. Hoje estou absolutamente de pernas pro ar, o que não irá se suceder na semana que vem, quando os carnívoros aumentam o consumo de carne com advento da celebração do nascimento do Cristo.

    Ah, o Canadá! Ah, o Canadá! É assim: estava passando de frente a uma loja e, e de repente, comprei uma caixa com a excursão do quinteto pela Europa. Simples como pescar um jacaré com uma isca de cabeça de anaconda por aqui.

    ResponderExcluir
  14. Charlles,
    Você que gosta da literatura do Ralph Ellison... já leu os ensaios de crítica de jazz de um discípulo dele, o notável articulista de, entre outros periódicos, New Republic, Stanley Crouch?
    Acabo de ler um ensaio dele intitulado "On the Corner: The Sellout of Miles Davis", qualificado na época em que foi escrito (fim dos anos 80, acho) como um "devastating blow" - como se o qualificativo fosse necessário, haja vista o título da peça.
    Formidável a escrita do cara. O texto também precioso. Uma rápida passada de olho na dinastia que Miles construiu em vinte tantos anos de Bop, Cool, Modal e Free-Modal (epíteto mais que apropriado para o Jazz do quinteto de 64-68) e das invasão bárbara e do declínio dos anos de experimentação com o fusion e o pop. A peça do Stanley Crouch é ainda uma crítica venenosa à Autobiografia de Miles Davis.

    ResponderExcluir
  15. Não conheço, Luiz. Assim que li esse seu comentário, procurei no Google. Vou procurar com mais paciência...

    Peraí, peraí...A-ha! Bem que sabia não ser um nome desconhecido. Coloquei "Stanley Crouch" no Google images e vi, é ele. Tenho aqui o DVD Miles Eletric, com a apresentação na ilha de Wright, em que ele participa fartamente tecendo comentários sobre o sellout de Miles Davis. Diz ele que foi o maior caso de prostituição na históra da música, que Miles, antes traficante de mulheres brancas, agora se vendia por inteiro ao mercado fonográfico. Adquira esse vídeo, ele é fenomenal. Daí aparece Chick Corea, Santana, Hancock, e ume infinidade de pessoas afirmando a genialidade de Britches Brew, de que BB não era jazz, mas uma nova sinfonia inclassificável, e por isso não deveria ser criticado por críticos de jazz.

    Mas, senti uma firmeza nas declarações de Crouch. Ele fala que submeteu BB a toda variação de percepção (o que imaginei que tivesse elementos químicos de alteração de consciência, para maior apreciação), mas não lhe desceu. Muitos dos argumentos dele são bastante contundentes.

    ResponderExcluir
  16. Charlles,
    Obrigado pela referência. Conheço o Miles Eletric de nome, mas nunca tive a curiosidade de assistí-lo. A presença controversa do Crouch nele me estimula.
    A acachapante analogia do sellout de Miles na música e seus dias de cafetinagem (literal) que você fez alusão aí em cima, pode ser, penso, eco oral disso aqui:
    "Beyond the terrible performances and the terrible recordings, Davis has also become the most remarkable licker of monied boots (ouch! ênfase minha) in the music business, willing now to pimp himself as he once pimped women when he was a drug addict." (Crouch, On the Corner: The Sellout of Miles Davis).
    A analogia é completamente desnecessária, mas de uma deliciosa malvadeza daquele ad hominem cultivado no melhor esnobismo da tradição intelectual do Ocidente, que hoje rareia por um sem número de escrúpulos montados em claims de relativismo e raso cultural fingindo respeito mútuo.
    Bitches Brew me fascina e repulsa. Depois de sei lá quantos anos de ouvir o disco, não me acho ainda pronto para ele.
    Por exemplo, foi só depois de ouvir a excelente tradução de Spanish Key, agora sem os datados sintetizadores do Corea e o trumpete elétrico do Miles, na trilha sonora daquele filme que o Tom Cruise faz um improvável assassino de aluguel, que dei-me por vencido que se trata de nada menos que uma peça de gênio. Já ouviu essa versão?

    ResponderExcluir
  17. Luiz, aqui cabe uma daquelas exclamações entre duas dondocas no cabeleireiro, enquanto os tubos de ar quente estão posicionados nas respectivas cabeças loiras:"menina, então você também ficou impressionada com a cena da banda de metais tocando em Colateral?"

    Incrível você dizer isso do filme do Tom Cruise. Assisti esse filme uma dúzia de vezes só por causa daquela cena (tá bom, o filme todo é muito bom entretenimento). Só fui sentir a pulsão e a adrenalina de Spanish Key depois que vi a cena. Passou a fazer todo sentido depois que limparam as camadas de sintetizadores e a coisa apareceu cheia de ódio, energia e virilidade_ jazz de primeiríssima. E que baita sacanagem o Tom Cruise matar o cara depois; num universo mais gentil com a arte o assassino teria se convertido e se tornado um baterista que iria envelhecer tocando no bar, até que algum outro roteirista lhe tirasse a paz e colocasse o passado de novo na frente de seus 70 anos. (Estranho que alguém cheio de insights como o Miles não tenha sacado a delicadeza de uma versão assim, pois nada igual aparece nas caixas de jams do BB.)

    Ouvi até me fartar BB. Gosto muito dele. Mas quando penso em Miles, coloco sempre a fase modal pra tocar. Agora mesmo enquanto escrevo, escuto num volume proibitivo (ainda não são 22 horas) o solo de baixo de "Billy Boy". BB e maravilhoso, e nada igual foi feito antes, o que é um mérito indiscutível de Miles. Mas meu preferido da fase fuison "pauleira" é "Tribute to Jack Johnson", e, na fase pré-fusion, o sensacional "In the Silent Way" (o progenitor da world music e na new age de qualidade).

    Nesse vídeo há uma cena muito boa, do Santana mostrando com uma guitarra desplugada como foi a passagem da calmidão de Silent Way, com aquelas notas de absoluta tranquilidade da abertura, para a balbúrdia e os campos de motim das notas de aberturas de Bitches Brew.

    ResponderExcluir
  18. Luiz, aqui cabe uma daquelas exclamações entre duas dondocas no cabeleireiro, enquanto os tubos de ar quente estão posicionados nas respectivas cabeças loiras:"menina, então você também ficou impressionada com a cena da banda de metais tocando em Colateral?"

    Cara, ri muito disso aí em cima!!
    Exato, as quase duas horas de filme valem só pela cena do club. Spanish Key em toda a sua simplicidade e força. Um assalto aos ouvidos (no melhor dos sentidos).

    P.s. Spanish Key é a melhor peça de todo o Bitches Brew na minha opinião. Seguido bem de perto por Sanctuary. E quem por acaso compôs Sanctuary? De novo, Wayne Shorter! Cara, uma hora dessas eu te convenço disso. Nem que seja pelo cansaço.

    P.s.2. O livrão de onde tirei o artigo do Crouch, Reading Jazz, traz também uns dois ensaios do Ellison sobre Jazz. Um deles aliás sobre o Charlie Parker.

    ResponderExcluir
  19. O livro já está na lista.

    Passei esses dias ouvindo Nefertiti. Shorter é um grande compositor, mas seu estilo de composição a mim soa não muito espontâneo, cerebral demais, arquitetônico, coisa de aluno exemplar. "Nefertiti", a faixa, p. ex., é um exercício minimalista brilhante, Monkiano (lembra "Brilliant Corner"), mas um pouco cansativo. Mas o álbum é uma beleza, flui tão bem no restante da música que chega à força dos discos com Coltrane. Mas depois recoloquei Milestone e...não resiste à comparação.

    Sanctuary é outra peça que imediatamente se percebe a autoria. Mas depois de Spanish Key, gosto de Miles Run The Voodoo Down.

    ResponderExcluir
  20. Gosto de Nefertiti. Mas para mim não é uma das mais notáveis composições dele.

    Mas olha só isso aqui,

    http://www.youtube.com/watch?v=RCyGBNKlrPI

    Footprints no Montreal Jazz Festival. Eu gosto das improvisações de soprano (ou seria a clarineta?) no início da música. Um aperitivo para o amante de Footprints. Embora, indiscutivelmente, a música deva ser escutada em fast tempo, como na excursão Européia do quinteto do Miles em 67 (e não no tempo lento de Miles Smiles), o qual você escuta aqui,

    http://www.youtube.com/watch?v=cmDhrP54HXs

    Lá pros 4 minutos do vídeo começa o solo de Shorter. Não há nada do estudado na improvisação. Pelo contrário, percebo a incarnação de riffs do Rollins.

    Por fim, a gravação de estúdio de Speak no Evil. O disco inteiro é maravilhoso, mas a parceria de Hancock e Shorter nessa faixa é formidável.

    http://www.youtube.com/watch?v=fvRkGglLe-U

    ResponderExcluir
  21. Vou atrás desses links, e amanhã, que estarei mais de folga, submeterei o Speak No Evil à prova. Estou meio na correria hoje.

    ResponderExcluir
  22. Prezado Charles,
    O blogueiro capixaba Rogério Coimbra publicou um ótimo post sobre o Kind of Blue:
    http://musicanasalturas.blogspot.com/2011/12/kind-of-blue.html#comment-form
    Miles é genial. Não há outra palavra para defini-lo.
    Um dos seus discos mais formidáveis e que faz bem a transição entre a fase da Prestige e a fase mais badalada na CBS (entendida como a fase que consolidou o sexteto mágico que gravou Kind of Blue) é exatamente o primeiro disco para o novo selo, Round About Midnight, gravado entre 1955 e 1956.
    Ele ainda devia alguns discos para a Prestige, por contrato, e lançou quase que de uma vez só uma batelada de grandes discos em 1956, como Relaxin', Workin', Steamin' e Cookin'. São discos de uma qualidade impressionante, feitos num espaço de tempo mínimo, o que realça a genialidade do trompetista.
    Apesar da pecha de "ranheta", Miles always smiles :-)
    Aproveito pra convidar você e o Luiz pra visitar o Jazz + Bossa e se juntar á nossa confraria (você já esteve por lá e até pos comentário, mas tê-lo no barzinho é sempre uma honra e um grande prazer):
    http://ericocordeiro.blogspot.com/
    Abraços!

    ResponderExcluir
  23. Muito obrigado, Erico. É uma enorme honra aceitar esse seu convite.

    Um dos álbuns orginais que tenho do Miles é o Round About Midnight, numa edição com um cd ao vivo, cuja primeira faixa tem o acompanhamento de Monk. Miles é uma das minhas felicidades.

    Forte Abraço!

    ResponderExcluir