quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Uma Comunidade Anônima de Leitores



Sempre que me cai nas mãos um dos generosos livros de bolso da L&PM tenho a aquecedora impressão de que faço parte de uma imensa multidão de leitores. A cada semana compro um ou dois desses livrinhos que foram feitos com a doce ardilosidade de serem propositadamente tratados com leve desdem. São o que equivaleriam às moedinhas de troco no mercado editorial. São mais de mil títulos, por preços que variam de 5 a 50 reais, sendo que a grande média é de volumes que custam em torno de 15 reais. Todo leitor sabe que um livro por esse preço é um prodígio, ainda mais tendo em consideração que o conteúdo da L&PM é de primeiríssima qualidade. Seu catálogo é tão valiosamente multifacetado que essa editora bate constantemente os recordes mais invejáveis da indústria do livro nacional. Primeiro, é dona da maior coleção de livros de bolso do Brasil; segundo, possui um acervo de clássicos que mostra ter nos bastidores uma equipe empresarial com grandes conhecimentos eruditos: há à disposição, em "bolso-livro", Guerra e Paz, Dom Quixote, O Grande Gatsby, Enquanto Agonizo, entre muito e muitos outros. O ecumenismo dessa coleção é impressionante: divide espaço com os clássicos a obra de Agatha Christie, George Simenon, e os quadrinos do Hagar, o Horrível. É dona da segunda melhor tradução de Kafka da língua pátria, a assinada por Marcelo Backes.

Por isso que, nesta semana, ao me sentar com um livro da coleção recém adquirido, senti esse acolhedor pertencimento a um grupo de pessoas que ama os livros. Na verdade comprei dois: Por Que Não Sou Cristão, do Bertrand Russell, e On The Road - O Manuscrito Original, de Jack Kerouac. O formato dos livros de bolso são magnéticos para a leitura. Você começa folheando descompromissadamente, e logo se vê já na metade da leitura. Algo que não ocorre com um livro de tamanho convencional, que se compra já sabendo a programação temporal certa em que se irá lê-lo. O Russell trata-se de um namoro antigo, quando li um diálogo entre o filósofo britânico e o padre Copleston, há muito tempo, numa biblioteca da universidade. Pensei, na época, como os dois eram capazes de falar literariamente, de maneira profunda e controlada, diante os microfones do programa de rádio que transmitiu o debate. Uma oratória que tentei imitar diversas vezes, um exercício ainda mais difícil para um gago. O livrinho é prazeroso. Russell era um anticlerical ferrenho, escrevia com um leveza de quem apurou o intelecto a um ponto tendente ao didatismo_ o que mostra em sua famosa coleção da história da filosofia_, e sua elegância britânica o mantêm nos limites da polidez. E são nestas características que estão seus maiores problemas. Falta-lhe acidez; sua educação inibe ironias mais rascantes; seu cientificismo exagerado aposta com descomunal segurança nos alicerces da razão. Foi um matemático brilhante, e como todo enxadrista da matemática, era imensamente obtuso para tudo que não fosse devidamente enquadrado na metafísica da lógica. Por exemplo, Russell refuta todas as ditas provas da existência divina, propostas por filósofos católicos, como Thomas de Aquino, uma a uma, mas suas explicações sobre a gratuidade do universo baseiam-se em prerrogativas tão absurdas quanto as que ele condena como mentiras ou anorexia do esclarecimento. Ele intui_ outro aspecto interessante é justamente a sua intuição, morna e bem-disciplinada pelos limites da razão, tal qual o seu tom de lord inglês_ que o universo sempre existiu, em oposição à ideia de que foi criado, pois esta última pressupõe o regressão matemática de que algo ou alguém o criou. E, isto posto, a lógica pregressa determina que algo ou alguém criou o algo ou alguém que criou o universo. Então, Russell se livra desse labirinto incômodo apenas aceitando que tudo que existe sempre existiu. Mas cai em duas contradições que seu alto intelecto não consegue apreender: ele diz que o universo terá um fim, localizado a incomensurável quantidade de anos à frente; como algo que não tem início pode ter um fim? E, a segunda questão é: não é tão absurdo crer que tudo sempre existiu, do mesmo modo que crer que tudo partiu de uma consciência alheia auto-promotora? Falta a Russell a noção devida do absurdo pascaliano; isso o torna assepticamente apoético e desprovido dos ritmos vernaculares da tragédia. Um filósofo não pode, assim como ele, negar a doce ausência de significados de transcendência do homem alegando que não existe mente, que cada um de nós é uma série de inteirações químicas sem núcleo de organização fixo, inteirações que se repetem automaticamente instante a instante como um miasma que muda de forma sobre a superfície de um rio. Há de se ter uma elegância muito acima da polidez inglesa para tratar dessas coisas. A selvagem elegância sinfônica de Nietsche e Schopenhauer


Quanto a Kerouac, não há muito o que dizer. Sempre gostei de On the Road; esse livrinho faz mais parte de meu universo pessoal do que vários outros que tratei apaixonadamente por aqui. Não consigo entender por que não lançaram esse manuscrito original há mais tempo, mas só em 2007, quando então todos os nomes citados ipsis litteris no texto já há muito estavam mortos. Para mim é uma obra-prima suburbana, rústica, iletrada, bêbada, frenética, piegas, altamente comburente, divertidíssima, e tantas mais palavras que me faltam neste momento para defini-la. Tem um lógica interna o fato de só uns anos para cá estar eu lendo autores em edições definitivas, superioras à traduções ou versões que li deles na adolescência. Dostoiévski, Tolstói e Kerouac. Essa versão de On the Road é bem superior à anterior, lançada desde 1957. Como todos sabem, Kerouac escreveu o livro em menos de um mês, usando um rolo de papel em branco de gráfica de jornal que jorrava por sua máquina de datilografia. Neste manuscrito original, além dos nomes dos personagens estarem sem falseamento, todo o texto está em um único parágrafo e sem a divisão de capítulos. Lendo o original, fica gritante o erro de terem publicado o texto cheio de divisões, cortes, capítulos e sub-capítulos. Não se pode criticar On the Road usando a manjada inteligência crítica usual dos acadêmicos literários. Parafraseando alguém que disse de Bitches Brew, o antológico álbum de fusion do Miles Davis, não ser jazz, por isso não poderia ser criticado como jazz, On the Road não é simplesmente literatura, por isso não pode ser criticado como literatura. Há muitas partes do livro que extravasam ingenuidade, que mostram, pelo olhar de um crítico acadêmico, técnicas de escrita capengas. Mas há poucas obras que tem a força desse livro, a sinceridade, a mágica, o sonho. Lendo-o, o leitor sente novamente que a literatura é algo importante, que a literatura muda o mundo. Os personagens_ Allen Ginsberg, Neal Cassady, William Burroughs, o próprio Kerouac, e vários outros_ vivem por uma ideia, que hora e outra sempre se fundamenta na fé da força da escrita. E é muito bom viajar com eles. Não evito falar que a companhia deles enseja um calor saudável nestes tempos de mornidão ou friezas permanentes. Relendo Kerouac, é inegável ver a imensa influência dele sobre Bolaño. Lembro do García Márquez jovem perguntando a um de seus amigos intelectuais mais velhos se Faulkner não seria mera erudição talentosa, ao que o seu mentor lhe responde, simpática e seguramente: "Não se preocupe, se Faulkner estivesse aqui, teria um lugar garantido em nossa mesa." Na minha mesa, Kerouac sempre será bem vindo.

26 comentários:

  1. Fazer parte de uma comunidade de leitores é um fato bastante palpável pra quem frequenta bibliotecas...

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    1. Realmente. O clima silencioso de uma boa biblioteca é ótimo. Mas também há a comunidade abrangente dos que tiram um pocket book de uma bolsa, na fila do banco, ou no ônibus, ou no banco da praça, em qualquer lugar que estejam no país.

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    2. Teu comentário me lembra A Insustentável Leveza do Ser...

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  2. Fiquei pensando no que você escreveu sobre Russel. Sempre fui inepto para a física e a matemática. Mas gosto de ler livros de divulgação científica. Estou lendo "O quark e o jaguar", de Murray Gell-Mann. Estou gostando muito, porque me permite olhar a partir de um ângulo completamente novo. Estou ganhando muito em assombros.

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  3. Sobre a coleção da L&PM, nem me fale. Quando minha tese de doutorado foi publicada no formato de livro, caí da cadeira com o preço. Dava para comprar dois ou três desses livros da L&PM. Foi o que eu pensei. E disse a todos que pude: não comprem meu livro. Peguem esse dinheiro e comprem Kafka ou Tolstói. Pela mãe do guarda!

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    1. Há dois anos, um amigo meu, que é doutor em história regional, lançou sua tese de doutorado em livro. Fui na festa de lançamento e comprei o livro autografado por 27 reais. Não achei caro. Foi pela editora da universidade e essas coisas.

      Eu não era muito fraco em matemática e física, fazia apenas para minha sobrevivência escolar, mas sempre fui um zero a esquerda em química. O bom desses livros é que eles falam de noções dessas ciências, sem serem superficiais. Mas não é o caso desse Russell, que se embrenha somente em questões religiosas.

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  4. Meu livro de divulgação científica favorito foi escrito por um jornalista,Bill Bryson, que admitia não entender nada de ciência, até começar sua pesquisa para escrever seu livro, Uma Breve História de Quase Tudo. Hoje vi este canal do youtube e me lembrei dele.
    http://www.youtube.com/playlist?list=PL73A886F2DD959FF1&feature=plcp

    Creio que li On the Road velho demais. Assim como Fante, Bukowski, Hunter Thompson, muito da literatura underground, junkie, beats, Coleção Baderna e similares, ele é pra mim um daqueles autores que perderam grande parte do sentido depois que saí da adolescência, enquanto outros que eu não gostava naquela época somente crescem em minha estima. Li em inglês, e me pareceu que o livro ficaria melhor se Kerouac tivesse demorado mais escrevendo, e cortasse umas 200 páginas, tirando toda as partes repetitivas. Prefiro a força de um Mark Twain ou Conrad (foram os que pensei agora). De qualquer forma, gosto da célebre parte sobre as pessoas loucas (mad people) e da dancinha do macaco de "Allen Ginsberg", que eu vi filmada em algum filme sobre o Bob Dylan.

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    1. Eu li esse Bryson, Paulo. Adorei! O interessante do livro é o que você diz, ser obra de um completo leigo em ciências. Por isso ele permite o mesmo olhar de deslumbramento diante as descobertas, tal qual tem o leitor. Recordo dele falar sobre a estática dos sinais de rádio repetirem o som do Big Bang, a descoberta do irídio como mineral extraterrestre, e essas coisas fascinantes. Mas o que mais me impressionou foi a confirmação de uma antiga suspeita minha: a ciência quase nada sabe! Lembra da parte sobre a fauna e a flora do globo, em que Bryson diz que grande parte das plantas e pássaros do mundo ainda é desconhecida?

      Mas sobre literatura de divulgação científica, a que eu mais gosto é a de Carl Sagan. Um grande escritor! Um senso poético e um respeito sagrado pela imensidão pouco visto em outros autores. Lestes Bilhões e Bilhões? Uma obra prima. Tocante, a parte em que a esposa de Sagan faz sua elegia ao marido.

      Não se pode comparar Twain, Conrad, com Kerouac. Claro que esse último fica muito para trás. Mas é essa ineficiência que me encanta em Kerouac. Ele apenas se propôs escrever sobre sua vida... e o fez. Não posso dizer que eu seja um aficcionado em literatura beat. Mas tenho On the Road e Pergunte ao Pó (já que mencionas Fante) como dois dos melhores livros que já li. É escrita feita por gente que não teve estudo, que não tem nada da sutileza acadêmica, que não possuía um cabedal de leituras formadoras, mas tinha a sua própria canção e conseguia ir longe com ela. Isso restitui a literatura de volta a sua origem primal, em que qualquer um tem o direito de usá-la, por ser uma das armas da humanidade, independente de gênio, de talento, de vigor cerebral. Muitas pessoas escrevem, publicam, e nunca são lidas, sobre picuinhas de suas vidas, etc. Kerouac fez a mesma coisa, e o que está lá em On the Road é sublime. Coisa de adolescência? É! Mas me fez deixar de lado, para mais tarde, um triste Vila-Matas, para retornar àquela maravilhosa carroceria de caminhão dirigido por dois radiantes irmãos loiros, com uma série de vagabundos em trânsito caroneando por todo o continente norte americano.

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    2. Além do mais, as metáforas que Bryson usa dão conta de explicar coisas que muitos cientistas entendem, mas são incapazes de ensinar, muitas vezes por arrogância. Lembro-me de uma especial, um choque inicial, em que ele diz que se os livros escolares fossem desenhados numa escala proporcional à distância verdadeira, precisaria de uma folha dobrável de uns dois quilômetros de espaço entre a Terra e Plutão. Gosto também das anedotas, como Owen carregando uma cabeça, a história da linha Mason-Dixon, ou Newton furando o próprio olho.

      De Sagan li um que é mais uma declaração de amor que divulgação em si, O Mundo Assombrado pelos Demônios, e vi alguns episódios de Cosmos. Erudito e simples, informativo e reflexivo. Gosto também de Sacks e Mlodinow.

      Pensei em Conrad e Twain por causa da força narrativa e das viagens. O que você falou sobre estudo acadêmico valeria mais para eles que para Kerouac. Quem me dera estudar na Columbia University como ele. Se não possuía um "cabedal de leituras formadoras" (fato que duvido, pois sei pelo On the Road que ele leu alguns clássicos), foi porque não quis. Penso que se os beats tivessem surgido do mesmo jeitinho, em qualquer outro lugar, com exceção da França e Inglaterra, não teria tanto alarde, nem mesmo dentro de seus próprios círculos intelectuais. Penso o mesmo de Paul Auster e da maioria dessas "vanguardas" que surgem de tempo em tempo na Europa, França e Bahia.

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    3. Não pesquisei muito de Kerouac, mas, se não me engano, ele abandonou a universidade. Presumo que ele fosse sim um leitor prolífico, mas tendia à simploriedade, como na parte de On the Road, em que está empregado como vigia noturno de acampamento e cita Dostoiévski como "o santo e sagrado escritor russo". E ele só cita o russo por insistência de um colega de trabalho. Há poucas referências literárias em On the Road: Whitman (que está por detrás de todo o livro), Hemingway, Dostoiévski, e uma ligeira citação a Proust (pelo que me lembro). Ou seja, Kerouac era um escritor intuitivo, tudo era transformado em sua visão abalizadora de uma áurea mítica em torno da América e de seus heróis, como Neal Cassady. Neal era o "anjo louco"; ele chega a dizer de Neal que as pessoas não imaginavam que aquele maltrapilho ladrão de carros breve seria um dos maiores escritores da América. Ou seja, nada da visão pessoal de Kerouac tem apoio na realidade. Nos 4 ensaios que tem nessa nova edição, um deles dá a devida medida de Kerouac: ele fazia parte de uma tríade de artistas intuitivos norte-americanos, cujos outros eram Charlie Parker e Pollack. Kerouas não era nem um pouco erudito, ao contrário de Conrad, que era uma potência natural das letras inglesas, um de seus maiores autores. E em torno de Conrad havia uma rica sociedade cultural que polia as arestas de seu estilo, como é o caso de sua parceria com Madox Ford, seus encontros com D.H. Laurence, etc. Cercando Kerouac não havia nada, só um bando de vagabundos e bêbados. O Marcos está certo, Kerouac era um merda. Há muito preconceito em torno da geração beat, pois cogita-se que eles eram um bando de descerebrados. Mas existe muita gente boa trabalhando neste tema. Se não me engano, Walter Salles está filmando On the Road. Não vejo, em suma, grande diferença de qualidade entre esse movimento e outros movimentos literários da história. Há uma ligeira diferença na forma, mas não nos conteúdos. Ian McEwan disse que sua geração de escritores só aprendeu a escrever com maior liberdade, desapegando-se dos beletrismos britânicos, após assistir uma palestra de William Burroughs. Aprenderam a escrever igual aos norte-americanos.

      Gosto muito de Sacks. Há um ótimo livro sobre as modernas teorias e estudos da física, chamado O Tecido do Cosmos.

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    4. Há até um belo ensaio de Russell, em uma coletânea de retratos literários, em que ele trata de seu conhecimento com Conrad. Foi uma empatia imediata entre os dois. Russell condena a mesquinhez de D.H.Laurence quanto a dinheiro, pelas tantas cartas que recebia deste pedindo-lhe empréstimos para poder escrever seus livros; sobre Bernard Shaw, ele diz que era uma histrião superinteligente mas com pouco estofo de criador real(a mesma visão que dele tinha o Churchill). Mas Conrad já o pegara de cheio com sua profundidade e sua seriedade filosófica.

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    5. Uma potência natural, devido a muito esforço. Não podemos esquecer que Conrad era polonês, e só aprendeu inglês depois dos 20 anos de idade. Não são idiomas parecidos. Creio que teria gostado mais de On the Road se ele tivesse sido menos intuitivo e mais técnico (ou seja, ter trabalhado mais e cortado umas 200 páginas). De qualquer forma, seus argumentos justificam seu amor por ele, apesar de não me convencer a compartilhá-lo. Não tenho ganas de ler de novo, como fiquei com tantos outros. Em breve lerei Celine.

      Ah, outra coisa: a falta de referências literárias não quer dizer que ele não leu os livros, e o contrário também vale.

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    6. Claro! Kerouac é uma paixão muito idiossincrática, mas Céline é realmente ótimo!

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  5. O principal problema de Russel era tentar a contrapartida científica à metafísica, quando a primeira é subproduto da razão humana e possui limitações constitutivos do ser, e a segunda é a expressão mesma da limitação do ser que opera um truque de transcendência, e este não passa de fantasmagoria literária. O universo, afinal, sempre existiu e sempre existirá; suas formas irão variar como já são variadas hoje e, se em um futuro nada próximo deixar de existir a luz, ainda assim existirá matéria, ou ao menos antimatéria. A hipótese da existência de um criador, já disse um cara qualquer aí, é perfeitamente dispensável, não passa de uma ideia tola de péssimas consequências.

    Kerouac, com perdão da palavra, ou melhor, perdão porra nenhuma, é uma merda, pura e simplesmente uma merda. Há quem goste. De merda, de Kerouac, ou de ambos.

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    1. O mais belo e sensato comentário de todos. Esse blog é mesmo excelente, com participações igualmente ótimas. Pena não ter encontrado ele antes.

      Luan

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  6. Crer que o universo sempre existiu é mais razoável que postular um ser consciente que o criou, dado que isso acrescentaria complexidade à teoria. De todo modo, Deus é incabível em qualquer teoria, pois, caso seja necessário postular uma Causa para o surgimento do Universo, a essa causa não seria preciso atribuir uma consciência, em respeito ao princípio de parcimônia. A causa seria apenas uma causa. Além do mais, a ferramenta consciência só pertence ao cérebro humano. Atribuí-la a um ser imaterial é conto de fadas.

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    1. A questão é que no período em que Russell escreve os referidos ensaios, a Teoria do Big Bang ainda estava a ser composta em suas diversas frentes. Parecia a ele absurdo que o universo tivesse alguma força desencadeadora, que o tivesse gerado. Ele parece não poder conceber que a ciência estava por conseguir admitir a hipótese de um início, sem colocar deus no meio.

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    2. Charlles, embora a teoria do big bang seja a mainstream, ela não é a única; há outras propostas, e uma delas, uma espécie de "eterno retorno" matemático, é simpática ao Russel:
      http://en.wikipedia.org/wiki/Big_Bounce

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    3. Anônimo:

      No momento, não me lembro o nome do livro, porque eu o li cedo demais, mas creio que foi "O Banquete". Bem, Platão põe na boca de uma personagem (preciso rever meus livros de Filosofia prediletos qualquer dia desses)uma verdadeira aula de Ciência. Primeiro, fala que tudo que existe no Universo cabia na palma da mão; depois, fala da expansão do Universo, quando então ocorreria um fato estranho: o Universo voltaria ao recomeço, e todos nós viveríamos as nossas vidas a partir da morte para o nascimento... Claro que deve saber disso, mas é que qualquer referência ao Universo me empolga. Então, anos depois, a SuperInteressante publicou uma reportagem sobre Stephen Hawking, de quem me tornei fã de carteirinha, e ele falava exatamente o que Platão afirmou, só que, ao invés da palma da mão, ele dizia casca de noz, e negou que era influenciado pela filosofia oriental. Platão não era realmente extraordinário? Bem, quanto ao eterno retorno, até o momento sabemos que o Universo refratário perdeu para o Universo em expansão eterna. Mas os paralelos existem. Torcer para que o Homem seja eterno, então. Basta dar um saltinho.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Eu tive oportunidade de ler "On the Road", tardiamente, diga-se de passagem, ano passado, graças a Paulo, que mo emprestou. Minha reação foi uma só: paixão. Mas desconfio que é porque sempre tive atração pelo "mundo cão".

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    1. Gosto de ler tudo que transborda vida, Milton. Nisso os autores beatniks são exemplares.

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  9. Viajaremos hpje, como sempre levando livros. Tenho algumas edições de bolso. Confesso, no entanto, que prefiro as convencionais, de formato maior, Conforto na leitura, letras menos apertadas e maiores. Os livros de bolso, porém, são excelente alternativa, e muitos leitores podem recorrer a eles, pois seus custos são menores, e a qualidade dos textos, no geral, não é comprometida. Alguns livros, inclusive, só são achados atualmente neste formato.

    Não li os dois livros mas, pelo texto e comentários, percebo que o livro de Russell está datado, e não parece servível à causa antirreligiosa, que muitas vezes parece tão sagrada quanto todas as outras. Não consegui ler o "On the Road", que o Marcos me presenteou há quase 30 anos. Tinha começado o curso de Letras, e achei as primeiras páginas repletas de uma paixão demasiadamente juvenil, que pensava conhecer bem na época, pelo convívio mesmo com as pessoas, em um país que parecia começar a interagir com o mundo, depois de um período muito ruim. Mas "On the Road" não se inseriu naquele contexto, como poderia ter se inserido, ou melhor, não, porque o hedonismo da década de 80 era bem diferente daquele da década de 50. Marcos odiou o livro, e nem gosta de falar mais dele. Perguntei para ele porque do excessivo mau humor, ele respondeu que não gosta de cultivar más lembranças, e que, por ele... não reproduzirei o resto aqui. Vejo que alguns gostam do livro. Tem seus motivos, como os seus, acima expostos. Deixemos para cada um a escolha de seus livros, suas predileções. Concordemos ou não, a verdade é que isso não é mesmo tão importante assim. Distâncias e proximidades existem em vários campos; não é preciso homogeneizar tudo.

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    1. O importante é o deleite da leitura, realmente. On the Road muito influenciou uma viagem que eu fiz atrás de meu pai, até a floresta Amazônica, quando eu tinha 20 anos. Ainda estou para contar parte desses eventos pessoais aqui, mas ainda não achei o tom certo. Então, ainda que não remeta a lembranças genuinamente felizes, o romance de Kerouac significa algo.

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  10. Que bonito este trecho: "Um filósofo não pode, assim como ele, negar a doce ausência de significados de transcendência do homem alegando que não existe mente, que cada um de nós é uma série de inteirações químicas sem núcleo de organização fixo, inteirações que se repetem automaticamente instante a instante como um miasma que muda de forma sobre a superfície de um rio. Há de se ter uma elegância muito acima da polidez inglesa para tratar dessas coisas. A selvagem elegância sinfônica de Nietsche e Schopenhauer".

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