sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Hoje, assim como qualquer outro dia



Por vários motivos, reedito este texto que escrevi por ocasião de uma data comemorativa para as mulheres que amo.

A minha mais distante memória é de uma mulher com vestido florido abaixo dos calcanhares e óculos grossos bifocais me dizendo sobre os benefícios de se levar uma vida reta para fugir do fogo do inferno. Todas as outras incursões em meu passado além desse momento resultam em borrões de quedas de velocípedes, os besouros que me aterrorizavam invadindo a casa, o sorriso de meu pai, o cheiro de baba no travesseiro da minha mãe, a minha cadela Paquita, vestígios da lembrança da febre da catapora, o som dos postes de madeira estalando nas tardes de ventania. Nada que se iguale em impacto aos relatos das chamas eternas que essa mulher me dizia, com a voz doce e estranhamente consoladora. "Se você aceita Jesus no coração desde agora, jamais irá passar por esses sofrimentos. Crescerá uma pessoa boa e cheia de paz no coração." Desde cedo tive a certeza de que as seis mulheres que me amaram e com quem morei até os meus dez anos, o faziam cada uma da sua maneira e com profunda sinceridade, tanto que essa senhora, que era uma das minhas 3 avós_ ou a minha madrasta-avó_ recorria a ingênuos artifícios de desobstrução do peso daquelas imagens do inferno ao me trazer a maior das maçãs, ou me dar um abraço e um beijo fortíssimos que determinava de vez que nenhum demônio iria ter forças para me tirar daquela fortaleza de proteção.

De forma geral, só as mulheres da minha família são dignas e seres-humanos comprovados desde a raiz dos cabelos até à sola dos tamancos. Os homens, por outro lado, são os eternos amaldiçoados pela sina obrigatória de repetir incessantemente o vício do patriarca pelo orgulho forçado da fornicação. Meu avô teve 22 filhos oficiais com as sete esposas de seus sete casamentos ou amasiamentos concomitantes. Até anos depois que ele morreu, costumava aparecer todo ano mais um sujeito espigado, de ar desatento e a latente concupiscência do olhar, que comprovava que era mais um de seus filhos bastardos procurando um rumo no mundo. Eram morenos, brancos dos olhos azuis, negros, mas sempre com aquela reprodução genética seriada do porte alto e dos olhos de peão saliente que parecia ser uma janela na alma através da qual a presença do meu avô vigiava, atenta, se seria respeitado o prosseguimento obsessivo do espólio sexual que ele deixara. Todos os homens da minha família são infelizes e se parecem, e, só de uma geração para cá pode-se dizer: as mulheres, cada qual, são felizes à sua maneira. Só a geração das minhas primas, que estudaram e se tornaram independentes financeiramente, tanto que se eximiram da opção do casamento, é feliz; as minhas tias, pelo contrário, afundaram num oceano de péssimas escolhas amorosas que faz-me crer que isso não passa de mais um efeito colateral da idiotia dos homens da família, que as infundiram o mal exemplo.

Até os dez anos morei com cinco das mulheres infelizes que compensavam por bom tempo parte de suas agruras em dispensar amor para a única criança da casa. Morávamos em um enorme apartamento no centro da capital, em frente a uma catedral portentosa, que muito desgostava minha avó pentecostal que me falava do inferno. Minhas duas tias solteironas, minha mãe divorciada, e a Dezi, que trabalhou para a família nas atividades domésticas até se aposentar, não poupavam abraços e mimos comigo. Minha mãe sempre foi uma pessoa dura e defensiva, mas, assim como se pode angariar amor de narrações do inferno que culminavam em maçãs chilenas gigantes, eu retirava de seu amargor de batalhadora solitária para conseguir pagar minha escola e colocar o único bife na mesa de seis lugares em meu prato, nos tempos de recessão, como o seu sentimento incomensurável materno nas sobras de tempo entre o trabalho e a faculdade de Direito. Minhas duas tias tinham a aparência atarantada que a consciência da velocidade incontida do tempo lhes dava. Lembro o quanto eram bonitas, até na maturidade, quando, já morando longe delas, flertei com a tia Marta num ponto de ônibus quando ia para a minha faculdade, e só depois vi, constrangido, que era ela. Mas como ela e minha Tia Tércia, depois que o destino nos retirou do purgatório daquele sombrio apartamento aquecido pelas mais ternas apreensões, cada uma teve uma vida infeliz, maluca; cada uma cedeu à depressão de que jamais dariam conta do que se perdeu para sempre em suas infâncias e elas poderiam, enfim, parar de procurar, porque não iriam achar nunca. Minha tia Tércia dera entrada várias vezes no núcleo do Pronto-Socorro, com hematomas e escoriações múltiplas, até que teve a coragem de dar um basta no marido. E minha tia Marta foi retirada do quarto onde morava por seus outros irmãos, que receberam chamadas dos vizinhos sobre sua franca deterioração mental, suas orações de madrugada sentada na calçada, seu sofrimento pela vergonha de não conseguir parar a rotação das pupilas que o lítio administrado todos os dias causava.

As únicas dessas que suportaram bem seus fardos foram a Dezi, que é uma paraibana de língua dura que nunca deixava nada por menos, que perseguia ladrões que lhe arrancaram a bijuteria do pescoço e os atiravam de cima da bicicleta e lhes deferia chutes nas costelas; a minha avó Mirtes, que me ensinou muito sobre a vida em suas cartas do exílio em Boston; e minha mãe, que, em seu silêncio, em sua aspereza, me deu o que mais tenho de importante, educação e uma noção fundamentada de ser incorruptível. Minha esposa me diz, brincando, que ainda bem que eu fui o único homem que puxou o lado feminino da família, ao que eu cruzo as pernas e lhe tiro as mais deliciosas gargalhadas com minha imitação já clássica de uma mulher afrontosa: "Eu sou mulher, sua coisinha!" Não sou adepto desses dias espetaculosos em que se comemora a compensação por tanto sofrimento, como se isso fosse arrombar anos de martírio apenas pelas propagandas das lojas de perfumes e bolsas. Mas enquanto escrevo isso, são 16:41 da tarde, e minhas outras duas mulheres da minha vida estão para chegar aqui em casa, após uma ausência de uma semana , e não vou me negar, hoje e sempre, de dizer à minha filha e à minha esposa, o quanto, absurdamente, as amo.

Elas e eu

124 comentários:

  1. Grande Charlles! Grande família. Deus os abençoe.

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  2. Charlles,
    você não vai acreditar... Mas... eu (em primeiro lugar, por ser mais velho) e você temos praticamente a MESMA FUÇA... A única diferença é que meus cabelos e barba são grisalhos...

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    1. mais um detalhe: até a covinha do lado esquerdo é semelhante...

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    2. Te acho um cara bem bonito, Ramiro. Já te disse isso antes.Você parece o Hemingway. Eu até os 33, 34, era também muito bonito (não tem pecado reconhecer a própria beleza quando já está distante dela), mas agora a boa vida de casado me deixou corromper, e não acho que chegue à sua idade com essa imagem de lobo do mar com grande provisão capilar por todo o corpo. Mas ainda mantenho meu charme, agora pouco perceptivo senão por mim, e colaborado pelo ângulo da luz no banheiro.

      Em todo caso, certificarei essa história toda com a minha mãe.

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    3. Grande brother Charlles! Cara de "não gosto de fotos, mas essa não posso deixar passar!". E ganhas pontos pela camiseta no lugar de uma camisa.
      Tudo de bom para vocês.

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    4. Como a família respeita bastante minhas idiossincrasias irredimíveis, ninguém se importa mais. Eu só uso camisetas, jeans e tênis, para qualquer ocasião. Queria ser um idealista mais puro nesse ponto, como Hobsbawm que nunca usava jeans por julgar um produto americano imperialista demais.

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  3. Linda família, Charlles.
    Mas ó, que passou?
    O carteiro deixou no portão uma intimação judicial?
    (Risos)
    Paranóia, cara. Acho certo que você não está entre as arrobas arroladas pela ata notarial do Profi.
    Você sempre foi perfeitamente ignorado pela empáfia do Duque de Tulane. O que era e continua sendo coisa boa.
    Já pensou ele passando por aqui para citar Justine do De Sade como argumentação jurídica do seu constrangimento e assédio moral-sexual de menores?

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    1. In box para os três leitores do blog.

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    2. Três? Antes eram quatro =(

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    3. Ei, eu também sou leitor! Apenas como comentador eu sou esporádico. Mas beleza, não me senti excluído não [risos]. Acho que sei do que se trata e entendo perfeitamente. Afinal, canja de galinha...

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  4. Três pontos:

    Primeiro, declaro aqui que a partir de hoje plagiarei sem perdão a sua frase, aquela sobre só começar ler teóricos e cia. se eles conseguirem se comunicar por mímica. Resumiu boa parte do meu desgosto quanto a esses engodos todos.

    Segundo, de Dostoiévski: e bem capaz de você estar certo. Ainda anteontem, no intervalo entre duas aulas minhas (estou trabalhando como professor num curso de inglês, pegando de segunda à sábado), terminei de reler o primeiro volume do Corpo de Baile, do Guimarães Rosa, onde na primeira Sagarana há um personagem chamado Dito e que é como que uma reprodução do Stáriets Zóssima; me vi disposto a perdoar muito do segundo volume, principalmente a parte do julgamento. Recordei a firmeza dos mujiques, a decisão final -- firmeza que é algo de maldade, de ignorância que não tem vítimas coitadas mas sim cúmplices que a disseminam. A brusquidão do veredito está em absoluta concordância com a secura daquelas páginas do julgamento, e é inclusive a conclusão perfeita para ele. Vontade de reler eu já tenho, mas darei uns anos de descanso para os Karamázov.

    Terceiro, esta postagem é belíssima. O momento chama por ela, aliás. Linda família, Charlles.

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    1. Ah: e esse tipo de salto que você fez numa das respostas ao Fabrício (de julgar um problema aparentemente alheio e longínquo, para julgar a si próprio, seu relacionamento com as mulheres do seu dia-a-dia) e que se reflete nessa repostagem é algo que poucos homens fazem.

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    2. Só vou ficando mais curioso para ler o post acima. Não, não o li ainda: passei os olhos pela primeira frase, vi a foto, e logo saquei que era algo para se ler de noite, com calma, descansado, descafeínado, e não nesses intervalinhos miseráveis entre trechos de código-fonte e layouts no Photoshop.

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    3. Uma das coisas que me marcou muito no Zóssima foi a sua advertência quanto às armadilhas do semblante, João. Indispormos-nos com a aparência de alguém, sem o conhecermos, o que ele acredita ser parte do grande mal entre os homens.

      O que a literatura faz com aquele que lê,o mínimo, como diz Canetti, é fazê-lo confrontar dia a dia com a tentativa de sua própria humanidade. "O senhor se acha um gênio?"; Canetti: "Minha luta constante é conseguir ser humano".

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  5. Rapaz, imaginava um Charlles completamente diferente (cadê os óculos? É simplesmente injusto que leia tanto, aos 40, e não tenha nem uma miopiazinha...) Tenho um tio caminhoneiro que nunca leu nada, mas é sua cara.

    Conheço aqui, fisicamente, apenas Arbo, que está em meu face, e Fabrício, que comenta com foto. Crio uma imagem mental de todos os outros, baseado no nome e nos comentários. Luiz é quase careca, João é rechonchudo, Matheus tem o cabelo partido ao meio e Ramiro já sei que é a cara de Hemingway (Sean Connery?) Não consigo imaginar os sotaques...

    Ah, Charlles, sua família é linda!

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    1. Obrigado, Paulo. Interessante isso. Tem pessoas que me imaginam um senhor bem mais velho, mas eu não consigo saber o que esperavam do meu fenótipo. O Luiz, eu acreditava que era um senhor de uns 50 anos, mas é um rapaz com uma alma mais antiga do que sua aparência, cabelos um pouco longos e cavanhaque e ar reservado dos revolucionários progressistas. O Matheus, quando ficar velho, vai ter a cara respeitável de um cientista louco. O João tem a cara de um jovem promissor que investe no mercado de ações. O único que eu jamais vi uma foto, é você.

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    2. Acho que já vi o Luiz numa foto na página duma universidade. O Charlles vi há tempos: acho que no início do blog havia postado uma foto dele sem barba e seu filho. O João Antônio Guerra (mais simples e melhor nome de todos aqui) imagino um moreno soturno, com ar machadiano. arbo imagino com cara de gremista, ou seja, sofredor (dsclp cara)

      Cientista louco E respeitável? Olha, até que não é dos piores fins. hahaha. Mas quando que viste uma foto minha, Charlles?

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    3. Eu já tinha lido esse post, lembro bem da parte inicial das primeiras lembranças. Minha mais remota lembrança: eu andando, ou tentando andar, por sobre um chão (em local aberto, no centro da cidade) desses feitos de pequenas pedrinhas, pequenas lajotas, esqueci o nome disso. Eu andando e olhando pro chão, como fazem as crianças, naquele esforço total e desastrado de equilíbrio. Desconfio que sei o ponto exato da cidade onde isso aconteceu, ali no Largo da Alfândega, perto do Mercado Público. De todo modo, essa reedição do post veio com o mimo da foto; não tem problema eu ser o quinto ou sexto a repetir "Linda família, Charlles!", certo?

      Essa minha foto aqui no sistema do blog é de 2008, na carroceria de uma caminhonete, no meio de uma floresta na Polônia, estávamos indo fazer um pequenique junto de um riacho, numa dessas conferências loucas para as quais a Nat é convidada e eu sempre vou junto de bom grado. Ser casado com uma astrônoma tem essa compensação: eles nunca escolhem lugares óbvios para os seus encontros. A Nat diz que é a foto minha que ela mais gosta, por isso eu a uso sempre aqui nas internets. Hoje em dia eu tô um pouco diferente: cansei de fazer a barba todo dia e deixei ela crescer. O problema é que parece que virou moda os homens usarem barba, não é isso? Detestaria ser confundido com alguém que liga para essas coisas, mas acho que isso não deve acontecer muito não, porque a barba dessa turma é toda cultivadinha, simétrica, acertadinha, e a minha é toda descuidada e irregular. Na real nem é barba, tá mais para um monte de pêlo na cara [risos]. E tem algo que tenho em comum com o Charlles: também não uso óculos, para desconcerto de todos na família, já que todos usam e ninguém lê muita coisa. Curioso.

      Sobre o perfil dos amigos aqui, eu tenho uma confissão a fazer e espero que os envolvidos não se ofendam: eu confundo o Paulo e o Luiz! Não sei bem o motivo, provavelmente o fato de eu ter conhecido já muitos Paulos e Luizes. Sei que um de vocês já morou aqui em Fpolis, certa vez entabulamos uma conversa sobre isso... Acho que foi o Luiz. Não, o Paulo. Não não, o Luiz. Puxa, me desculpem. A vida tá entrando num rumo mais tranquilo agora, daí vou começar a ler sempre os comentários, tentar participar mais, e logo vou deixar de confundi-los. Isso, aliás, é algo que sempre lamentei, não conseguir acompanhar os comentários... Mas devo conseguir a partir de agora (esse ano foi de mudanças radicais). Os comentários aqui são todos ótimos sempre. Gosto de ler até o Matheus com suas diatribes anti-comunistas e esquerdistas [risos]. É um papo que sempre me enfastiou, mas o Mattheus é muito divertido, e daí leio sempre com prazer.

      Bom, vou parar de escrever, para não correr o risco de fazer muitas inimizades [risos].

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    4. Muito bom isso, Fabricio. Os comentários aqui são uma festa. E como a leitura faz naturalmente que se escreva, pense e, em consequência, se viva melhor. Todos os comentaristas aqui mostram um nível de proficiência na escrita bem acima do que se vê em outros blogs e redes sociais, e isso não é metidez da minha parte, mas um fato natural se formos pensar que o interesse que se tem pelo meu blog está diretamente relacionado à alta literatura. Só vem aqui aqueles que se ligam em grandes livros. Por isso há tanta coisa boa nos comentários, o que me dá muita vaidade. Perdoem-me o instante de vaidade. Obrigado a você.

      Matheus, se o cara que vi no facebook não for você, aí var dar um nó na minha cabeça. Um cabeludo simpático com a cara mais nerd possível (no bom sentido). Acho vc e o arbo muitíssimos parecidos. Se conhecem pessoalmente? Ou seriam amigos fervorosos ou inimigos fiéis.

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    5. Errata: em vez de "o que me dá muita vaidade", leia-se: o que me dá muito orgulho (ah!, ironias da moderação quando se fala em escrever bem e se erra na escolha de uma palavra básica. Obrigado pela lição, providência!).

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    6. Não tenho facebook, mas vocês não acreditam haha. Não conheço arbo, mas o provoco constantemente por minha infância futebolística ter sido horrível e necessito de um alvo regular fora da convivência cotidiana hashuhsasu. Acho que seríamos amigos, porém.
      Eu realmente procuro melhorar a forma na qual escrevo aqui, pois o nível é alto, e tentando não arruinar tudo.

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    7. Como eu te respondi por e-mail, Matheus, não devemos MESMO nos levar pelo facebook. Antes de vc me mandar a sua foto hoje, jurava que vc era outro cara completamente diferente. :-)))

      Não tem nada de sentir receio em escrever aqui. O bom é escrever com liberdade, honestidade, e sem muitos pudores. Aprendi muito escrevendo assim lá no blog do Milton, e tem muitos comentários meus lá que extrapolam a cretinice, mas valeram muito para mim. Recebo esporadicamente e-mails de frequentadores deste blog que nunca comentaram, e repito a eles: estejam à vontade. E o blogger dá essa vantagem que a maioria dos outros blogs não dá: a opção do próprio comentarista apagar seu comentário, se este não o satisfaz.

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    8. P.S. FUNDAMENTAL: escrever bem não é, absolutamente, escrever sem erros de gramática. A não ser que vc esteja em algum concurso público, enem ou vestibular. Um erro de português é algo até bastante digno e adstringente, e não me julgo e nem julgo ninguém por isso. Meus textos são leivados de erros de português, alguns deles eu até identifico mais tarde mas não os corrijo. Isso não conspira contra ninguém, basta ver que os maiores escritores de qualquer nacionalidade apresentam erros crassos em seus manuscritos (já pensei em escrever um post sobre isso, e está anotado). E também a graça da juventude acentuada, como é o caso do Matheus, é um mérito e não uma desvantagem.

      Aliás, ferindo a compostura e a ética (ou não, já que o Matheus não me pediu sigilo_ acho), o Matheus em janeiro que vem deixa o Brasil em definitivo, indo morar e estudar na Alemanha. Me processe, Matheus!

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    9. Charlles Maria das Fofocas. Consultarei com minha trupe de advogados de sobrenomes que terminam em "erg" as medidas cabíveis. Já adianto: não precisará pagar em dinheiro, mas em livros e transporte.

      Dizem que Dostoiévski escrevia muita coisa da forma errada, não é? O que mais me incomoda é a falta de atenção: se tivesse revisto uma vez mais aquela frase ou ainda a outra... Libertar-me das amarras, OK. Mas acentuada é a graça ou a juventude? =)

      Pois é, nunca mais vi manifestação da Ana, do Joao Theodoro anarco-capitalista, do Mozart (chegou 'O Outono da Idade Média'?)... cadê vocês?

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    10. Estou aqui, como sempre lendo e aprendendo muito, btw, aprendo mais nos comentários do que propriamente no posts e comentando pouco.

      O livro ainda não chegou, essa semana deve desembarcar pela ilha do reggae.

      Ps: o primeiro comentário desse post foi meu!

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    11. Que bom, Mozart. Ainda aguardo resposta da Saraiva pelo meu Gasset. Tenho que devolver o da puc até amanhã, quando encerra a validade da minha carteira de acesso. ;-(

      Mas... Ilha do Reggae?

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    12. Sim. São Luis do Maranhão. Ou Sarneylândia.

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  6. "até o Matheus" nossa hahaha pelo menos um acha divertido meus rants. Prometo melhorar mais - já conto até cinco e reflito um pouquinho antes de apertar 'publicar'.

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    1. Pô, diatribe é muito mais legal do que rant [risos]. Apesar de que sempre tenho que dar uma conferida para ver se é assim mesmo, "diatribe"... Mas, Alemanha, que maravilha, cara! Dizem que Berlin é hoje a capital da Europa em termos de exposições, eventos musicais, arte contemporânea, etc. Sei lá o sei interesse nisso tudo, e também não sei se é lá na capital que ficarás, mas enfim; desejo-lhe felicidades nessa aventura! Ah, e o alemão, já aprendeu? Um amigo cultiva o sonho de ir viver na Alemanha já faz uns bons dois anos, e durante esse período todo ele tem feito um curso para aprender a língua. Na última vez em que eu o encontrei, coisa de dois meses atrás, perguntei-lhe como estavam os estudos, ao que ele me respondeu que estava indo bem, e que já tinha aprendido cinco palavras e duas frases completas.

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    2. É por aí mesmo haha É possível aprender, sei lá, espanhol e inglês por aqui, estamos cercados por músicas, filmes, temos contacto com essas línguas; alemão não, por mais que faça cursos de duas, três vezes por semana, não achei suficiente; se não tens contacto constante, nunca aprenderás as nuances desse código um pouco mais complicado que o português. Só mesmo por lá (ou no Goethe, mas é pra quem tem grana). Não ficarei em Berlin, mas a Alemanha inteira é demais. Mesmo que não fique nessa cidade que é um grande Kulturzentrum em qualquer outra é possível encontrar uma coisinha que desapareceu por aqui: silêncio.

      Bem, isso até o momento das bombas russas e/ou muçulmanas explodirem, né.

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  7. hahaha.
    tbm não lerei (provavelmente reler) agora o post. vim aos comentários, sabia q a foto e o interdito apareceria nos comentários.
    3 leitores é um abuso de se dizer, tome tenência e veja agora essa caixa de comentários. ok, é uma modéstia e um respeito ao milton, q tem 7.
    Fabrício, eu tbm confundo um pouco Luiz e Paulo... eles têm um TOM muito parecido! O Paulo me soa um pouco mais... sei lá, circunspecto. O Luiz mais leve. O Fabrício me parece um desses rock stars ingleses, alto e magrão. O João vi no face, é magro, Matheus, bem magro... achei q fosse mais guri.
    O Matheus já devo ter visto por Porto Alegre, apesar de não ter certeza q frequente remotamente a Cidade Baixa. hahaha
    Outro dia, pensei q seria legal termos um grupo de whatsapp com algumas regras, como só comentar suscintamente uma boa frase lida, um excerto, etc. Mas certamente a coisa não ficaria por aí e o medo maior seria, de algum modo, esvaziar o blog, ou de posts ou de comentários, o q seria pior q uma lástima.
    Por fim, aproveito para confessar q me sinto um metido aqui. Não li em 31 anos um terço do q o João já deve ter lido, tenho uma memória horrível pra certas coisas, e, principalmente, não tive lá muitas experiências na vida em relação, por exemplo, a trabalho. O charlles já fez de tudo. Eu passei num concurso aos 18 e noutro aos 26 e estamos aí, na Justiça Federal. Mas me esforço para acompanhá-los, e, na frenquência dos eclipses, ou de coisas mais imprevisíveis, talvez às vezes eu acrescente mesmo algo por acá.
    Ah, conto algo q me aconteceu esta semana: um amigo convidou-me pra escrever numa revista eletrônica sobre futebol q deve sair ano q vem. Aceitei, mais pelo desafio e por ter tanta gente q admiro na volta. A ver!
    Abraços!

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    1. Arbo, vc foi um dos primeiros leitores carinhosos e incentivadores deste blog. E que modéstia filha-da-puta essa sua no comentário. Além do que, vc administra um dos blogs sobre futebol mais respeitados aí do sul, o Impedimento.

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    2. Invejo e odeio o João por mostrar minha falta de regularidade. Mas que boa notícia, Rômulo. Tem relação com alguém do eterno Impedimento?

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    3. Seguindo no pensamento do arbo: frequentava um fórum que o pessoal resolveu utilizar outros meios de comunicação, que resultou no fim do próprio fórum. Sempre ocorre dessa maneira. Entretanto, sou mais curioso com a voz de cada um. Skype seria maneiro.

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    4. O Paulo eu imagino de pullover de lã, gola alta até a barba, tomando um cappucino e lendo o The New Yorker numa manhã cinzenta de alguma diáspora . Ele tem 34 anos, óculos de grau de haste escura (ligeiramente quadrados), feições abrasileiradas Selton Mello.
      Matheus pra mim era mulato dos olhos claros. De compostura e roupas sempre muito limpas e bem passadas. Broche da Opus Dei no bolso direito da camisa de mangas (ele sempre usa camisa de mangas). Antevejo ele debruçado sobre a escrevaninha do quarto, contemplando um desses mapa-mundi de parede com pininhos e tachinhas coloridas sobre os lugares que gostaria de ir.
      Certeza que o Arbo tem cabelos grandes revoltos. Sempre imagino o Humberto Gessinger quando tento visualizar ele. Ele tem barba estilo viking, é alto como um viking e fala alto como um viking. No seu escritório o Las Venas Abiertas se acha misturado a edições dos anos 80 da Revista Placar.
      João Antônio Guerra têm bigode hispster e de vez em quando flerta sair de gravata borboleta. Tem a pronúncia de palavras em inglês perfeita, mas deixa puxar de vez em quando os Shh para não deixar esquecer o Baixo Meier. Lê das 11 às 4 da manhã, acorda às 10 para sair pra Universidade. Deve ser sobrinho dos irmãos Campos.
      Fabrício, já disse aqui, é o Dean do Dean's December do Saul Bellow. Certeza que esse cara leu essa novela do Bellow e forjou essa auto-biografia dele baseada no livro.

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    5. Primeira vez que vou escrever tudo em caixa alta, para devida correspondência:

      ROLANDO DE RIR AQUI!!!!!!

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    6. HAHAHA Excelente, Luiz.
      Por ora, nego-me a dizer o que acertaste e o que erraste na minha descrição.

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    7. Luiz, é o contrário: Saul Bellow inspirou-se em nós. É verdade que o livro foi lançado quando eu tinha três anos e a Nat apenas um, mas ora, já aprendemos todos a não duvidar dos poderes sobre o tempo e o espaço desses autores todos, certo?

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    8. gargalhei, principalmente, com a descrição do Paulo.
      tive volumosos cabelos encaracolados durante a baixa juventude (encontro-me na média). uma hora os cachos pararam de crescer, uma pena. mas alto eu nunca fui hahaha. não é a primeira pessoa a me associar ao gessinger, não sei o q pensar sobre.

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  8. Já o Charlles não é a primeira vez que figura aqui a foto dele. Só achava que ele exagerava esse negócio da altura . Outras fotos do arquivo do blog não deixavam parecer esse desproporcionalidade Telecatch dele.
    Imaginava a Dani completamente diferente. Bonita como a Dani real, porém mais Goiana, cabelos meio aloirados e não tão alta. Imaginava-a como uma dessas minhas quinze primas de Anápolis.
    A filhinha de vocês parece muito com os dois. Uma preciosidade! Genética!


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    1. Na linha Alan Pauls, poderia eu intentar um romance chamado "história das cicatrizes". A Dani tem uma linda cicatriz torácica da cirurgia cardíaca, eu tenho cicatrizes pelo rosto de um acidente de automóvel, a Júlia uma mine-cicatriz acima do lábio superior, à esquerda, provinda de uma queda (e não mais, e nunca mais). A Dani é baixinha sim; ela estava com um baita salto agulha.

      Vou aproveitar para falar sobre uma das únicas liberdades poéticas que mantive neste blog. Este blog surgiu para me distrair das tensões sobre o nascimento da Júlia, e menciona ora aqui e ali a meu filho Eric. Aposto que para algum leitor atento, a constante ausência dele levanta suspeitas, mas é que o Eric só existe, por enquanto, em minha imaginação e meus desejos. Já tive outro casamento antes deste, em que perdemos uma gestação de um menino aos 4 meses. E outras coisa a mais. A Dani estava grávida há dois meses, coisa que ia citar aqui no blog, mas perdeu aos quinze dias de gravidez. Nenhum motivo para dramas, não estamos tristes e o médico disse que é absolutamente normal. A causa pode remeter aos anos de anticoncepcionais_ não recomendo a ninguém. O próprio corpo da mulher é um campo de batalha, o que remete aos dois post retirados. Estamos na peleja para engravidarmos; vinhos, luz atmosférica, e um retorno às efusividades do tempo de namoro.

      Mas, desculpem a digressão. Sem drama e estamos bastante felizes.

      Luiz, este seu comentário aí é muitíssimo engraçado.

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    2. Ah... e se eu pudesse escolher o gênero, escolheria mais uma menininha. Ter uma filha é algo inigualável e um aprendizado maravilhoso.

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    3. Com essa revelação de agora esse post vai chegar aos cem comentários.
      Que bom que vocês estão bem.

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    4. Eu já tinha te contado isso por e-mail, se lembra?

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    5. Então a foto era de você com a Julia, mesmo. Sempre fiquei encucado com isso, pois do rosto arteiro dela me lembrava, dele não. Mas com a Graça de Deus ainda o veremos. Ou uma Érica.

      Imaginava a Dani assim, mas usando jeans e camiseta branca, segurando uma vassoura numa mão e a Júlia na outra, batendo na porta do refúgio com o joelho e dizendo "escuta, quando tiver um tempinho livre, me ajuda aqui com os afazeres". =)

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    6. Ah, outra coisa ainda. Eu topo o grupo de Whatsapp. Mas lembro que o Charlles travou com uma simples menção de skype numa conversa nossa do passado.
      (e já sei que o Charlles tem smartphone)

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    7. Poxa Charllie, até minha mãe tem Skype. Qualquer coisa, hangout fechado.

      Whatsapp: agora que meu celular quebrou cês vem com essa ideia.

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    8. A questão é que sou um homem das letras (ah-ham!) e evito cair em vícios cibernéticos. Sou um cara que para tudo diante um mexerico_ assumo isso, e sempre me comparo a Proust nesse sentido_, tanto que a história do professor inominável me travou a semana toda. Não fiz mais nada nas horas livres além de ficar vendo as fofocas sobre o assunto. Se eu me ligar em Skype e Whatsapp, tô ferrado.

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    9. Skype e Whatsapp são menos viciantes, tu precisas de um outro para fazer alguma coisa. Fuçar coisas sozinho na internet vicia e tira muito mais tempo do cidadão.
      Mas a verdade é que temes não resistir e acabe fazendo a por mais de uma vez mencionada imitação de bichinha para nós e fiquemos coçando a cabeça, admirados pela naturalidade e leveza que, ãh, representas...

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    10. Este comentário foi removido pelo autor.

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    11. Hahahaha.
      Que sujeito mais desconfiado esse Matheus. Daria um ótimo Marxista com essa sua eterna hermenêutica de suspeição.
      O comentário, cheio de erros de português, dizia mais ou menos assim,
      "Era de se esperar essas tergiversações do Charlles. Há que se respeitar esse lado mezzo Salinger do nosso amigo."

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  9. Ahh, e quando lanço o meu olho gordo sobre a vida de alguns de vocês imagino o meu alter-ego entre a vida Faulkeriana do Charlles, mas com rápido acesso a um aeroporto internacional. Viajando a Praga e a Polônia como o Fabrício, sempre meio anonimamente e sem registrar nada em redes sociais, e voltando de um fim-de-semana desses no Velho Mundo para a paz de uma mesa de escrever sob um jequitibá de uma casa de portões verdes que dá de frente para uma pracinha com coreto.
    Ou seja, invejo a vidinha entre o deslumbre e a misantropia de um Tom Ripley da Patricia Highsmith. Pobre de mim.

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  10. Oi, acabei de ler um comentário seu ao post do Milton Campos sobre o caso Idelber e não consegui postar lá. Por isso vim aqui. Bom, pois aí conheci seu site super . Li este post e um sobre o Le Clezio. Ambos absolutamente inteligente e sensíveis. (As mulheres aí de cima tem sorte!) Mas queria mesmo te parabenizar pelo dito lá. Acho que redimiste boa parte da culpa no caso do coronel...

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    1. Que massa ver a Gláucia aqui, minha professora naqueles cursos sobre Hegel. Aliás, Gláucia, naquele tempo te apontei um post daqui, sobre o Safatle, não sei se irá lembrar. Esse blog aqui é daqueles de favoritar. E, charlles, não tenho motivos para puxar o saco, trata-se apenas de reconhecimento: a Gláucia foi a melhor professora que conheci na Economia da UFRGS. Tomara q venha a comentar outros posts,

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  11. Aliás, Charlles, quando disse, ali em cima, que aprendo mais nos comentários do que nos suas postagens, pode ter soado um pouco desrespeitoso e de qualquer maneira, você mostra ser um homem que não se ofende com qualquer bobagem, mas é sempre bom deixar claro.

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  12. Olha o homem e suas colunas espirituais!

    Parabéns, meu caro!

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  13. Outra coisa: sua filha é muito bonita!

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  14. Charlles,
    Achei a República de Platão comentada e traduzida por Alan Bloom num sebo.
    Compro ou não compro?

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  15. Preciso só fazer uma correção. Não administrei o Impedimento, fui apenas um devoto torcedor, q apenas colaborou em alguns projetos e eventualmente escreveu uns textos. Sou muito amigo dos caras, isso sim.

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  16. Acabou que a caixa de comentários dessa postagem tá como um abraço coletivo. Rindo muito das descrições que o Luiz (principalmente a do Luiz, que depois de ler ela até eu fiquei com vontade de me socar, entre gargalhadas), o Paulo, o Matheus e o Charlles fizeram de mim. Como o Arbo falou, eu sou magro, bem bem bem magro; no mais, não sou alto, e sou bem branco. Mercado de ações, Charlles? Eu sou o cara mais atrapalhado do mundo!

    Há uns anos, procurei e achei uma foto do Ramiro na internet, ou ao menos uma foto que eu achava que era do Ramiro. Passou o tempo, e com o lançamento do Quixote conheci o rosto do Ernani Ssó, e acabei confundindo tudo: quando lembro do Ramiro, imagino ele com a cara do Ssó, apesar dos dois serem de personalidades extremamente diferentes. Estudei numa escola interna com alunos do país inteiro, e lá era muito fácil distinguir os gaúchos, daí deu que o Arbo não é muito diferente do que eu imaginava, e imagino o Matheus parecido também. Agora, o Luiz e o Charlles e o saudoso Marcos Nunes eu imaginava parecidos com uns escritores: o Luiz com uma versão menos uva-passa do Isaac Singer, por causa de sua cadeira de estudos judaicos (é, as correlações são bem primárias, mas inevitáveis dentro da minha mente); o Charlles com o Thomas Wolfe, por causa da estória da altura (Wolfe era tão alto que escrevia sobre o topo da geladeira); e porque li uma vez que o Marcos Nunes gostava de Graciliano Ramos (foi uma ocasião notável porque ele sempre descia o braço em qualquer escritor, mas falando sobre o Graça deixou a causticidade de lado), passei a imaginar que os dois fossem parecidos, baixinhos e com um quê de ETs.

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    1. Comecei a ler o blog acho que com a Júlia já nascidinha, e lembro de menções a um filho menino, sim, mas nunca me liguei muito nelas. Tenho um irmão mais novo, e só, mas éramos para ser quatro: minha mãe perdeu meu irmão mais velho durante a gestação, e o parto do meu irmão mais novo foi complicadíssimo, seria um parto de gêmeos, mas a menininha morreu. São coisas ruins e que acontecem comumente. Torço aqui pela felicidade de vocês.

      Sobre meu ritmo de leitura, é uma estória estranha e longa. Desde criança, minha família viu em mim problemas óbvios, que às vezes diziam ser problemas de atenção e às vezes de hiperatividade. Já escrevi em algum comentário as turbulências por que passei na minha infância, com meu pai indo embora e deixando a família numa situação complicada (ele deu um golpe no Seasa junto com seu pai, e minha mãe foi instruída pela polícia a deixar o estado pela minha segurança e a do meu irmão, que tínhamos 4 e 1 anos); no meio disso tudo ninguém nunca nem pensou em me levar em médicos para checar se eu realmente tinha algum problema -- e, por causa da facilidade que psicanalhas têm de meter pílulas boca adentro de crianças, acho que isso foi muito bom.

      Eu não ficava parado nunca, e nada me mantinha atento por mais de alguns minutos, nem brincadeiras nem brinquedos nem tv nem nada, mas com o tempo eu fui ficando mais calmo, e lá pelos dez-doze anos descobriram que eu gostava de ler -- só fracassaram em me deixar parado: ainda hoje eu leio de pé e andando, e em voz alta quando são versos (antes, era sempre em voz alta, mas depois que comecei a dar aulas a garganta foi se cansando demais e agora me forço a ler prosa calado). Também escrevo de pé; sou incapaz de ver filmes em salas de cinema, e só consigo apreciar cinema tendo a capacidade de pausar, ver o filme todo em trechos (este domingo eu fui ver Interstellar do Christopher Nolan, e nisso demorei mais que o dobro da duração do filme, comecei vendo enquanto almoçava e só fui terminar pouco antes de escurecer, e pausei tantas vezes que avancei muito no Graça Infinita que comprei); música é algo que eu gosto muito, mas é difícil apenas estar e ouvir música.

      Estranhamente, há exceções tanto em cinema quanto música. Fico hipnotizado com Bergman e Tarkovski, que são "paradões", justamente o que diriam ser o meu extremo oposto, e este ano descobri Jodorowsky e vi tudo baixável do homem num dia só. Em música há bem mais exceções, mas a mais importante é Mahler: muito do meu amor a Mahler veio depois da primeira audição, quando constatei que o desgraçado me manteve encantado e deitado por uma hora inteira com a sua 9ª.

      Enfim, um monte de coisa estranha. Tentando resumir: amo poesia, mas praticamente um incapaz em qualquer outra coisa.

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    2. Fechando:

      Primeiro, boa sorte na Alemanhã, Matheus!

      Segundo, ô , Luiz, Baixo-Méier é sacanagem :)

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    3. Vi muitos pontos em comum comigo aí neste seu relato, João. Não vou me alongar muito, por enquanto, pois tenho que levar minha filha à biblioteca municipal, ela que não para de pedir para ir lá ver as tias, as funcionárias. Compramos dois vestidos para o natal para ela, e agora mesmo enquanto escrevo escuto a Dani e ela discutindo no quarto porque a Júlia quer ir à biblioteca com um dos vestidos, e a mãe tenta dissuadir ela em troca de vestir algo menos especial, mas a Júlia não cede e a Dani a chama de "Charllene", em referência ao que ela diz de meu temperamento forte (agora mesmo a confusão se avulta). Está chovendo, e eu ficarei do lado de fora da biblioteca, no carro, lendo Plataforma, romance o qual, até agora, beirando a página 100, tem sido um tédio infinito, um Paulo Coelho voltado para a afronta gratuita (Houellebecq não falta xingar ninguém nesse livro; apelativo e chato). Lembra um Murakami em sua prosa esquemática e polida ao extremo para ser comercial. Bastante diferente do excepcional Partículas elementares. Mas vai que o livro fica melhor nos 3/4 finais.

      Graça infinita me foi mandado pela Cia das letras; ainda não chegou.

      Ri muito com esse comentário do Luiz. Uma farra.

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    4. Acho que eu fiquei um charme ao comentar com essa estampa de Charles Dickens. Dá uma autoridade...

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    5. Estou esperando o meu exemplar de "Graça infinita" também.

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    6. Não gosto do Houellebecq não. Nem dele nem do Jonathan Littell, que também tinha virado uma sensação faz uns anos atrás.

      O único francês recente que me encantou foi o Le Clézio -- mas vamos combinar que ele não é o mais francês dos franceses, traz influências africanas consigo, coisa inaceitável para a xenofobia francesa. Antes dele, só tem os antigos.

      Do Houellebecq li o Partículas Elementares e O Mapa e o Território, mas forçando a leitura pra frente. Não tenho interesse em ler mais nenhum romance dele, mas descobri que ele tem um livro sobre Lovecraft, o que é algo um pouco difícil de se imaginar, e fiquei com vontade de ler.

      Quanto ao Graça Infinita: amei e odiei o trabalho da capa. Explico: vendo as fotos, achava que aquelas lombadas em laranja, com o nome do DFW e do romance, eram de uma caixinha ou algo do tipo; descobri na entrega que são as arestas das páginas que são coloridas, à maneira das edições do Zuckerman e dos contos do Onetti da Cia. O trabalho é todo muito bonito, mas eu me sinto sob holofotes quando leio fora de casa.

      De qualquer maneira, decidi pausar a leitura esta semana. Retomo quarta que vem, quando já não terei mais as interrupções do trabalho. Esse livro dá uma vontade enorme de listar personagens, procurar mapas, mesmo desenhar e etc. David Foster Wallace é um bom aluno de Pynchon nesse sentido.

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    7. Achei o Partículas elementares muito bom. Há algo de genuinamente inóspito nele. Mas Plataforma é decepcionante. Acabei-o ontem. É literatura fast-food, literatura processada, corantizada, feita à moda do cliente. Não me enganou. Comprei meu volume de segunda mão, via Estante Virtual. Reclamei no site porque meu exemplar veio todo sublinhado, rabiscado e anotado, e eles não haviam colocado esses detalhes na apresentação do livro. Mas foi bom para saber o que um leitor protótipo de Houellebecq quer: estava sublinhado cada nome de hotel, estava sublinhado tudo, de cabo a rabo. Menos,para meu espanto, as páginas 315-316, que são as únicas que oferecem um suspiro espiritual. Daí eu peguei uma caneta e escrevi no canto destas páginas: "as únicas páginas que o idiota anterior a este que agora lê deveria ter sublinhado, e não o fez".

      Plataforma é ruim, cansativo, sem propósito. Tem tudo de ruim em um romance: os personagens são unidimensionais, a prosa é pateticamente simples, e o número de páginas é o triplo do que deveria ser. E a mensagem do livro é torpe e rasa: os hedonistas estoicos e imaculados de tanta luxúria do primeiro mundo,não tem direito à paz nem no intercurso de uma parca mas honesta distribuição de rendas através da prostituição nos países pobres. Chega a ser constrangedor que algo feito com tanta previsibilidade sintética chegue a vender tanto. Neste livro, Michel Houellebecq é o oposto simétrico do Paulo Coelho. Não dá nem para fazer uma resenha.

      Mas gostei muitíssimo do Partículas, e hoje me chegou O mapa e o território, que já comecei a ler. Tenho uma queda por produtos processados. Sempre que vou à capital, tenho que passar no Burger King.

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    8. Também achei maior do que deveria ser. Plataforma já atravessou o oceano, então não posso verificar o que há nas páginas 315 e 316 - poderias dizer?

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    9. Muito dessa minha má impressão vem de ter lido Plataforma em uma época em que me dedico muito a ler Musil e Dostoiévski. Por mais que se eufemize as intenções subliminares de Houellebecq, é inegável que o ponto de vista dele toca em muito a de um eugenista. As putas do livro são todas felizes e perfeitamente satisfeitas em saciar o macho ocidental, as mulheres do livro são ninfas amorais e ultra-compreensivas. Não há nenhuma menção a uma visão diferente, que expresse o mínimo sequer sobre a consciência da opressão, sobre repúdio ao sexo. No fundo, Houellebecq é ingênuo.

      As páginas das quais falo são as que fala que gente como ele, o narrador, são a declaração do fim da espécie e da história, uma vez que não produzem nada, blablabla.

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    10. Sim, sim.
      Repúdio ao sexo em Houellebecq... hum... em Extensão do Domínio da Luta encontramos um personagem secundário que é repudiado pelas mulheres (é, não é o repúdio que estavas referindo), e ele mente (mas mente muito), e ele tenta, sempre tenta alguma impossível conquista, até que, numa viagem que fazem juntos, ele tenta pela última vez numa boate, e falha, e então o demônio se revela e fala palavras duríssimas (eu fiquei com PENA) ao sexualmente fracassado, a fim de colocar para fora todo seu ressentimento, seu ódio para com as mulheres e os outros homens...

      Quer saber? Esse é seu melhor livro junto de Partículas. Curto, sem enrolações como em Plataforma, é amargo do início ao fim mas tem um porquê.

      Ah, eugenia: está voltando com força. Com outro nome: HBD (human biodiversity) . Em dez anos voltará a ter um papel de destaque nas academias. Pode anotar.

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  17. Bom. Espero não ter ofendido ninguém. :)
    Tenho o maior respeito pelos comentaristas frequentes do Blog e uma enorme admiração pelos traços da personalidade de cada um que se fazem adivinhar, ou que, como o João, eu mesmo invento. :)
    Adorei ser o Bashevis Singer do blog.
    Minhas feições são na verdade mais Sepharditas. Algo assim mais próximo das sobrancelhas grossas e da barba espessa do Roth. Seria mais facilmente confundido com um Palestino do que com um judeu de olhos claros do leste Europeu.

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  18. Numa das semanas mais divertidas do blog (logo, da internet) no ano, passo cinco dias sem poder me conectar...

    Não acho meu estilo parecido com o de Luiz. Eu jamais escreveria a saborosa frase trilíngue "Cosanostra é bem passé composé". Hehehehe. (Acabei de ver duas temporadas de The Killing e fui atrás do comentário dele que me fez colocar a série em minha lista).

    Luiz errou em quase tudo sobre minha aparência. Moro no meio da Bahia, um lugar notoriamente quente, ainda por cima no sertão, um calor dos infernos; quando não estou dando aula estou lendo, traduzindo, etc. na minha biblioteca de 2 metros cúbicos, logo, uso apenas um shortinho de bater baba em grande parte do dia e sempre faço a barba quando me lembro. Portanto, ainda que eu esteja arrancando os cabelos pra traduzir textos sobre samba pro inglês, com dois dias de prazo, a impressão que fica para os vizinhos é que eu estou aqui vagabundeando. No mais, tenho 28 anos, óculos parafusados e só comecei a beber café depois que meu filho nasceu, ano passado. Mês que vem minha outra filha nasce, e devo aprender a FAZER café.

    Sobre a New Yorker, está certo, se estava se referindo aos textos online. Sempre leio quando estou comendo. Charlles, qualquer dia eu mando uma foto dos meus tempos de juventude...

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    1. hehehe
      q beleza. achava q o Paulo estava entre os 40-50.

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    2. The Killing é extramamente viciante, Paulo. A estória de crime mais sombria da televisão. Também segui o conselho de vocês e baixei o True Detective. Muito bom! Um pouco sem tempo para terminar de assistir toda ela. Mas dezembro vai se assomando aí.
      Sobre o seu retrato falado, só posso dizer que a sua persona literária não bate com o Paulo de short de bater "baba." Sensacional! :)
      Como o arbo também te imaginava mais velho. Na meiuca dos 30.
      Quantos anos você tem, arbo?

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    3. É por isso que eu adoro o blog do Charlie! Deram uma passada na Pantera Negra do Feminismo e viram lá o estado da caixa de comentários?
      A turma aqui é muito boa!
      O blog Charlles Campos é uma instituição da cultura brasileira!

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    4. Ó, Luiz: baixarei esse The Killing. Vamu vê coé. Hannibal já era.
      Quem é essa pantera? Lola? A caixa de comentários dela é uma fauna mesmo: antas, jararacas, veados, bois, hienas... tem de tudo!

      Oprimindo os brasileirinhos pobres (um tanto envergonhado, é verdade) enquanto comia a refeição mais imperialista de todas n'algum ponto do Velho Mundo: http://oi62.tinypic.com/144cwgh.jpg

      Adeus, internet.

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    5. The Killing é mesmo muito soturna. Ela me lembra muito Twin Peaks, True Detective e até algo de Six Feet Under. As duas primeiras também por causa do ambiente, todos aqueles pântanos e lagoas cheias de névoa, só que com a chuvinha insistente que, cara, me dá uma agonia. Até as cinzentas transições de cena de The Killing me trazem certo incômodo.

      Sobre o short de bater baba, não só o uso como também jogo futebol de salão nas noites de quinta. Creio ser o melhor da casta dos perebas, mas minhas limitações físicas não me permitem evoluir muito. Fiquei um ano e meio parado por causa de meu joelho bichado, e só voltei há algumas semanas. Minha persona ludopédica também não bate muito com a apresentada aqui no blog, apesar de às vezes papear sobre livros no meio das partidas com primos leitores de coisas como Kundera e Jared Diamond.

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    6. Eu tenho 31, Luiz.

      Olha, o Matheus postou a foto dele. MANHATTAN CONNECTION FACE.

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    7. Projeto de vida: substituir Diogo Mainardi no Manhattan (de Paulo Francis para Mainardi, prosseguindo comigo. Que DINASTIA haushuasa). Melhor emprego tem esse cara: mora em Veneza, escreve de vez em quando, e aparece na televisão uma vez por semana, durante uma hora, para detonar a tudo e todos.

      Alô, Globo. Deixa-me no lugar do modelinho ridículo para rebater o filisteu esquerdista.

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  19. NÃO ESQUEÇA DO ANTES
    by Ramiro Conceição
    *
    *
    *
    Sim, sei, seria bom se neste instante, a amar, eu estivesse… Mas nem tudo é bom… E isso não quer dizer que seja mau… A vida são conjunturas!: às vezes resta somente a difícil adaptação ao possível que não necessariamente é o mais prazeroso. Nessas condições, o importante é não perder o norte conquistado antes, que nos moveu à frente, com inocência, quando das escuras distâncias…

    Mas… Seria tão bom… Se eu estivesse a amar…

    (Ora, ora, ora… Chega de autocomiseração!... O amor que se aprendeu continua a resplandecer…: não esqueça dos caminhos e dos silêncios prediletos, sob o sol…; não esqueça das dúvidas dos filhos a exigir a presença contínua até quando for possível…; não esqueça dos amigos…; não esqueça dos livros a ler…; não esqueça dos sonhos que elucidarão as coisas que parecem não ter pé e nem cabeça…; não esqueça que talvez um desconhecido amor esteja a florescer…; e principalmente não esqueça que, antes da barriga da mãe, toda a gente esteve na barriga de um esperançoso teto repleto de lâmpadas…).


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  20. Parabéns pela bela família, Charlles. Estou lendo Ressurreição...

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  21. Vou querer de Natal um post de fim de ano. Troco pela edição bilingue da República de Platão traduzida pelo Bloom, Charlie.
    Ah, e gostaria de tirar o Matheus de amigo oculto!

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    1. Hahaha esse Luiz. Que queres dar?
      Queremos post antes de 2015, Dom Carlito de Los Campos Goyanos.

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    2. Sem tempo, Luiz. Guenta firme. :-)

      Fui à Fnarc e fiz um limpa lá. Por influências reconhecíveis, comprei Segundos fora, por 11,90; Philip K. Dick (que eu disse ao Ssó ser chato sem realmente jamais tê-lo lido),"Valis" e "Ubik"; William Burroughs, "Junk"; "Noites brancas", na edição da 34. Além do blue-ray dos 30 anos de "O sentido da vida", do Python.

      Não achei os dois que eu fui na intenção de comprar, em lugar algum: "Vida e destino", e "O homem que amava cachorros".

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    3. Segundos Fora me foi uma grande experiência. Acabei de comprar o outro de Kohan, Ciências Morais, por uma bagatela dessas (ah, comprei Mason e Dixon por R$26).

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  22. Não sei, Matheus! Se fosse um daqueles amigos ocultos de provocação eu te daria os Cadernos da Prisão do Gramsci.
    Mas eu ía me divertir mesmo na parte da descrição do meu amigo oculto.

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    1. Comprei a série Hatfields and McCoys para meu pai e As Ideias do Papa Francisco para minha mãe. Para mim, comprei Bandeira, Camões (e já havia comprado Ratzinger, Girard, Bernanos... últimas compras no Bananão). Gramsci? Aceito. É preciso estudar o inimigo.

      ===∧_∧ 
      ==(。・ω・。)
      ==(o��o)
      === ∪∪

      Meu amigo secreto amansa cor- ah não, pera ai, errei de blog.

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  23. Meu pai, cheio de espírito natalino, surpreendeu-me ao dizer 'Matheus, te dou um limite de cem reais pra comprar algo de natal nessa internet, aí'. PRA QUÊ.
    História da Vida Privada - Volume 1, de Paul Veyne; Antologia da Literatura Fantástica, Borges; Tudo que Vi e Vivi, Rosane Malta (fofocas sobre o presidente macumbeiro, claro que quero ler).

    Obrigado, Amazon.

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  24. A todos desse blog, benignas festividades…


    ALFA DO CENTAURO
    by Ramiro Conceição

    A primavera do contentamento
    converteu-se agora em outono
    debaixo da lua fria da nossa história.
    Os pássaros que outrora enfeitavam
    agora quietos adormecem à janela.
    E a música que acalentava sonhos
    agora virou a insônia de tormentos.

    As nossas gargalhadas compridas,
    as nossas juras… ensandecidas,
    a nossa inocência bendita, agora,
    são cicatrizes em nossos sorrisos.
    Agora, ao invés do entrelaçamento de nossos braços
    ao enfrentamento de qualquer um de nossos horrores,
    há somente nós… Seres incompletos… E separados.

    Porém em nós, os construtores dum jogo amoroso
    não restrito a nós, mas ao mundo em que vivemos;
    em nós, os exilados, os tradutores do fogo sagrado
    e, ao mesmo tempo, tão orgulhosos, tão avarentos,
    gulosos, irados, luxuriosos, invejosos e preguiçosos;
    ainda assim em nós, por mentira que pareça, nascem
    as libélulas metálicas de nosso retorno à Alfa do Centauro.

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    1. Aos amigos do blog, desejo um ótimo natal. Programei um post para hoje, mas meu note parou de funcionar ontem. Vou levá-lo na sexta para ver se tem conserto. Por hora, só no celular, o que é uma barra digitar. Um forte abraço em todos.

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  25. Natal

    Jesus nasceu! Na abóbada infinita
    Soam cânticos vivos de alegria;
    E toda a vida universal palpita
    Dentro daquela pobre estrebaria ...
    Não houve sedas, nem cetins, nem rendas
    No berço humilde em que nasceu Jesus ...
    Mas os pobres trouxeram oferendas
    Para quem tinha de morrer na Cruz.
    Sobre a palha, risonho, e iluminado
    Pelo luar dos olhos de Maria,
    Vede o Menino-Deus, que está cercado
    Dos animais da pobre estrebaria.
    Não nasceu entre pompas reluzentes;
    Na humildade e na paz deste lugar,
    Assim que abriu os olhos inocentes,
    Foi para os pobres seu primeiros olhar.
    No entanto, os reis da terra, pecadores,
    Seguindo a estrela que ao presépio os guia.
    Vêem cobrir de perfumes e de flores
    O chão daquela pobre estrebaria.
    Sobrem hinos de amor ao céu profundo;
    Homens, Jesus nasceu ! Natal ! Natal !
    Sobre esta palha está quem salva o mundo,
    Quem ama os fracos, quem perdoa o Mal !
    Natal ! Natal ! Em toda Natureza
    Há sorrisos e cantos, neste dia ...
    Salve, Deus da Humildade e da Pobreza,
    Nascido numa pobre estrebaria !

    Obrigado, Olavo Bilac.

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  26. Depos de Shakespeare,
    depois de Bilac, disse a
    poesia:


    SONHO DE UM CADÁVER
    by Ramiro Conceição

    Quando teu olhar vestiu-me, soube
    que não poderia mais... despir-me.
    Foi qual um mar a batizar-me,
    a dar-me um verdadeiro nome.
    Agora padeço de uma sina:
    te perder na curva de uma esquina
    e tornar-me o sonho de um cadáver
    que dorme... quando a alma some.


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  27. Feliz Natal, Charlles! Desejo saúde e felicidades para a sua família e um mundo de ilimitado de literatura para você!

    Senti falta de um texto seu pela ocasião da data comemorada.

    Abração!

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    1. Obrigado, Carlinus. Como eu disse, meu computador deu pau, por isso a ausência de post. Talvez seja a hora de adquirir outro amanhã. Saúde e tudo de bom para você e os seus.

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  28. VALIS, de Philip K Dick, que eu li de um só fôlego na madrugada do dia 25 e durante a manhã e a tarde, é assustador, belíssimo, muito engraçado. Ao lado de Musil, Ruído branco e Moby Dick, constitui a melhor leitura de 2014. É um desses romances que esgotam todas as expectativas que ele mesmo levanta na primeira página. Assim que tiver meu computador em mãos, pretendo escrever sobre ele.

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    1. Do Philip K. Dick, li o Do androids dream of electric sheep? quanto tava no ensino médio ainda, depois de ter visto o filme e gostado. Não lembro nadinha do livro, passou batido. Da ficção científica, quem eu lia direto era o Asimov, mas perdi o gosto.

      Dei uma googleada aqui e vi que o VALIS é considerado um livro muito diferente do resto da obra do PKD. Tendo uma grana sobrando (finalmente comprei o Avalovara do Osman Lins, que te recomendo com força na esperança de que adicione mais um brasileiro aí na lista dos teus amados) eu pego e leio.

      Charlles, se um dia puder, arranje o Dhalgren do Samuel R. Delany. Encaixam ele na ficção científica, mas ele tá mais prum exercício pynchonesco do que isso; no caso do livro baixar a cabeça e se acomodar na gavetinha da ficção científica, seria o melhor lá de dentro, incomparável. Foi uma das minhas melhores descobertas deste ano.

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    2. E é claro, bom fim de ano aí pra você, pro Luiz, pro Matheus, pro Arbo, Ramiro, Cassionei, Fabricio, Paulo, Carlino, nhá, todo mundo, inclusive os fantasmas que não comentaram nada -- ainda!

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    3. E O Mapa e o Território, Charlles? Pergunta de curioso.

      Boas festas a todos!

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    4. Obrigado, João Antonio, pra você também.

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    5. Matheus, um romance de houellebecq sem sexo! Tem muita coisa interessante nele. Ainda ñ sei como digerir aquele lance da parte final, se uma vaidade gratuita do autor para deixar a narrativa morosa mais apimentada, á lá patrivia cornell, ou se uma exploração filosófica legítima. Uma coisa diz em grave disfavor contra o livro, o fato de ser desperdiçado um dos poucos personagens de houel com profundidade, o policial com oligoespermia, que simplesmente é retirado de cena por uma aposentadoria. As primeiras 150 paginas são muito tediosas, e fica difícil ñ evidenciar que houel é meio vazio, a procura de um foco. E difícil ñ ver que houel é um produto de nossa época desinteressante. Suas críticas ao funcionalizar a discrição de produtos modernos como os carros da audi, no intuito de mostrar o vazio determinista do glamour, são muito pobres. Gerou processos por plágio contra ele, por ter copia manuais técnicos. O cara pretende escrever uma condenação sutil, mas o que fica é algo bem por cima do muro. Gente igual o kelvin falcão dizer q é uma obra prima, ressalta aquela babaçao de ovo em cima dos autores moderninhos.

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    6. Desconsidere os erros de digitação em um micro teclado, pf.

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    7. Valis é tão bom quanto o leilão do lote 49. Mistura de pynchon com william blake. Fiquei realmente fascinado. Ñ entendo porque gente como os irmãos coen ñ o filmou ainda. Se os outros livros dele, q já encomendei para pagar com a férias de janeiro, forem tão bons, ñ hesitaria em dizer q ele é um dos maiores escritores americanos.

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    8. Curioso, consegui VALIS pro meu kindle. Fui na intenção só de dar uma provadinha nas primeiras páginas, e terminei o primeiro capítulo certo de que o livro será o próximo da minha lista. A narração, aquele truque da narração em que o narrador e o protagonista são e não são a mesmíssima pessoa, o mesmo método lá do Dom Casmurro -- gostei bastante. Acho que termino o DFW antes do ano novo -- vai depender do quão rápido eu faço as preparações aqui em casa, que a família é muito grande mas só eu e minha mãe temos paciência pra arrumar tudo --, e aí começo o VALIS.

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    9. O meu graça infinita ainda ñ chegou. 4 semanas de espera. Comprei o livro de ensaios da virginia woolf lançado pela cosac para um amigo, da amazon, faz 3 semanas, e nada.

      Para quem gosta dos python, nos extras do blue ray de o sentido da vida há um vídeo de uma hora em que eles conversam entre eles, feito no ano passado. Impagável!

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    10. Engraçado, eu me surpreendi com a rapidez da entrega de algumas coisas que comprei não faz nem três semanas. Comprei um Le Clézio pro meu irmão de presente, via Cosac Naif, e outras para mim via Livraria Cultura. Tava preparado pra só receber em janeiro ou sei lá quando, mas já veio tudo.

      Charlles, tem um monte de filme baseado em livros do Philip Dick... A maioria é cinemão comercial americano (e muitas vezes nem ficamos sabendo que tem o nome do Dick na origem), mas alguns são bons. Por exemplo, aquele "O Vingador do Futuro", com o Schwarzenegger, filme lá ainda dos anos 90, é baseado em livro dele, e é bem bom! (Quero dizer, naquela época em que eu vi o filme eu gostei bastante, e até fiquei curioso para revê-lo agora.)

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  29. Ah, é claro. No ano passado eu tinha mandado um Papai Noel Faulkner. Este ano, tô atrasado, mas toma aqui outro Bom Velhinho: https://flavorwire.files.wordpress.com/2013/12/ernest-hemingway1.jpg

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  30. Feliz ano novo para todos! Um 2015 muito bom, ou muito ótimo, ou muito fantástico, enfim, ao gosto do cliente. Charlles, li ontem a primeira metade do Jakob Von Gunten, hoje espero terminar. O livro é o que você me escreveu. Estou muito curioso para saber o que se passará no Instituto Benjamenta nesta parte final.

    Anotei aqui a dica do Valis; minha esposa adora ficção-científica, acho que vou presenteá-la com este então (não passamos o natal juntos, infelizmente). Se bem que temos aqui o Ubik, e se eu não me engano, ela não caiu de amores pelo livro. Aliás, ela tem falado em um autor chamado César Aira. Alguém conhece e me recomenda um título dele?

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    1. Terminei o ubik. Ñ é um livro q agrada todo mundo. O início é propositalmente confuso, e eu só fui passar a entender após a página 100. Mas trata-se de uma artimanha bem bolada do dick. No final, gostei muito. A times o colocou entre os 100 maiores livros em inglês do século passado. Valis ñ é bem ficção científica. Esse filme é ótimo. A refilmagem é horrível.

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  31. http://cdn.theatlantic.com/static/mt/assets/science/assets_c/2013/08/kerouacplaque-thumb-570x437-128999.jpg

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    1. Que história puta interessante. Kerouac e Burroughs saindo no tapa por conta da coloção da vírgula.
      Sinto saudade desse mundo onde a colocação correta da vírgula é motivo para ir às vias de fato na rua e parar na delegacia.
      Gostaria de dormir no último dia de 2014 e acordar em 1968.
      Feliz 1968 a todos!

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    2. Mas gente, o Doctor Sax foi publicado em 59, e aí na placa diz que o caso aconteceu em 68. Eu não lembro do Burroughs ter um personagem no Doctor Sax não, e nem de uma passagem contando esse caso. Deve ser mentira-de-internet -- mas como eu não queria que fosse mentira! A estória é sensacional, e só tropeça no fato de que seria simplesmente impossível o Burroughs aguentar umas porradas do Kerouac :)

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    3. http://www.lowellsun.com/todaysheadlines/ci_23875288/revisionist-history-plaque-kerouac-stirs-angst-and-amusement

      Jajaja que demais =D

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    4. Opa: http://www.theatlantic.com/technology/archive/2013/08/facebook-fauxlore-kerouac-burroughs-and-a-fight-over-the-oxford-comma-that-never-was/278452/?single_page=true

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