segunda-feira, 18 de abril de 2016

Ontem



Ontem fiquei profundamente triste. Ainda estou. Nada a ver com partidarismos, mas reconheço que muita gente que estava apoiada em piadinhas e em críticas ao PT somente viu naquele momento a grande besteira que fez. Acho que bateu um gigantesco arrependimento em pessoas como o Idelber e etc. Nesses últimos meses, nunca foi hora para exercícios de metalinguagem: que o PT mereceu o que teve, que a negligência e a conivência de Lula causou isso tudo, etc, etc, todos nós sabemos à farta*. Faltou a astúcia de lutar por causas a longo prazo para essa boa gente que se diz cerebral; faltou o maquiavelismo a nosso favor. Digo “nosso” me enquadrando entre os tantos e tantos milhões de brasileiros que serão profundamente prejudicados com esse retrocesso: profissionais liberais, professores, funcionários públicos, pequenos e médios empresários, e uma gama outra de pessoas. Ontem ouvi fogos de artifícios tímidos em minha cidade, e um silêncio que logo constrangeu. E então percebi que a ficha caiu para muita gente. É verdade que a natureza humana está condicionada a só ver certas obviedades somente quando toda a terrível suspeita se concretiza. Não vejo com nenhum sentimento de revanche, mas com a piedade comunitária de quem está no mesmo balaio. O que foi feito ontem? Que espetáculo de bizarrice! Nossa versão empobrecida e horrível de Hieronymus Bosch. Quanta podridão e hipocrisia! De novo me veio a lucidez atordoante do pensamento: “nós brasileiros estamos absolutamente sozinhos”. Nós todos, de todos os lados e posições, vociferantes e hidrofóbicos, desamparadamente sozinhos. Não tem como evitar saber que muita coisa se acabou ontem. Agora vem nossa expiação.

*O PT cavou a sua própria cova, como se diz. Do ponto de vista de imoralidade e falha de planejamento, o PT merece tudo que vem sofrendo. Mas agora que a coisa acabou _só os muito sofredores ainda tem uma esperança_, sei que vem em mim e em muita gente a sensação de que, apesar de tudo, saímos infinitamente mais pobres e prejudicados ontem. Rever o naipe dos políticos desse país, naquele show de horrores de bandidos da sessão de ontem, é ter a certeza de que estamos sozinhos. Essa corja assassina, inescrupulosa, mafiosa, ególatra e criminosa em último e vasto grau, age por si só e só obedecendo a interesses pessoais. Eu não aguentava ver aquelas caras espúrias que ficavam rondando o microfone, com os olhos grudados na tela gigante acima para verem o quanto estavam aparecendo bem em rede nacional, com seus sorrisos de machos no botequim contando piadas estúpidas e denegridoras, suas plásticas e implantes capilares, seus sarcásticos de tão flagrantemente fingidos semblantes de que estavam levando a sério, fazendo história, reivindicando o retorno da moral. Não há figura de linguagem apropriada para tangenciar esse atraso na alma nacional ver essas ratazanas, declarando seus atos à família, a seus estados, às suas cidades, e votando "sim" olhando de frente para um dos maiores achacadores e criminosos desse país. Fiquei no mesmo nível de compreensão dos fanáticos que atendem à comoção de medidas heterodoxas. Os políticos brasileiros são um muro indevassável, sãos as portas da lei para sempre fechadas do conto do Kafka.

87 comentários:

  1. Muito bom, Charlles! A medievalização de nossa vida social ainda não se iniciou plenamente.

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  2. Descrição precisa daquele espetáculo de horrores. E retrato de minha depressão.

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  3. Descrição precisa daquele espetáculo de horrores. E retrato de minha depressão.

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  4. De domingo até agora eu já passei por raiva, desespero (físico, real, de sufocar a garganta) e algo próximo a depressão. Hoje eu só estou meio consternado, prostrado. Nossa miséria é muito maior do que eu imaginava.

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  5. http://www.tijolaco.com.br/blog/como-nao-age-o-stf-diante-de-um-crime/

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  6. "Querendo ou não, as criaturas que ontem subiram naquela espécie de púlpito e exibiram suas visões distorcidas, seu egoísmo patológico, suas falhas cognitivas e sua psicopatia, representam, sim, a maioria dos brasileiros. Não me assustei, por exemplo, quando alguns vizinhos aplaudiram a fala aterradora de Jair Bolsonaro, na qual saudou a memória de um torturador. Não me assustei com o buzinaço, com o panelaço, com os palavrões, com a “festa”. Isto também é o Brasil. Tal escuridade. Não há crise de representatividade, pois também somos aquilo, deslizamos todos pelos intestinos de um mesmo monstro, seguindo aos tropeços pela noite republicana, violentadores e violentados. O provável impeachment da sra. Rousseff, a possível cassação de Cunha e a almejada (por mim) ejeção de Temer não consertarão ou consertariam nada, pois carências tão fundamentais (mais do que políticas, educacionais; mais do que educacionais, anímicas) não podem ser supridas superficialmente. Em todo caso, e por mais que os sobreviventes da tormenta sejam quase todos tão ralé quanto os que agora rebolam na berlinda, não deixo de sentir algum alívio com as quedas prováveis, possíveis e almejadas. Há um reordenamento em curso. Dentro de algum tempo, sentiremos na pele o que nele será para o bem (pouco, e se tivermos sorte) e o que nele será para o mal. A noite persistirá" [André de Leones]

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    1. Tem muitos blogueiros bons que diminuem a influência do Bolsonaro, dizendo que ele é histriônico e caótico demais para ter verdadeira expressão nas eleições de 2018. Percebo que fazem isso com um ressaibo de temor de terem de cogitar uma possibilidade tão espantosa. Eu já acho que Bolsonaro é uma ameaça concreta, prestes a se realizar. Alguém que deve ser combatido imediatamente, com urgência, dedicação, seriedade incansável. A gente precisa, infelizmente, ler a podridão das fortes tendências que permeiam a opinião das massas; por mais que me enoje, eu visito o máximo de minutos que aguento os facebooks de Olavo de Carvalho e uma série de outros atrasos do pensamento. É algo muitíssimo grave que gente como OC tenha tantos seguidores. Algo terrível está se formando agora e já há algum tempo na realidade brasileira. Vejo intelectuais do Facebook e das redes sociais relativizando o papel de formador de opinião da rede Globo, o que só atesta que estamos bastante incapacitados de reagir a isso tudo. Enquanto eles avançam, nós em desbaratino damos vários passos para trás.

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    2. O texto de hoje do Idelber Avelar é uma demonstração da rua sem saída que os acadêmicos e ditos intelectuais nacionais também constroem no estancamento do país. O Idelber simplesmente faz uma apologia à poderosa coalizão da imprensa impressa e televisiva do Brasil, e ataca os “blogueiros governistas”. Desde um de seus textos anteriores, essa é a nova expressão da frente de ataque desse intelectual facebookiano: defender a mídia televisiva e os grandes jornalões e revistas, atribuindo, como sempre, à obtusidade conspirativa da ralé a tese de que esses veículos controlam a opinião pública. O Idelber perdeu muito de seu público desde aquele acontecimento que todos sabem (basta digitar seu nome no Google e ver os links que se aderiram inexoravelmente a seu nome), mas ainda há, entre as poucas dezenas de compartilhamento de seus textos, aqueles que recebem o que ele diz com uma falta de crítica canhestra. E aos que, como em seu último texto, discordam com ele, ele sempre responde da mesma forma simplória, desvalidando a capacidade de seu oponente em entender seus textos. A cada contestação, ele responde: “se você não consegue entender o que eu escrevi, não vejo porque continuar o diálogo”. O fato é que soa bastante estranho que ele, que escreveu durante muito tempo para a revista tida como iconográfica dos que acusam patrocínio governista, como a revista Forum, agora avaliza sem o mínimo pudor a pureza de intenções e a idoneidade da Globo e da Folha e da Veja (quanto à Veja ele só a repudia, nos comentários, mais tarde, dizendo que é tão óbvio que nem precisaria ter dito). Um amigo meu com quem comentei esse re-posicionamento do professor disse que só pode ser um evidente recalque, a reação raivosa que se tem quem sofreu uma grande perda. Mas sabe-se lá qual: eu sou muito ignorante para entender o Idelber.

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    3. É inacreditável,o Idelber não dizer que é GOLPE o que está a acontecer...Será que ele viu o espetáculo dantesco ocorrido no domingo? Do que vale sua análise labiríntica repleta de conceitos freudianos a justificar lapsos, erros políticos no governo e/ou na massa petista que nāo superou ainda seu Ėdipo na figura do partido deslocada daquela do "pai"? Que punheta é essa,Idelber, diante do estupro do Estado Democrático de Direito em andamento?
      É também inacreditável o elogio do professor ao PiG...
      O Idelber parece que caducou antes dos 50...
      Começo a crer que o Gabeira seja o arquétipo do torcedor do galo amanhã...
      Começo a vislumbrar um futuro Jabor
      no professor...

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    4. Começo a crer que a questão fundamental do professor seja Jocasta que a gente FODE e depois tem culpa...

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    5. Recomendo ao professor uma re-leitura do "Zé Ninguém" de Reich...
      Principalmente o penúltimo parágrafo...

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    6. A construção de igrejinhas acabou, pois Deus não necessita de templos e muito menos o Amor... EVOÉ!

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    7. O professor sempre martela na questão do genocídio indígena patrocinado por esse governo. Há 12 barreiras indígenas nas estradas do Mato Grosso nesse exato momento. Um amigo meu, que foi levar sua esposa que faz medicina naquele estado, disse que a Polícia Rodoviária Federal recomenda que se viaje em comboio e durante a noite, pois os índios tem medo pois sabem que os caminhoneiros não param para suas barreiras durante a noite. Esses índios, se só cobrassem, diz meu amigo, seria menos danoso; o caso é que entre eles há sujeitos bêbados que apalpam as mulheres nos carros e agem com enorme truculência. O professor quer centrar sua "revolta" nas deficiências de emancipação por parte do governo petista a essas pessoas.

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    8. Ah, um detalhe importante: esse amigo e sua esposa são negros. Ele se formou em direito favorecido por um plano do governo de levar o ensino superior ao produtor rural. Formou-se na Federal. Sua esposa está fazendo medicina também graças à bolsa de estudo e a um desses projetos educacionais do governo Lula. Ele é um ardente defensor do Bolsonaro e da volta da ditadura militar. É tão sintomático que parece um fraco produto de uma imaginação didática.

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  7. “Ainda bem que o destino me concedeu até hoje uma vida limpa e
    sem ambições, que pude acompanhar o crescimento dos meus
    filhos, ouvir-lhes as primeiras palavras, vê-los mover-se, andar,
    brincar, fazer perguntas, assistir à sua, alegria; ainda bem que não
    deixei passar a Primavera sem a sentir, que pude gozar o vento
    ameno e o rumorejar dos regatos e o canto das aves; que não perdi
    o meu tempo em mexericos com os vizinhos, que amei a minha
    companheira e que senti correr no meu corpo o fluxo da vida; ainda
    bem que, mesmo em tempo de perturbação, não perdi o norte nem o
    sentido da vida. Pois que me foi possível escutar a voz que
    murmurava no meu intimo: ‘Existe apenas uma única coisa que vale
    a pena: viver bem e alegremente a própria vida. Escuta a voz do teu
    coração, ainda que tenhas de afastar-te do caminho trilhado pelos
    timoratos. E não consintas que o sofrimento te torne duro e
    amargo.’ E assim, na quietude do cair da tarde, quando me sento na
    erva em frente de minha casa, depois de um dia de trabalho, com a
    minha mulher é os meus filhos, ouço no pulsar da natureza à minha
    volta a melodia do futuro: ‘Humanidade inteira, eu te abençôo e
    abraço.’ E desejaria então que a vida aprendesse a defender os seus
    direitos, que fosse possível modificar os espíritos duros e os
    medrosos, que só fazem troar os canhões porque a vida os
    desapontou. E quando o meu - filho instalado no meu colo me
    pergunta: ‘Pai, o sol desapareceu, para onde foi, achas que volta
    depressa?’, respondo-lhe: ‘Sim, filho, há-de voltar amanhã para nos aquecer".

    Este é o penúltimo parágrafo muito, muito, muito além de todos os passaralhos de ontem, de hoje e principalmente do amanhã...

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  8. Ainda duvido que tenhamos impeachment. (Golpe? Gente...)
    Nao entendo a birra de vocês com o Temer. Votaram nele, não?
    É torcer pelos órgãos competentes seguirem investigando até que todos parem na cadeia: Lula, Dilma, Temer, Cunha, Calheiros (e Aécio, etc.).

    ---

    Tempo interessante. A "esquerda respeitável" e seu líder de décadas desmoronando na visão da maior parte população brasileira. (O retorno triunfal do sujeito em 2018 ou um possível assassinato dele pelas tenebrosas forcas da direita é sebastianismo vitimista de vocês. Quem teria o ímpeto de faze-lo? Os que teriam ainda nao mudaram de lado. Mais fácil a própria esquerda/PT matá-lo a fim de limpar o rastro deixado, são bons também em queima de arquivo).

    PSOL tomará a frente? Tem força? Tem muque? A tropa de choque do PT parece-me meio enfraquecida e dispersa, tendo de arregimentar sujeitos até de fora do país, pagando com pão e mortadela; e não creio que os de sempre ficariam à frente para defender o plano do PSOL; mas fácil se bandear pro Ciro Gomes e sua esperança de um PDT ressuscitado, sendo ele próprio Brizola redivivo.

    PMDB é isso daí. Que demais é o PMDB. Que terrível é o PMDB. Mas que demais é o PMDB!

    PSDB sempre será pau mole, sempre será cagão. Voces tem medo disso? É um PT light, com lampejos envergonhados de PFL nordestino.

    DEM tem só o Caiado de nome e aparências respeitáveis, mas para abracar o país inteiro? Nao.

    Bolsonaro parece ser o nome do Mal, da direita, mas nao creio que tenha chances de ser eleito por uma maioria. Um Éneas sem barba, porém mais agressivo, sem o plano e o cérebro do falecido.

    Os evangélicos que tanto temem...por favor. Ao menos não tem vergonha de falar em Deus e Jesus. Há quem grite pelo movimento negro, pelas feministas, por Marighella, por Socialimo (democrático!), por Cuba, mas falar em Deus? ABSURDO.

    ---

    Há um tremendo rombo no pensamento político e na política, na "democracia" brasileira. Arrisco: milhões de pessoas sem partido para votar, sem a paixão com que outrora os petistas saiam pelas ruas com suas bandeirinhas estreladas, suas musiquinhas de Lulalá. E algumas pessoas que até ontem louvavam Stálin, se diziam ateias ou mesmo ortodoxas ou católicas, ou ainda neo-nazis, ou até indiferentes a tudo, todo tipo de gente entrando para grupos dissidentes, fazendo uma mistureba (claro, sao brasileiros!) de Eurasianismo e Meridionalismo com Trabalhismo (Vargas), Doutrina Social da Igreja, Nacionalismo, etc. Se até ontem viviam nos cantos escuros da internet, hoje se reúnem abertamente em praça pública, fazem convenções, estão na academia. Abracam muito do programa caro à esquerda, mas também anseiam pela ordem, pela tradição que vem da direita.

    Podem achar graca, mas o Dark Enlightenment brasileiro está aí. Se nos EUA e Europa sua influência já é visível, no Brasil ainda não - ainda.

    Contam com o esfacelamento da esquerda e o vazio da direita. Será?

    Tempo interessante, este.

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    1. Já viu o quanto é impossível discutir essas ideias? O debate se desmonta integralmente e os confrontantes ficam com a cara de desamparo, pois é um mero remanejamento de sinais. Troque os sinais do que você disse, e quem passa a ter razão é o lado contrário.

      Só discordo na questão do sebastianismo: ele sempre foi e será o cerne da realidade brasileira. Eu acredito em TODAS as conspirações, quando se trata de Brasil.

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    2. Até os escritos de Gustavo Barroso?

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  9. O espetáculo foi realmente horrível. Teria sido igualmente grotesco caso o governo obtivesse sucesso na cooptação dos mesmos personagens.
    Mas essa história de golpe já passou da conta. Confiram as publicações do Banco Central. Dilma realmente utilizou, no ano da eleição, 58 bilhões da Caixa e do BB para quitar compromissos do FGTS, Minha Casa Minha Vida, empréstimos BNDES, subsídios agrícolas e outros. Gastou dinheiro que não tinha. Só conseguiu quitar tal dívida em novembro de 2015, numa tentativa desesperada de se livrar do processo de impedimento.
    É óbvio que não se trata de um mero arranjo no fluxo de caixa, como os 1 bi que FHC e Lula penduravam em seus balanços. Não é brincadeira pessoal. Isso, além de fraude fiscal, influenciou diretamente o resultado do pleito. A estorinha bonitinha do Cardozo para o caso é bizonha.
    Sei que parece apenas uma tecnicalidade, mas para mim, um profissional das finanças públicas, dói muito o tratamento leniente dado ao assunto. Dilma implodiu nossa estabilidade fiscal para ser eleita. E o pior de tudo é que seria excepcional se todo o problema se resumisse a isso.

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    1. Obrigado por ter escrito esse comentário, Léo.

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    2. Isso deixa claro que tudo se resumiu à questão da proporcionalidade das pedaladas, Leo. E o relativismo fica ainda mais brutal quando se pega a qualidade moral e a ficha criminal de quem julgou e votou o processo. E qualquer racionalização tranquila se destrói ao ver quem vai assumir o governo. Esse momento ficará para sempre entalado na história.

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    3. Restringir tudo à tecnicidade da coisa é uma negligência de percepção tremenda. Se tudo fosse julgado efetivamente pela infringência da técnica, não sobraria ninguém, estaria todo mundo deposto e grande parte preso. Em um país hipotético onde as leis funcionasse com extremo pedantismo e rapidez, não sobraria ninguém. Para se tentar entender o Brasil deve-se distorcer os ângulos e usar a ótica do absurdo: você fala da técnica; se fosse esse o problema e a necessidade de se alcançá-la, não teríamos o presidente da Câmara protelando sua evidente sentença já há meio ano.

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  10. http://jornalggn.com.br/blog/tods-pela-constituicao/analise-do-processo-de-impeachment-a-questao-dos-decretos-de-creditos-orcamentarios

    No endereço acima está,creio,a análise mais técnica,que li, sobre o processo de impedimento de Dilma...

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  11. O cara mistura conceitos técnicos com meias interpretações e o Ramiro acha que é a análise mais técnica que já leu. Baixe os dados do BC, deixe as paixões de lado e faça suas próprias avaliações Ramiro. Sei que é capaz.

    Charlles, não é restrição à tecnicidade, mas a comprovação da materialidade de um dos crimes. Não é proporcionalidade, é hiperproporcionalidade, temporalidade e motivação. A mulher tem culpa, e você sabe disso.

    A meu ver, negligência de percepção é a parcialidade de não perceber afronta à democracia quando o partido do governo injeta dinheiro público na instrumentalização de movimentos sociais (ou só eu acho estranho que se estoure um escândalo no programa de reforma agrária e o MST finja que não viu? Que o destino do dinheiro do FAT e do FGTS seja escolhido pelo Marcelo Odebrecht e os movimentos sindicais nem liguem?).

    Para mim, relativismo é escolher o lado de não ver risco ao equilíbrio democrático quando o governo manipula tarifas às vésperas de eleições, quando depena as estatais em conluio com os parlamentares parceiros, quando joga fora um esforço de mais de 40 anos (estabilidade fiscal) para se manter no poder a qualquer custo.

    Penso que usam réguas distintas para medir PMDB e PT. Como se o PT merecesse algum tipo de tratamento diferenciado. Como se fosse vítima do jogo, e não o dono da bola nos últimos 14 anos. Há pouco tempo andavam todos abraçadinhos. Agora, vivem um jogo de sobrevivência no qual, paradoxalmente, escoram-se e atacam uns aos outros.

    Se o sertanejo de Euclides da Cunha é, antes de tudo, um forte; o eleitor brasileiro é, antes de tudo, um pragmático.

    Se aparece a oportunidade de derrubar algum culpado, pau nele. Não teriam pena de Renan, Cunha, Temer ou Aécio. Salvo se perceberem que um deles poderia lhes oferecer algo vantajoso.

    A ampla maioria da população apoia o impedimento apenas por entender que o governo não é mais capaz de manter o ambiente econômico artificialmente favorável. Para esses brasileiros Dilma é apenas uma presidente feia, que se expressa mal e incapaz de honrar seu compromisso de manter a farra do consumo. Só por isso estão fulos.

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  12. É uma questão de proporcionalidade uma vez que TODOS os ex-presidentes do período democrático cometeram as tais pedaladas, assim como governos estaduais. Quando a ilicitude, os crimes de responsabilidade, as arbitrariedades administrativas se tornam seletivas, há indícios mais que evidentes que se trata de outros interesses, que não o justiçamento ou a manutenção da democracia. O governador de meu estado, por exemplo, criou uma lei que durou 4 dias, vigorando no período de recesso entre natal e ano-novo, em que perdoou um bilhão de reais da dívida da Friboi. Há inúmeros casos por demais conhecidos de políticos de todas as instâncias e partidos que são afrontas gravíssimas às leis e à democracia. Uma coalizão desses mesmos políticos retirar um presidente da república por causa de uma ação consuetudinária, cuja tipificação legal teve inédito reforço justamente para derrubá-la, é um golpe, independente das idiossincrasias criadas em torno do léxico da palavra. É um golpe.

    A incompetência da Dilma nunca foi fator para o impeachment. Se alguém dessa facção que comanda o país estivesse interessado em governabilidade e em retirar o país da recessão, o caminho jamais seria esse.

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    1. E a própria desestabilização traumática da democracia brasileira com um circo desses. Alguém acredita que esses dois anos e meio pela frente trarão algum benefício para o país? Temer e Cunha conseguirão restaurar a nação? Hahahaha. A tragicomédia só está começando, e o PMDB e demais coligações que se formarem verão o enorme presente de grego que tomaram em mãos. Um período fecundo para os humoristas e... a oposição do PT. Alguém consegue prever a estatura que terá o Lula se eles não conseguirem torná-lo inelegível?

      Só um adendo: eu não defendo o PT, nunca fui petista. Se você acompanha há certo tempo esse blog, deve saber disso.

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  13. Tá confundindo oportunismo político com golpe institucional. Se fosse parado no trânsito com umas taças de vinho na cabeça, poderia alegar que um monte de gente faz?

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    1. Jamais. Mas gostaria que o sistema que me punisse fosse equânime a todos os outros culpados.

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  14. Não tó falando de incompetência Charlles. Dilma sempre soube de tudo. O TCU cansou de pedir paralisação das obras da Petrobrás por superfaturamentos. Por que razão não tomou providências? Dilma é, no mínimo, negligente. E negligência é culpa.

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    1. Mas não para o impeachment. Como está sendo gritado nas ruas, se a justificação for essa, é inconstitucional. Claro que a Dilma foi negligente, e não quero mensurar a culpa dela porque seria um trabalho para uma monografia exaustiva que só futuros debatedores farão.

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  15. Deixo claro que não estou elogiando A ou B. Só não há que se falar de golpe. Pelo menos não no sentido institucional. Na verdade, no mundo ideal, o TSE já teria agido faz tempo.

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  16. Bem ou mal esse processo acabará sendo um paradigma para os pedaladores Brasil afora. Só por isso eu já o adoro. Assim como a alguns filmes ridículos, de péssima qualidade, que quando a TV reprisa não consigo deixar de dar uma olhadinha por me remeterem a algo bom do passado.

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  17. Nós que militamos na área sabemos da importância dessas raras e singelas conquistas. Elas nos dão relevante fôlego na desigual disputa com os pareceristas mandrake de aluguel.
    Fé? Não. Isso é coisa pro Ramiro e sua crença inabalável.

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  18. E Charlles, sou sim leitor antigo e assíduo.
    Saiba que só manisfesto minha posição aqui por te respeitar e admirar muito. Além de gostar bastante dos comentaristas contumazes também. Neste canal a inteligência alcança níveis elevadíssimos.
    Sou um consumidor de internet à moda antiga, não tenho Facebook ou Twitter e só frequento poucos sites e blogs de que gosto muito. É coisa extremamente rara eu deixar algum comentário neles.
    Espero que não tenha irritado muito por expor minha forma de avaliar o caso.
    Grande abraço a todos!

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    1. Claro que não, Leo. São sempre bons tais comentários. Espero MESMO que você esteja certo. Obrigado por essas palavras. Abraços.

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  19. Guerra de links? Nao conhecia o informativo site do MPF sobre combate a corrupcao nem o especial sobre a Lava Jato.

    http://lavajato.mpf.mp.br/entenda-o-caso

    E em relacao à ela:

    "Leigos em direito tendem (embora não necessariamente) a ver investigações policiais, e principalmente processos judiciais contra políticos como atos políticos ou ideológicos. Mas isso simplesmente não acontece. O Judiciário é formado por pessoas que estudaram, fizeram concurso público e foram selecionados por mérito---por defeituoso que seja o sistema, que privilegia enciclopedismo sobre inteligência e criatividade. A carreira se encarrega de incutir nos juízes, na grande maioria, lealdade à lei e imparcialidade, que sobrevivem até com indicações para a judicatura de segunda instância pelo Poder Executivo. Erros judiciais quase sempre são técnicos e não de favorecimento. (Os fatos apurados---a verdade formal---e argumentos acabam por vencer. Por isso sentenças judiciais sempre surpreendem quem desconhece os detalhes do caso.)
    O Ministério Público e a Polícia provocam a apuração de crimes, a Polícia investiga, o Judiciário confirma as investigações, avalia as provas, assegura o contraditório e aplica a lei. A lei é igual para todos, salvo erro judicial. Frequentemente, é certo, advogados desequilibram os processos: um advogado habilidoso é capaz de levantar mais argumentos e, muitas vezes, consegue apressar (ou retardar) os processos. São imperfeições do sistema que as reformas processuais estão, aos trancos e barrancos, tentando corrigir, embora tenham errado muito. Em um país desigual, políticos e homens poderosos ligados ao Estado---no capitalismo estatal vigente, muito bem exemplificado pela Odebrecht e outras empreiteiras---conseguem muitos privilégios informais. Mas jamais controlam o sistema. E esse é um ponto fundamental: o juiz não deve servir ao Estado, e muito menos ao governo vigente, mas à Constituição. É o único modo de proteger o indivíduo contra desmandos de corporações e governos.
    (Não por acaso o processualista Piero Calamandrei, antifascista e ligeiramente anárquico em suas convicções, defendia uma república constitucionalista capaz de manter a direita e a esquerda em seus devidos lugares: "nella quale le forze di destra per compensare quelle di sinistra per 'una rivoluzione mancata' concessero loro 'una rivoluzione promessa'".)
    Não existe nenhuma chance de a Operação Lava Jato, com os seus processos conexos e inquéritos, ser uma ação política. Probabilidade zero. O mesmo juiz Sérgio Moro julgou o caso do Banestado em tempo recorde, 12 meses, condenou dezenas de pessoas a um total de centenas de anos de prisão, determinou a devolução de milhões e milhões aos cofres públicos, etc etc, mas muita gente acabou escapando quando os recursos chegaram ao STJ e a prescrição foi reconhecida (e outros pontos). Com suas sentenças ele atingiu empresários, políticos de direita, de centro e de esquerda (aspas em tudo isso), funcionários públicos, todo tipo de gente, indistintamente. Ele é especialista em crimes de colarinho branco, matéria que exige conhecimentos técnicos de economia, sistemas de informação e matemática financeira. A atual operação segue a mesma toada. Sérgio Moro, como 90% dos juízes, age como magistrado: considera apenas a matéria probatória e age como "bouche de la loi" (boca da lei), aplicando o direito sem retórica e sem favorecimento. Sem o Judiciário, a democracia moderna seria apenas uma utopia. Nem defeituosa seria.
    Defendam o império da lei, a imparcialidade, o serviço à coisa pública eficiente e implacável. Não precisamos de heróis; melhor, não devemos nos contentar com as exceções. Juízes não são heróis e não devem ser cultuados. Precisamos de costumes---de uma cultura de lisura, impessoalidade e objetividade.
    Esqueçam a merda da política.

    Julius Lemos"

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    1. Parei na frase onde o cara diz que o funcionário do judiciário é isento de ideologia.

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  20. Muito boa a discussão. Como de praxe, discordo em quase tudo do Matheus. A questão de chamar ou não o processo de Impeachment de Coup é pura semântica. Claro é que não se trata de nada parecido com a Revolução de 64. Obviamente não são os mesmo autores do Coup, mas nem também são os mesmos métodos. A ameaça à democracia que agora paira também, penso, não se compara com 64. Mas há sim um achacalhamento de princípios democráticos caros. Há a clara hipertrofia do judiciário frente os outros poderes. Há ingerência indevida do STF na Câmara. O que também me assusta é essa abertura do precedente do uso de mandatos judiciais e peças de lei para paralisar o andamento dos trabalhos na Câmara. O precedente agora é o de que qualquer desocupado minimamente instruído no direito (sei lá o concurseiro qualquer desses que pululuam) pode baixar no Congresso e deixar lá a sua peça de Impedimento (ao Presidente da Câmara, ao Presidente da República, Vice, etc) e Casa terá que analizar o mérito da peça. Veja por exemplo o caso da peça de Impedimento contra Cunha trazida por Alexandre Frota (Alexandre Frota!!!) semana passada. Daí que se houver interesse da grande mídia e cobertura da peça de Impeachment, segue-se esse circo de horrores que vemos aí. Certo mesmo está Jânio de Freitas na sua última coluna disse: A democracia no Brasil é muito jovem e frágil (ele cita ter testemunhado em vida 10 tentativas de golpe). Freitas vai além e diz que o Brasil não é afeito à democracia o que é difícil negar dados os últimos eventos.
    E o que falar então da tentativa do Paulinho da Força de tentar barrar judicialment a viagem de Dilma a NY para a reunião da ONU onde ela pretende botar a boca no trombone. Não há golpe? Ok, certo é que o Paulinho da Força não parou o avião presidencial com tropas do QG de Brasília. Não usou. Mas e daí. Semântica.

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    1. Fez um ótimo complemento, Luiz. A nubilosidade de se centrar em detalhes cômicos de tão desnecessários de se é ou não golpe, tendo como base rigores jurídicos, semânticos ou o que for, é um recuo no debate. Não se precisa recorrer a pedantes amparos bibliográficos para saber o que está se passando. Olhe o que a imprensa do mundo inteiro está falando sobre o assunto. No facebook do Idelber tem uma publicação assinada pela Camila Pavanelli em que ela compila grande parte das opiniões expressas nos principais jornais do mundo sobre a situação de domingo, e o assustadoramente sintomático é que essa Camila usa como mote a direção de que "não se usou a palavra correspondente a cada língua para 'golpe', ainda que o sentido, o propósito e a razão dos textos sejam de que está sim havendo um golpe". O que vejo é um acovardamento vergonhoso por parte de parte considerável das pessoas esclarecidas em se posicionar. Em certa altura das centenas de comentários no Face da Camila, ela é chamada de "isentona", e só então ela se pronuncia contra o impeachment. O que é isso? Acho que umas das aprendizagens mais importantes que se pode tirar desse período e que é algo de suma gravidade: o analfabetismo, a amoralidade e a covardia das pessoas letradas, das pessoas que leem e até então se inseriam na possível vantagem de que a leitura os tenha aprendido a pensar. Meu desalento é grande quando vejo a pragmatização de que a leitura consciente não produz pessoas sensatas e nem pessoas esclarecidas (esclarecidas usando-se a concepção de Adorno). Ô, Charlles, então as pessoas certas e mentalmente produtivas são as que pensam como você? Claro que não. Não retiro a suspeição de que eu esteja errado em cada uma das coisas específicas sobre o assunto que venho dizendo. E como disse, torço para que eu esteja errado, pois isso quer dizer que a situação que eu prevejo para o país não irá se concretizar. Embora quase tudo que eu previ que iria acontecer, e escrevi aqui e em outros blogs, está acontecendo. No site extinto do NPTO eu dizia, quando jamais se imaginava falar sobre isso, sobre a Bolha Dilma Rousseff, sobre o perigo dos intelectuais governistas se negarem a "falar a verdade para o poder" (Edward Said) e ficarem apenas no puxassaquismo insidioso. Falei tanto sobre isso no blog do Idelber, que alimento a fantasia consciente de que, em alguma medida osmótica, eu o convenci tanto que ele agora se tornou irredutível. O que me assusta é a pouca lucidez sobre a astúcia necessária para nos salvar. Manter a Dilma não significa concordar ou ser conivente com seus erros, mas a minha ideia e convicção é mantê-la como recurso menos daninho e menos letal para nosso país, para nosso espírito, para nossa democracia. E é extremamente urgente que se tome posição. A única solução para nossa crise, solução que se perdeu em definitivo, seria um governo de coalizões, respeitando-se a democracia. Mas, como Nial Ferguson diz, uma coisa é a história que gostaríamos de viver, outra é a história verdadeira, inalterável. É sonho esse governo de coalizão. Então, o que a história nos dá é isso que está acontecendo, cuja lembrança assegurada pelos tempos futuros que certa tranquilidade de análise nos dirá que foi pontuada por uma só palavra: covardia. Covardia. Covardia. (cont.)

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    2. Todos serão culpados por deixar isso acontecer com esse diplomamento de que somos idiotas e sem pensamento independente. Que tristeza senti ontem ao, através de correntes de leituras (estava no escritório, por isso a larga margem por usar a internet), entrei pela primeira vez no Facebook de um blogueiro que até então eu admirava, um que deve ser o mais prolífico leitor do país, e que cada livro que lê ele faz uma resenha. Quase me desfiliei da lista de seguidores de seu blog, mas logo vi que seria cair no movimento inercial dessa tolice. O cara xinga descomedidamente a presidente e petistas, com a mesma baixaria dessas pessoas atoladas na mais mediocrização mental da ralé. Entre ele, leitor voraz e profundo especialista apaixonado em Joyce e Shakespeare, e hidrofóbicos assustadores como o pai Mainardi, não há a mínima distância. Nunca houve no Brasil momento mais propício para se ler o Mente Cativa.

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    3. No Facebook do pai Mainardi se pode ver, com uma clareza clínica, sociológica, como pensa setores da elite brasileira. Gastem um tempo didático em irem lá; é muito esclarecedor. Seus posts tem mais compartilhamentos que qualquer outro; o cara é uma sumidade, um mecenas da formação de opinião. Vão ver rapidinho a defesa de que todo cidadão brasileiro use arma, de que o novo código do desarmamento foi uma imposição do PT para que "quando esse partido de merda fizer a revolução proletária, o cidadão comum não tenha como se defender". Eles acreditam mesmo nisso, há carradas de comentários afirmando isso. Há um textão recente sobre homossexuais que é repulsivo, e as piadinhas que seguem são bestiais, demoníacas. Tendo esse olhar para tais abismos, se passa a entender que o Brasil precisa mesmo de leis específicas de condenação à violência de diversas gamas de minorias. Não se enganem quanto à possível trivialidade da coisa: são espaços em que potenciais assassinos estão em sede de liberdade para completarem suas formações.

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    4. Errata (estou escrevendo com pressa hoje, me perdoem os erros crassos): "se passa a entender que o Brasil precisa mesmo de leis específicas de condenação à violência COMETIDA CONTRA diversas gamas de minorias."

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    5. Pra você ver como são as coisas, Charlles. Nem tinha idéia desse post da Camila onde ela levanta que não se usou a palavra golpe na mídia internacional. Mas é exatamente como você diz. A reprovação do processo de impeachment e a inferência que há algo de podre no ar perpassa todos os artigos que eu colei abaixo.

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    6. Tem alguns comentários muito bons lá, como este:

      "Se você colocar "Golpe" no dicionário ajuda... Rsrsr. Eu posso falar "bola", mas também posso chamar de "corpo esférico utilizado em atividades recreativas"."

      Isso me faz lembrar de um excelente ensaio do Lionel Trilling sobre George Orwell. Lá pelas tantas desse que é um dos textos capitais sobre Orwell, Trilling diz que a grandiosidade de Orwell é devido ao fato dele não ter sido um gênio, e por isso sua mensagem ser amplamente permeável à compreensão do leitor comum esforçado e atento. Orwell falava a verdade sem pompas, e com profundo impacto; era um intelectual esvaziado de fleumas inúteis da vaidade e das disputas acadêmicas, o que lhe conferia uma enorme força. Divirjo apenas no sentido de que Orwell para mim sempre pareceu ter nítidas características de um gênio, mas em tudo é a mais pura verdade. Vendo esses intelectuais dedicando tanto tempo e gana mental com picuinhas auto-avalizadoras, e constrangedoramente saindo pela tangente do que realmente importa, penso que eles são o contrário de Orwell: se acham geniais com essa cabala classista, e são apenas vazios.

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  21. Mais arsenal para a guerra de links. (Parte 1)
    Imprensa Internacional sobre o Impeachment: Todos nos links abaixo sem exceção não vêem respaldo legal para o Impeachment. Até mesmo o The Economist (!!!!!). Todos, sem exceção, vem essa transição para um governo formado por PMDB, DEM e outras excrecências como péssimo.

    The Economist: "In the short run, impeachment will not fix this. The charge that is the basis for trying Ms Rousseff—that she manipulated accounts last year to make the fiscal deficit look smaller than it was—is so minor that just a handful of congressmen bothered to mention it in their ten-second tirades. If Ms Rousseff is ousted on a technicality, Mr Temer will struggle to be seen as a legitimate president by the large minority of Brazilians who still back Ms Rousseff."
    http://www.economist.com/news/leaders/21697226-dilma-rousseff-has-let-her-country-down-so-has-entire-political-class-great-betrayal?fsrc=scn%2Ftw%2Fte%2Fpe%2Fed%2Fthegreatbetrayal

    NY Times (Coluna do Celso de Barros do NPTOO: "The crisis brought on by the Operation Car Wash scandals should have been part of Brazil’s painful — and extraordinary — process of establishing a functioning judiciary and fighting corruption. But Ms. Rousseff’s fall is not the logical conclusion of that happy story. Far from being the dawn of a new era, it may very well turn out to be the way the old political class reasserts control over the country — and escapes jail."
    http://mobile.nytimes.com/2016/04/20/opinion/dilma-rousseffs-impeachment-isnt-a-coup-its-a-cover-up.html?smid=tw-share&referer=https://t.co/m0Rp1i68na

    Le Monde: "Si la corruption est au cœur des deux révoltes politiques, Dilma Rousseff, à la différence de M. Collor de Mello, n’est pas suspecte d’enrichissement personnel. Elle est accusée d’avoir usé d’artifices administratifs pour maquiller le déficit budgétaire, un procédé auquel elle n’est pas la première à avoir eu recours."
    http://www.lemonde.fr/idees/article/2016/04/18/le-bresil-au-bord-de-la-rupture_4904101_3232.html

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  22. (Parte 2)
    Financial Times: "The house’s 513 members then voted one by one, each giving a short speech that rarely referred to the supposed reason for which Ms Rousseff is being impeached — her alleged fudging of the national accounts to hide a budget deficit."
    http://www.ft.com/cms/s/0/d8c301e0-0526-11e6-96e5-f85cb08b0730.html#axzz469wuSb87

    Forbes: "This is only a hunch. The federal court’s open cases against dozens of Brazilian politicians in the numerous Petrobras scandals will be closed or never solved once President Dilma Rousseff is impeached. The biggest swindle of public funds in Brazilian history would have been miraculously solved. Politicians will be absolved of their crimes. Or their involvement will remain a mystery, something for historians and conspiracy theorists to debate at Starbucks. Meanwhile, the media will stop hemming and hawing about corruption. Some editors and reporters won’t know what to tweet about anymore. Dilma’s gone. No more corruption. Petrobras and all the politicians associated with it are home free."
    http://www.forbes.com/sites/kenrapoza/2016/03/29/case-closed-on-petrobras-scandal-once-brazil-president-impeached/#f71368b24c7d

    Irish Times: "Things only worsened when it came to the voting, with each of the 511 deputies present called to the rostrum to deliver their decision. Few of the overwhelming majority that voted to impeach bothered grappling with the charges against the president contained in the motion. Instead there were shout-outs to their home towns and states, homages to parents, birthday greetings to grandchildren and endless invocations of future Brazilian generations and God."
    http://www.irishtimes.com/news/world/brazil-sends-in-the-clowns-to-vote-on-rousseff-impeachment-1.2614906#.VxVmWAJsQTI.whatsapp

    The Washington Post: "The prosecution of Ms. Rousseff is nevertheless troubling for a variety of reasons, one of which is that it offers little prospect for ending Brazil’s political crisis or providing a means to address its profound economic problems. Though she may have violated a budget law in order to overspend during her 2014 reelection campaign, Ms. Rousseff has not been accused in the far more serious graft scandal linked to the state oil firm Petrobras, which has seen criminal cases brought against scores of lawmakers and businessmen."
    https://www.washingtonpost.com/opinions/a-way-out-for-brazil/2016/04/18/4a4f063c-0591-11e6-b283-e79d81c63c1b_story.html?postshare=6621461082248994&tid=ss_tw-bottom

    Etc, etc, etc

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  23. Ricardo Terto
    19 de abril às 12:02 · no Facebook:
    "Eu cresci na periferia.
    Não tô falando da Penha, que né. Tô falando de Itaim Pta, Guaianases, Vila Curuçá. E os Jardins
    - Campos; Quermesse da La Patita, tocava SAMPA CREW, tinha roleta valendo maço de cigarro e terminava em treta coletiva SEMPRE)

    - Nazaré; final do 2626/10 ou o Expresso Oriente da Zona Leste,

    CONGELA A IMAGEM QUE EU LEMBREI DE UM NEGÓCIO MUITO IMPORTANTE:
    Você Xóvem de 18 anos, pergunta pra sua mãe como era o transporte público em sp pré Marta Suplicy e especialmente um fenômeno chamado BOLINHO que tinha principalmente no Terminal Pq Dom Pedro. DESCONGELA

    como era no alto, os campinhos eram ideais para o esporte mais popular do país. Obviamente estou falando de EMPINAR PIPA. Eis o motivo porque JD. Nazaré jamais será bombardeado: eles tem uma bateria anti-aérea formada por carretel de linha e cerol de adamantium. Pode vir míssil da Córeia que os Pariu que será devidamente APARADA NO CORTANTE.

    - dos Ipês; Ah... a descida da morte. O nome já entrega mas se trata de uma rua tão íngreme que funcionava como um rampão aonde seres boludos desciam de Pangaré, sabe essas bicicletas que hoje os hipsters amam porque são VINTAGE? Então, o nome delas é PANGARÉ (e sempre será, ok?). Daí os caras desciam a rua de pangaré sem freio e ainda soltavam as mãos. Quer dizer, freio até tinha mas era no Rider, Havaiana não dava conta.

    Alguns não conseguiam frear e iam morrer lá dentro da lojinha de garrafa de desinfetante e amaciante? Sim.

    Mas se ninguém morresse não haveria pra quê chamar de Descida da MORTE, dã. Afe vocês.

    Entre outros jardins, como morávamos de aluguel, minha família pingou aqui e ali uns bons anos. Ainda bem que eu não conheço a periferia de sp só por GIF e Meme né, porque tem gente que o máximo de experiência é tirar foto em frente de grafite no BECO DO BATMAN, da Vila Madalena. E andar de Pangaré sem usar o nome apropriado.

    Agora vem a parte boa. Você deve estar pensando agora em todo aquele estereotipo da periferia e me vendo jogar bola feita de meia suja e sacola de supermercado, numa rua pintada para a copa do mundo de 94, enquanto uma tia descabelada na frente de um portãozinho enferrujado chama o UELSON pra casa com a cinta na mão. Ok, tinham esses momentos também Regina Casé mas tinham outras coisas. Por exemplo

    A primeira vez que joguei MAGIC *dê uma pausa dramática aqui* THE GATHERING, foi na periferia. Isso em 98 certo, pré era Nerd Bazinga. A primeira vez que li Jorge Luis Borges e Maiakovski, foi numa biblioteca em Itaquera.
    E Cês me desculpem dessas festas de vocês aí com sistema de som 5.1 e frigobar, mas fui iniciado no mundo das festas com 5 caixas todas de GRAVE, ou seja, um inovador sistema 0.5 e o primor químico que seria possivelmente banido pela ANVISA vinha de uma caixa de isopor. E o povo ouvia Prodigy. Era música de "bate-cabeça".

    E Dê Menos Crime - Fogo na Bomba.

    Colei com um monte de gente. Com góticos nas "Ruínas" (o que sobrou de um casarão que foi demolido). Com os crentes da Universal, quando eu era crente da Universal. Com os nerds RPGistas. Com roqueiros de violão e vinho Sangue de Boi, que aceitavam todo mundo, de grunge a black metal, mas new metal não.
    Tocar new metal no bagulho você já tava tirando."
    continua

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  24. "Bem estou falando disso tudo porque o tempo passou e assim. Conheci umas pessoas.
    Inteligentes.
    Bem intencionadas.
    Nova esquerda.
    Textão Embasado.
    Beco do Batman.
    Respeito o seu Lugar de Fala.

    NUNCA
    DESBICOU
    UMA
    PIPA.

    Bom, eu tentei colar com essa galera. Porque afinal, eu já tinha lido e visto e pensando tanta coisa que. E tinha o lance do crescimento econômico que teve uma época aí e banda larga e tal. Um dia escreverei sobre ser Indie Pobre. É bem hilário mas deprimente também. Hehe.

    As diferenças de acesso uma hora pesam a parada toda. Tipo eu posso falar do álbum novo do artista x, mas sobre ir ao Primavera Sound com o dinheiro que GUARDOU no último semestre. Comigo que tava bom ir pra GUARULHOS colar em festinha. Bem, nessa hora da conversa eu ficava calado e percebia o tamanho do estranhamento de estar ali.

    Esse estranhamento de ser alguém moldado na periferia sem o estereotipo de ser da periferia. Sendo que isso também é ser da periferia. Hoje eu gosto desse estranhamento. Moro no centro graças a meus dois empregos mais o da minha esposa mas não sou "um cara do centro" (o baixocentro é surreal de morar também, mas isso é uma outra história).

    Eu colei com essa galera DOBEM
    e em sua maioria são as pessoas mais hipócritas que eu já conheci em toda a minha vida. Eu não disse más, nem ruins. Disse hipócritas.
    Uma coisa que todos temos em certa medida.
    Só que eles dão uma extrapolada.
    Eles não sabem que são hipócritas, porque dentro de uma bolha, tudo é coerente à bolha. Vai pensando aí depois.

    Essas pessoas que uma vez eu vi num SIMPÓSIO SOBRE CULTURA NEGRA reclamar sobre o excesso de COMUNIDADE participando do evento, e uma vez levantada a questão decidiram formar um grupo que iria DEBATER a possibilidade com reuniões TRIMESTRAIS. Ninguém me contou eu estava lá, sendo o estranho.

    Essas pessoas se recusam a sair da bolha. A bolha com frigobar e som 5.1.

    Por isso a periferia não foi às ruas nem pra pedir a saída e nem defender governo nenhum. E nem vem com esse papo aí que se eu te teletransportar para o Lajeado você em 2 segundos vai estar clamando para Deus vir em forma de Uber te salvar. Quando você vê moleque piranha na linha amarela você dá uma afastadinha sim. Até quem é da periferia dá uma afastadinha porque os moleques são chatos mesmo.
    Mas você sente CULPA :-) "

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  25. "Você sente culpa de ter hábitos burgueses mas ser de esquerda.

    Você que senta na Fradique pra discutir rolezinho.

    Você está numa bolha.

    Daí tem dois perigos:

    1- O perigo de uma única história.
    (ver https://www.youtube.com/watch?v=wQk17RPuhW8 )

    2- Não atingir essas pessoas que existem além dos GIFs E que vão continuar no fundo cagando para política E que continuam vivendo cada um por si E que não conhecendo a própria força nao se mobilizam E não entenderam ou não se identificaram com seus textões embasados E que como resultado nós temos

    O Congresso Brasileiro.

    Porque não há vácuos no poder.

    Por me sentir burro perto do floreio acadêmico de vocês e de auto-estima ferrada eu quase, quase me alienei. Quase desisti da politica, de ambientes culturais, quase desisti de fazer cinema.

    Quando fui numa galeria e fiz um comentário sincero sobre uma pintura e vocês dobem, com vestido de estampa Frida Kahlo e cabelo Elis Regina, me olharam com repulsa diante da minha ignorância cultural, eu quase desisti de ir a museus. E hoje que eu entendo um pouco mais posso afirmar que a pintura era mesmo uma BELA BOSTA.

    Quando te chamei, você um cara dobem que tem uma MONOCELHA, e não é outra referência à Frida, pra tocar num bar na Penha, nem tão periférica assim e você RIU DA CASA DAS PESSOAS eu quase desisti.

    Quando você dobem riu porque eu levava MARMITA, essa eu tenho que escrever de novo - M A R M I T A - na mochila para a faculdade porque de lá eu ia trabalhar mais 10 horas e queria economizar o VR, eu quase desisti. Hoje é claro que existe um segmento de marmita hipster e comida caseira é a tendência.

    Quando você dobem, preocupado com a classe trabalhadora, óculos de bibliotecária e camiseta dentro da calça, veio comprar uma calça MADE IN VIETNAM na loja que eu trabalho e ficou putaço porque acabou seu número. Num. Domingo. Oito. Da. Noite. Eu quase desisti.

    Eu não desisti porque gosto de ser. Estranho.
    Agora, imagine quanta gente, você esquerdão que se faz, SE FAZ, não conseguiu fazer desistir quando elas tentaram se aproximar de alguém que se vendia como uma ponte entre uma vivência que ele tem e uma cultura que ele pretendia ter?

    Às vezes foi num comentário. Às vezes foi na falta dele. Às vezes foi ficar no vácuo. E a pessoa se sentiu burra e estranha e desistiu. Nem todo mundo gosta de ser estranho. Pareceu que isso de "cultura", "política" e "debate", não eram para ela. Eram para pessoas inteligentes como vocês.

    Então receba esse Congresso.

    Continuem com os perfis irônicos, isso aí. E excluam viu, todos que tiverem opiniões diferentes. Cite um Foucault mesmo para invalidar um comentário de alguém que estudou em escola pública. Coloque-o no lugar dele. Receba os likes. Receba os "mitou". Sobe hashtag no twitter que é lá que o povo está viu.

    Vai lá periferia e chama todo mundo de ISENTÃO, falou?

    Dá, uma, zoada, em, quem, não, sabe, usar, vírgula, direito. ‪#‎nem‬ ‪#‎hashtag‬

    Mas aí, receba esse Congresso também.

    Pela família, Deus e Angra dos Reis.

    OU

    Talvez seja a hora de sair da bolha. E ficar mais estranho."

    fim. com a grande repercussão desse post, o Ricardo publicou outro, q colo abaixo.

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  26. Ricardo Terto
    8 h · Hoje, no Facebook
    "Olha, eu preciso falar sobre aquele meu post. Da perifa.
    Mas primeiro
    Eu quero que você se imagine numa sala escura. Você ouve música, ouve muitas vozes e vê silhuetas, e por algum motivo você
    SAI TATEANDO as paredes procurando alguma coisa.
    Pode ser seu copo de BALALAICA, pode ser um lugar para se apoiar, pode ser que você só esteja doidão e nem sabe o que está procurando, quando

    PAM

    Você esbarra no interruptor
    E ACENDE A LUZ

    Geral olha na sua direção e você vai fazer cara de quê?

    Essa cara aí mesmo - a CARA DE EITA.
    Essa mesma cara que eu tô fazendo aqui enquanto escrevo. Eita.

    Só que aqui corre sangue mineiro e, como todos sabem, tem fator anti-deslumbramento, então ó, eu só quero deixar bem claro que eu esbarrei sem querer no negócio.
    Eita.

    Mas aí, sem querer ou não o que acontece é que

    a luz da sala está acesa.

    Não sei quantas mil interações depois E Podemos Constatar que esse negócio de MISTURA - para quem não sabe o que é mistura, é o que você coloca com arroz e feijão e alguns chamam de Acompanhamento, olha aí tudo já começando a fazer sentido! Mas então

    podemos constatar que

    FALHAMOS MISERAVELMENTE NESSE NEGÓCIO DE SE MISTURAR.

    É só você olhar e claramente nessa sala tem uma galera nos cantos, sem motivação nenhuma para ir pra pista. Mó galera tava tateando as paredes também. Mó galera achou que tava na pista e tava male-male na porta do banheiro. E mó galera já tá indo embora viu, a lá aquele ali,

    Pegou 1L de Balalaica e vazou.

    A galera no meio da pista está CHOCADA que nem todo mundo estava se divertindo. O Dj que tocava Chico - Apesar de Você amanhã há de ser outro dia - está consternado.

    Agora assim. Parem de olhar pra mim, serião. Olhem uns para os outros. Esquece o cara que esbarrou no interruptor. Eita.

    VOCÊ QUE É DE HUMANAS - pensador de sociedade - leia os comentários lá no negócio. Leia os compartilhamentos. Leia os comentários dos compartilhamentos.

    Daí você chega em mim de cantinho e me conta o que tá acontecendo porque sinceramente eu não sei. Eu não sei quando, nem como.

    Vocês, estranhos do canto da sala. Eu sei que o que dói é que a gente sabe que é alguém

    capaz
    de criar o mesmo desenho
    que eles
    criam
    mas
    ligando
    pontos diferentes.
    Né?

    Não é que a gente quer ver a cicatriz de quem rasgou a mão no cerol da vida
    Eita.

    Não é que a gente quer ver cicatriz na mão dos outros é que
    INCLUSIVE VOCÊS NO CENTRO DA PISTA

    Eu vi que teve uns comentários tipo, olha a vivência desse cara, UM CARA REAL QUE FEZ COISAS REAIS. Se liga ô. Toda vivência é real. Eu tô doido ou VL Madalena só existe na minha imaginação? Higienópolis? Perainda. Tem gente lá. Habitando. Chorando. Sofrendo. Com medo da morte. De perder a mãe. Com saudade da infância. Dos amigos. Tem histórias preciosas ali também. Tem ligações, algumas, muitas. A questão é que talvez
    Nos tenham vendido mistura
    mas serviram
    acompanhamento

    E tá claro que acompanhar algo é bem diferente de se misturar a algo.
    A luz está acesa.
    Eu não sei mais o que fazer porque cês ainda tão olhando pra mim.
    Vou vazar com meu 1L de Balalaica.

    Eita."

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    1. É um discurso legítimo, arbo. Quase uma personalidade literária. Lembrou-me que aguardo com ansiedade o Almoço Nu que será lançado mês que vem. Mas do ponto de vista externo à literatura e suas formas de cantar, isso daí tem um enorme recalque. Um recalque tão conhecido e real que a principal função do autor é lutar em prol de sua maturidade imediata, se não quiser recair em um clichê tremendo. Minha biografia de leitor sempre aceitou muito bem a encorporação: não Foulcault, que eu não me dou bem nem para saber escrever direito seu nome, mas meus autores desde a adolescência sempre foram meus autores; eu encorporei Mann e Faulkner e nunca me importei bulhufas com que a academia dizia sobre eles ou sobre o que se deveria fazer para poder entendê-los. O erro desse discurso aí de cima, que no mais tem muita força poética, é que seu recalque é uma arma anacrônica apontada para si mesmo. Sua beleza é a chave motriz de seu defeito.

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    2. Um recalque contra-produtivo, bastante diferente da literatura do recalque de Céline e Bernhard.

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    3. Não conhecia o Ricardo Terto, Arbo.
      Muita verdade no texto dele. Especialmente para o contexto urbano de São Paulo, dos vários mundos sociais estaques que raramente se abrem um para os outros.
      Sim. Há alguma e outras verdades ainda para a periferia não ter ído às ruas. É um pouco culpa dos agentes "educadores" que não conseguem vencer a vontade de exclusão que é força natural-social no capitalismo de mercado. Mas é também culpa de ninguém, um fatalismo da pobreza, a sucessão de injustiças (umas anônimas às outras), lentas mas persistentes, que solidificam o estado do assombroso desamparo dessa gente.

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    4. Nada mais elitista insensível do que "intelectual de esquerda do bem". Tradicional isso desde sempre. Os iluminados recebem tanta luz nos olhos que ficam cegos. Exemplo mais famoso hoje é o Gregório Duvivier. Tomara que essa esquerda PSOLista, social liberal do bem, aumente sua influencia nas grandes cidades (já tem boa parte dos jornalistas) e se torne a esquerda predominante nos grandes centros.

      Será derrotada pelo "recalque" daqueles por quem jura lutar. "Sao enganados", "não tem consciência do que fazem", etc. Aham.

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    5. Onde tu vê recalque, Charlles, eu vejo humildade. Acho q esse cara está sendo tremendamente honesto, do tipo, vamos falar abertamente da sociedade q somos, das sociedades q somos, do q não somos, do q somos e não somos em separado.

      Sobre este texto, um amigo meu comentou: "O pessoal do bem discute em seus espaços pautas de difícil ~tangencialidade como o pós-capitalismo, capitalismo 2.0. ou algo do gênero, acreditando limpar suas mãos sem tentar compreender os problemas do Brasil Profundo que não é explorado nas pesquisas, nem é consumido culturalmente. É um grande texto porque o país é mais complexo do que a produção acadêmica e suas bases de dados."

      Ou seja, me posicionei abertamente contra o impeachment, mas não posso deixar de observar q a sustentação desta democracia é algo muito hipócrita enquanto luta apenas pela reprodução do q tem vigorado de status quo nas últimas décadas. E basicamente É hipócrita. Eu valorizo muito mais a ideia de um Leosantiago q faz lá suas contas e chega às suas conclusões sem concessões egomoralistas, do q o pessoal ficaria de boa com a vitória do não ao impeachment e conversamos em 2018 ("aí vcs vão ver"). A-ham, nunca tem conversa, nunca se discute realmente essa invenção chamada brasil.

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    6. Alguns preocupados com a violência, com falta de saneamento básico, esgoto; outros com coisas mais importantes, como os rumos da democracia, controle da internet e imprensa, direitxs humanxs, etc.

      Mas Lula retornará, carregado nos bracos do povo pobre do Brasil. Santo, comedor de cabras. (Tinha esquecido disso: Charlles apoia um estuprador de animais. Mas e aquilo que disseste sobre homens assim, amigo??? Tadinha, deve ter pego alguma doença.)

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  27. "Se não prenderem o Lula, ele estará eleito em 2018", disse o professor Luiz Felipe de Alencar, na ótima entrevista ao Mario Sergio Conti recém acabada de ser exibida na Globo News agora.

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  28. Um amigo leitor do blog me mandou esse seguinte e-mail:

    Charlles, comento aqui porque você evitou mencionar o nome de X lá, então mantenhamos. X é mesmo o maior leitor do Brasil, pelo menos em quantidade. Os mil e centenas de livros que ele leu de 2007 pra cá são apenas uma parcela de suas leituras. E ele também é um cara gente boa. (...) É muito bom falar de literatura com ele. Porém também me assombrei com seu perfil no Facebook. "Este podre e irrecuperável país", todos os dias, cinco ou seis vezes. Há um ódio muito forte ali, e confesso de deixei de segui-lo por uns tempos, mas não resisti às constantes atualizações de sua fabulosa biblioteca - um de meus fetiches. Mas o problema é exatamente esse: hoje em dia não dá pra discordar de ninguém, simplesmente porque não somos civilizados o bastante. Os mais lidos, cultos, ricos, bonitos, honestos e que mais lá se defenda, se transformam nuns selvagens. Nem dá pra falar de Mainardi e Constantino, que esses nunca foram nada disso. Bem, o próprio Y, que continuo a considerar um dos maiores críticos culturais do país, um direitista que não tem pudores em esculhambar com a direita, arrumou um jeito de defender os deputados do sim. E em seu longo texto sobre a situação política, publicado em Portugal, ele comete quase todos os vícios morais que denuncia no seu livro. Complicado."

    Minha resposta:

    Amigo, é um alívio receber uma mensagem sua. Não sabe o quanto. Diariamente me sinto sucumbido pela impressão que estou sozinho. O X é um cara que, em certa medida, eu cultuo. Seus textos tem medidas bem definidas e modestas, mas é justamente isso, por uma espécie de força interior de propósito legítimo em ser APENAS um leitor, que faz o blog dele ser tão importante. Ele é O leitor, a personificação quase surreal de uma improbabilidade nacional. Ele realmente lê muito mais do que eu, ou qualquer um outro, com uma disciplina atordoante. Não me causa inveja porque minha gênese produtiva no campo das letras é baseada no caos, mas eu o admiro bastante. Vi as fotos de suas estantes no Face, pô, o cara tem prateleiras extensas apenas com críticas sobre Joyce, e idem sobre Shakespeare, e sabe-se lá quem mais. Tem algumas falhas evidentes, como sua omissão a Faulkner e Bellow (parece que só leu, até agora, o Conexão), mas é um erudito notável. E não é realmente chocante ver as coisas que o cara diz no Face? Fiquei com medo, bicho! Me lembrou aquela cena no A vida é bela em que o Benigni descobre que seu amigo de enigmas, cuja esperança que ele tem é de que poderia facilitar sua vida no Reich, não passa de um compulsivo doente. Não estou dizendo que o X seja isso, sei que você entende. Mas é assustador, é a tal lúcida metáfora do Cortázar em Cronópios em que se abre o envelope entregue pelos correios e se descobre uma pata da aranha lá dentro, remetida por ninguém, ou o símbolo do mal mais efetivo que eu já li, justo do amado Marías do X, do cachorro perneta do Seu rosto amanhã."

    Ele:

    "Sim, ele tem também uma prateleira extensa com TODOS os livros de Marías. Não li ainda Seu rosto amanhã, porque travei em Negro dorso. (...) Leio ainda mais devagar em espanhol. Também me impressiona a disciplina de X, isso de ler tudo de um único autor em sequência, ler Em Busca do Tempo Perdido de uma vez, nem nenhuma leitura mais leve entre os volumes. Eu mesmo estou lendo Anna Kariênina numa lerdeza incrível, intermeando com aqueles maravilhosos livrinhos de contos húngaros e tchecos da editora 34, e Elena Ferrante, e Robert Capa, semanas sem terminar um livro, sendo que pra escrever é a mesma coisa, com uns três romances travados na página 40 (miraculosamente, eu consegui terminar um, 170 páginas, um orgulho). X faz da leitura uma ciência. Assim como você, não o invejo. Meu projeto é outro. Mas o que me incomoda é isso, a barbaridade estridente de um dos caras mais educados e gentis que conhecemos. Outro exemplo literário é o sarau de poesia de Noturno do Chile. E o filme Mephisto."

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    1. Acho que conheço X.

      "Mas me incomodo tanto com o cheiro da podridão completa e irreversível deste desgraçado país, quanto com os ruídos da imbecil malta que nele vegeta".

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    2. Esse horror todo pelo BLOGUEIRO MISTERIOSO somente porque ele foi um tanto ofensivo em relação à presidente e aos petistas? Nao conheço um blogueiro do bem (qualquer um que anda chamando de golpe o processo legal de impedimento da presidente do Brasil) que não tenha falado no mesmo tom sobre a oposição. Por exemplo, aquele outro BLOGUEIRO MISTERIOSO um tanto esquerdista que, vejam só, também consta na lista de blogs que tu segues.

      A única diferença é que ele torce pro mesmo time que tu, brother. Então não tem problema, nada de errado. Está correto o que é dito sobre os outros: burros, nefastos, corruptos, hipócritas. Mas a dona da bola do meu time? Que absurdo, como ousam falar isso? E do Lula? O Cara? Ele retornará, ele vencerá tudo e todos, nunca roubou nada, Salvador dos Pobres deste país, todos estão mentindo, querem acabar com ele, é culpa dos Americanos, da Elite entreguista, etc.



      Sim, estamos agindo como torcedores de futebol, não te engana.

      Mas alguns sabem disso, outros não (ou fingem que não).

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    3. essa troca de emails é digna de tv fama ou do dce da usp? jesus cristo. estão vasculhando a vida das pessoas agora, excluindo elas, apontando o dedo. macartismo ou fascismo?

      tenho 29 amigos que curtem a página da Jandira Feghali. e ai? E aí foda-se, não sou fiscal do pensamento alheio. Curtir uma página do Facebook pode significar que você concorda um pouco com a pessoa, ou que você concorda médio com a pessoa, ou que não concorda porra nenhuma mas quer se atualizar com o que a pessoa diz. eu mesmo já acompanhei umas páginas por mera curiosidade mórbida, por exemplo. Mas agora, se você curtiu o Bolsonaro você é o "novo judeu". Não interessam os motivos. Vai para o gueto, expulso, debaixo de chutes e xingamentos. eu não concordo com muitos - MAS MUITOS - dos meus amigos, mas eu me recuso a fazer papel de polícia da ética e juiz da justiça, abençoando os bons e expulsando os maus da minha página, nessa limpeza étnica virtual...

      e que comece a inquisição do Facebook. chequem seus amigos, vasculhem suas curtidas, julguem-os sumariamente por isso e condenem-os à fogueira!

      e viva a Democracia!

      e abaixo o fascismo!

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    4. Um comentário desses eu também não teria coragem de assinar meu nome.

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    5. "Quem curte o Bolsonaro é o novo judeu"
      Ai, me doeu aqui o revisionismo histórico.

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  29. http://m.folha.uol.com.br/opiniao/2016/04/1763541-deu-no-new-york-times.shtml?mobile

    Sempre me importou o que diz a imprensa estrangeira sobre o Brasil. Fico feliz que a esquerda brasileira também -de súbito- importe-se. Os progressistas ora citam o "Guardian", o "Figaro", o "New York Times"! Até faz pouco eu era provinciano, jeca, por isso. Sou grato ao correspondente Glenn Greenwald, entre outros. O norte de sua cobertura militante -e influente- tornou-me antenado, cool. Ele dá o tom. Exportou a cantilena do golpe. Conquistou leitores "prafrentex" aqui.

    O próximo passo seria o ex-presidente Lula compartilhar um artigo de Larry Rohter (escreve, Larry, escreve!) sobre o circo armado no Congresso Federal para votar o impeachment de Dilma Rousseff.
    Sim. O circo armado. O show de horrores. O espetáculo deprimente. A festa dos imorais. A reunião dos hipócritas (nenhuma linha para a infâmia dos escarradores, porém).

    Reuni, publicadas em jornais, duas dezenas de definições negativas sobre a sessão plenária do dia 17 de abril de 2016 na Câmara. Postas em conjunto, provindas de petistas ou das linhas-auxiliares, parecem querer tratar de um país -poderia ser a Venezuela, sem dúvida- que não o Brasil governado pelo PT desde 2003.

    Há mais que ousadia nessa adjetivação deslocada. Há método. E há também uma conquista narrativa tão farsesca quanto perigosa, cuja linha inicial não foge de variações a respeito da surpresa do brasileiro -então deprimido, triste, arrependido, em dúvida sobre se vale apoiar o impeachment, pobre indivíduo- ante a qualidade de seus representantes no Parlamento (este brasileiro, claro, não foi visto em lugar algum).

    O texto -a evidente ordem unida dos novíssimos defensores do Estado democrático de Direito, muitos dos quais petistas que pedem respeito à Constituição que não subscreveram- consiste em alardear o baixo nível dos deputados, esta novidade, e assim desvalorizar, sucatear o Legislativo.

    Como se o projeto de poder que desmorona não devesse boa parte de sua existência ao manuseio, sem precedentes, desse varejo rasteiro e não tivesse tantas vezes comerciado com os controladores de Deus.

    Não faz muito e companheiro de alta patente (preso) chamava isso -essa boiada hoje descontrolada - de a maior base aliada da história da América Latina. Corrompeu-se até a ideia de megalomania.

    Deu no que deu. Ou terá Eduardo Cunha chegado aonde chegou senão como consequência do monumental balcão de negócios patrióticos que sempre regeu a parceria -eletiva, registre-se- entre PT e PMDB?

    Em tempo: você, eleitor de Dilma Rousseff, sabe que também votou e elegeu Michel Temer, certo?

    Um casamento em que as partes foram dormir com o dote não poderia resultar de outra forma. E esse, não se deixe enganar, é problema do PT. Não de quem apoia, alicerçado em resolução do Supremo Tribunal Federal, o processo democrático de impeachment e nada tem com o modo como a compreensão autoritária da política dilapidou e amesquinhou um poder da República.

    Eduardo Cunha, idem, é problema dos petistas, que o cevaram, o empoderaram e o fizeram isso.

    Nada lhe deve quem luta pelo impedimento da presidente. Nada. Urge derrubá-lo, isto sim. Ele é indefensável -e serve de refúgio derradeiro aos que militam por deformar o processo de impeachment em golpe.

    Eduardo Cunha é a última esperança do Partido dos Trabalhadores. Tchau, querido.

    CARLOS ANDREAZZA, 36, é editor-executivo da Editora Record

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    1. Você está precisando é de um abraço, Matheus.

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    2. Me prontifico para o abraço Matheus.

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    3. Estava precisando de um emprego novo (acho que consegui), mas aceito os abraços, nunca é demais.

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  30. Charlles, fiquei com muita preguiça no outro dia, mas não consigo, lá vai mais um pouquinho de tecnicismo.
    Sobre o que entende como uma mera questão de proporcionalidade, quero detalhar que os governos operam seus empenhos, liquidações e pagamentos por meios de sistemas informatizados integrados. O do nosso Estado é o siofi-net, o da União se chama SIAFI.
    Aproximadamente na última quinzena do exercício financeiro é preciso começar a travar o sistema para a maioria das operações das secretarias (ministérios no caso da união), autarquias e etc... de modo a possibilitar o encerramento contábil do ano. Caso contrário não seria possível fechar o balanço consolidado anual.
    Por isso é normal que alguns gastos de dezembro fiquem de certa forma descobertos. Existem muitos mecanismos que permitem a regularização desses gastos. Alguns mais, outros menos transparentes.
    Na União, como existe a possibilidade de que sejam feitos diretamente pelos bancos públicos, numa espécie de empréstimo informal, adotou-se este modelo. Mas FHC e LULA os empenhavam e regularizavam logo no começo do exercício. Por isso a questão da proporção é relevante.
    Dilma, por sua vez, aproveitou-se do precedente e pedalou o equivalente a dois anos de bolsa-família. Pior, só quitou o fiado em novembro do próximo ano, e mesmo assim porque a coisa esquentou. Não existe qualquer amparo na legislação para isso.
    Também é importante esclarecer que, ao contrário do que alegou, os estados não dispõem de tal ferramenta, portanto não é verdade que fizeram a mesma coisa.
    É certo que também fazem suas acrobacias, mas possuem formas e margens bem menos amplas para a pratica do relaxo em seus balanços (ainda bem). Até porque a União, por meio da STN, também fiscaliza a situação fiscal dos entes federados.
    Esse discurso de que todo mundo faz só convence quem não conhece o tema em detalhes. Como são poucos os que percebem as nuanças da falácia, a usam com uma desfaçatez de dar ódio.

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    1. Há um sem número de links para "pedaladas fiscais dos estados" no Google que diz o contrário, Leo. De fontes como A Folha e a revista Exame.

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    2. "A elite do país e os seus órgãos de comunicação social têm falhado mais e mais em seus esforços para derrotar o partido nas urnas. Mas plutocratas não são conhecidos por aceitar gentilmente derrotas, nem por jogar de acordo com as regras. O que eles têm sido incapazes de alcançar democraticamente, eles agora estão tentando alcançar ANTI-DEMOCRATICAMENTE: por ter uma mistura bizarra de políticos - extremistas evangélicos, apoiadores de extrema-direita e de um retorno ao regime militar, agentes de bastidores não-ideológicos - simplesmente removendo-a do cargo."

      http://www.theguardian.com/commentisfree/2016/apr/21/dilma-rousseff-enemies-impeached-brazil?CMP=share_btn_tw

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    3. http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/10/1698480-a-exemplo-de-dilma-estados-tambem-fizeram-manobras-fiscais-em-2014.shtml

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  31. Foi o que eu disse Charlles. São muito criativos na forma de ajustar seus balanços. Todas condenáveis. Mas são de natureza totalmente distinta.
    O controle dos bancos públicos oferece possibilidades muito singulares à União.
    O que quero dizer é que tentam igualar as práticas para parecer que não tem nada demais.
    Aqui em Goiás o modelo é o de omitir a dívida do Tesouro para com seus próprios fundos especiais. Não tem nada a ver com pegar empréstimos. Claro que é condenável, e eu adoraria que o TCE, MP e Judiciário adotassem providências, mas não guarda relação direta com o modelo federal.
    No fundo minha indignação vem do fato de estarmos relativizando a medida necessária, por acharmos que falta legitimidade aos aplicadores. Não vejo mérito nesse tipo de análise. É como se a polícia não pudesse mais prender assassinos, já que é quem mais mata.

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  32. A aplicação de pena a quem efetivamente cometeu um ilícito não resolve nenhum problema por si só. Mas sempre terá seu efeito positivo, principalmente quando tratar de crimes de responsabilidade, que praticamente nunca são punidos.

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  33. Os mesmos oportunistas que hoje acusam, amanhã tropeçarão nas arapucas que colocaram.

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    1. Pois é. Aí ficaremos na ciclicidade sem fim do que para mim parece ser questão de tecnicidade e proporcionalidade. Tudo o que você falou é bastante válido, mas acho que você mesmo sabe que o motivo disso tudo nunca foi esse.

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  34. Nisso concordamos plenamente. A motivação para cada um dos atores é bem distinta. Cada um preocupado exclusivamente com o que lhe é caro.

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  35. Enquanto isso no senado já tem 51 votos para o impeachment. Já estou me preparando para o post sobre Temer presidente e toda aquela ladainha golpista.

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  36. No início do século XXI, Ruy Tapioca tenta investigar o futuro do Brasil nos próximos 50 anos, algo a que poucos escritores brasileiros de ficção científica jamais ousaram fazer. Ambientado principalmente no Rio de Janeiro, Admirável Brasil Novo enxerga um futuro decadente para o país: poluição e desemprego são o cotidiano; o Presidente da República é um bispo evangélico "com nome de dupla caipira", Miron Marian, e o nepotismo está institucionalizado; os partidos políticos estão divididos entre "conformistas e inconformistas", com o poder nas mãos do primeiro grupo (como sempre); a cultura trash brasileira alcança o seu grau máximo, com uma TV sensacionalista e vulgar; e o nosso futebol é um dos piores do mundo.

    O protagonista é o jornalista carioca Lázaro das Dores. Fiel ao seu nome, Lázaro é um exasperado que não cansa de praguejar contra as mazelas da sociedade brasileira. Com 45 anos, casado e com duas filhas (uma delas aspirante a estrela do "bundaxé", uma das novas danças do futuro), tem como amante Astrid Junqueira, grande nome do "romance compacto minimalista" brasileiro. Com Astrid, Ruy Tapioca enfim integra a literatura brasileira aos argumentos da arte conceitual: o último livro de Astrid chama-se ! e tem 100 páginas em branco, para convidar o leitor a "também ser autor, in totum, de uma obra literária!" Já o seu protagonista, apesar de nascido em 2000, é mais um homem do século XX, afeito à leitura de Graciliano Ramos.

    Aparte tais momentos metaficcionais que oferecem crítica mordaz à qualidade, digamos, "etérea" da literatura brasileira contemporânea, o romance é claramente uma sátira política e social, direcionada ao momento presente (à Administração Fernando Henrique Cardoso). A prosa excessiva, preciosista e arcaizante de Tapioca (também presente em seu primeiro romance, o premiado A República dos Bugres), bem como a sua herança intelectual, remetem a narrativa também ao passado. Apesar do título, Admirável Brasil Novo dialoga menos com o clássico da ficção científica Admirável Mundo Novo (1932), de Aldous Huxley, do que com "Brasil, País do Futuro", de Stefan Zweig, fazendo o contraponto entre um Brasil sonhado e o país cronicamente inviável que Tapioca descreve.

    A linha narrativa é fraca, porém. Os políticos inconformistas do "Partido Ecolaboral" (fusão dos verdes com os petistas) lutam para se manterem em pé, quando são surpreendidos, tanto quanto os conformistas, por um anúncio feito pela União Européia: só vão liberar o empréstimo bilionário que pode tirar o Brasil da falência (ou financiar a próxima campanha do bispo Miron Marian), se o vice-presidente pertencer ao Partido Ecolaboral. Nesse futuro, o vice tem o controle de um Banco Central independente. O homem em questão é um político íntegro, António Péricles, elabora um plano de dez itens, capaz de tirar o país do precipício e restituir a dignidade do povo. Tudo isso é insuportável para os conformistas, sem contar o fato de Péricles ser negro e deficiente físico. Mas Marian aquiesce, e por algum tempo o autor flerta com a idéia de que o homem certo no lugar certo pode fazer a diferença.

    http://www.scarium.com.br/noficcao/causo03.html

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  37. Se você me permite, Charlles, gostaria de mudar de assunto e voltar a falar um pouco sobre livros: a Saraiva está ameaçando não comercializar livros que tenham desconto em concorrentes (aka Amazon).

    https://pbs.twimg.com/media/Cgvr_VLW0AEY_g8.jpg:large

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  38. O PMDB já anunciou algumas primeiras medidas do futuro e iminente governo: além de uma nova indexação do salário mínimo, seguindo as diretrizes ditadas pela Fiesp e a CNI vai passar a idade da aposentadoria para 69 anos o homem, 65 a mulher. Vamos todos nos regalarmos nas delicias da retórica enquanto é tempo, porque logo estaremos novamente tomando no rabo. Mas hein, alguém aí quer abordar elegantemente sobre apalavra impeachment, ou sobre moral e ética, ou sobre os gráficos de aproveitamento de verba administrativa? Ainda é tempo.

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